segunda-feira, 30 de junho de 2014
flagro-te bruto tosco
digo, chulo, baixo feito um
diabo se afogando em latrina
de banheiro público
percebendo-me o açougueiro
(a medicina segue medieval
em alguns procedimentos)
de tua carne sem selo de garantia
devo agir rápido
um, dois talhos e vejo
o que tens, chechelento
desengana-te a ácida escória
da doença que entranhas-te
mas te acalma, esta poesia
que agora escutas com os olhos
são as vozes do remédio
Luiz Felipe Leprevost
Lenda da Índia da Escola do CIC
Na época do Brasil-Colônia, onde hoje é um bairro chamado
Cidade Industrial, mais conhecido como CIC, na cidade de Curitiba, havia uma
aldeia de índios. Lá existia uma linda
índia chamada Jurema. Um certo dia um caixeiro-viajante, que passava pelo
local, viu a nativa, seduziu a pobre e continuou o seu caminho.
Alguns meses depois a jovem descobriu que estava grávida do
branco e caiu em depressão. Deste jeito, seu pai que era o pajé da tribo
realizou um ritual e disse:
- Este homem que engravidou você sofrerá pela sua pessoa em
outras vidas.
Após dar a luz a uma linda menina, Jurema morreu no parto.
O tempo passou, aquela aldeia desapareceu e no lugar dela
foi erguido um bairro chamado Cidade Industrial. Em 2010 Luísa, uma linda
menina descendente de Jurema, brincava pela região e freqüentava o maior
colégio do bairro. O problema é que esta garota tinha constantes pesadelos
estranhos: ela sonhava que era uma índia que foi abandonada grávida e acordava,
no meio da noite, chorando. Outro fator preocupante era seu vizinho Ricardo, um
menino que era apaixonado por Luísa. Pois vivia mandando bilhetes inoportunos e
passando trotes telefônicos para esta pretendente.
O passatempo desta adolescente era confeccionar artesanato
indígena, inclusive arco e flecha que funcionavam de verdade. Naquele mesmo
ano, a professora de Língua Portuguesa resolveu adaptar o livro Iracema do
escritor José de Alencar para o teatro da escola. Desta maneira, a mestra
escolheu Luísa para fazer o papel da protagonista, devido aos seus traços indígenas
e ao seu passatempo.
Na hora da apresentação Oscar, um ex-estudante daquela
escola, apaixonou-se pela índia. Mas não teve coragem de se declarar naquele
instante. Afinal, Luísa tinha apenas 13 anos na época.
Em 2013 Oscar passou a trazer e a buscar da escola Lívia,
sua irmã, e sempre ficava admirando Luísa. Até que um dia ele tomou coragem, se
declarou e os dois passaram a namorar. Porém, Ricardo descobriu tudo e passou a
cometer troques telefônicos e mensagens eletrônicas ameaçando seu rival, onde
dizia que se o romance continuasse ele mataria os dois.
Numa ensolarada manhã de outubro daquele mesmo ano, no final
da aula, Luísa encontrou-se com Oscar e deram as mãos em frente ao colégio.
Porém, de repente, Ricardo apareceu armado. Primeiro, ele atirou em Oscar nas
costas e depois deu dois tiros na cabeça de Luísa. Os professores chamaram
ambulâncias. O rapaz ficou bastante tempo internado. Mas, a moça morreu dois
dias depois.
Luísa chegou ao limbo vestida com roupas indígenas e viu um
pajé que falou:
- Bem vinda, minha filha Jurema!
A garota comentou:
- Meu nome é Luísa.
O índio explicou e mostrou-lhe um espelho onde apareceu sua
antiga reencarnação:
- Você já foi uma índia chamada Jurema, que foi abandonada
por um homem branco. Depois você reencarnou como Luísa e o cara-pálida renasceu
como Oscar.
A jovem gritou:
- Isto não pode ser verdade!
- Minha alma voltará para a Terra!
Como Luísa amava a escola, seu espírito passou a freqüentar
aquele lugar. Então crianças pequenas
passaram a ver um fantasma da adolescente fantasiada de índia que, às vezes,
brincava com elas.
Porém, este espírito gostava mesmo de ficar ao lado de
Oscar. Pois o que era amor na vida material desta moça, virou obsessão depois
da sua morte. Afinal Luísa tinha virado um espírito sugador de energia. Com o
passar dos dias Oscar recuperou a sua saúde física, mas ficou atormentado
mentalmente porque passou a ter: crises de depressão, tentativas de suicídio e
pesadelos com sua ex-namorada vestida de índia. No seu perfil nas redes sociais,
ainda constava o status de: “um relacionamento sério com Luísa.” Sílvia, a mãe
do rapaz, desesperada passou a levar o filho para vários especialistas como:
psicólogos, psiquiatras e terapeutas. Mas, nada adiantou.
Um certo dia esta senhora foi a um evento no Bosque São
Cristóvão, num bairro chamado Santa Felicidade. Quando, de repente, uma idosa
vestida de preto encostou em seu ombro e disse-lhe:
- Eu sei que você tem problemas com o seu filho e conheço
muito bem a razão.
A mulher exclamou:
- Quem é você?!
- Como sabe disto?!
A anciã explicou:
- Sou uma strega, uma espécie de maga descendente de
italianos. O seu filho está sofrendo por causa do encosto da alma da falecida
namorada dele. Pegue este meu cartão de visitas, traga seu filho no endereço
que consta nele que um ritual será feito.
Sílvia pegou o cartão e no dia seguinte foi até o local onde
a maga realizava trabalhos espirituais. Lá, a “curandeira” fez o famoso
exorcismo romano. No dia seguinte, a parte psicológica do rapaz passou a
melhorar. Pois ele: se alimentou corretamente, tirou o “status” de
relacionamento sério com Luísa das redes sociais e foi para uma balada.
Porém o espírito da garota continuava freqüentando o
colégio. Um certo dia ela resolveu seguir uma estudante porque pressentiu que
algo de ruim poderia acontecer a ela. A colegial cortou caminho dentro de um
bosque. Assim, Luísa viu que um homem, atrás do carvalho, tinha uma arma
apontada para a estudante. Deste jeito, a índia lançou uma flecha no punho do
marginal, que gritou:
- Ai!
- Uma flecha indígena!
- Como é possível?!
- Se não existem tribos nesta região?!
Reza a lenda que a alma de Luísa não perturba mais Oscar.
Porém, seu fantasma protege e defende as crianças daquela escola.
