terça-feira, 31 de julho de 2012

Manifestação pró-Vietnam. Paris, 1971.


© Foto de Chico Mascarenhas. Manifestação pró-Vietnam. Paris, 1971.

O Centro Cultural Justiça Federal no Rio, inaugura nesta sexta, dia 20 de julho de 2012, às 19h, a exposição “Olhares Sobrepostos”, com fotografias Zeca Guimarães, Zeca Linhares, Pedro Oswaldo Cruz, Pedro Pinheiro Guimarães, Chico Mascarenhas e Domingos Mascarenhas ao longo de quatro décadas. A trajetória profissional desses seis fotógrafos seguiu por caminhos distintos, mas entrelaçados desde os primeiros passos, e tendo em comum a mesma matriz e o fato de terem dialogado entre si durante essas quatro décadas, como uma espécie de “coletivo fotográfico”. Filiados à escola de documentação francesa, os seis são cultores de um olhar purista e inquieto no exercício da fotografia. A curadoria é de Milton Guran.

Fonte Images & Visions de Fernando Rabelo
Efervescentes raios lunares
se dissipam no ocaso:
Como um Alka-Seltzer.

Andréa Motta

domingo, 29 de julho de 2012

No princípio era o medo

Então criou-se a máscara

e foi bom

A seguir mudaram o foco

e foi suficiente.

Depois vestimos a fantasia

e coube.

Daí em diante confundiu-se tudo

E não se distingue  mais

O que é Treva, o que é Luz.

Quem rasteja, quem voa.

Quem pensa de quem pensa que pensa.

A tecnologia renova e evolui

A vestimenta, a ilusão

porém, não se aproxima do importante.

Continuamos em cavernas.

Solitárias e escuras mentes

Onde no princípio, era o medo.

Deisi Perin

SILÊNCIO

A pedra;

o que não diz

em sua epiderme,

sua opaca tessitura

de areia e indiviso

tempo; a pedra —

(digo) (a não voz)

o silêncio em tuas

pupilas de pálida

lua, como chama

que se adensa

(mudez de sombra,

solilóquio de água

imóvel, em cisterna

ressecada); e então,

as palavras.

Claudio Daniel (Do meu livro A Sombra do Leopardo)

SCHOPENHAUER

Água
de nenhum
mar, gema
de extinta mina,
não mais
que o fulgor
de vidros
(cristaleira)
e o viço
de madeira
nova,
lua líquida.
O tempo
lacera
o verde
nos olhos
do gato,
lepra
das flores,
ácido
que corrói
toda cor
ou pele
em escuro
miasma,
peixes
do nada.
Este
é um ofício
doloroso,
uma ópera
ruidosa.
Porém,
tu foste
o tigre.

Claudio Daniel (Do meu livro A Sombra do Leopardo)

FILÓSOFOS, COGUMELOS

Rumor de verde-água esse bosque de caninos que desaparece.

Trevos
na boca

— odor
de cogumelos

e lua-de-
mosquitos —.

Estranha senhora fênix viaja em
caligrafia sua
tiara
azul.

Vagares da lua de outono biombo jasmim dragão
no teto
curvo
como atravessar
espelhos.

— Armas e cascos de cavalos
ao longe —.

Filósofos-de-laca conjeturam possíveis amanhãs

Claudio Daniel (Do meu livro Figuras Metálicas)

PARTITURA

Perplexidade, raios de um sol

que redesenha seu centro;

essa matéria tão delicada,

ferozes epitélios da flor;

deslizando das pupilas,

revoluta, para outro mar,

após tingir o flanco da noite.

Fosse apenas o perambular

em outra relva, seria tema

de chanson; dissociada de mim,

reclinada em lua minguante,

seria musa de retrato fauvista,

excedendo o rubro tigrino.

De todo modo, um dia vou

felinizá-la em partitura.

Claudio Daniel

Ontem, voltando para casa, fui comer um hot dog num carrinho, lá tinha uma tv onde o Jô entrevistava o cantor Roberto Leal. O cara do carrinho disse: 'Caraca, esse cara continua com o mesmo visual que ele tinha quando eu era criança!' hahahahh Fato, será que Leal é Highlander? Talvez o segredo seja vinho do Porto...

