aos nossos colegas de classes integrais que já nos deixaram
Na comunidade militar, fala-se que a tropa é o espelho do seu (dela) comandante.
Eu diria que o cartão de visita, é o espelho de seu (respectivo) titular.
Não creio ser necessário explicar sobre as frases acima. Elas “falam” por si próprias.
Mas a história dos cartões de visita, ou cartões comerciais, é interessante.
O nome já diz. O cartão de visita, originalmente, era para solicitar ou marcar uma visita.
Explico melhor.
Antigamente, lá pelo século XIV, todo o cidadão de bem, portava cartões de visita. Ou seja, um retangulosinho (que não era guloso) de papel de superior qualidade, com unicamente, o nome (e sobrenome) do titular, escrito. Em alguns, constava também a cidade donde o mesmo provinha. Não o cartão, mas o seu titular.
E o tal cartão, chamava-se, de visita, pois servia para, unicamente, solicitar ser recebido (pessoalmente), pelo visitado.
E também, para dar a saber que um cidadão de bem, esteve a visitar outro cidadão de bem, que estando ausente, o mesmo era deixado com o mordomo ou com alguém da criadagem do visitado, dando a entender que o seu titular desejava marcar uma visita.
Naquela época (século XIV), evidentemente que os cartões eram caligrafados, certamente com tinta nanquim (Made in China). Daí a importância do calígrafo, isto é, o profissional que escrevia (à mão) os cartões de visita.
Passados uns dois séculos, e, já com o advento do sistema de impressão com tipos móveis, os cartões de visita começaram a descaracterizar-se. Não o eram mais caligrafados, e, passaram a ter mais conotações comerciais ou de negócios, do que propriamente de visita. Incluíam (além do nome e sobrenome de seu titular) também a atividade profissional e o endereço, comercial e/ou residencial.
Passados mais uns quatro séculos, os cartões de visita, descaracterizam-se por completo, pois além dos endereços e atividades comerciais (e vejam só a que ponto se chegou), os tais cartões traziam número de telefone ... Que heresia !!! Uns até estampavam imagens pictóricas e/ou logotipos ... E alguns portadores mais ousados, utilizavam o verso dos cartões, para mensagens de otimismo, ou bíblicas. Inacreditável.
Passados mais uns sessenta, ou pouco mais, quase no fim do século XX, aí a coisa liberou geral. Foi um tal de colocar, endereço eletrônico, letras em relevo, letras coloridas, e até tem cartões com a fotografia do dono. Um despropósito.
Mas tudo isto é história.
Eu conheço pessoas (em geral são profissionais liberais) que são fanáticos por cartões de visita. E até os colecionam.
Um dia, marcando uma visita por telefone, fui à casa de um destes colecionadores. E lhe forneci o meu cartão, para que ele o incluísse na sua (dele) coleção.
Voltando para (minha) casa, no caminho, me lembrei que tinha comigo uma porção de cartões, que por esta vida afora, fui guardando. Uns porque eram bonitinhos, outros porque eram de pessoas queridas, etc.
Chegando em (minha) casa, com certeza ainda influenciado pela visita recém realizada, comecei a olhá-los.
E vejam que um dos meus favoritos, é de fato um legítimo cartão de visita. Ou seja, unicamente contém o nome (de um tio meu já falecido) e a cidade (Curityba). Notar que não se trata, no caso, da cidade onde ele faleceu, porém a que ele então residia. E com a grafia antiga.
Iniciou-se praticamente uma hora da saudade, com os vários cartões que guardava comigo. E poeticamente, cada um deles me contou uma história. Ora sobre o titular, ora, sobre a ocasião em que me foi ofertado, ora sobre a cidade onde o obtive, etc.
Um dos mais interessantes, é um cartão que recebi de um investigador. Era um cartão confeccionado sobre de uma fina chapa de alumínio polido, com cantos arredondados. O titular dele foi um aluno que tive. Ao recebê-lo de suas mãos, em troca do meu, comentei: “este seu cartão deve ter-lhe custado caro, para confeccioná-lo”. Ao que ele me respondeu: “mas os meus serviços, também são caros”.
E olhando os outros, um por um, reparei que alguns eram de pessoas que eu sabia já terem falecido. O primeiro, um cartão comercial da Merrill Lynch; seu titular foi um dos passageiros falecidos em acidente de aviação ocorrido na decolagem de um vôo da TAM, sobre a cidade de São Paulo. Outro, era de um advogado, meu ex-aluno, morto por um colapso cardíaco fulminante. Outro, era de um habilíssimo ilusionista e ventríloquo.
Um outro, também de um ex-aluno, gerente “Prata da Casa” do antigo Banco Bamerindus do Brasil, que o manterei com especial carinho.
Estava em devaneio, quando minha filha, que é também a minha dentista, me pergunta o porque de eu estar olhando aqueles antigos cartões. Alguns já amarelecidos.
Disse-lhe que cada um me contava uma história, etc, etc ... E comentei que alguns titulares daqueles cartões, já não estavam mais neste mundo ...
E ela me disse: “puxa Papai, até parece que quem lhe dá cartões de visita, morre ... !?”
E eu, filosoficamente, lhe respondi: “tudo é uma questão de tempo ...”
A propósito, eu tenho comigo, quatro cartões, de ex-colegas das classes integrais. Pela ordem que os recebi: 1º - Ivo Leonel Paciornik; 2º - Ricardo de Chueri Karam; 3º - Érico Oda; 4º - Jazomar Vieira da Rocha ...
Seriam os titulares do 3º e do 4º cartões, respectivamente, os próximos ... ???
Osiris Duarte de Curityba
Publicado no Recanto das Letras em 28/12/2008
Código do texto: T1356908
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
O Baile
Se você não responde às línguas que falo
calo a saudade
não saiba na voz doce
o desencanto decantado
não saiba a fantasia de princesa
no teu baile malogrado
Calo em mim o rumor de flores eclodindo
e deito a pétala mal- me- quer
no vestido amarrotado
já embolado nas gavetas da memória
aos panos rotos de outros bailes
em que os buquês murcharam no meu seio
e mãos pendidas ao longo do desencontro
não me enlaçaram
Esse sorriso branco bem bordado
é trama nos tecidos tenros da menina
que ficou às margens do salão
com música alucinando sob o decoro
os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado
e a quem coube ir embora
ao primeiro tom da aurora
sem ter dançado
Iriene Borges
calo a saudade
não saiba na voz doce
o desencanto decantado
não saiba a fantasia de princesa
no teu baile malogrado
Calo em mim o rumor de flores eclodindo
e deito a pétala mal- me- quer
no vestido amarrotado
já embolado nas gavetas da memória
aos panos rotos de outros bailes
em que os buquês murcharam no meu seio
e mãos pendidas ao longo do desencontro
não me enlaçaram
Esse sorriso branco bem bordado
é trama nos tecidos tenros da menina
que ficou às margens do salão
com música alucinando sob o decoro
os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado
e a quem coube ir embora
ao primeiro tom da aurora
sem ter dançado
Iriene Borges
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Asas de Feliz Natal
Queridos todos, pouco entendo de alpiste e de cuidados de pássaros. Este ano persistentes e sabidos sabiás inventaram de fazer ninho nos cantos da minha casa. Partilho com vocês esta alegria no poema de Natal que nasceu voando, sem pensar em passar a limpo.....
