domingo, 25 de novembro de 2012

Venialidades poéticas.


 De Mara Paulina Arruda

As impressões dela

Foi isso que pensei quando ele acenou: Venialidades poéticas. E como se estivesse tocando piano no ar acenei para ele. Estava, como sempre, com o caderno musical nos braços e o violino nas costas, coberto por uma capa marrom. Disse, rapidamente, que estava muito ocupada experimentando o lugar onde colocaria os três vasos de violetas que acabara de comprar numa floricultura. É verdade, ele falou do outro lado da rua, a luz solar tem um papel vital nesta planta por isso tenha cuidado aonde vai deixá-las. Sorri e disse baixinho para mim mesma: Sofrimento a vista. Que perigo meudeus! Sei de alguns segredos dele; segredos masculinos que me contou, num outro dia, numa festa. Na verdade o que gosto nele não são os seus segredos, mas o seu silêncio que quando inventa de calar-se não há santo que faça sair uma sílaba sequer. Coração que vale um quilate. E por ser assim precioso seu silên
cio tem por objetivo não ofender aquele ou aquela que tem por perto. Valha-me Deus, aí está o nó!

As impressões dele.

Ah, lá está ela me dando tchauzinho como se estivesse tocando piano. Essa mulher... Ainda bem que estou atrasado para o ensaio da orquestra e posso vê-la entrando na sua casa. Assim tenho um bom motivo para ver seu sorriso e imaginar que, um dia, poderei desfrutar da sua companhia. Sim, eu sou um daqueles sujeitos que fica a imaginar que um encontro casual irá tornar-se um belo romance, quiçá, um grande amor. Conjeturei que se atravessasse a rua chegaria mais perto dela e poderia abraçá-la, fingindo, um descuido de equilíbrio. Riríamos e convidá-la-ia para ir ao ensaio da nossa orquestra. Mas, foi só um pensamento que por falta de atitude, digo agora, a coragem ficou só nos pensamentos. Pelo que me parece ela só quer amizade. Claro, eu compreendo. O trabalho é a coisa mais importante do mundo. Mas o fato é que ela me parece um hino tocado ao modo de Bach, uma bela composição musical. Valha-me Deus, aí está o nó!

As impressões de quem conta o causo.

Via os pássaros quando presenciei a cena: Não estou bem certa, mas acho que ele tinha um nome de flor e ela um nome de terra. Algo assim... Guri, nem te conto!O que vi de longe foi um casal apaixonado. Os olhos dele saiam notas musicais. Os olhos dela, estrelinhas. Ah, por favor, um pequeno exagero não faz mal pra ninguém. Mas é fato que o casal parecia apaixonado. Um dava tchauzinho para o outro e conversavam sobre vasos de violetas. O mais incrível dessa estória é que ele é que é apaixonado por Clarice Lispector e pela música de Bach e, ela, gosta mesmo é dos autores estrangeiros e da música de Bach. Como assim?? Hum... Nada de muito emocional. Ou melhor, tudo é emocional. Assim, a vida os aproximou. E, agora depois de tanto tempo passado pensamos quando é que acertarão os últimos ponteiros? Valha-me Deus, ai é que se formou o nó!

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