Luciana do Rocio Mallon
enxergo a Esperança. como se prenhe dos pavores gelados da
morte, a Esperança, serzinho menor que esta joaninha, tivesse vindo debruçar o
poeta no parapeito do abalo sísmico de si mesmo. do poeta, conheço o desejo
fundo de ser bom. que anjos olham dos olhos de um homem caído? o filho vai
longe num tempo que ainda não se fez. a mulher da vida, anciã a mascar a
dentadura do que foi de alegre e cobiçada. ele, mais um que rememora com
fotografias e ninguém ama sozinho. e é ilusão o que não esqueço, o resto foi
real. e a memória resiste na umidade, no mofo que agarra onde pode, a memória,
falsificadora de quadros de água, não empoça – onda que bate na orla e
desmancha. o poeta é o esquecimento que não é capaz de fazer. o que ama vai diariamente
sendo comido pelos cardumes de peixes da mente. e nem é estourada feito a luz a
memória, nem completamente escura, pode que um espelho estilhaçado: grãos do
indefinível, fagulhas de universos. necessário é ir aonde somos ínfimos, olhar
cada pedaço isoladamente, quem sabe, apalpar algo do que um dia foi sem
comparação. lembrar não doeria se a lembrança não aprisionasse o que precisamos
esquecer. o desespero da memória é reinventar esquecimentos. e o futuro extremo
só poderá ser o fogo ou a terra com suas bibliotecas de ossos
Luiz Felipe Leprevost
domingo, 29 de junho de 2014
Dia de Catraca Livre em Curitiba
Dia 26 de junho, um dia de inverno
Entre a geada fria e leve neve
De um jeito quase fraterno
Cobradores entraram em greve!
Este dia no transporte coletivo
Ficou com uma pitada de magia
Com um movimento rotativo
Que inspirou esta poesia!
Os cobradores, nobres trabalhadores,
Não querem sentir mais tantas dores!
Eles desejam agasalhos em dias frios
Para evitar resfriados e arrepios!
Eles querem que o motorista
Apenas tenha a função de dirigir
Pois com dupla função ele é mais do que artista
Porque não tem segurança ao conduzir!
Curitiba teve um dia de livre catraca
Onde por cima passou todo mundo
De princesa ao MC Catra
E até um sentimento profundo!
Até as almas dos cemitérios
Andaram em muitos coletivos
A catraca livre tem seus mistérios
Que intriga até mesmo os vivos!
Dia 26 de junho, um dia de inverno
Entre a geada fria e leve neve
De um jeito quase fraterno
Cobradores entraram em greve.
Luciana do Rocio Mallon
Respirar
Do veludo de minha voz
Umas calças pretas mandarei fazer.
Farei uma blusa amarela
De três metros de entardecer
Maiakovski
Maiakovski vestia o céu sem cerimônia
Entardecer nos ombros - sua blusa amarela
O infinito atado à flauta de suas vértebras
A derramar delírios e sonhos pela Nevski
Tudo queimava em beleza revolucionária
E até hoje seu canto incendeia os poetas
Bárbara Lia - in Respirar (2014) no prelo
Parte 2
Entendo os gritos
eles machucam
a minha voz
a palavra que
que se forma
depois
do silêncio
que guardo em dias
secretos
sem saber
das perdas,
o céu dorme
nas horas
de poucas
luzes.
Porto
vai longe
na despedida,
não é alegre
corro entre
os carros,
minhas asas
assutadas em
teus ombros
machucam a
despedida.
Te
envio
os meus
dias perdidos
na porta da
tua casa.
A luz invade
a solidão
exausta
nas mãos
do
tatuador.
Minhas
estrelas
brilham
na pele
cansada
de sono.
Foto e poesia: Tadeu Vilani.
Santana do Livramento - RS-BR
27.04.2014
Entendo os gritos
eles machucam
a minha voz
a palavra que
que se forma
depois
do silêncio
que guardo em dias
secretos
sem saber
das perdas,
o céu dorme
nas horas
de poucas
luzes.
Porto
vai longe
na despedida,
não é alegre
corro entre
os carros,
minhas asas
assutadas em
teus ombros
machucam a
despedida.
Te
envio
os meus
dias perdidos
na porta da
tua casa.
A luz invade
a solidão
exausta
nas mãos
do
tatuador.
Minhas
estrelas
brilham
na pele
cansada
de sono.
Foto e poesia: Tadeu Vilani.
Santana do Livramento - RS-BR
27.04.2014
sexta-feira, 27 de junho de 2014
A pele encrespou-se na beira da porta
A pele encrespou-se na beira da porta. O adeus na ponta da
língua. Olho de vidro. Corpanzil. Então ele jogou com gosto na boca duas
jabuticabas. Era possível ver gotículas de saliva e de sumo da fruta a
espalhar-se no ar junto ao rosto. Sobre a mesa, band-aid, colírio, pomada, uma
bolsa arrebentada e uma carta chegada pelo vão da janela. A serração cobria
metade da cidade. Vaisefodê! foi que ele disse quando soube que em linha
diagonal foi encontrado o corpo de Elimar. Larápios. No corpo um cobertor surrado.
Só os pés de fora. Pés sujos de lama. Uma guia de Oxum no pescoço. Anéis nos
dedos e um relógio no pulso parado. Um tiro atravessado. O corpo gelado, sem
respiração, sem sentimentos, sem emoção. Transeuntes passavam. Hora do
trabalho. Sexta-feira. Não havia tempo para perder. Tempo perdido esse que se
ocupa de outro ser. Polícia. A sirene anunciava sua chegada. Ninguém viu nada.
De Mara Paulina arruda.
Perdida nos meus desobjetos, me inauguro sujeito quando me
subjetivo numa lâmpada, numa borracha, numa torneira, num martelo, numa
cadeira, num espelho, num parafuso, num alicate.
.foto mais curitibana não existe: cara de
gripe+cachecol+pinhão e quentão na rua são francisco+desfile da moça na rua
riachuelo+grafite nas fachadas. se passar ali perto da praça de bolso do
ciclista não deixe de parar no armazém que fica aberto vendendo guloseimas
invernais durante a noite.
Andréia Carvalho Gavita
PEQUENOS EXERCÍCIOS FUTEBOLÍSTICOS
COPA DE 50
O apito final não põe fim
ao desamparo. O silêncio
cortou a língua do Brasil.
COPA DE 2014
Imagine na Copa: aeroportos,
estádios, manifestações.Cães
Ladram mas a caravana passa
BRASILxMÉXICO
Passe certo. Passe errado.
A bola rola e não me olha
Zero a zero. Que merda!!!
