Um vizinho de morón me referiu o caso:
"Ninguém sabe muito bem por que se tornaram inimigos Moritán e o Pardo Rivarola e de uma maneira tão acirrada . Os dois eram do partido conservador e creio que se conheceram no comitê. não me lembro de Moritán porque eu era muito criança quando ele morreu ..Dizem que a família era de Entre Rios.O Pardo viveu ainda por muitos anos . Não era caudilho nem coisa que se pareça, porém tinha a pinta.Era mais para baixo e gordo e muito espalhafatoso no vestir.Nenhum dos dois era frouxo, porém o mais reflexivo era Rivarola,como logo se descobriu.Desde muito tempo quis se livrar de Moritán, mas quis agir com prudência .Lhe dou razão;se uma pessoa mata alguém e tem que sofrer na prisão, procede como um tonto.O pardo tramou bem o que faria.
Seriam às sete horas da tarde, um domingo. A praça cheia de pessoas. Como sempre, aí estava Rivarola caminhando devagar, com seu cravo na lapela e sua roupa negra. Ia com seu guarda-chuva.De repente, se sentou de cócoras no chão e se pôs a "bater as asas" e a cacarejar como se fosse uma galinha . as pessoas abriram um clarão ao seu redor, assustadas.Um homem de respeito como o Pardo, fazendo essas coisas, à vista de todo o povo de Morón e em um dia de domingo ! No meio da quadra dobrou e , sempre cacarejando e mexendo os braços , entrou na casa de Moritán, que ouviu a balbúrdia, veio de dentro para fora. Ao ver o seu inimigo, que se balançava, quis voltar, mas uma bala o alcançou e depois outra. Levaram a Rivarola entre dois guardas . O homem forcejava, cacarejando.
Em um mês estava em liberdade.O médico forense declarou que havia sido vítima de um brusco ataque de loucura. Por acaso o povo inteiro não o tinha visto, se portando como uma galinha?
Jorge Luís Borges
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