segunda-feira, 30 de abril de 2018

Com mãos pacientes
reelaboro os contornos da memória.
O que ora era névoa
hoje é ferragem, cadeado, estrutura.
Não ouso olhar de frente
a sombra comprida do poente:
só sua insinuação nos meandros remotos do remorso.
São laboriosos meus passos na alameda de concreto.
Pedra por pedra, edifico minha estela:
sou o mensageiro da vigília e da rotina.
Já não mais arde o fogo antigo nas lareiras.
A brisa já não sopra como um eco.
Sei no entanto que encontrarei no último aposento do palácio
a lembrança morta da manhã perdida.
Sou o que faz, constrói, edifica:
sem sonho, sem treva, sem absoluto .

Otto Leopoldo Winck

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