Eu
não tenho
medo da morte.
Eu tenho medo quando uma coisa cai
e quebra
como porcelana,
seja uma velha amizade,
um novo amor
ou o sentido – fortuito – dos orbes.
Aí vem o vazio,
pior que a morte,
que não cola mais os cacos espalhados no chão.
Eu
não tenho
medo da morte.
Eu tenho medo da ode
inconclusa, da carta interrompida,
do beijo suspenso,
seja este poema – que em si nunca estará completo –
seja a vida, esta obra sempre aberta...
Por que o medo então,
se tudo é acidental
e acidentado? Por que não assumir de vez
que este medo – que me paralisa no trabalho, na fila do
banco, no amor –
não é, no fundo, no fundo, o medo da própria morte?
Talvez seja
para não dar o braço a torcer
a esta velha desmancha-prazeres
que corta os brotos
antes das flores, ou, quando não,
colhe as flores antes dos frutos
– e as oferece ao Nada.
Otto Leopoldo Winck
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