Vinicius Bizetto

Nagant M1895

 Aperte o gatilho para saber
que você está vivo

Sparring arremessado
às cordas,
entre o
franco desgaste técnico
e nada,

besta que se debate,
encilhada.

Gira o tambor,
matemáticas probabilidades
de um universo
quântico;

olhos postos às raias do espanto.

Ricardo Pozzo

sábado, 28 de julho de 2012

esta noite rolei pela calçada molhada


tirei meus óculos

botei no meio-fio

e pisei neles

eu tinha interesse em furar meus olhos



(@Thaís Gulin et Luiz Felipe Leprevost)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

''muitas vezes tenho a impressão de que estamos em uma sala com duas portas opostas,e cada um segura a maçaneta de uma porta, e mal um de nós move as pálpebras já está o outro atrás de sua porta, e agora basta que o primeiro diga uma única palavra para que o outro feche a porta atrás de si e desapareça.''
Franz Kafka
(carta a Milena Jesenska)

sábado, 21 de julho de 2012

kazuo ohno

o antemorto dançarino de butô
é marcescente ao vento, botão de flor

o antenascido dançarino de butô
é milagre no ventre, fim de flor

é o espírito usando a carne
pra dizer o que a carne não sabe

é o espírito usando a carne
pra dizer o que na carne não cabe

o corpo que use o corpo
pra dizer o que o corpo não fale

a dança do cadáver, do fantasma
em louvor à vida, antes que a dança da vida
acabe.

 Rodrigo Madeira

Grisálida


Ela, sonâmbula ingênua,
alimentando-se dos resíduos de pão
recolhidos à tarde,
(são seus passos grisálida emplumada
em desalinho com o vento),
digere antídotos contra o próprio veneno.

Depois de enxugar lágrimas de acetona,
de dissecar a fauna de seus sentidos,
de esmorecer em falsos desatinos,
de esquecer seus primários instintos,

Depois de estar no purgatório
por não se enxergar Beatriz,
de reverter o espólio
em simples cicatriz,
escalavra em suplício
interstícios do equilíbrio.

Não seus cabelos entretidos
por entre os dedos em busca
de sensíveis vestígios sensoriais
(qual a seiva das horas
que expandem sombras espirais).

Nem seus ombros
de fascínios destacados
em gargalhadas leves
(que denunciam o alto
risco de surtos breves),

Mas o simples olhar
inveterado
ao reflexo do espelho
inviolável
de seus pensamentos
espectrais.

Crise Grega

 "Conseqüências da crise na Grécia... 1. Zeus vende o trono a uma multinacional coreana. 2. Aquiles vai tratar o calcanhar na saúde pública. ... ... 3. Eros e Pan inauguram um puteiro. 4. Hércules suspende os 12 trabalhos por falta de pagamento. 5. Narciso vende os espelhos para pagar a dívida do cheque especial. 6. O Minotauro puxa carroça para ganhar a vida. 7. Acrópole é vendida e aí é inaugurada uma Igreja Universal do Reino de Zeus. 8. Eurozona rejeita Medusa como negociadora grega: "Ela tem minhocas na cabeça". 9. Sócrates inaugura o Cicuta's Bar para ganhar uns trocos. 10. Dionisio vende vinhos à beira da estrada de Marathónas. 11. Hermes entrega currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida. 12. Afrodite aceita posar para a Playboy. 13. Sem dinheiro para pagar os salários, Zeus liberta as ninfas para trabalharem na Eurozona. 14. A Ilha de Lesbos abre um resort hétero. 15. Para economizar energia, Diógenes apaga a lanterna. 16. Oráculo de Delfos apaga os números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas. 17. Áries, deus da guerra, é agarrado em flagrante desviando armamento para a guerrilha síria. 18. A caverna de Platão abriga milhares de sem-teto. 19. Descoberto o porquê da crise: os economistas estarão falando grego! 

(Tullio . Sartini)"

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Convite à uma dança

Eis-me aqui
a contemplar encantos,
danças ao fogo cigano
Que brotam do teu
sorriso e tornam-me
lago e Narciso
em Ti.

