sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Carta para Aline


 De Mara Paulina Arruda

Aline, este texto foi escrito as pressas entre a hora do almoço e a hora que recomeça o trabalho. Hoje, me atrasei na manhã. Sabe-se lá por que!!! E o fato é que fiquei um tanto quanto amedrontada com a possibilidade de não ter nessas breves linhas o efeito poético que gostaria de causar. É quase impossível não falar das barbaridades que o mundo enfrenta e agora, com esta carta dobrada e protegida dentro da bolsa penso naquilo que você quer que se fale. Mas são tantas coisas.
Aline, por favor, perdoe-me se não consigo chegar ao lugar esperado por você. Lá fora, digo lá fora de dentro de mim e de ti, de nós que somos assim meio bobos com os sentimentos há todo um movimento centrífugo da humanidade.

Daqui a pouco você, enquanto lê vai dizer: ora, vai se catar!
Espere.

Por favor, vou te contar que com a sementeira nas mãos fazia covas na terra recém virada pelo trator. Tinha sobre os meus cabelos aquele chapéu de palha que você bem conhece. Cheiro de fumo –não de mim- mas do cigarro de palha que atrás da orelha estava de nosso querido Juvenal. Ele, disse para Dilva que não fez por mal. Bem capaz!!! E eu tive que ficar, um pouco, plantada no portão da casa cuidando das flores sempre-viva.
Aline, você é de sorte. Tataraneta da Baronesa de Limeira, uma mulher de classe que veio do interior de São Paulo parar por aqui na luta pela terra você tem esse espírito lutador. Hurrummm... Ainda que tudo já tenha se perdido no tempo. Percebe que tanto eu quanto você gostamos de cuidar das nossas histórias? Dentro de nossas possibilidades por enquanto nos resta trabalhar e dar conta desses bolinhos fritos recheados de doce de leite. E, cuidar da nossa filha que vai para a Escola e que é inteligente que só! A vida segue com alguns problemas, a bem da verdade, fazer o quê? E é de Josiel que estou aqui falando para terminar, de vez, a resposta à sua carta. Ele está na cama, doente, desde o ano passado, naquele hospital. Doença adquirida decorrente da utilização dos agrotóxicos na lavoura. Agora Aline, quero combinar contigo que assim que você vier nos visitar façamos o seguinte: numa bolsa coloquemos uns livros para Josiel ler e passar o tempo com mais qualidade. Penso que pode ser uma atitude bonita. E nós sabemos: Josiel, observador que é não gosta nem de pensar na palavra piedade.

Despede-se aqui a sua amiga de longe

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