Rubens Jardim
tem o momento em que ela para de falar, e aí eu paro de
falar. então fica mexendo a colher na xícara vazia, e eu desenhando abstrações
no guardanapo. de repente ela diz algo como "entre filósofos e
amestradores de baratas de comercial de inseticida, fico com a segunda
opção". é isso, tem esse jeito alegre da gente ser triste. tem o
compromisso de querer que doa. tem todos esses papeizinhos amarelos da Redcard
esquecidos na carteira. e as 208 caronas que ela tá me devendo. os pedaços da
torta que comemos dividindo a colher. e ela sempre dizendo coisas do tipo
"repara como as moscas esfregam as mãos antes de chupar o doce"
Luiz Felipe Leprevost
● depois de todo esse amanhecer meu sancho ●
● basta caminhar entre macieiras entojadas de maçãs ●
● maças maduras e podres q caem como agua da chuva ●
● caminhar ate q o peso cesse e os olhos se acostumem ●
● porq tão longe meu sancho o mar parece uma mulher ●
● sempre muito nua sempre muito louca risonha e nua ●
● mordendo maçãs como quem passeia por um campo ●
● sempre plantado inda não satisfeito com a colheita ●
● apodrecendo por esquecimento doença ou desalento ●
● sem olhar covas rasas sem mirar isso bem demais ●
● como se tudo e mais fosse apenas o q toda coisa é ●
● passagens onde cães e gatos se dissolvem sem saber ●
● mas não ha campo nenhum meu sancho nem mulher ●
● nem maças podres ou tão maduras q seja so das moscas ●
● sem abelhas e sem mel depois da ruína e da destruição ●
● não meu sancho não ha mesmo nada em nada disso ●
● mas o q ha é muito pior q um campo de maçãs podres ●
● um campo de macieiras abandonadas antes do deserto ●
Alberto Lins Caldas
Deserto de vazios
Sinto-me envolta em mantos rasgados
Que escondem o sagrado do que me resta,
Que protegem a carne já dilacerada,
Que guardam o tempo que ainda há em mim.
Quero despir-me e despedir-me
Das cascas que recobrem meu corpo,
Que de tão furadas pelas lanças do mundo,
Estão em lascas...
Já não servem mais de escudo,
Já não servem mais.
Por entre esses rasgos em mim espio os tornados
Dentro do deserto de vazios que criei e que carrego...
Nego tudo, desejo nada e fujo do meu castelo,
Que outrora era belo,
Mas que já não serve mais de morada,
Já não serve mais de refúgio,
Já não serve mais.
Fujo das ruínas enfeitiçadas pelo destino e por Cronos,
Que ainda se mantêm apesar do meu desatino e dos anos,
E dos ventos que sopram dos desencantos,
E dos prantos que chovo em mim de vez em quando.
As areias das minhas ampulhetas invisíveis
Flutuam em inaudíveis lamentos
E caem em tormentas imprevisíveis;
Formando intransponíveis dunas,
Barreiras que impedem minha fuga...
Desse castelo em ruínas inquebráveis
Nesse deserto de vazios que criei,
Que antes de cenário de tormentas e tornados era oásis,
Mas que já não serve mais de morada,
Já não serve mais de refúgio,
Já não serve mais...
Samantha Beduschi Santana
quinta-feira, 26 de junho de 2014
A solidão
Eu venho de um outro país que o vosso.
Outro bairro, outra solidão.
Hoje como hoje, eu me crio atalhos;
eu não sou mais um de vocês,
tenho o aspecto dos mutantes; biologicamente me dou cabo
com a idéia de que sou feito da biologia: mijo, ejaculo, choro.
Antes de tudo
devemos elaborar as nossas idéias
como se fossem artefatos. Estou pronto para os moldes.
Mas ...
A Solidão...
Os moldes são de uma nova matéria, advirto,
estão fundidas desde a manhã do amanhã.
Se você não tem, deste dia o sentido relativo
da sua duração,
é inútil se atravessar
é inútil procurar
à frente de você,
porque de frente para trás, a noite é dia
mas...
A solidão...
a solidão, a solidão, a solidão !!!
Antes de tudo
as lavanderias automáticas,
aos ângulos das estradas
são impertubáveis
assim como o vermelho e o verde dos semáforos.
Patrulhas de detergente
irão declarar onde será possível
lavar isso ou aquilo que você crê.
A consciência não é outra
senão uma sucursal daquele facho
de nervos de que lhe serve o cérebro.
E portanto...
A Solidão.
O desespero é uma forma superior de crítica,
por ora nós a chamaremos ''felicidade'',
porque as palavras que vos usam
não são mais do que palavras; mas uma espécie
de condução através da qual os analfabetos têm a consciência posta.
por isso...
A solidão!
Do código civil falaremos mais
tarde. Por ora eu queria
codificar o incodificável
queria medir o poço de São Patrício
de vossas democracias.
Queria imergir no vazio absoluto
e me tornar um não dito, o não advindo, o não virgem
por defeito de lucidez. A lucidez
a tenho na roupagem
na minha roupagem!!!
__________________Léo Ferré.
[ tradução: Tullio Stefano ]
Je suis d´un autre pays que le vôtre, d´une autre quartier, d´une autre solitude.
Je m´invente aujourd´hui des chemins de traverse. Je ne suis plus de chez vous. J´attends des mutants.
Biologiquement, je m´arrange avec l´idée que je me fais de la biologie : je pisse, j´éjacule, je pleure.
Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s´il s´agissait d´objets manufacturés.
Je suis prêt à vous procurer les moules. Mais...
La solitude...
La solitude...
Les moules sont d´une texture nouvelle, je vous avertis. Ils ont été coulés demain matin.
Si vous n´avez pas, dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée, il est inutile de vous transmettre, il est inutile de regarder devant vous car devant c´est derrière, la nuit c´est le jour. Et...
La solitude...
La solitude...
La solitude...
Il est de toute première instance que les laveries automatiques, au coin des rues, soient aussi imperturbables que les feux d´arrêt ou de voie libre.
Les flics du détersif vous indiqueront la case où il vous sera loisible de laver ce que vous croyez être votre conscience et qui n´est qu´une dépendance de l´ordinateur neurophile qui vous sert de cerveau. Et pourtant...
La solitude...
La solitude!
Le désespoir est une forme supérieure de la critique. Pour le moment, nous l´appellerons "bonheur", les mots que vous employez n´étant plus "les mots" mais une sorte de conduit à travers lequel les analphabètes se font bonne conscience. Mais...
La solitude...
La solitude...
La solitude, la solitude, la solitude...
La solitude!
Le Code Civil, nous en parlerons plus tard. Pour le moment, je voudrais codifier l´incodifiable. Je voudrais mesurer vos danaïdes démocraties. Je voudrais m´insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit, le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité.
La lucidité se tient dans mon froc!
Dans mon froc!
Outro bairro, outra solidão.
Hoje como hoje, eu me crio atalhos;
eu não sou mais um de vocês,
tenho o aspecto dos mutantes; biologicamente me dou cabo
com a idéia de que sou feito da biologia: mijo, ejaculo, choro.
Antes de tudo
devemos elaborar as nossas idéias
como se fossem artefatos. Estou pronto para os moldes.
