Na vela desfraldada
Debruçado na amurada
Na amurada debruçado
Na fria madrugada
Num cântico interrompido
Sufocado
Num reflexo devolvido
Rejeitado
Via-me reflectido
Transfigurado
Em espuma dissolvido
Olhar fito aniquilado!
Imagem lapidada
Em circulos fechada
Pela onda devastada
E a onda voraz seguia
Na muralha se esbatia
E a imagem ressurgia
No verde mar salgado!
Outra onda se formava
Outra onda se acercava
Outra onda me afogava
E eu ali continuava
Só! Imóvel! Mortificado!
Quisera deter essa onda
Que de mim nunca se esconda
Quisera reter essa imagem
Que no mar fora miragem
Sorriso de Gioconda
Sorriso inanimado
Mas o mar seguira viagem
Estiolara-se na viragem
Cabo há muito dobrado!
E o mar não mais voltou
E o mar ali me deixou
Só! Supremo! Naufragado!
Rogério do Carmo
Paris, 18/5/1990
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