sábado, 21 de julho de 2012

Grisálida


Ela, sonâmbula ingênua,
alimentando-se dos resíduos de pão
recolhidos à tarde,
(são seus passos grisálida emplumada
em desalinho com o vento),
digere antídotos contra o próprio veneno.

Depois de enxugar lágrimas de acetona,
de dissecar a fauna de seus sentidos,
de esmorecer em falsos desatinos,
de esquecer seus primários instintos,

Depois de estar no purgatório
por não se enxergar Beatriz,
de reverter o espólio
em simples cicatriz,
escalavra em suplício
interstícios do equilíbrio.

Não seus cabelos entretidos
por entre os dedos em busca
de sensíveis vestígios sensoriais
(qual a seiva das horas
que expandem sombras espirais).

Nem seus ombros
de fascínios destacados
em gargalhadas leves
(que denunciam o alto
risco de surtos breves),

Mas o simples olhar
inveterado
ao reflexo do espelho
inviolável
de seus pensamentos
espectrais.

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