Musa descarada,
mal sabes
a que cobra
destes asas.
Por quanto tempo
queres
te manter
ilesa?

Eu,
que já flertei medusas
sei, que há mais perigos
em teu afeto franco
a despertar minha alma
a tudo que é sensível,
que tanto quanto
possa descrever,
é apenas
tocar pássaros
de seda,
comer com
os olhos
banquetes
sobre a mesa.

Saiba,
o desejo é
armadilha estranha;
nos conduz
à jardins magníficos,
quais girassóis imprecisos
que tangem-se,
momentâneos
e ruborizam-se

na fronte do sol.

Ricardo Pozzo


Você nunca vai entender porque te apagam do mapa e mesmo assim te apagam novamente! Ditadura de conceitos? Raiva daquilo que você representa? Vai saber... te apagam e você se reinscreve e vai vencendo a fúria do coisa ruim" (Cena do filme, me deletaram mas não morri hahahaahah....)... Metáfora!
Jiddu Saldanha 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Beckett nosso avô mal humorado veio para o fim de semana e quebrou todos os nossos brinquedos iluminados. estamos sentados nas firmes cadeiras dos conceitos e o vô, mais forte do que nunca, chuta os pés de todas elas. após a macarronada fugimos pro banheiro, Tibete telhado do mundo e ahum ahum ahum para fundirmo-nos ao todo do universo, mas o lugar está morto e o homem é um corpo de neblina e eu o quê, então não sou alguém? eis uma coisa no meio de infinitas outras que nem coisas são. eis uma, afirmá-la advém da fé, a coisa, que se fabrica como se fabricam leis e salsichas. ah, façam-se logo escadarias e se distribuam ao menos joelheiras para os penitentes porque, a contrário, nosso avô só nos dá o que ele não tem: amor.

Luiz Felipe Leprevost

Farto

Quando meu coração doer
Comendo-te os dedos
E os flancos
E os risos
E o ácido desejo
De devorar- me em segredo

Assim quando meu coração
Doer e doer desde
Teus lindos lábios e medos
Esparramando-se na vertigem
Do amanhã e de um pôr – de - sol
Negado

Quando meu coração
Para sempre
Estiver irrigado
De asfixia e fuligens
De saudade

E souber que o amor
Nada
Ainda que digam tudo:
Invade.

O amor é só a nota
Buscando o dó
da voz afinada.


Julio Urrutiaga Almada
in De Olho:Embriagado

domingo, 15 de julho de 2012

Parte arrancada

O ódio bebo de dentro pra fora.
O medo bebo de fora pra dentro.
De noite não é o olho que chora:
É o estouro da represa do tempo.

meus monstros ainda os vejo;
Eles ainda me apagam sempre;
Mas agora só olho o presente,
me achando de novo no espelho.

nunca deixei de ser muitos:
aqueles muitos que eu não era:
os espanco onde antes houvera:

morte sem vida sem primavera:
delirios e pesadelos abruptos.
E renasço da flor de meus lutos.


Julio Urrutiaga Almada
 In Poemas Mal_Ditos –

se a multidão sustenta a obra rara
no atrium deste véu, pelos atores
arranco do meu peito os meus amores
e deixo a vida lamber a minha cara."

 Romério Rômulo Campos Valadares

("atores, 2, fragmento", romério rômulo)