Abraços e meu maior carinho!
Meu Deus, já é dia 23
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!
Como não?
Encima do lustre velho
um sabiá chamado José
e uma sabiazinha Maria
bicam palha daqui e de lá
moldando com o corpo
um aconchego de ninho.
No meio de tantas penas
e de tantas despedidas
- quem não tem? -
esses pássaros de sempre,
ensaiam abraços de asas,
carregando uma estrela.
Uma coroa de advento
completa numa porta
seu ciclo de ciprestes.
E a eterna palavra fim
anoitecida de sonhos
madruga um recomeço..
Meu Deus, já é dia 24
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!
Como não?
O lustre velho balança
um berço inusitado no ar.
As janelas descortinam
e se abrem de sim em sim....
Mas qual o motivo
de tanto silêncio?
É que nasce no presépio
de um sabiá chamado José
e de uma sabiazinha Maria
a própria palavra Nascimento.
Gloria Kirinus e família / Natal 2008
Abraços e meu maior carinho!
Meu Deus, já é dia 23
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!
Como não?
Encima do lustre velho
um sabiá chamado José
e uma sabiazinha Maria
bicam palha daqui e de lá
moldando com o corpo
um aconchego de ninho.
No meio de tantas penas
e de tantas despedidas
- quem não tem? -
esses pássaros de sempre,
ensaiam abraços de asas,
carregando uma estrela.
Uma coroa de advento
completa numa porta
seu ciclo de ciprestes.
E a eterna palavra fim
anoitecida de sonhos
madruga um recomeço..
Meu Deus, já é dia 24
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!
Como não?
O lustre velho balança
um berço inusitado no ar.
As janelas descortinam
e se abrem de sim em sim....
Mas qual o motivo
de tanto silêncio?
É que nasce no presépio
de um sabiá chamado José
e de uma sabiazinha Maria
a própria palavra Nascimento.
Gloria Kirinus e família / Natal 2008
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Fio d'água na Calha
Fio d’água na calha.
Pequena fonte que faz girar
a roda dos sonhos.
Água que move a engrenagem
e opera o milagre de dezembro:
- Presépio na minha aldeia.
Nunca soube o que Maria e o Menino
tinham a ver com o monjolo triste...
Mas, evocava vida.
E esta cena em mim persiste.
Bárbara Lia
Natal de 2.008
Pequena fonte que faz girar
a roda dos sonhos.
Água que move a engrenagem
e opera o milagre de dezembro:
- Presépio na minha aldeia.
Nunca soube o que Maria e o Menino
tinham a ver com o monjolo triste...
Mas, evocava vida.
E esta cena em mim persiste.
Bárbara Lia
Natal de 2.008
JukeBox Quebrada
A memória com o desânimo
e desestimulo.O é quando
apaga-se
feito silêncios doloridos
em bares crepúsculares
abrindo as portas para a noite.
Carlos Sousa
e desestimulo.O é quando
apaga-se
feito silêncios doloridos
em bares crepúsculares
abrindo as portas para a noite.
Carlos Sousa
Primavera
Primavera de cores e amores.
Primavera de beleza e paixão.
No ar há o frescor dos odores.
No corpo bate alegre o coração.
Primavera do canto e das flores.
Primavera é pura emoção.
Animam-se até os mais tímidos cantores
e empunham docemente o seu violão.
Trago na face os olhos molhados.
Rolam as lágrimas numéricas.
Enternecendo meus namorados.
Eles perguntam com muito tato e métrica
porquê a primavera me causa tantos desabafos
e eu respondo: nada, ao polén sou alérgica.
Deisi Perin
Primavera de beleza e paixão.
No ar há o frescor dos odores.
No corpo bate alegre o coração.
Primavera do canto e das flores.
Primavera é pura emoção.
Animam-se até os mais tímidos cantores
e empunham docemente o seu violão.
Trago na face os olhos molhados.
Rolam as lágrimas numéricas.
Enternecendo meus namorados.
Eles perguntam com muito tato e métrica
porquê a primavera me causa tantos desabafos
e eu respondo: nada, ao polén sou alérgica.
Deisi Perin
Férias
Dona Maria encontra-se em sua moradia
seus filhos a alertam que precisa ler mais,
ser uma senhora que conheça poesia,
e acompanhá-los nas grandezas culturais.
Dona Maria também tem a casa toda pela frente
que é insensível a leitura de obras-primas
de consagrados autores e poetas de invejável mente,
que dedicam todo o tempo a fazer rimas.
Ela encontra-se entre o pó e a poesia,
tem a sabedoria braçal das donas marias,
em que mais vale uma sujeira na mão,
do que duas, três esparramadas pelo chão.
Gregório e limpeza não combinam
mas espírito e alma se animam
e, declamando e procurando o rodo,
só o rodo é visto todo.
E eis que sai assim:
O rodo sem o cabo, não é rodo;
O cabo sem o rodo não é cabo;
Mas se o cabo o faz rodo, sendo cabo;
não se diga que é cabo, sendo rodo.
Em toda limpeza de chão há rodo
E é rodo inteiro com qualquer cabo.
E feito cabo de rodo em todo rodo.
Com qualquer cabo sempre fica rodo.
O braço pega o cabo.
Pois, para a limpeza no fim do cabo, há rodo.
Assim, cada rodo há um cabo.
Não se achando o cabo deste rodo.
O braço não achará o cabo.
E a casa ficará sem a ação do rodo.
Deisi Perin
seus filhos a alertam que precisa ler mais,
ser uma senhora que conheça poesia,
e acompanhá-los nas grandezas culturais.
Dona Maria também tem a casa toda pela frente
que é insensível a leitura de obras-primas
de consagrados autores e poetas de invejável mente,
que dedicam todo o tempo a fazer rimas.
Ela encontra-se entre o pó e a poesia,
tem a sabedoria braçal das donas marias,
em que mais vale uma sujeira na mão,
do que duas, três esparramadas pelo chão.
Gregório e limpeza não combinam
mas espírito e alma se animam
e, declamando e procurando o rodo,
só o rodo é visto todo.
E eis que sai assim:
O rodo sem o cabo, não é rodo;
O cabo sem o rodo não é cabo;
Mas se o cabo o faz rodo, sendo cabo;
não se diga que é cabo, sendo rodo.
Em toda limpeza de chão há rodo
E é rodo inteiro com qualquer cabo.
E feito cabo de rodo em todo rodo.
Com qualquer cabo sempre fica rodo.
O braço pega o cabo.
Pois, para a limpeza no fim do cabo, há rodo.
Assim, cada rodo há um cabo.
Não se achando o cabo deste rodo.
O braço não achará o cabo.
E a casa ficará sem a ação do rodo.
