terça-feira, 5 de junho de 2018

VAGAS




Na vela desfraldada
Debruçado na amurada
Na amurada debruçado
Na fria madrugada
Num cântico interrompido
Sufocado
Num reflexo devolvido
Rejeitado
Via-me reflectido
Transfigurado
Em espuma dissolvido
Olhar fito aniquilado!

Imagem lapidada
Em circulos fechada
Pela onda devastada
E a onda voraz seguia
Na muralha se esbatia
E a imagem ressurgia
No verde mar salgado!

Outra onda se formava
Outra onda se acercava
Outra onda me afogava
E eu ali continuava
Só! Imóvel! Mortificado!

Quisera deter essa onda
Que de mim nunca se esconda
Quisera reter essa imagem
Que no mar fora miragem
Sorriso de Gioconda
Sorriso inanimado
Mas o mar seguira viagem
Estiolara-se na viragem
Cabo há muito dobrado!

E o mar não mais voltou
E o mar ali me deixou
Só! Supremo! Naufragado!

Rogério do Carmo
Paris, 18/5/1990

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