Mas ...
A Solidão...
Os moldes são de uma nova matéria, advirto,
estão fundidas desde a manhã do amanhã.
Se você não tem, deste dia o sentido relativo
da sua duração,
é inútil se atravessar
é inútil procurar
à frente de você,
porque de frente para trás, a noite é dia
mas...
A solidão...
a solidão, a solidão, a solidão !!!
Antes de tudo
as lavanderias automáticas,
aos ângulos das estradas
são impertubáveis
assim como o vermelho e o verde dos semáforos.
Patrulhas de detergente
irão declarar onde será possível
lavar isso ou aquilo que você crê.
A consciência não é outra
senão uma sucursal daquele facho
de nervos de que lhe serve o cérebro.
E portanto...
A Solidão.
O desespero é uma forma superior de crítica,
por ora nós a chamaremos ''felicidade'',
porque as palavras que vos usam
não são mais do que palavras; mas uma espécie
de condução através da qual os analfabetos têm a consciência posta.
por isso...
A solidão!
Do código civil falaremos mais
tarde. Por ora eu queria
codificar o incodificável
queria medir o poço de São Patrício
de vossas democracias.
Queria imergir no vazio absoluto
e me tornar um não dito, o não advindo, o não virgem
por defeito de lucidez. A lucidez
a tenho na roupagem
na minha roupagem!!!
__________________Léo Ferré.
[ tradução: Tullio Stefano ]
Je suis d´un autre pays que le vôtre, d´une autre quartier, d´une autre solitude.
Je m´invente aujourd´hui des chemins de traverse. Je ne suis plus de chez vous. J´attends des mutants.
Biologiquement, je m´arrange avec l´idée que je me fais de la biologie : je pisse, j´éjacule, je pleure.
Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s´il s´agissait d´objets manufacturés.
Je suis prêt à vous procurer les moules. Mais...
La solitude...
La solitude...
Les moules sont d´une texture nouvelle, je vous avertis. Ils ont été coulés demain matin.
Si vous n´avez pas, dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée, il est inutile de vous transmettre, il est inutile de regarder devant vous car devant c´est derrière, la nuit c´est le jour. Et...
La solitude...
La solitude...
La solitude...
Il est de toute première instance que les laveries automatiques, au coin des rues, soient aussi imperturbables que les feux d´arrêt ou de voie libre.
Les flics du détersif vous indiqueront la case où il vous sera loisible de laver ce que vous croyez être votre conscience et qui n´est qu´une dépendance de l´ordinateur neurophile qui vous sert de cerveau. Et pourtant...
La solitude...
La solitude!
Le désespoir est une forme supérieure de la critique. Pour le moment, nous l´appellerons "bonheur", les mots que vous employez n´étant plus "les mots" mais une sorte de conduit à travers lequel les analphabètes se font bonne conscience. Mais...
La solitude...
La solitude...
La solitude, la solitude, la solitude...
La solitude!
Le Code Civil, nous en parlerons plus tard. Pour le moment, je voudrais codifier l´incodifiable. Je voudrais mesurer vos danaïdes démocraties. Je voudrais m´insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit, le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité.
La lucidité se tient dans mon froc!
Dans mon froc!
A Escola da Poesia
A
poesia contemporânea já não canta…rasteja Ela todavia tem privilégio da
distinção não frequenta palavras mal afamadas, ignora-as .Só com luvas
se pega nas palavras: ''menstrual'' prefere-se ''periódico'', e não se
cansam de repetir que há termos médicos que não devem sair dos
laboratórios e ds codex
O snobismo escolar que consiste em só empregar, em poesia, certas e determinadas palavras, em privá-las de muitas outras, sejam técnicas, médicas populares ou argóticas, faz-me lembrar o prestígio dos lavabos. Não é a pia que faz as mãos limpas nem o beija-mão que faz a ternura Não é a palavra que faz a poesia mas a poesia que faz a palavra
Os escritores que recorrem aos dedos para saber se os pés estão contados, não são poetas, são datilógrafos O poeta hoje em dia tem de pertencer a uma casta a um partido ou à ''fina-flor'' de sua capital. O poeta que não se submete é um homem mutilado
A poesia é um clamor. Deve ser ouvida como se ouve a música. Toda a poesia que apenas se destina a ser lida e fechada nos seus caracteres é uma poesia incompleta. Só as cordas vocais lhe dão o sexo, como o arco ao violino, tocando-lhe…
Mozart morreu sozinho , acompanhado de um cão à uma vala comum, um cão e os fantasmas
Renoir tinha dedos tortos de reumatismos.
Ravel tinha um tumor que lhe sugou de vez toda a música
Beethoven era surdo!
Um peditório aconteceu para o enterro de Bela Bertok.
Rutebeuf tinha fome!
Villon roubava para comer!
Quem se importa!
Vivemos em tempos épicos e de épico nada temos.
Vende-se musica como creme de barbear.
E para que o próprio desespero também se venda
bastará encontrar a fórmula
Está tudo apostado: os lucros e a publicidade A clientela.
O DESESPERO QUEM O INVENTARÁ ?
Com os aviões que levam nossas palmas ao sol .
Com os nossos gravadores que se recordam vozes que já se calaram para nossa alma ancorada em meio a ruancontrando-nos à beira do vazio com os pés atados.
Estamos à beira do vazio, amarrado em nossos pacotes de carne para assistir as revoluções.
Nunca se esqueça que há uma peso enunciando a moralidade que é sempre a moral do outro
Os mais belos cânticos são de reinvidicação.
O verso deve fazer amor na cabeça das pessoas.
Na escola da poesia e da música ninguém aprende.
todos se batem!
____________Léo Ferré.
____________________L' école de la poésie.
[ tradução: Tullio Sartini ]
texto original:
La poésie contemporaine ne chante plus, elle rampe
O snobismo escolar que consiste em só empregar, em poesia, certas e determinadas palavras, em privá-las de muitas outras, sejam técnicas, médicas populares ou argóticas, faz-me lembrar o prestígio dos lavabos. Não é a pia que faz as mãos limpas nem o beija-mão que faz a ternura Não é a palavra que faz a poesia mas a poesia que faz a palavra
Os escritores que recorrem aos dedos para saber se os pés estão contados, não são poetas, são datilógrafos O poeta hoje em dia tem de pertencer a uma casta a um partido ou à ''fina-flor'' de sua capital. O poeta que não se submete é um homem mutilado
A poesia é um clamor. Deve ser ouvida como se ouve a música. Toda a poesia que apenas se destina a ser lida e fechada nos seus caracteres é uma poesia incompleta. Só as cordas vocais lhe dão o sexo, como o arco ao violino, tocando-lhe…
Mozart morreu sozinho , acompanhado de um cão à uma vala comum, um cão e os fantasmas
Renoir tinha dedos tortos de reumatismos.