Deisi Perin
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Mulheres que Tiveram um Ataque de Nervos
A MULHER QUE MATOU OS PEIXES-CONTO-CLARICEA MULHER QUE MATOU OS FILHOS-TRAGÉDIA-MEDEIAA MULHER QUE ESCULPIA O FUTURO-ROMANCE-CAMILLEA MULHER QUE DANÇOU COM O ECHARP-SCRIPT-ISADORAA MULHER QUE PERDEU A VOZ-REFRÃO-CALLASA MULHER QUE DEIXOU MADALENA-CHANCHADA-DERCYA MULHER QUE É MULHER-CANÇÃO-SAPOTIA MULHER CANTADA POR ELE-CRÔNICAS-BUARQUEA MULHER QUE ESCOLHEU UM DOS FILHOS-ROTEIRO-STREEPA MULHER DOS MIL PARES DE SAPATO-LIBRETO-MARCOSA MULHER DOS CABELOS INDOMÁVEIS-FICÇAO-DANUSAA MULHER QUE DEUS CRIOU E OS ANIMAIS-REPORTAGEM-BARDOTA MULHER DO SENADO DO SOL-DISCURSO-HELENAA MULHER PICADA DE COBRA-HISTÓRIA-CLEÓPATRAA MULHER DONA DE CASA-NOVELA-ANÔNIMAA MULHER QUE ERA NORA-TEATRO-IBSENA MULHER QUE ERA SOGRA-PIADA-P.CARBONI .
Maria José de Menezes
Maria José de Menezes
Falo de Papel
D. Ceuseli terminou o serviço. Esqueceu o sabão na janela e o dr. Paulo dicou furioso com a incompetência dela. (Na verdade, ele já foi pobre e começou a "melhorar" depois que vendeu a primeira moto 125 cilindradas pro moço que confiou na palavra dele e nem verificou que o lucro embutido era mais de 30 por cento e ele comprou outra mais rápida que facilitava as entregas), ah! (mas esse passado ele enterrou e sai de vez em quando em rompantes de raiva das pessoas que são pobres, ou pretas, ou quase pretos quase brancos que são pobres, muito pobres como pretos, são quase todos quase nada, e ele sente raiva de em si ter um assim, que reaparece quando alguém que lhe parece superior aparece no seu caminho e lhe corta o passo). Dr. Paulo nunca fez análise. É diretor de logística reversa, fala inglês e alemão, dirige um carro cheio de recursos e velocidade, sabe tudo de engenharia reversa, essa possibilidade de reconstruir as etapas da construção de um produto; ou, dos processos desde a matéria-prima à entrega, devolução e reutilização e reciclagem, mas não usa esse conhecimento para pensar a história social e sua história pessoal.
D. Ceuseli vai à psicóloga. Ficou deprimida morando naquela casa. O sofá quebrou, não deu pra consertar. As contas levavam o salário em seis dias. Ficava tensa de levar potinhos com açucar e feijão. Podia ser pega. O açucar, ela devolvia no início do mês. Compromisso sagrado. Mas o feijão, o dr. Paulo só comia cozido no dia e ele anunciava de manhã se era pra cozinhar ou não. No dia seguinte ela levava a sobra. Por isso não devolvia. Mas mesmo assim ficava estressada de ter que carregar um pouco de feijão e isso significar economia. Agradecia a Deus. Mas de novo, ainda assim ficava nervosa, ficava tensa, cansava, precisava desabafar e a filha levou-a ao psiquiatra da rede de saúde pública e lá ele evitou prendê-la como peixe pescado, em medicamentos pois poderia diminuir a resposta corporal à demanda de serviço e sondou se ela aderiria à idéia da psicoterapia. Ela topou.
No dia do sabão esquecido, ela tinha lavado a vidraça e recolhia os produtos queando o telefone tocou. Dr. Paulo pedia duas garrafas que ela deveria pegar agora na prateleira baixa da reserva e transpor para a terceira fila da direita da escadam acima das de rótulo verde, inclinadas como as outras. Depois preparar dois tipos de canapés e deixar o queijo verde e o redondo sobre a tábua e ir embora,
Era muita informação pro fim de tarde, e ela cumpriu tudo. Mas tinha terapia. Tinha que ir. Era um dos poucos momentos seus para si. Aí esqueceu o sabão.
Dr. Paulo entrou na copa e viu aquele objeto fora de ordem. Cresceu-lhe a irritabilidade e para descarregar silencioso, com classe, deu um soco no suporte de papel toalha, de modo que o rolo amaciaria o impacto. O braço ficou retido na argola do suporte. Puxa, puxa, puxa, e lá está o sabão. Água na pia, sabão no braço, desvencilhou-se e ainda deu tempo de pentear com a mão o cabelo e retornar à sala, para dar continuidade à conversa com o casal Faulkwe, da qual poderia extrair a melhor impressão do presidente da Word Falk Corporation.
Depois de desvencilhar o bra;o da algema que lhe pareceu o suporte, dr. Paulo sentiu-se mais vivo, mais livre, para propor uma idéia que lhe renderia por fora um lucro entre vinte e trinta por cento.
Maria José de Menezes
(09/02/2007)
D. Ceuseli vai à psicóloga. Ficou deprimida morando naquela casa. O sofá quebrou, não deu pra consertar. As contas levavam o salário em seis dias. Ficava tensa de levar potinhos com açucar e feijão. Podia ser pega. O açucar, ela devolvia no início do mês. Compromisso sagrado. Mas o feijão, o dr. Paulo só comia cozido no dia e ele anunciava de manhã se era pra cozinhar ou não. No dia seguinte ela levava a sobra. Por isso não devolvia. Mas mesmo assim ficava estressada de ter que carregar um pouco de feijão e isso significar economia. Agradecia a Deus. Mas de novo, ainda assim ficava nervosa, ficava tensa, cansava, precisava desabafar e a filha levou-a ao psiquiatra da rede de saúde pública e lá ele evitou prendê-la como peixe pescado, em medicamentos pois poderia diminuir a resposta corporal à demanda de serviço e sondou se ela aderiria à idéia da psicoterapia. Ela topou.
No dia do sabão esquecido, ela tinha lavado a vidraça e recolhia os produtos queando o telefone tocou. Dr. Paulo pedia duas garrafas que ela deveria pegar agora na prateleira baixa da reserva e transpor para a terceira fila da direita da escadam acima das de rótulo verde, inclinadas como as outras. Depois preparar dois tipos de canapés e deixar o queijo verde e o redondo sobre a tábua e ir embora,
Era muita informação pro fim de tarde, e ela cumpriu tudo. Mas tinha terapia. Tinha que ir. Era um dos poucos momentos seus para si. Aí esqueceu o sabão.
Dr. Paulo entrou na copa e viu aquele objeto fora de ordem. Cresceu-lhe a irritabilidade e para descarregar silencioso, com classe, deu um soco no suporte de papel toalha, de modo que o rolo amaciaria o impacto. O braço ficou retido na argola do suporte. Puxa, puxa, puxa, e lá está o sabão. Água na pia, sabão no braço, desvencilhou-se e ainda deu tempo de pentear com a mão o cabelo e retornar à sala, para dar continuidade à conversa com o casal Faulkwe, da qual poderia extrair a melhor impressão do presidente da Word Falk Corporation.
Depois de desvencilhar o bra;o da algema que lhe pareceu o suporte, dr. Paulo sentiu-se mais vivo, mais livre, para propor uma idéia que lhe renderia por fora um lucro entre vinte e trinta por cento.
Maria José de Menezes
(09/02/2007)
Canção que Quase Ninguém Ouve
Por que se luta tanto
Por poder, saber e grana ?
Por que sua grama
É mais bacana que a minha ?
Por que não consigo falar essa língua
e a que eu falo só xinga?
Pór que não tenho olhos verdes
E voz a planar
sobre a bolsa de valores ?
