(Ao som de
We Die Alone, de Lamb of God)
Tontura nos olhos. Pressão na fronte. Lentamente, os passos
são vencidos. Segue em frente, não possui destino; não possui mais. Sofre como
flecha lançada sem vontade.
Com chinelos poeirentos, arrasta pedras e galhos pela noite
de sombras. O silêncio é quebrado pela fraqueza do andar. Entre a trilha e a
mata, o suor da caminhada ofegante.
Sobre a pele, fiapos de pano. A brisa gelada entrando
devagar. O arrepio da pele pela lembrança do sereno.
A roupa corroída não cobre a vergonha. A pele à mostra
expele dor. Tingido de sangue, o vestido desfeito seca lentamente.
As flores da estampa gritam e choram. Escorrem pétalas
através do tecido desmanchado. O vento dança no traje domingueiro.
Sofre a que não será mulher. Sofre a menina humilhada,
segurando uma boneca sem sexo. Apenas uma menina que caminha entre a trilha e a
mata. Ofegante.
Ouvindo os ruídos das sombras na estrada, tenta esquecer o
pavor das presas na carne. Tenra carne de menina que atrai feras. Uma após
outra, sobre ervas e papoulas, rasgando a carne da menina. A carne.
Jogada no chão. Lambida na face. Mordida na pele. Sangrada
na inocência do sexo.
Cães, cobertos por feridas, saciados. Bestas, em pus,
cobriram a fêmea que colhia flores. A fuga somente nos dedos entrando na terra
escura.
A menina caminha sabendo a pureza perdida e a inocência
pingando sobre os pés.
Homero Gomes
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