Ravel tinha um tumor que lhe sugou de vez toda a música
Beethoven era surdo!
Um peditório aconteceu para o enterro de Bela Bertok.
Rutebeuf tinha fome!
Villon roubava para comer!
Quem se importa!
Vivemos em tempos épicos e de épico nada temos.
Vende-se musica como creme de barbear.
E para que o próprio desespero também se venda
bastará encontrar a fórmula
Está tudo apostado: os lucros e a publicidade A clientela.
O DESESPERO QUEM O INVENTARÁ ?
Com os aviões que levam nossas palmas ao sol .
Com os nossos gravadores que se recordam vozes que já se calaram para nossa alma ancorada em meio a ruancontrando-nos à beira do vazio com os pés atados.
Estamos à beira do vazio, amarrado em nossos pacotes de carne para assistir as revoluções.
Nunca se esqueça que há uma peso enunciando a moralidade que é sempre a moral do outro
Os mais belos cânticos são de reinvidicação.
O verso deve fazer amor na cabeça das pessoas.
Na escola da poesia e da música ninguém aprende.
todos se batem!
____________Léo Ferré.
____________________L' école de la poésie.
[ tradução: Tullio Sartini ]
texto original:
La poésie contemporaine ne chante plus, elle rampe
Elle a cependant le privilège de la distinction
Elle ne fréquente pas les mots mal famés, elle les ignore
On ne prend les mots qu´avec des gants
À menstruel, on préfère périodique
Et l´on va répétant qu´il est des termes médicaux qui ne doivent pas sortir des laboratoires et du codex
Le snobisme scolaire qui consiste, en poésie, à n´employer que certains mots déterminés, à la priver de certains autres, qu´ils soient techniques, médicaux, populaires ou argotiques, me fait penser au prestige du rince-doigts et du baise-main
Ce n´est pas le rince-doigts qui fait les mains propres ni le baise-main qui fait la tendresse
Ce n´est pas le mot qui fait la poésie mais la poésie qui illustre le mot
Les écrivains qui ont recours à leurs doigts pour savoir s´ils ont leur compte de pieds ne sont pas des poètes, ce sont des dactylographes
Le poète d´aujourd´hui doit être d´une caste, d´un parti ou du Tout-Paris
Le poète qui ne se soumet pas est un homme mutilé
La poésie est une clameur
Elle doit être entendue comme la musique
Toute poésie destinée à n´être que lue et enfermée dans sa typographie n´est pas finie
Elle ne prend son sexe qu´avec la corde vocale tout comme le violon prend le sien avec l´archet qui le touche
L´embrigadement est un signe des temps, de notre temps
Les hommes qui pensent en rond ont les idées courbes
Les sociétés littéraires, c´est encore la société
La pensée mise en commun est une pensée commune
Mozart est mort seul, accompagné à la fosse commune par un chien et des fantômes
Renoir avait les doigts crochus de rhumatisme
Ravel avait dans la tête une tumeur qui lui suça d´un coup toute sa musique
Beethoven était sourd
Il fallut quêter pour enterrer Bela Bartok
Rutebeuf avait faim
Villon volait pour manger
Tout le monde s´en fout!
L´art n´est pas un bureau d´anthropométrie
La lumière ne se fait que sur les tombes
Nous vivons une époque épique
Et nous n´avons plus rien d´épique
La musique se vend comme le savon à barbe
Pour que le désespoir même se vende, il ne reste qu´à en trouver la formule
Tout est prêt : les capitaux, la publicité, la clientèle
Qui donc inventera le désespoir?
Avec nos avions qui dament le pion au soleil
Avec nos magnétophones qui se souviennent de ces voix qui se sont tues
Avec nos âmes en rades au milieu des rues
Nous sommes au bord du vide, ficelés dans nos paquets de viande, à regarder passer les révolutions
N´oubliez jamais que ce qu´il y a d´encombrant dans la morale, c´est que c´est toujours la morale des autres
Les plus beaux chants sont des chants de revendication
Le vers doit faire l´amour dans la tête des populations
À l´école de la poésie, on n´apprend pas!
On se bat!
Elle ne fréquente pas les mots mal famés, elle les ignore
On ne prend les mots qu´avec des gants
À menstruel, on préfère périodique
Et l´on va répétant qu´il est des termes médicaux qui ne doivent pas sortir des laboratoires et du codex
Le snobisme scolaire qui consiste, en poésie, à n´employer que certains mots déterminés, à la priver de certains autres, qu´ils soient techniques, médicaux, populaires ou argotiques, me fait penser au prestige du rince-doigts et du baise-main
Ce n´est pas le rince-doigts qui fait les mains propres ni le baise-main qui fait la tendresse
Ce n´est pas le mot qui fait la poésie mais la poésie qui illustre le mot
Les écrivains qui ont recours à leurs doigts pour savoir s´ils ont leur compte de pieds ne sont pas des poètes, ce sont des dactylographes
Le poète d´aujourd´hui doit être d´une caste, d´un parti ou du Tout-Paris
Le poète qui ne se soumet pas est un homme mutilé
La poésie est une clameur
Elle doit être entendue comme la musique
Toute poésie destinée à n´être que lue et enfermée dans sa typographie n´est pas finie
Elle ne prend son sexe qu´avec la corde vocale tout comme le violon prend le sien avec l´archet qui le touche
L´embrigadement est un signe des temps, de notre temps
Les hommes qui pensent en rond ont les idées courbes
Les sociétés littéraires, c´est encore la société
La pensée mise en commun est une pensée commune
Mozart est mort seul, accompagné à la fosse commune par un chien et des fantômes
Renoir avait les doigts crochus de rhumatisme
Ravel avait dans la tête une tumeur qui lui suça d´un coup toute sa musique
Beethoven était sourd
Il fallut quêter pour enterrer Bela Bartok
Rutebeuf avait faim
Villon volait pour manger
Tout le monde s´en fout!
L´art n´est pas un bureau d´anthropométrie
La lumière ne se fait que sur les tombes
Nous vivons une époque épique
Et nous n´avons plus rien d´épique
La musique se vend comme le savon à barbe
Pour que le désespoir même se vende, il ne reste qu´à en trouver la formule
Tout est prêt : les capitaux, la publicité, la clientèle
Qui donc inventera le désespoir?
Avec nos avions qui dament le pion au soleil
Avec nos magnétophones qui se souviennent de ces voix qui se sont tues
Avec nos âmes en rades au milieu des rues
Nous sommes au bord du vide, ficelés dans nos paquets de viande, à regarder passer les révolutions
N´oubliez jamais que ce qu´il y a d´encombrant dans la morale, c´est que c´est toujours la morale des autres
Les plus beaux chants sont des chants de revendication
Le vers doit faire l´amour dans la tête des populations
À l´école de la poésie, on n´apprend pas!