Por que os amigos poetas
estão ficando
cada vez mais pobres
doentes ou mortos ?
Por que só falo com demônios
Por que escrevo esquisitices
Porque sou demais sujeita
Por que você não fala a língua
de uma pessoa só
o coração batendo só
tão baixo
que quase não se ouve .
Marília Kubota
http//www.micropolis.blogspot.com
Por poder, saber e grana ?
Por que sua grama
É mais bacana que a minha ?
Por que não consigo falar essa língua
e a que eu falo só xinga?
Pór que não tenho olhos verdes
E voz a planar
sobre a bolsa de valores ?
Por que os amigos poetas
estão ficando
cada vez mais pobres
doentes ou mortos ?
Por que só falo com demônios
Por que escrevo esquisitices
Porque sou demais sujeita
Por que você não fala a língua
de uma pessoa só
o coração batendo só
tão baixo
que quase não se ouve .
Marília Kubota
http//www.micropolis.blogspot.com
Avança ou Golpeia o Sonho
avança ou golpeia o sonho
inicio de nuvens
difíceis
tateando
sóis
passos involuntários ao abismo?
não meço o caminho
sigo o escuro
o funâmbulo na corda bamba
o risco, talvez, caos
silêncio
o desprezo da norma ao desprezo da norma
angústia
mas
a sombra da esfinge
não pode impedir ataques
de riso
de novos sonâmbulos
ao frontispício
Marília Kubota
http://www.micropolis.blogspot.com
inicio de nuvens
difíceis
tateando
sóis
passos involuntários ao abismo?
não meço o caminho
sigo o escuro
o funâmbulo na corda bamba
o risco, talvez, caos
silêncio
o desprezo da norma ao desprezo da norma
angústia
mas
a sombra da esfinge
não pode impedir ataques
de riso
de novos sonâmbulos
ao frontispício
Marília Kubota
http://www.micropolis.blogspot.com
A Pedra Mais Alta
Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto
Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo
O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta
Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra
Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido
Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta.
Círculo Mágico
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto
Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo
O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta
Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra
Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido
Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta.
Círculo Mágico
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Iluminação
Curitibano pagará mais caro pelas taxas e impostos da administração pública.
Prepare o bolso , o humor e as frases feitas em efeitos práticos.
Prepare a água e o cházinho para engolir, como sempre, as salgadas contas do início do ano.
A digestão é tão rápida que na próxima eleição você já esqueceu e pode deixar tudo como está.
Não faço apologias transformistas de mudança ampla, geral e irrestrita de pessoas.
Mudem a própria maneira de pensar, agir e falar.
Se não, para que querer iluminação nas ruas mais barata se a escuridão mental está muito bem instalada ?
Deisi Perin
Prepare o bolso , o humor e as frases feitas em efeitos práticos.
Prepare a água e o cházinho para engolir, como sempre, as salgadas contas do início do ano.
A digestão é tão rápida que na próxima eleição você já esqueceu e pode deixar tudo como está.
Não faço apologias transformistas de mudança ampla, geral e irrestrita de pessoas.
Mudem a própria maneira de pensar, agir e falar.
Se não, para que querer iluminação nas ruas mais barata se a escuridão mental está muito bem instalada ?
Deisi Perin
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
O Conto do Grito
e o grito dos calados
fez calar os pássaros
quando a noite ia torpe,
e o vento encontrava a esquina.
fez da rua um circo
e o público sonâmbulo aplaudia:
palhaçadas triviais
tíbias promessas
truques sem poesia...
a arte sorria,
ao som do aviso
de dias inteiros de siêncio e sono.
era o grito dos que dormiam,
assombrados por insônias outras.
eram homens , que perdidos os sonhos,
divagavam sem dúvidas pela meia luz do poder
Walkírya Bonadina
(anívelde agosto de 2002 n01 )
fez calar os pássaros
quando a noite ia torpe,
e o vento encontrava a esquina.
fez da rua um circo
e o público sonâmbulo aplaudia:
palhaçadas triviais
tíbias promessas
truques sem poesia...
a arte sorria,
ao som do aviso
de dias inteiros de siêncio e sono.
era o grito dos que dormiam,
assombrados por insônias outras.
eram homens , que perdidos os sonhos,
divagavam sem dúvidas pela meia luz do poder
Walkírya Bonadina
(anívelde agosto de 2002 n01 )
Inconsciência Polìtica
o quarto
o canto
o espanto
amanhece o pranto
e o sol não vem.
Walkìrya Bonadina
( A Nívelde 0802 n1 09 )
o canto
o espanto
amanhece o pranto
e o sol não vem.
Walkìrya Bonadina
( A Nívelde 0802 n1 09 )
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
labirinto
Quarenta e seis olhos sob a lanterna,
vinte e três pessoas contemplando a noite eterna...
prisioneiros de seu medo, ajoelhados na capela,
velando mortos vivos, seus próprios corpos.
Sombrios ventos, tempestivas vozes,
Pensamentos velozes, intragável tempo.
Ritmo de assombro no compasso dos passos
Entre labirintos esparsos de horas vazias...
Sob o signo dos que choram sem esperanças pela aurora,
Suas sombras são espectros das cicatrizes do dia.
Angela Gomes Brochier
vinte e três pessoas contemplando a noite eterna...
prisioneiros de seu medo, ajoelhados na capela,
velando mortos vivos, seus próprios corpos.
Sombrios ventos, tempestivas vozes,
Pensamentos velozes, intragável tempo.
Ritmo de assombro no compasso dos passos
Entre labirintos esparsos de horas vazias...
Sob o signo dos que choram sem esperanças pela aurora,
Suas sombras são espectros das cicatrizes do dia.
Angela Gomes Brochier
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Carpe Diem
Carpe diem, carpe inteiro.
Aproveitem o hoje sem temor.
Pois tudo na vida é passageiro.
Como bem o diz o cobrador.
Passam horas, passam dias.
Vive-se, morre-se ou se definha,
sem perceber as divisórias
de tão exíguas linhas.
Mas enfim, efêmera é a vida
e quero tê-la intensamente,
sem a falsa alegria dolorida
de quem só tem sorrisos com éter na mente.
Começo a crer que eterna é a vida.
E nós, de carona, só de passagem,
somente somos superiores na ida,
e o ego nos cega bos parte de paisagem.
Estamos sempre revisados, ampliados e atualizados,
falamos que somos e acontecemos
porém, melhor seria fazer calados
os ideais que dia a dia esquecemos.
Se adultos, idéias tendenciosas.
Se jovens, impulsivos com novidade.
Se crianças, moldadas e teimosas.
Sobrou alguém com sanidade?
A bem da verdade, correto foi o Alienista
ao descobrir que ele era o único louco,
sem notar que o mundo é anarquista
dentro de regras, ciclos e sizo pouco.
Então, não há resposta ao descompasso,
o desconcerto do mundo é o que nos define,
resolvi brincar com as palavras que asso
pois as que frito engordam, e eu tô de regime.
Aproveitem o hoje sem temor.
Pois tudo na vida é passageiro.
Como bem o diz o cobrador.
Passam horas, passam dias.
Vive-se, morre-se ou se definha,
sem perceber as divisórias
de tão exíguas linhas.
Mas enfim, efêmera é a vida
e quero tê-la intensamente,
sem a falsa alegria dolorida
de quem só tem sorrisos com éter na mente.