sábado, 14 de julho de 2012

OS Namorados


Paulo com olhar malicioso para Luiza, fala :
— Vamos dar uma voltinha, meu bem?
— Aonde pensa em me levar?
— Vamos até a nossa praça, sentar num banco, minha menina.
— Só?
— E também conversar um pouquinho.
— Você não vai querer me bolinar?
— Não amorzinho, claro que não. Você está uma delícia de vermelho!
— Abusado...! Você não cresce mesmo... Então vamos!
No meio do caminho, ele sobe num muro e se contorce todo para pegar uma rosa branca do jardim de um vizinho. Ela fala:
— Pare com isso, deixa de ser peralta, é feio pegar sem pedir. Isso é roubo.
— Quando se quer dar a rosa a quem se ama, chega a ser até bonito roubá-la.
— Obrigada, meu garoto. Eu também te amo. Mas..
Eles vão de mãos dadas, chegam à praça e sentam num banco embaixo de uma pereira. Ele beija o rosto dela, depois o pescoço. Ela se esquiva, falando:
— Olha as pessoas passando aí.
— Todos têm de ver como o amor se manifesta!
Ela, olha e sente a descompostura do parceiro, Paulo pega no joelho de Luíza que com o sorriso tímido, diz:
— Olha a mãozinha boba! Isso já é...
— Ó, minha menina! Boba seria minha mão se ela não procurasse as suas per¬nas...
— Você não tem jeito...!
— Veja como a árvore está florida, terá muitos frutos esse ano. Ela, com sua sombra, tem sido o abrigo do nosso amor!
__Meu amado!
— Quero tanto fazer amor com você, minha lindinha!
— Você sabe que não podemos. Não é hora de pensar nisso.
— E lá se tem hora pra se pensar em fa¬zer amor, que não seja a hora que deseja¬mos?
Com um sorriso sensual ela diz:
— Há muita gente em casa.
— A gente faz baixinho, igual fazíamos no porão da casa de seu pai, quando éra¬mos noivos. O som do nosso prazer era abafado, e retido todo ele dentro do nosso ser.
— Meu safadinho adorável.
— Quando você morde os lábios, meu desejo aumenta mais.
— Temos de ir! Está esfri¬ando e você não trouxe o seu cachecol, pode pegar um resfriado desse jeito. Talvez nossos netos nos façam uma surpresa.
— Bodas de ouro! Há cinqüenta anos, a vida me presenteou com você.
— Até parece que foi ontem que plan¬tamos essa árvore. Lembra que essa praça era deserta, e uma noite nós...
— Posso te pedir uma coisa?
— Claro! Peça todas as coisas.
— Não cresça nunca, meu menino! Vamos?
— Vamos, vamos meu amor.

JÚLIO DAMÁSIO

COMPOTA
COM
PIMENTA E Outros Contos Puramente Picantes

2ª Edição

Curitiba
 As vezes precisamos aceitar o fato de que não pertencemos ha um lugar, a vida é simples, nosso viver nômade nos dá o direito de escolher nosso caminho, a despeito daqueles que nos condenam por isso! Não podemos achar que temos de viver em um lugar onde os colegas são maltratados e se digladiam simplesmente porque compartilham um ideal político. A melhor política humana é o respeito e isso não se negocia, em nome de ideal algum! Precisamos ter o direito de partir e se não nos aceitam nem nessas horas então, realmente, a humanidade está bem longe daquilo que propõe em seus discursos! (Pôrra, matei a pau agora)...

Jiddu Saldanha

O dia

“(...) Eu sonho sem ver os sonhos que tenho./ Que angustia me enlaça?/ Que amor não se explica?/É a vela que passa, na noite que fica.” (Fernando Pessoa)

Noite, por quem adormecestes?
Vistes a lua em suas fases,
Pulsando iluminada ou,
Tornando-te sombria?
Percebestes quantos sóis tornastes visíveis,
Enquanto apenas um a faz sucumbir,
Por fazer-se claro dia?
O que surgiu pela vidraça
Sob o encanto que se parte?
Partes dos meus sonhos
Para a realidade.

(Angela Gomes)

(13/07/2012)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Poema do sete -pele (poema anti-capital )

- BASEADO NO POEMA DE SETE FACES, DE DRUMMOND


Quando nasci, meu pai
Desses que compram
Disse: Vai Alessandro, (H)enrique.

Os carros olham os homens
Que as mulheres correm atrás
Dos homens, sem dúvida.
Dos carros, bem mais!

O ônibus passa lotado
Trinta e seis sentados, quarenta em pé
Para que tanta gente pobre, meu Deus?
Pergunta o zelador.
Porém meu patrão, não pergunta nada.

O homem de maquiagem
É sério, rico e metrossexual,
Fala pelos cotovelos,
Cheio de amigos interesseiros
O homem rico, que malha de maquiagem.