On se bat!
domingo, 22 de junho de 2014
Declaração de amor
Ao vê-la ali na sala se deu conta, que nunca fora um homem
romântico nos gestos, menos ainda com as palavras. Saiu discreto, voltou com
uma rosa vermelha. Entrou em casa tímido. Aproximou-se da esposa de longos
anos, balbuciando sua declaração de amor : “Eu te amo” Colocou a flor entre as
mãos da amada, debruçou-se e chorou sobre o caixão. JDamasio
Sobre jogos com cabeças na era da informação.
A cabeça fervendo dentro de um
Microondas chamado Facebook
Ou o algoz prendendo a cabeça
Dentro do galão cheio d'água
Ou algum aluno do curso de letras
Cortando cabeças em artigos
Ou algum jornaleco dizendo
"Pq não cortamos cabeças
E empalamos os corpos?"
Ou um leitor dizendo no Face
"Pq não cortar a cabeça
Desse ou daquele poeta?"
O goleiro
Que segura a cabeça chutada
Estará salvando quem?
Alexandre França
NA TÁBUA DA BEIRADA
NALDOVELHO
Meu poema caminha
pela beirada da tábua
sem que eu tenha medo,
mas nunca permitiria
que ele caminhasse
pela tábua de beirada;
vai que ele escorrega
e revela meus segredos.
Às vezes ele confunde
privacidade com intimidade,
e existem coisas que eu não confesso
nem pra mim mesmo.
Por isto o cuidado,
pois o poema é um inconfidente,
bisbilhoteiro demais,
adora expor fragilidades.
Na Escuridão, Amanhã.
"Eu, na garupa do inerte pangaré, estampo a expressão
do desespero. Você sempre me disse isso. É a única frase tua que ficou: 'Você é
um desesperado, meu filho'. Esse é o legado que me resta. Além, é claro, desta
vontade insaciável de destruição e esquecimento. Foi o desespero que me trouxe
até aqui. É o desespero que me move." ~ Rogério Pereira, em Na Escuridão,
Amanhã.
DESEJOS
Ao vê-la naqueles trajes, não resistiu:
— Venha, estamos a sós, senta aqui do meu lado.
— Não, por favor! Me respeite, sou uma freira.
— Eu sei, por isso que eu te quero, continua sendo uma
mulher.
— Respeite meu hábito!
— Respeito você o meu e o seu desejo.
— Sou noiva de Cristo.
— Seja noiva dele, não me importo desde que seja minha
amante. Vem...?
— Não posso, entreguei minha alma a Deus.
— Ótimo, Não quero sua alma, ele fica com ela e eu com seu
corpo.
— Não! Por favor, não chegue perto.
— Sim! Deixa eu te mostrar os prazeres da carne.
— Não fale assim, parece coisa de Satanás!.
— Não vamos colocar Deus nem o diabo na nossa transa, ficara
broxante. Isso é coisa de homem e de mulher.
— Não chegue mais perto, não... Não, não vou resistir! Aqui
é um lugar sagrado...
— Hum... Todos os lugares onde se pode fazer amor são
sagrados.
— Que está fazendo seu louco? Está rasgando meu hábito com
seus dentes, assim eu não...
— Sim, sim...
— Ai! Não, sim... sim.
Meia hora depois, ela diz:
— E agora, como vai ficar, o que vamos fazer?
— Não esquente, relaxa... Foi bom?
— Hum!... Demais! Mas, como vou fazer pra devolver hábito
para loja de fantasias? Você arrancou todos os botões.
— Amanhã veremos. E o Junior, melhorou da tosse, amor?
JDamasio - A compota de Pimenta e outros Contos
"puramente" Picantes 2009
um chicletes colado na volta
entupido de palavras grudentas
passado que jorra e viscoso
demora entre o asfalto e a sola
mentindo o caminho
dizendo o meu nome
pregando os meus passos
no chão.
um cão latindo em seu canil
a saudade -
mascar mascar a procura do açúcar
que há horas nossa boca diluiu
tudo que se parece com o amor, pode que seja
e sigo arremessado pássaro vivo num precipício
ensaiando uma orquestra de beijos
beber não é mais um bom amigo
tendo uma crise de ansiedade, rivotril a berceuse
cada lágrima é uma lâmina que eu choro
fiquei tão burro de uma hora pra outra
por dormir na parte de trás dos seus joelhos
ser sozinho é não ter confidentes
beber não deveria ser um bom amigo
devíamos vir como que com aquelas
barras antipânico dentro da gente
Luiz Felipe Leprevost
o meu corpo
é onde escrevo
em qualquer chão
me deito
os carros passam
sobre o meu corpo
máquina muda
esqueço
leio um poema
a música atormenta
o meu corpo estreito
em cada rio
que não navego
meu sonho ideal
o meu corpo
desaparece
como uma folha
ou qualquer coisa
papel ao vento
os prédios me olham
em silêncio
jussara Salazar
Como todo o real
é espesso.
Aquele rio
é espesso e real.
Como uma maçã
é espessa.
Como um cachorro
é mais espesso do que uma maçã.
Como é mais espesso
o sangue do cachorro
do que o próprio cachorro.
Como é mais espesso
um homem
do que o sangue de um cachorro.
Como é muito mais espesso
o sangue de um homem
do que o sonho de um homem.
Espesso
como uma maçã é espessa.
Como uma maçã
é muito mais espessa
se um homem a come
do que se um homem a vê.
Como é ainda mais espessa
se a fome a come.
Como é ainda muito mais espessa
se não a pode comer
a fome que a vê.
[cabral cabra cabralino...discurso do Capibaribe
Jussara Salazar
Até o capim tem sentimentos
Até o capim tem sentimentos
Sinto. Os carrapatos sentem.
E como sente o cão danado!
É. O sentimento há até nos
vermes que farão da minha
carne o suco, o pó, o quase nada.
E daí que em cada aurora
pode acontece alvoradas,
as amenidades retomadas
ao gosto ou desgosto ou cio
ou qualquer tipo de esperneio.
A novidade para seu senso
que nem é tão bom ou ruim,
apenas assim tão comum...
é constatar que sentimento
não é algo exclusivo da sua
espécie maravilhosa, as feias
lombrigas do corpo mais viu
têm o sentir por natureza;
é reconhecer nas rasteiras
gramas sob as bostas dos
bois, cavalos, garças, porcos...
sentem, sente, sentem;
é compreender o simples
e interessante da vida...
sentimento não significa
a emoção perante o fato.
Ao olhar o seu olhar arregaçado
vejo o seu embrulhar da mente,
ao sentir o frio da hora...
não esboçando emoção
pela dor daqueles que ignora.