Começo a crer que eterna é a vida.
E nós, de carona, só de passagem,
somente somos superiores na ida,
e o ego nos cega bos parte de paisagem.
Estamos sempre revisados, ampliados e atualizados,
falamos que somos e acontecemos
porém, melhor seria fazer calados
os ideais que dia a dia esquecemos.
Se adultos, idéias tendenciosas.
Se jovens, impulsivos com novidade.
Se crianças, moldadas e teimosas.
Sobrou alguém com sanidade?
A bem da verdade, correto foi o Alienista
ao descobrir que ele era o único louco,
sem notar que o mundo é anarquista
dentro de regras, ciclos e sizo pouco.
Então, não há resposta ao descompasso,
o desconcerto do mundo é o que nos define,
resolvi brincar com as palavras que asso
pois as que frito engordam, e eu tô de regime.
Tanto de meu Estado sonâmbulo
Tanto de meu estado sonâmbulo
me acho incerta.
Não sei se ronco,
não sei se babo.
Fato é que sinto um descompasso.
Meu raciocínio quer aprender.
Meu corpo quer adormecer.
Não sei mais o que faço.
Estando aqui, chego a dormir,
ficando lá, não dá para descansar,
e assim o tempo há de consumir.
O que entrou cristalizou.
Se bateu e não abriu,
que fazer se não voltou?
me acho incerta.
Não sei se ronco,
não sei se babo.
Fato é que sinto um descompasso.
Meu raciocínio quer aprender.
Meu corpo quer adormecer.
Não sei mais o que faço.
Estando aqui, chego a dormir,
ficando lá, não dá para descansar,
e assim o tempo há de consumir.
O que entrou cristalizou.
Se bateu e não abriu,
que fazer se não voltou?
Só neto de Canhões
Só neto de Canhões
Doces aulas de sons suaves,
doce repouso sobre meu braço,
onde o caderno fica nos ares
longo tempo sem o meu abraço.
Find'aula porém não nego suares
que retenho algo na memória de aço.
Acorda-me quando a chamada soares,
mas também não me provoque um colapso.
Bem pudera essa matéria não ter provas,
pr'alma sossegar e relaxar,
oferecendo as angústias às favas,
Mas todos querem dar-nos notas
com provas de apavorar,
e pra nós, pobres mortais, resta-nos anedotas.
Doces aulas de sons suaves,
doce repouso sobre meu braço,
onde o caderno fica nos ares
longo tempo sem o meu abraço.
Find'aula porém não nego suares
que retenho algo na memória de aço.
Acorda-me quando a chamada soares,
mas também não me provoque um colapso.
Bem pudera essa matéria não ter provas,
pr'alma sossegar e relaxar,
oferecendo as angústias às favas,
Mas todos querem dar-nos notas
com provas de apavorar,
e pra nós, pobres mortais, resta-nos anedotas.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
« O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper facilmente o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente e com o povo, nao façam da tarefa recebida um privilegio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. »
Samora Machel
ORA CHEGOU UM TEMPO
EM QUE AS TENTAÇÕES ERAM TÃO FORTES
QUE POUCOS RESISTIRAM.
A CONSCIENCIA COMEÇOU ENTÃO A PERTURBA-LOS.
HA UMA SOMBRA EM CADA UM DE NOS
UM OUTRO EU QUE NOS PERSEGUE E ATORMENTA
INSINUA-SE NA NOSSA CONSCIENCIA
FURTIVAMENTE COMO UM LADRAO A NOITE
INSISTENTE MAGOADO AMARGURADO.
«ES TU O MESMO - PERGUNTA - ES TU O MESMO
QUE APREGOAVA A NOVA PRIMAVERA
O AMOR VERDADEIRO O PÃO P'RA TODOS
QUE NEGAVA A FELICIDADE CONSTRUIDA
COM O SUOR E SANGUE DOUTROS HOMENS
QUE NO SEU POVO BUSCAVA
A FORÇA E A RAZÃO
ES TU O MESMO - PERGUNTA -
QUE HOJE SE VENDE A QUEM MAIS PAGA
ES TU O MESMO»
O MESMO SOU. O MESMO
QUE DISPARAVA BALAS DE JUSTIÇA
QUE NAS MARCHAS SE DETINHA A BEIRA DO CAMINHO
POR UMA FLOR UM SORRISO UMA CRIANÇA
QUE EM NOITES CLARAS NO ALTO DAS MONTANHAS
ESTENDÍA A MÃO P'RA COLHER ESTRELAS
QUE DEIXAVA O ESPÍRITO VAGUEAR PELOS ESPAÇOS
E LÁ COMO UM TAMBOR
ANUNCIAVA O NOVO CANTO.
O MESMO SOU. MAS HOJE
AS CRIANÇAS FOGEM QUANDO PASSO
E OS ESPELHOS REFLECTEM UMA ALMA TORPE
DESFIGURADA CORROMPIDA.
AH EM QUE MOMENTO DO PERCURSO
OS NOSSOS PASSOS SE PERDERAM!
ONDE QUER QUE TENTEMOS ESCONDER-NOS
O JURAMENTO ANTIGO PERSEGUE-NOS ...
TENHO DE NOVO QUE APRENDER
A PERTURBAR O UNIVERSO, A RECUSAR
O ACONCHEGO DOS PALÁCIOS,
A PARTILHAR COM OS DESERDADOS
O ANSEIO DA VIRTUDE.
O OUTRO EU ME ENSINARA.
(coronél da FreLiMo.)
Samora Machel
ORA CHEGOU UM TEMPO
EM QUE AS TENTAÇÕES ERAM TÃO FORTES
QUE POUCOS RESISTIRAM.
A CONSCIENCIA COMEÇOU ENTÃO A PERTURBA-LOS.
HA UMA SOMBRA EM CADA UM DE NOS
UM OUTRO EU QUE NOS PERSEGUE E ATORMENTA
INSINUA-SE NA NOSSA CONSCIENCIA
FURTIVAMENTE COMO UM LADRAO A NOITE
INSISTENTE MAGOADO AMARGURADO.
«ES TU O MESMO - PERGUNTA - ES TU O MESMO
QUE APREGOAVA A NOVA PRIMAVERA
O AMOR VERDADEIRO O PÃO P'RA TODOS
QUE NEGAVA A FELICIDADE CONSTRUIDA
COM O SUOR E SANGUE DOUTROS HOMENS
QUE NO SEU POVO BUSCAVA
A FORÇA E A RAZÃO
ES TU O MESMO - PERGUNTA -
QUE HOJE SE VENDE A QUEM MAIS PAGA
ES TU O MESMO»
O MESMO SOU. O MESMO
QUE DISPARAVA BALAS DE JUSTIÇA
QUE NAS MARCHAS SE DETINHA A BEIRA DO CAMINHO
POR UMA FLOR UM SORRISO UMA CRIANÇA
QUE EM NOITES CLARAS NO ALTO DAS MONTANHAS
ESTENDÍA A MÃO P'RA COLHER ESTRELAS
QUE DEIXAVA O ESPÍRITO VAGUEAR PELOS ESPAÇOS
E LÁ COMO UM TAMBOR
ANUNCIAVA O NOVO CANTO.
