eu devia saber
o sol ia estar por cima da carne seca
e nada seria diferente
do que teria que ser
a minha alma vesga
indecente
não se contentaria com menos
eu devia saber
não foi a primeira vez
os detalhes, sim, os pequenos
subestimei-os talvez
pode ser, quem sabe?
eu devia saber
ela chegou falando a verdade
o importante é ser; não, ter
mas eu andava meio surdo
dela – aquilo era tudo pra mim
dela – a causa do meu surto
dela – a raiz ruim do jasmim
dela – esse ela e eu
carne, nervo, músculo, esperma
e o silêncio que veio viu e venceu
ficamos assim à espera
deitados, que em pé cansa
muitas luas depois
ainda havia dança
eu e ela, não os dois
eu devia saber
tentou me fazer compreender
que desse jeito não podia ser
mas era tarde demais para ver
o melhor de mim ainda ia nascer
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