Juleni Andrade
● minha unica ambição ●
● era deixar um nome mas a natureza ●
● não me foi benefica ●
● nunca fui dotado ●
● de nenhum talento especial ●
● ou força de carater ●
● q me ajudasse a vencer ●
● os obstaculos ●
● da vida ●
● mas deixar um nome ●
● se tornou ●
● minha loucura ●
● obsessão q deformava os sonhos ●
● e tornava desprezivel ●
● qualquer outro desejo ●
● durante muitos anos não soube o q fazer ●
● ficava boiando na existencia ●
● sem me decidir a começar nada ●
● apenas a loucura de deixar um nome ●
● ?mas como alguem nulo e vazio ●
● poderia empreender tamanha tarefa ●
● não fui preparado pra nada ●
● muito menos pra esse ●
● empreendimento ●
● somente viver era insuportavel ●
● dai comecei a escrever meu nome ●
● nas paredes da cidade ●
● é verdade q aqui chove muito ●
● e todos os dias os nomes ●
● logo logo somem ●
● mas assim ●
● q a chuva passa ●
● recomeço meu trabalho ●
● talvez um dia de tanto perseverar ●
● um desses nomes permaneça ●
● depois da chuva ●
Alberto Lins Caldas
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Tudo o que espero é reencontra-la, Não tenho certezas, a
vida é incerta! Mas gostaria de falar-lhe tudo que ficou engasgado! Foram anos
ao seu lado, muito ouvi, pouco falei! Quando pensei que poderei extravasar meus
sentimentos , você se foi, foi embora de mansinho, na calada da noite, enquanto
dormia, não se despediu, a vida é mesmo incerta! Pois bem, fique sabendo, por
tudo que me fez passar nesses mais de trinta anos de casamento, espero poder
olhar bem nos seus olhos, seja em qualquer tempo e espaço, dizer-lhe,entre
outras coisas, sem nenhum constrangimento: Eu te amo, minha velha menina!!! JD
Todas as mulheres queriam ser Bárbara, foi o que me segredou
a mais próxima de mim, caminhando ao meu lado pela areia... Eu disse a ela que
estava muito difícil encontrar azeitonas na praia, durante o percurso inteiro,
vi apenas uma encravada na areia suja. No mais, era uma sujeira que a onda
atirava restos de redes de pescadores e sargaços. Não havia sol e era em algum
lugar da Bahia, e todo mundo queria ser Bárbara e eu era Bárbara, tinha certeza
disto. Na casa o perfume de plantas e ervas tornava o ar quase sólido, e as
pessoas preparavam uma festa. E crianças corriam e se divertiam menos o menino
quieto, pequeno, de cabelos longos, vestido como um garoto do século XIX, de
suspensórios e calça nos joelhos. Encantei-me com ele, e não deixaram que eu o
tirasse do quarto, era uma cama antiga e um menino que queria brincar, proibido
de brincar. Entre as cenas de ciúmes de um casal, deixo a casa, pensando em
onde estaria Calabar? No caminho conchas violáceas, finas e transparentes estão
espalhadas pela areia, coloco em uma pequena cesta de vime, e sigo me
encantando com a cor das conchas, suas formas estranhas...
Bárbara Lia da série "Somnu"
Aqui,
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras - descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas
relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no
AR
caranguejos explodem mangues em pólvora
Ovo de Colombo quebrado
areia branca inferno livre
Rimbaud - África virgem
carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas
Jerusalém pagã visitada
Atafona.Pontal.Grussaí
as crianças são testemunhas:
Jesus Cristo não passou por aqui
Miles Davis fisgou na agulha
Oscar no foco de palha
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
penúltima dose de pólvora
palmeira subindo a maralha
punhal trincheira na trilha
cortando o pano a navalha
fatal daqui Pernambuco
Atafona.Pontal.Grussaí
as crianças são testemunhas:
Mallarmè passou por aqui.
bebo teu fato em fogo
punhal na ova do bar
palhoças ao sol fevereiro
aluga-se teu brejo no mar
o preço nem Deus nem sabre
sementes de bagre no porto
a porca no sujo quintal
plástico de lixo nos mangues
que mar eu bebo afinal?
Artur Gomes
www.goytacity.blogspot.com
Sonhei que estava em um lugar, um bar. Em uma mesa com
muitas pessoas. Eu não as conhecia, mas, no sonho eram minhas amigas. Então,
ele chegou: Caetano Veloso. Ele sentou-se ao meu lado como quem está
interessado. Eu estava feliz, ficamos ali conversando e brincando. Ele estava
mais jovem que agora, mas, não tinha aquela cara de menino. De cabelos curtos,
roupa marrom. Ele estava sério e sensual. Então, alguém me chamou e pediu para
ajudar um amigo. Ele precisava ir até sua casa apanhar algo e íamos levá-lo. Eu
não queria deixar Caetano. Levamos aquele homem moreno, de protuberante barriga
até um lugar. Ele pediu que entrássemos. Era uma casa cheia de homens obesos e
o homem que levamos disse que eu tinha que comprar uma pizza que ele fazia.
Mas, ela era horrível. A pizza estava sem assar. Era pequena, e o homem dizia
que ela custava sessenta reais. Eu argumentava que era muito caro para uma
pizza naquelas condições. Eu só queria voltar, pois lá onde Caetano estava ele
procurava por mim. E eu fiquei ali, naquela casa velha, discutindo com um cara
chato, sobre uma pizza que eu não queria. E Caetano esperando por mim...
Somnu - Bárbara Lia.
Pensei “sol” o dia inteiro. O sono só chegou de madrugada e
você entrou no meu sonho com o mesmo silêncio antigo que era seu caminhar
diante de mim naquele espaço onde te via. No sonho você atravessou uma plateia
pequena de um teatro pequeno e ignorou o palco e as pessoas. Meu olhar te
acompanhou, embevecida. Alguém sussurrou que teu nome era Élio, sem H. Não sei
como, mas, no sonho eu sabia que era sem H. Só tinha que ser Élio, Hélius. A
personificação do sol. Então eu sorri e em seguida acordei e fiquei triste.
Queria seguir teus passos dentro daquele sonho, para onde você fosse. Queria
que, displicente, deixasses cair tua mão. Eu a tomaria, jamais a soltaria, ia
seguir mãos dadas com o sol, Élio. Você. Que sabe que eu gosto de te chamar com
outras quatro pequeninas letras – mantra que eu amo.