Meu Deus, porque te abandonamos?
Se sabíamos que tinha outro deus,
Se sabíamos que éramos trapos?

Mundo mundo gasto mundo
Se eu me chamasse Gastão,
Seria uma solução e não uma rima.
Mundo mundo gasto mundo
Mais gasto com meu cartão

Eu não devia falar,
mas este shopping,
este SPA,
botam este povo entretido como diabo.

Alessandro Jucá
http://mestressan.blogspot.com

domingo, 8 de julho de 2012

''Ó dias, ó noites, ó vermes, que perfurais em nós a essência nossa. Que essência? Que vermes? Ó países em nós soterrados, ó escombros, ó múmias, ó gigantes mutilados, terras absurdas e quietas, colinas, mausoléus, incógnitas e nós, bichos da terra, pitorescos, à procura"
 (A.C. Villaça)
//www.releituras.com/acvillaca_menu.asp



Por uma contradição do destino que montei, quando na adolescência me refugiava na Biblioteca Nacional, deparava-me entre as salas e corredores com alguns daqueles que me seriam perorações silenciosas no pensamento...católicos e comunistas......conversei com alguns, ouvia e quase não falava, formulava-lhes perguntas, sempre sutilmente ditas, através do niilismo cientificista que me pautava naqueles anos. não sei se fui admirado, prefiro não refletir este detalhe, mas, sei que admiro cada um dos meus contraditos, pois, humilham toda as formas de axioma que persegui, e ainda persigo.
Tullio Sartini

sábado, 7 de julho de 2012

poderia ser, igual às sete quedas, o banco do bicho do Paraná submerge com todo o setor empresarial do estado, para que a usina da globalização faça as luzes na velha XV.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Trata-se da plena luz do meio-dia, que teus passos ilumina e cega, ferindo os olhos como fosse o shampoo que Deus derrama sobre a Terra. Assim segues pelo caminho, cascos de cavalo a pisar o piano das pedras escorregadias.

Luiz Felipe Leprevost

Cristo do Céu!

Sois o sal da terra.
Se o sal perder o paladar
Com que sal vai se salgar?
Não tem a menor serventia
A não ser para ser lançado
E pisoteado por aí.

Sois a luz do mundo.
As aves do céu, olhem,
Não plantam nem colhem
Nem armazenam no paiol
As dádivas da chuva,
Da terra e do sol.

Sois mais que essas criaturas?
Mas quem de vós,
Por ventura,
Pensando,
Acrescentaria um palmo
À sua própria estatura?

Sois mais do que a roupa
Com que apareceis.
Os lírios do campo,
Que coisa mais louca!,
Não trabalham nem tecem,
Mas, nossa!, como crescem!

Eis aqui minha palavra
Para que caia vossa cara
Do céu para o chão,
Pois nem Salomão
Em todo o seu esplendor
Vestiu-se com tanto amor!

Só o Pai Celeste
Abastece!

Jesus Cristo
antonio thadeu wojciechowski

Me enseñaste el punto
Fantasía:
Primera y tercera carrera,
al derecho.
Recojo el punto perdido,
al revés y lo devuelvo
en diagonal…
Pero no me enseñaste,
Ay dolor de agujas y madejas,
el punto calado
con encajes de tu ausencia.

Glória Kirinus

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Poeiras sobre a estante


   Todas as noites ele voltava par a aquele  mesmo  quarto  de pensão   para reencontrar   os móveis velhos e os livros gastos,os jornais  carcomidos por notícias  de novas notícias velhas as quais  se repetiam nos telejornais  -no estuário da ilusão.
   Deitava-se na prisão de seus sonhos   sem luzes,sua cama de colchão mofado e travesseiro babado  de salivas  de um idioma  de sonhos  em pedaços   ,exalando  o enfado de seus  fados  oníricos  sem poesias   só a ilusão  do pó de seus dias.
   Levantava-se sempre com o coração  soterrado  por correntes  de aço ,as quais não mais sentia  acostumara-se a elas ,ao peso do  barulho  ao caminhar ,ao caminhar   molhava a testa enrugada com a água salgada  de sua  existência ;não clamava  pela  fragorosa  flagrância  da derrota  dos exércitos  de pano diante  do fogo de ideais de incêndio ,os quais na batalha  dos dias  de juventude   duraram tantos minutos  de poeira soprados  com o mau-hálito da   escória da memória  ,que escorria  pegajosa  no olho da janela  ,tão  opaca que  a menina morena de seus olhos ,cega não vira o sol que  lhe sorria  e beijava-lhe    com uma piscadela para vê-la uma vez mais dançar.