O MESMO SOU. MAS HOJE
AS CRIANÇAS FOGEM QUANDO PASSO
E OS ESPELHOS REFLECTEM UMA ALMA TORPE
DESFIGURADA CORROMPIDA.
AH EM QUE MOMENTO DO PERCURSO
OS NOSSOS PASSOS SE PERDERAM!
ONDE QUER QUE TENTEMOS ESCONDER-NOS
O JURAMENTO ANTIGO PERSEGUE-NOS ...
TENHO DE NOVO QUE APRENDER
A PERTURBAR O UNIVERSO, A RECUSAR
O ACONCHEGO DOS PALÁCIOS,
A PARTILHAR COM OS DESERDADOS
O ANSEIO DA VIRTUDE.
O OUTRO EU ME ENSINARA.
(coronél da FreLiMo.)
El Río
De Final de Juego Y sí, parece que es así, que te has ido diciendo no sé qué cosa, que te ibas a tirar al Sena, algo por el estilo, una de esas frases de plena noche, mezcladas de sábana y boca pastosa, casi siempre en la oscuridad o con algo de mano o de pie rozando el cuerpo del que apenas escucha, porque hace tanto que apenas te escucho cuando dices cosas así, eso viene del otro lado de mis ojos cerrados, del sueño que otra vez me tira hacia abajo. Entonces está bien, qué me importa si te has ido, si te has ahogado o todavía andas por los muelles mirando el agua, y además no es cierto porque estás aquí dormida y respirando entrecortadamente, pero entonces no te has ido cuando te fuiste en algún momento de la noche antes de que yo me perdiera en el sueño, porque te habías ido diciendo alguna cosa, que te ibas a ahogar en el Sena, o sea que has tenido miedo, has renunciado y de golpe estás ahí casi tocándome, y te mueves ondulando como si algo trabajara suavemente en tu sueño, como si de verdad soñaras que has salido y que después de todo llegaste a los muelles y te tiraste al agua. Así una vez más, para dormir después con la cara empapada de un llanto estúpido, hasta las once de la mañana, la hora en que traen el diario con las noticias de los que se han ahogado de veras.
Me das risa, pobre. Tus determinaciones trágicas, esa manera de andar golpeando las puertas como una actriz de tournées de provincia, uno se pregunta si realmente crees en tus amenazas, tus chantajes repugnantes, tus inagotables escenas patéticas untadas de lágrimas y adjetivos y recuentos. Merecerías a alguien más dotado que yo para que te diera la réplica, entonces se vería alzarse a la pareja perfecta, con el hedor exquisito del hombre y la mujer que se destrozan mirándose en los ojos para asegurarse el aplazamiento más precario, para sobrevivir todavía y volver a empezar y perseguir inagotablemente su verdad de terreno baldío y fondo de cacerola. Pero ya ves, escojo el silencio, enciendo un cigarrillo y te escucho hablar, te escucho quejarte (con razón, pero qué puedo hacerle), o lo que es todavía mejor me voy quedando dormido, arrullado casi por tus imprecaciones previsibles, con los ojos entrecerrados mezclo todavía por un rato las primeras ráfagas de los sueños con tus gestos de camisón ridículo bajo la luz de la araña que nos regalaron cuando nos casamos, y creo que al final me duermo y me llevo, te lo confieso casi con amor, la parte más aprovechable de tus movimientos y tus denuncias, el sonido restallante que te deforma los labios lívidos de cólera. Para enriquecer mis propios sueños donde jamás a nadie se le ocurre ahogarse, puedes creerme.
Pero si es así me pregunto qué estás haciendo en esta cama que habías decidido abandonar por la otra más vasta y más huyente. Ahora resulta que duermes, que de cuando en cuando mueves una pierna que va cambiando el dibujo de la sábana, pareces enojada por alguna cosa, no demasiado enojada, es como un cansancio amargo, tus labios esbozan una mueca de desprecio, dejan escapar el aire entrecortadamente, lo recogen a bocanadas breves, y creo que si no estaría tan exasperado por tus falsas amenazas admitiría que eres otra vez hermosa, como si el sueño te devolviera un poco de mi lado donde el deseo es posible y hasta reconciliación o nuevo plazo, algo menos turbio que este amanecer donde empiezan a rodar los primeros carros y los gallos abominablemente desnudan su horrenda servidumbre. No sé, ya ni siquiera tiene sentido preguntar otra vez si en algún momento te habías ido, si eras tú la que golpeó la puerta al salir en el instante mismo en que yo resbalaba al olvido, y a lo mejor es por eso que prefiero tocarte, no porque dude de que estés ahí, probablemente en ningún momento te fuiste del cuarto, quizá un golpe de viento cerró la puerta, soñé que te habías ido mientras tú, creyéndome despierto, me gritabas tu amenaza desde los pies de la cama. No es por eso que te toco, en la penumbra verde del amanecer es casi dulce pasar una mano por ese hombro que se estremece y me rechaza. La sábana te cubre a medias, mis manos empiezan a bajar por el terso dibujo de tu garganta, inclinándome respiro tu aliento que huele a noche y a jarabe, no sé cómo mis brazos te han enlazado, oigo una queja mientras arqueas la cintura negándote, pero los dos conocemos demasiado ese juego para creer en él, es preciso que me abandones la boca que jadea palabras sueltas, de nada sirve que tu cuerpo amodorrado y vencido luche por evadirse, somos a tal punto una misma cosa en ese enredo de ovillo donde la lana blanca y la lana negra luchan como arañas en un bocal. De la sábana que apenas te cubría alcanzo a entrever la ráfaga instantánea que surca el aire para perderse en la sombra y ahora estamos desnudos, el amanecer nos envuelve y reconcilia en una sola materia temblorosa, pero te obstinas en luchar, encogiéndote, lanzando los brazos por sobre mi cabeza, abriendo como en un relámpago los muslos para volver a cerrar sus tenazas monstruosas que quisieran separarme de mí mismo. Tengo que dominarte lentamente (y eso, lo sabes, lo he hecho siempre con una gracia ceremonial), sin hacerte daño voy doblando los juncos de tus brazos, me ciño a tu placer de manos crispadas, de ojos enormemente abiertos, ahora tu ritmo al fin se ahonda en movimientos lentos de muaré, de profundas burbujas ascendiendo hasta mi cara, vagamente acaricio tu pelo derramado en la almohada, en la penumbra verde miro con sorpresa mi mano que chorrea, y antes de resbalar a tu lado sé que acaban de sacarte del agua, demasiado tarde, naturalmente, y que yaces sobre las piedras del muelle rodeada de zapatos y de voces, desnuda boca arriba con tu pelo empapado y tus ojos abiertos.
