segunda-feira, 11 de junho de 2018

Desvelamento



(Ao som de We Die Alone, de Lamb of God)


Tontura nos olhos. Pressão na fronte. Lentamente, os passos são vencidos. Segue em frente, não possui destino; não possui mais. Sofre como flecha lançada sem vontade.

Com chinelos poeirentos, arrasta pedras e galhos pela noite de sombras. O silêncio é quebrado pela fraqueza do andar. Entre a trilha e a mata, o suor da caminhada ofegante.

Sobre a pele, fiapos de pano. A brisa gelada entrando devagar. O arrepio da pele pela lembrança do sereno.

A roupa corroída não cobre a vergonha. A pele à mostra expele dor. Tingido de sangue, o vestido desfeito seca lentamente.

As flores da estampa gritam e choram. Escorrem pétalas através do tecido desmanchado. O vento dança no traje domingueiro.

Sofre a que não será mulher. Sofre a menina humilhada, segurando uma boneca sem sexo. Apenas uma menina que caminha entre a trilha e a mata. Ofegante.

Ouvindo os ruídos das sombras na estrada, tenta esquecer o pavor das presas na carne. Tenra carne de menina que atrai feras. Uma após outra, sobre ervas e papoulas, rasgando a carne da menina. A carne.
Jogada no chão. Lambida na face. Mordida na pele. Sangrada na inocência do sexo.

Cães, cobertos por feridas, saciados. Bestas, em pus, cobriram a fêmea que colhia flores. A fuga somente nos dedos entrando na terra escura.

A menina caminha sabendo a pureza perdida e a inocência pingando sobre os pés.



Homero Gomes
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