domingo, 1 de maio de 2016

Amigo capitalista


-Ola, Damásio, quanto tempo!
-Verdade, Ricardo, creio que mais de vinte anos.
-E daí, conte as novas, lembra a ultima vez que nos falamos foi naquele hotel cinco estrelas em foz do Iguaçu.
-Claro que sim, ministrava palestra de técnicas em vendas e você de motivação. Sai daquele ramo, hoje tento ser escritor.
--Que bacana, eu também publiquei alguns livros de auto-ajuda, os seus são voltados a área comercial? Bom mercado!
--Não, escrevo contos, tento fazer literatura.
--Literatura? Mas isso dá dinheiro.
--Dá satisfação, faço o que gosto, amigo. E também continuo com palestras.
--Está certo, suas dicas de técnicas vendas são ótimas. Isso tem mercado!
-Palestras voluntarias de incentivo à leitura, amigo!
--Sei... Está certo, e onde está morando?
--Estou morando no boqueirão, numa casinha simpática de madeira, terminei a pouco a varanda que circunda a casa, pega o nascer e pôr-do-sol.
---- Sim, lamento, quero dizer, entendo. Eu comprei um apartamento de cobertura no batel. Mas não tenho ficado muito nele, senão ia convidá-lo para tomar um uísque. A vida da lucros para quem sabe investir nela. Muito trabalho, ando numa correria. Agora, ministro palestras para executivos no Brasil todo. Falando nisso, deixa eu correr, tenho um contrato grande pra fechar, e passar na concessionária, carro novo! Falando nisso o meu está logo ali, quer uma carona pra algum lugar.
-Obrigado, querido. Mas não tenho pressa, vou caminhando, vou até a floricultura, tenho que pegar umas mudas de fores da nova estação para o meu jardim. Abraços.
-Então, valeu! Desejo melhoras, quero dizer, felicidades.
- Melhoras para quem e para quê? Tchau amigo.

Esse encontro tem mais de dez anos, nunca mais o vi, não sei se meu amigo capitalista enfartou ou se continua vivendo infeliz sem saber.

JD

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