Um dia eu fiquei tão triste que quis arrastar todas as
estrelas do céu. Desejei que o sol não mais nascesse e a lua despencasse sobre
os transeuntes. Amaldiçoei a esperança, este ídolo todo de barro, e tatuei na
testa um signo obsceno. Disse de mim para comigo: não tenho irmãos nem a
perspectiva de encontrar um semelhante sobre a terra. Nesse dia voltei para
casa, a pé, pelo trajeto mais longo. Todas as pessoas que eu cruzava viravam o
rosto, repugnadas. Mais tarde, rolando em meu leito, desejei de novo ser peixe
e nadar para sempre no líquido amniótico. De manhã, ao me olhar no espelho do
banheiro, constatei que estava transformado em Caliban. (Chorei como uma
criança que perdeu os pais numa feira.) Apanhei então uma navalha. Apalpei meus
pulsos. Mas mudei de ideia e esquartejei você.
OLW
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