Nota: Trata-se aqui de um pequeno trabalho que, a pedido e
para mim próprio, venho executando, com o objectivo de mostrar o caracter do
Poeta acentuado pela vertente regionalista, como se pode ler em toda a sua
Obra...
A ideia surgiu não por uma minha qualquer qualificação, mas
talvez exactamente por isso – para, utilizando a linguagem facil de quem pouco
sabe, conseguir prender a atenção e o interêsse de quem quere ouvir e
aprender...mas sem gastos de tempo exagerados ou de muita atenção...
E se, com êsses objectivo, mais alguém houver que queira
ajudar na tarefa...será muito bem vindo.
M.P.Sepúlveda
Introdução Preparatória:
O objectivo destas notas foi de criar um Texto Final passivel
de ser dividido em partes, para tornar viavel a sua apresentação e dar tempo à
sua compilação...
Trata-se pois de um texto despretencioso reportando
elementos recolhidos de forma despreocupada, visando tentar dar uma imagem de
algum modo clara daquelas facetas do caracter do Poeta Miguel Torga, que tanto
concorreram para o tornar uma personagem exemplar e impar na Literatura
Portuguesa, mas conscientemente limitada, face à riqueza do Universo da sua
Vida Literária, tanto na Temática como na abrangência de Locais e Espaços por
onde caminhou...
Mas limitando-me ao Concelho de Terras de Bouro e ao Livro
consultado, esta tarefa de recolha de informação tornou-se-me bem mais facil, e
até mais avisado para quem não é um “expert”, permitindo-me mesmo tentar a graça
de compilar e organizar estas notas, misturando intencionalmente Escritos e
Poemas...sem qualquer preocupação de coorelação.
Notasobre o Título:
Miguel Torga e o Gerês...
(elementos retirados da Obra...”Antologia
(Diário)...Extractos relativos a Terras de Bouro”...)
Edição da Câmara Municipal de Terras de Bouro
Nascido e vivendo quase em permanência neste Norte de
Portugal entre serras e penedos, no chamado Alto-Douro, foi um dos Escritores e
Poetas Portugueses recentes que, na minha opinião, apaixonadamente mais e
melhor nos falou e deixou registos deste Interior Norte Rural do nosso País,
região sempre tão esquecida por outros Iguais e por todos nós em geral...
E o Gerês, tão belo e tão próximo, foi por ele amiudadamente
visitado e registado nos Diários, através de Poemas e de Escritos.
Neles, falava assim:
Gerez,Banco do Ramalho,17 de Agosto de 1942 – Deste
monstruoso sofá em que a posteridade transformou uma singela pedra onde o bom
do Ramalho costumava sentar-se, e com o sol melancólico a cair ao longe sobre o
Cávado, penso na crueldade do destino para com certos homens e certos países.
Então o saudável autor das “Farpas”, o higiénico caixeiro viajante do bom gosto
pátrio, não mereceria num recanto da sua terra, onde ele leu, escreveu e
descansou, outra coisa que não fosse um mausoléu?! Pois não seria mais puro,
mais leal e mais de acordo com o que ele nos ensinou, deixar neste sítio a
mesma lage que o conheceu, do que lavra-la, pôr-lhe uns tocheiros em cima, e
fazer dela, que foi possivemente uma almofada sideral, a triste e agoirenta
sepultura que se vê?! O culto do homem superior não deve ser nunca uma
intromissão da nossa mesquinhêz na pureza das suas pègadas. Quando se não é
capaz de mais, o chapéu na mão...e as próprias fragas como ele as deixou.
Já em outro momento o Poeta escrevia
“A razão e o instinto hão-de acabar por dizer-lhe que todas
as flores artificiais do mundo plástico não valem um lírio dos campos, que
todas as químicas laboratoriais não valem a fermentação de um carro de estrume,
que todos os apitos imperativos do progresso não valem o som cordial de um
chocalho.”
E no poema “Patria” dá-nos bem ideia das ligações que
partilhava, construia e perseguia entre aquele conceito de pátria e a própria
morfologia do território e da sua cultura local...
Pátria
Serra !
E qualquer coisa dentro de mim se acalma...
Traída,
Feita de terra
E alma.
Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
- Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bico a picar estrelas verdadeiras...
(Gerez, Pedra Bela em 1942)
Nenhum comentário:
Postar um comentário