Rodrigo Madeira se apresenta mais maduro em novo livro
Publicado em 24/02/2010
MARCIO RENATO DOS SANTOS
A poesia está no centro da vida de Rodrigo Madeira. Mas não como escudo ou cortina de fumaça. O poeta sabe que a arte pode aproximar o homem ainda mais da realidade. A poesia, no caso dele, é uma maneira de evidenciar o quanto o ser humano é precário, finito e tem limites.
Poemas viscerais: pássaro ruim
Se, como diz a voz das ruas, um amor se cura com outro, Madeira supera um livro com outro livro. Ele reuniu em pássaro ruim poemas que escreveu a partir de 2008, com a finalidade de superar tudo o que aglutinou em Sol Sem Pálpebras, de 2007.
Não que negue o que escreveu. É que ele precisa enunciar. O quê? Tudo. A sua luta corporal com o mundo, por exemplo.
Madeira tem 30 anos, nasceu em Foz do Iguaçu, mas está em Curitiba desde os12 anos. Sente-se e se considera curitibano. A capital paranaense está no imaginário dele: “Curitiba é uma cidade que pensa ser Curitiba”, escreveu no poema “Uma Ode”, texto inventivo presente em pássaro ruim, em que cita de Dalton Trevisan à Boca Maldita.
O poeta pagou pela edição do livro. Foi a opção, a única viável no momento, uma vez que Madeira não aguentaria deixar os inéditos na gaveta, ou no arquivo Meus Documentos no desktop de seu computador.
E, se supera uma obra com outra, já tem outro livro, mas nem cita o nome, muito menos o assunto de seu próximo projeto.
“Combinar códigos antipáticos”. É assim que Madeira entende o fazer poesia. Que, para ele, também é surpreender.
Colocar, por exemplo, em um tabuleiros palavras-souvenirs e fazer um inédito jogo linguístico. Para exemplificar, cita o início de seu poema “balada da cruz machado”: “uma rua à queima-roupa/ louca, brilhante, sem fôlego/ rua-vicia, rua-oxímoro.”
Madeira poderia dizer, se fosse um prosador, que a Rua Cruz Machado é um labirinto em linha reta. Ou que, lá, é o local para encontrar os “zumbis curitibanos”. Afinal, entre uma esquina e outra, todo o perigo pode surpreender um ser humano.
Mas, poeta que é, Madeira apresenta a sua leitura daquele trecho de inferno no coração da capital: “rua-vício, rua-oxímoro.”
O artista visceralmente envolvido com o inventar-língua acredita que o poeta tem de estar cara a cara com a vida. Ele, por meio de seu flerte com o real, reinventa o que vê e, depois de muito trabalho com as palavras, apresenta a sua versão lírica e feroz da realidade.
Madeira escreve para ser lido (e compreendido). E justo ele, que é poeta desde que era analfabeto, como costuma repetir. Antes de aprender a escrever, já queria comunicar o que sentia e apreendia.
Foi em meio a excertos de poemas, nas apostilas do Colégio Positivo, que começou a conhecer poesia. Depois, leu muito. Percorria páginas de obras poéticas até mesmo sem compreender, apenas para se contaminar, apaixonar e, posteriormente, sentir deleite com os textos dos grandes autores.
Fonte :Gazeta do Povo; Caderno G.Curitiba,24 de Fevereiro de 2010, quarta-feira.
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