Julio Cortazar
Me das risa, pobre. Tus determinaciones trágicas, esa manera de andar golpeando las puertas como una actriz de tournées de provincia, uno se pregunta si realmente crees en tus amenazas, tus chantajes repugnantes, tus inagotables escenas patéticas untadas de lágrimas y adjetivos y recuentos. Merecerías a alguien más dotado que yo para que te diera la réplica, entonces se vería alzarse a la pareja perfecta, con el hedor exquisito del hombre y la mujer que se destrozan mirándose en los ojos para asegurarse el aplazamiento más precario, para sobrevivir todavía y volver a empezar y perseguir inagotablemente su verdad de terreno baldío y fondo de cacerola. Pero ya ves, escojo el silencio, enciendo un cigarrillo y te escucho hablar, te escucho quejarte (con razón, pero qué puedo hacerle), o lo que es todavía mejor me voy quedando dormido, arrullado casi por tus imprecaciones previsibles, con los ojos entrecerrados mezclo todavía por un rato las primeras ráfagas de los sueños con tus gestos de camisón ridículo bajo la luz de la araña que nos regalaron cuando nos casamos, y creo que al final me duermo y me llevo, te lo confieso casi con amor, la parte más aprovechable de tus movimientos y tus denuncias, el sonido restallante que te deforma los labios lívidos de cólera. Para enriquecer mis propios sueños donde jamás a nadie se le ocurre ahogarse, puedes creerme.
Pero si es así me pregunto qué estás haciendo en esta cama que habías decidido abandonar por la otra más vasta y más huyente. Ahora resulta que duermes, que de cuando en cuando mueves una pierna que va cambiando el dibujo de la sábana, pareces enojada por alguna cosa, no demasiado enojada, es como un cansancio amargo, tus labios esbozan una mueca de desprecio, dejan escapar el aire entrecortadamente, lo recogen a bocanadas breves, y creo que si no estaría tan exasperado por tus falsas amenazas admitiría que eres otra vez hermosa, como si el sueño te devolviera un poco de mi lado donde el deseo es posible y hasta reconciliación o nuevo plazo, algo menos turbio que este amanecer donde empiezan a rodar los primeros carros y los gallos abominablemente desnudan su horrenda servidumbre. No sé, ya ni siquiera tiene sentido preguntar otra vez si en algún momento te habías ido, si eras tú la que golpeó la puerta al salir en el instante mismo en que yo resbalaba al olvido, y a lo mejor es por eso que prefiero tocarte, no porque dude de que estés ahí, probablemente en ningún momento te fuiste del cuarto, quizá un golpe de viento cerró la puerta, soñé que te habías ido mientras tú, creyéndome despierto, me gritabas tu amenaza desde los pies de la cama. No es por eso que te toco, en la penumbra verde del amanecer es casi dulce pasar una mano por ese hombro que se estremece y me rechaza. La sábana te cubre a medias, mis manos empiezan a bajar por el terso dibujo de tu garganta, inclinándome respiro tu aliento que huele a noche y a jarabe, no sé cómo mis brazos te han enlazado, oigo una queja mientras arqueas la cintura negándote, pero los dos conocemos demasiado ese juego para creer en él, es preciso que me abandones la boca que jadea palabras sueltas, de nada sirve que tu cuerpo amodorrado y vencido luche por evadirse, somos a tal punto una misma cosa en ese enredo de ovillo donde la lana blanca y la lana negra luchan como arañas en un bocal. De la sábana que apenas te cubría alcanzo a entrever la ráfaga instantánea que surca el aire para perderse en la sombra y ahora estamos desnudos, el amanecer nos envuelve y reconcilia en una sola materia temblorosa, pero te obstinas en luchar, encogiéndote, lanzando los brazos por sobre mi cabeza, abriendo como en un relámpago los muslos para volver a cerrar sus tenazas monstruosas que quisieran separarme de mí mismo. Tengo que dominarte lentamente (y eso, lo sabes, lo he hecho siempre con una gracia ceremonial), sin hacerte daño voy doblando los juncos de tus brazos, me ciño a tu placer de manos crispadas, de ojos enormemente abiertos, ahora tu ritmo al fin se ahonda en movimientos lentos de muaré, de profundas burbujas ascendiendo hasta mi cara, vagamente acaricio tu pelo derramado en la almohada, en la penumbra verde miro con sorpresa mi mano que chorrea, y antes de resbalar a tu lado sé que acaban de sacarte del agua, demasiado tarde, naturalmente, y que yaces sobre las piedras del muelle rodeada de zapatos y de voces, desnuda boca arriba con tu pelo empapado y tus ojos abiertos.
Julio Cortazar
Dois Coelhos
dois coelhos
Animadinho passa a mão no turbante de Sabrinão.
Sabrinão vira para trás, grave e lentamente, com a mesma gravidez com que passa a mão na barriga de capa de chuva que não queria ficar segurando.
Animadinho ergue as duas mãos e se afasta enquanto murmura: "Foi mal, foi mal!".
Como todos sabem, as grávidas não trepam.
Pari ali mesmo, assim que os pingos voltaram.
Sabrina B Lopes
Animadinho passa a mão no turbante de Sabrinão.
Sabrinão vira para trás, grave e lentamente, com a mesma gravidez com que passa a mão na barriga de capa de chuva que não queria ficar segurando.
Animadinho ergue as duas mãos e se afasta enquanto murmura: "Foi mal, foi mal!".
Como todos sabem, as grávidas não trepam.
Pari ali mesmo, assim que os pingos voltaram.
Sabrina B Lopes
Teremin
Ontem fui guardar dinheiro na Bíblia.
Fiz alguma piada com a Renascer. Meu pai disse que guardar dinheiro na Bíblia é errado. Eu disse: Vai que não? Vai que tem alguma mensagem pra mim?
E meus olhos bateram direto em Pr 17:16.
Me fodi, acho.
Sabrina B Lopes
Fiz alguma piada com a Renascer. Meu pai disse que guardar dinheiro na Bíblia é errado. Eu disse: Vai que não? Vai que tem alguma mensagem pra mim?
E meus olhos bateram direto em Pr 17:16.
Me fodi, acho.
Sabrina B Lopes
A insolente Gabizinha
11:15
Tia Sabrina chega da fisioterapia.
TS: Vamos fazer alongamento?
Gabizinha aponta para a TV. Ainda não acabou o High5.
Tia Sabrina vai para o computador.
GZ: Agora acabou.
TS: Espera um pouquinho que estou mandando um e-mail.
Dois minutos.
GZ: Adivinha que desenho está passando agora? Backyardigans!
TS: Se quiser terminar de assistir...
GZ: Esse desenho é aquele que a gente não assiste. Porque ele passa na hora em que a gente está fazendo alongamento!
Sabrina B Lopes
Tia Sabrina chega da fisioterapia.
TS: Vamos fazer alongamento?
Gabizinha aponta para a TV. Ainda não acabou o High5.
Tia Sabrina vai para o computador.
GZ: Agora acabou.
TS: Espera um pouquinho que estou mandando um e-mail.
Dois minutos.
GZ: Adivinha que desenho está passando agora? Backyardigans!
TS: Se quiser terminar de assistir...
GZ: Esse desenho é aquele que a gente não assiste. Porque ele passa na hora em que a gente está fazendo alongamento!
Sabrina B Lopes
descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar
Eu, animada com a idéia de fazer uma pesquisa com presidiários.
Meu pai: Mas não vá se envolver com ninguém, não existe essa história de reabilitação. Você nunca vai conseguir arrumar seu quarto. Outros conseguem
Sabrina B Lopes
http://www.vaidades.blogspot.com
Eu, animada com a idéia de fazer uma pesquisa com presidiários.
Meu pai: Mas não vá se envolver com ninguém, não existe essa história de reabilitação. Você nunca vai conseguir arrumar seu quarto. Outros conseguem
Sabrina B Lopes
http://www.vaidades.blogspot.com
Rapaces
Daqui a três kilometros estou autorizado a fazer mais uma parada. Posto Amigaço do Estradeiro, churrasco gaucho e música ambiente. Vou tomar um banho, espantar cansaço e calor.