                      Wilson Roberto Nogueira

Delírio Oral

Lábios de fel, veneno do meu prazer oral...
Minha boca solta farpa, verbalização
Erótica de paladar agridoce...
Tem o sabor do sal da tua língua, a textura
Do teu mais intimo sentido desorganizado...
Propaga-se ferozmente por todo o teu corpo, entregue
Por minhas insanas armadilhas...
Percorre minha pele com sua áspera
E atrevida insensatez...
Boca desnuda cor de boca, carne crua,
Mordida fatal, deslizo em pensamentos obscenos
Quando a minha, a tua encontra, nossas bocas
Voam em direção ao abismo de nós mesmos...

(BS)

poema para todo santo dia

deste lado do meu corpo
tem um homem morto
do outro, um anjo sonhando
convivo com os dois
durante, antes ou depois
não sei exatamente quando

morto, ele me diz: “viva”
e o anjo: “tenho outra alternativa”
a nenhum eu dou ouvidos
tenho a minha poesia
que preenche, que esvazia
minha alma em todos os sentidos

a mágica é extrair dos olhos
o que me estoura os miolos
o que sobra é sempre milagre
pessoas indo e vindo
e o mundo todo esculpindo
maravilhas pra que eu me alegre — em Curitiba.

 Antonio Thadeu Wojciechowski, 

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Poeta Marilda Confortim no Wonka

Hora

Ar azul
ave em vôo
árvore verde do tempo
No açude
onde mergulham sombras
dois rostos( do pai, da filha)
tremulam.

Francisco Alvim

Discordância

Dizem que quem cala consente
eu por mim
quando calo consinto
quando falo
minto.

Francisco Alvim

Negociação

Then
we will fight

Francisco Alvim
"Toda existência é voraz.
Todo ser devia ser só.
Não unir-se nunca, jamais,
não enroscar-se em nenhum pó. "

Mauro Machado
"Para que haja grandes poetas é preciso
que haja um grande público."

E. Whitman

Aquilo que me inquieta
me revela mais do que o que me conforta.
Nas linhas vazias perco as palavras
que descobri com as pontas dos dedos,
o corpo em chamas,
sabendo de águas sem desfrutá-las.

Sei de lama e ferrugem febril
que habita as transparentes florações.
Sei dos cogumelos úmidos na boca,
grãos na folha a boiar poemas.

A palavra me engana:
confeito doce e colorido, ela me atrai,
mas dura e pétrea
e dolorosa de degustar na língua,
revira-se na garganta,
para enroscada no coração.

Aquilo que me inquieta
é o que mais me conforta.

Rita Schultz

VIVER É MELHOR DO QUE NADA


Não me alugo com picuinhas e aleivosias,
minha dor já é demais pro meu tamanho.
A ninguém culpo, sou dono do meu dano,
diretor absoluto das tristezas e alegrias.

Se errei, quando, sem querer, acertei no alvo;
acertei em cheio quando fiz do erro uma lição.
Sentimentos são antenas da intuição;
instintos, as divindades que nos põem a salvo.

Escrevo o que me sangra e expõe a ossada,
o resto é literatura ego-lírica-confessional.
Experimentar a morte faz parte do meu ritual,
ilusões caem na real e dão de cara com o nada.

E se agora te dou minha palavra mais amada
não ponha nela uma segunda intenção.
O que te revelo perfuma o meu coração:
sonhos de amor que entrego de mão beijada!

antonio thadeu wojciechowski

Por Que Comunistas Gostam de Vampiros e Capitalistas Curtem Lobisomens?

