segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Memória

(para G.)

I.
Talvez nós tivéssemos amado aqui
ao longo deste litoral.
desde o avião, as marinas
minúsculas, os barcos com se
pudessem caber na minha mão : só
o mar na sua mansa
imensidão cinzenta.
na minha memória daquilo
que nunca foi, achamos um
caminho, atrás dos cais, por
trás do lixo acumulado
de vários dias. Fui euquem
quis amar assim: com um
desespero de adolescente
nos escombros da cidade.

II.

Estou esquecendo tua cidade
diferente de todas as outras.
lembro só do vento, comobatia
ao redor de mim, como as sujas
asas dos pombos. uma vez
abandonei um lugar para sempre,
guardando a mentira do retorno
como uma bala ardendo
no meu coração esvaziado.

III.

Tua terra de abundância:
as cores explodindo num interminável
corredor de mercado, nas fileiras metálicas
da estrada.
o que você me falou: ela, no seu país
durante meses só comia arroz, um pouco de pimenta.
.E eu não lembo
mais da tua cidade, senão
da lenta máquina de um trem enferrujado
cavalosescorregando numa trilha de barro
um presentimento de chuva
nas colinas.

IV.

O fuso horário muda.
Aqui está escuro, embora lá
onde você continua,a branca
luz do sol se recuse a sumir, os telhados
de verão exalem ainda seu
hálito quente.

V.

O que acontece com a dor
quando encontro as palavras oara
dizê-la? é como se colocasse
as rendas mais azuis do meu
vestido, cobrindo minha pele
esfoliada, cobrindo a
ausência, a mais profunda
das feridas.

Miriam Adelmam

(15 concurso nacional de poesia "Helena Kolody " 2005 )

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