Bárbara Lia da série "Somnu"
● depois duma longa e profunda peregrinação ●
● incitados da insaciavel cobiça de gozo e aventura ●
● quase perdidos em muitos anos por esse deserto ●
● chegamos ha uma montanha tão elevada ●
● q parecia assim como um paraiso de luz e pedra ●
● um trono ao vento e a essas mesmas estrelas ●
● ninguem daqueles reflexos podia afastar os olhos ●
● principalmente porq começamos crendo em tudo ●
● e terminamos sabendo de tudo a crua razão ●
● das aguas e na tranquilidade do tempo sonhamos ●
● e dizemos roucos "as minas são inatingiveis" ●
● ou com alegria "as minas são insaciaveis" ●
● começamos reis e findamos ratos assim ●
● roendo migalhas de pão com uma lingua dura ●
● uma lingua infeliz uma lingua so dos outros ●
● tres dias caminhamos rio abaixo e nas margens ●
● topamos com uma cachoeira de tanto estrondo ●
● pela força das aguas e resistencia q nos calamos ●
● da parte do oriente desta agua tão quebrada ●
● achamos varias cavernas e medonhas covas ●
● sem esse medo q hoje e agora nos acompanha ●
● fizemos a experiencia das suas profundidades ●
● com muitas cordas imensas e muito fortes ●
● mas nunca pudemos topar com o centro ●
● achamos tambem algumas pedras e terras raras ●
● matamos e morremos como baratas e pulgas ●
● pelos ideais da coroa da cruz e das boas casas ●
● nada de nada ao final foi nossa vida e honra ●
● agora essas cidades abandonadas e a miseria ●
● começamos reis e findamos ratos assim ●
● não vale mais a coisa viva a coisa esperta e viva ●
● a finura de tudo q luta respira e refaz a coisa vida ●
● o vivido nem o q se ha de se viver porq so ha morte ●
● essa morte essa morte toda com asas abertas ●
● isso q sussurra como se gritasse "começam reis ●
● findam todos ratos assim roendo uns aos outros" ●
*alberto lins caldas
A Puta
"O seu corpo não conhece o corpo de um homem, não
conhece as exigências de um macho, você não sabe o que fazer com um macho, não
sabe sentar num pau, seu corpo foi feito para lambuzar as fêmeas. Esqueça essa
bobagem, eu te imploro! A sua buceta é gasta demais pra fazer curva, ela só
traz ranhuras, cistos, vincos estreitos e escuros. Não leve esse menino para
esse labirinto. Você gastou tempo demais fuçando o próprio corpo, não queira
oferecer a ele um fruto envenenado."
Márcia Barbieri
PARALELOS
Amizades
Raras
Teias
Inteiras
Costuram
Uni-versos
Ligam
Atos
Re-versos
Íntimos
Destinos
Antigos
Domínios
ELOS
Somamos
-Paralelos
Particular-
Idades somamos
Amizades -Elos.
Lisa Köe
Sou brasileiro. Caso me adequasse ao momento diria estar
orgulhoso por isso. Seria mentira. Apenas me envaideço por feitos meus. Nasci
aqui por responsabilidade exclusiva dos velhos. Mas como todos parecem gostar
de adjetivos, sinto-me na obrigação de encontrar um que me classifique. Troco o
orgulhoso por tranquilo. Sou brasileiro tranquilo. Não me ufano ou ando por aí
enfeitado de verde e amarelo feito papagaio, mas gosto do meu país. Conheço
todos os estados e capitais, um grande número de cidades. Considero o Rio de
Janeiro o lugar mais bonito do mundo, e olhe que já viajei bastante. Povo
bacana, recebemos com simpatia as pessoas. Comemos bem. Não troco arroz com
feijão por delícias importadas. Amo nossa língua, sempre que a escuto fico
feliz. Escrevo em português do Brasil. Verei os jogos da seleção como faço
sempre. Sofrendo, acompanhando as jogadas, torcendo muito. Se ganhar ficarei
feliz, gosto do Felipão. Afinal, a seleção brasileira é quase tão bonita quanto
o Santos.
Ricardo Ramos Filho
terça-feira, 10 de junho de 2014
PASSAGENS
Acautela-te ao me amar, meu amor
Que um dia parto desta vida
Estarei longe pra abraçar-te a dor
No silente dia da despedida
Mas põe na vida toda tua esperança
Olha a tudo como um bem celeste
Amor, e luta, por manter sempre a lembrança
De todo o bem em mim que tiveste
Lavra a terra, conduz o gado
E ama, que de nada serás falto
Mas não esquece, bem amado
De mirar sempre teu olhar ao alto
(by Juliana Corrêa - 2008)
sexta-feira, 6 de junho de 2014
O AMOR SE VAI PELA MESMA VIA QUE VEM
Uma coisa invisível
está perecendo no mundo,
um amor não maior
que uma música.
(Jorge Luis Borges)
1º movimento
tudo muito rápido
toda
tímida capto todo
torto rapto
um breve cintilar de
lábios
da cor escarlate do
mesmo esmalte
das unhas que
laceravam a pele do peito enquanto
os olhos diziam que
eu era tudo
e que nada nos
separaria
2º movimento
toda boca
úmida toda loba
cínica toda mímica
mínima
todo espanto tanto
encanto pra tudo
terminar em nada
esse nada que nada
sara e me atira
outra vez no fundo
do poço enquanto
estrelas migram lá
fora
Ademir Assunção
(poema escrito em
dezembro de 1999)
Eu não tive tempo para ler todos os livros que você me
emprestou
Nem para entender a tua esquizofrenia
Não tive tempo para fechar a porta sem que você acordasse dos
pesadelos que há anos te acompanham
Eu não tive tempo de caminhar em tua direção
Não existe nada como esperar por um tempo que jamais voltará
atrás
E assim eu sigo com a minha vida
Caminhando sem chão
E sem dúvidas, nem certezas
De mais nada.
Alexandra Barcellos
Adriana Zapparoli
- e bastavam 24 horas na ausência do cloridrato para o íleo
nublado surgir em safira entre suas taras. entre suas tiras. as suas fitas,
todas pelo ralo. e bastavam 48 horas guilhotinas e seu humor de
alícia-anfetamínica se extinguia pelo átrio entre o herpes e a queda de saliva
... os primeiros sinais e o amor.
A Puta
"Um dia ele se injuriou, enxugou o chão com a língua,
tomou urina, comeu as próprias fezes, raspou o casco que tomava a superfície da
sua pele, cavou um pouco mais o fosso, procurou água, matou os bichos que se
escondiam nos cantos, removeu o limbo das paredes, arrancou as unhas encravadas
com os dentes, gravou os dentes nas minhas costas, não se conteve, engordou,
alargou os ombros, esticou o pau, eles mal cabiam na pequena latrina. Limpou a
ferrugem, cuspiu pro lado de dentro da boca, não mais no meu sexo, destrancou a
porta e se foi. Soltei um último gemido, não mais de prazer, embora me
masturbasse enquanto ele partia, pois tinha me acostumado ao amor fácil."
Márcia Barbieri
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