Estes dias eu estava falando sobre Lendas Urbanas com uma amiga que é comunista e cética com relação a assuntos da espiritualidade. Então, no meio da conversa ela falou que admirava os vampiros e era fã de série cinematográfica chamada Crepúsculo. Logo estranhei este aspecto, pois vampiros são seres altamente burgueses. Afinal, reza a lenda que o conde Drácula era um nobre e, além disto, eu nunca vi um filme, ou, um livro onde os vampiros fossem pobres. Estas criaturas das trevas sempre são representadas por nobres, ou, empresários capitalistas e egoístas.
Por isto, eu disse a minha amiga que os socialistas precisam gostar é de lobisomens. Afinal, reza a lenda que um lobisomem de verdade é um menino que nasceu, filho de mãe solteira, numa sexta-feira santa. Sem falar que todo o lobisomem seja no cinema, ou, na literatura é pobre ou lavrador humilde. Tanto que já escutei relatos de aparições destas criaturas em acampamentos de sem-terra e em comunidades carentes.
Particularmente, sempre achei os lobisomens mais interessantes do que os vampiros, justamente, pelos lobos serem mais simples e não terem as “frescuras” dos morcegos de plantão. Porém, dentro de mim, há uma pergunta que não deseja calar:
Por que será que comunistas gostam de vampiros e capitalistas gostam de lobisomens?

Luciana do Rocio Mallon

domingo, 1 de julho de 2012

"La verdadera risa, ambivalente y universal, no recusa lo serio, lo purifica y lo completa. Lo purifica del dogmatismo, del carácter unilateral, de la esclerosis, del fanatismo y del espíritu categórico, de los elementos del miedo o la intimidación, del didactismo, de la ingenuidad y de las ilusiones, de una nefasta fijación sobre un único plano, del agotamiento estúpido. La risa impide que lo serio se fije y se aisle de la integridad inacabada de la existencia cotidiana. Ella restablece esa integridad ambivalente"


Mikhail Bakhtin

Ex Franco-Atirador

Em qualquer cidade, em qualquer país, fujo dos fracos atiradores. Fujo da ordem imposta de forma crescente, do controle das minúcias, das lupas com pretensão de leitoras de pensamentos. Um franco-atirador como eu, aliás ex franco-atirador, acostumado ao ofício de não errar o único tiro, não pode estar contente com o caos instaurado, este caos do controle que chamam de Ordem. Toda coesão de pensamento é chamada de dogma quando insurge, quando provoca e quando resiste. Lembrando a célebre afirmação:

Protesto é quando eu digo que algo me incomoda. Resistência é quando eu me asseguro que aquilo que me incomoda nunca mais acontecerá.

Ulrike Meinhof

Somos vorazes salvadores do mundo mas muitas vezes não estamos dispostos a assegurar que algo que me incomoda não me incomode mais.Um tiro certeiro na hipocrisia parece ser coisa do passado. Lutar para que a dignidade seja mais do que um discurso de palanques parece ser coisa do passado.Dizer não à hegemonia da fome , dizer não ao facismo, dizer não ao calar diante da injustiça: isto não pode ser coisa do passado.

Chega de fracos atiradores.



Julio Urrutiaga Almada
se uma jóia é um poema


e um deles te ofereço

engraçado é o meu dilema

ser tão raro e não ter preço



se um abraço segue junto

e envolve o coração

o poeta sente muito

põe no verso a emoção



desejar um dia lindo

todo sim de tão bem-vindo

é função desse poema

ser presente e rara gema



antonio thadeu wojciechowski
vento que é vento


não inventa

simplesmente venta

viver bem todo mundo quer

todo mundo tenta

feliz daquele que puder

olhar para trás

e rever as maravilhas

dos seus melhores momentos

em câmera lenta





antonio thadeu wojciechowski

Jura secreta 115

este teu olho que me olha

azul safira

ou mesmo verde esmeralda fosse

pedra – pétala rara

carne da matéria doce

ou mesmo apenas fosse

esse teu olho que me molha

quando me entregas do mar

toda alga que me trouxe



arturgomes

http://tvfulinaima.blogspot.com.br/2012/06/jura-secreta-115.html