sexta-feira, 27 de junho de 2014

A pele encrespou-se na beira da porta



A pele encrespou-se na beira da porta. O adeus na ponta da língua. Olho de vidro. Corpanzil. Então ele jogou com gosto na boca duas jabuticabas. Era possível ver gotículas de saliva e de sumo da fruta a espalhar-se no ar junto ao rosto. Sobre a mesa, band-aid, colírio, pomada, uma bolsa arrebentada e uma carta chegada pelo vão da janela. A serração cobria metade da cidade. Vaisefodê! foi que ele disse quando soube que em linha diagonal foi encontrado o corpo de Elimar. Larápios. No corpo um cobertor surrado. Só os pés de fora. Pés sujos de lama. Uma guia de Oxum no pescoço. Anéis nos dedos e um relógio no pulso parado. Um tiro atravessado. O corpo gelado, sem respiração, sem sentimentos, sem emoção. Transeuntes passavam. Hora do trabalho. Sexta-feira. Não havia tempo para perder. Tempo perdido esse que se ocupa de outro ser. Polícia. A sirene anunciava sua chegada. Ninguém viu nada.

De Mara Paulina arruda.

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