Monitoramento, câmbio! Aproximação do posto. Licença para abertura de porta. Senha xxxxx. Concedido!
_ Quieto senão leva bala. Desce e deixa a porta aberta que meus amigos vão entrar e ficar quietinhos enquanto você usa o posto. nem um gesto, senão leva bala.
_Assim, segui o cara com a arma, enquanto os outros dois ficaram deitados no banco, esperando meu retorno. O armado ficou na minha cola até no banheiro. (Pensava no momento : Que merda! Um desconhecido espiando e encostando a pistola na minha nuca.Eu não sou burro. Não é pra qualquer um dirigir esses caminhões monitorados por radar. Tem que ser gente de melhor nível; esse é o meu caso. E não vou botar a vida a perder por causa da carga, não).
_Quanto tempo de parada ocê tem nesse posto?
_ 40 minutos pra almoço e 20 pra descanso.
_Uma hora, merda! Então vai, almoça. Tô junto e conversando animado. Faz favor de responder e rir; não dá mostra de nada, senão já sabe, vai correr sangue.
_Duro foi passar o tempo do descanso. Avisei ao monitoramento e pedi a abertura da porta. O cara continuou na minha cola até que eu subi. Os dois, lá dentro, me apntavam uma arma e estavam abaixados.
Depois que o monitoramento travou a porta, deu sinal pra eu partir.
O cara lá de fora me deu um tchau animado, coisa de amigo mesmo, entrou no automóvel prateado e seguiu até um trecho; depois tomou uma variante na estrada e sumiu.
Enquanto isso, o cara do meu lado continuava com a arma e me deu ordem de abrir o vidro. Com essa o sistema de monitoramento não contava! Abri a merda da janela já sabendo que iam me mandar pra fora. Eu nem tive medo de me matarem, pois acho que ia dar mais trabalho me lançar morto pra fora do que me fazer saltar. Foi isso! A velocidade controlada a 60km nesse trecho me ajudou a sofrer menos escoriações.
Daqui em diante, só sei o que me contaram que foi apurado. Um pegou o volante, enquanto o outro foi cortando os fios do sistema. Com isso, podiam desviar o caminhão e a carga pra onde quisessem. O telefone ficou lá, documentos, tudo que eu tinha. Desci com sapato, calça e camisa.
Sei dizer que até essa parte deu certo. Os moços conseguiram desligar e desviar pra uma estrada de terra. O outro, do carro prateado chegou lá com mais dois. Foram todos examinar a carga. Descarregaram e passaram pro veículo deles com tanta rapidez que a polícia suspeita que a quadrilha utilize até equipamentos próprios para deslocamento e manuseio de cargas.
O caminhão ficou abandonado menos de um dia. Foi encontrado sem avarias. O que eles queriam mesmo levaram. Levaram até a Regis, mas no acidente, dois morreram e o que sobreviveu em estado grave, deu no depoimento essas notícias, como acabo de trazer.
Agora soube que vão colocar grades nas janelas dos caminhões todos.
Vamos ver se evita!
Maria josé de Menezes
Monitoramento, câmbio! Aproximação do posto. Licença para abertura de porta. Senha xxxxx. Concedido!
_ Quieto senão leva bala. Desce e deixa a porta aberta que meus amigos vão entrar e ficar quietinhos enquanto você usa o posto. nem um gesto, senão leva bala.
_Assim, segui o cara com a arma, enquanto os outros dois ficaram deitados no banco, esperando meu retorno. O armado ficou na minha cola até no banheiro. (Pensava no momento : Que merda! Um desconhecido espiando e encostando a pistola na minha nuca.Eu não sou burro. Não é pra qualquer um dirigir esses caminhões monitorados por radar. Tem que ser gente de melhor nível; esse é o meu caso. E não vou botar a vida a perder por causa da carga, não).
_Quanto tempo de parada ocê tem nesse posto?
_ 40 minutos pra almoço e 20 pra descanso.
_Uma hora, merda! Então vai, almoça. Tô junto e conversando animado. Faz favor de responder e rir; não dá mostra de nada, senão já sabe, vai correr sangue.
_Duro foi passar o tempo do descanso. Avisei ao monitoramento e pedi a abertura da porta. O cara continuou na minha cola até que eu subi. Os dois, lá dentro, me apntavam uma arma e estavam abaixados.
Depois que o monitoramento travou a porta, deu sinal pra eu partir.
O cara lá de fora me deu um tchau animado, coisa de amigo mesmo, entrou no automóvel prateado e seguiu até um trecho; depois tomou uma variante na estrada e sumiu.
Enquanto isso, o cara do meu lado continuava com a arma e me deu ordem de abrir o vidro. Com essa o sistema de monitoramento não contava! Abri a merda da janela já sabendo que iam me mandar pra fora. Eu nem tive medo de me matarem, pois acho que ia dar mais trabalho me lançar morto pra fora do que me fazer saltar. Foi isso! A velocidade controlada a 60km nesse trecho me ajudou a sofrer menos escoriações.
Daqui em diante, só sei o que me contaram que foi apurado. Um pegou o volante, enquanto o outro foi cortando os fios do sistema. Com isso, podiam desviar o caminhão e a carga pra onde quisessem. O telefone ficou lá, documentos, tudo que eu tinha. Desci com sapato, calça e camisa.
Sei dizer que até essa parte deu certo. Os moços conseguiram desligar e desviar pra uma estrada de terra. O outro, do carro prateado chegou lá com mais dois. Foram todos examinar a carga. Descarregaram e passaram pro veículo deles com tanta rapidez que a polícia suspeita que a quadrilha utilize até equipamentos próprios para deslocamento e manuseio de cargas.
O caminhão ficou abandonado menos de um dia. Foi encontrado sem avarias. O que eles queriam mesmo levaram. Levaram até a Regis, mas no acidente, dois morreram e o que sobreviveu em estado grave, deu no depoimento essas notícias, como acabo de trazer.
Agora soube que vão colocar grades nas janelas dos caminhões todos.
Vamos ver se evita!
Maria josé de Menezes
Escritor
Você anda, você ri, você escreve, mas você não me vê. Alimento seu trabalho com a leitura das páginas que você preenche com as palavras que já estavam aí no mundo, algumas antes mesmo de você chegar. Aprendo com você. Avanço com você linha a linha, página a página, passo a passo vou buscar o livro ou a fonte onde você se expõe. As idéias que nem sempre consigo expressar com a clareza muitas vezes encontro elaboradas em seus textos. Tento ao máximo citá-lo como fonte.
Por quê leio?
Por um desejo profundo de me comunicar.
Tão imensa essa necessidade que as palavras faladas são pouco; as palavras ouvidas são pouco; as palavras escritas são pouco; as palavras lidas são pouco; as palavras pensadas são pouco. Todas juntas dão algum resultado.
Ao ler, tudo vem do silêncio. Ouço a voz das palavras saltarem da aparência gráfica; seu coração feito montaria por seu laborioso uso da mão em favor da escrita.
Aqui identifico o escritor que você é dirigindo-se a mim. Eu, leitor que te identifico como escritor por que a ti me reporto.
Maria José de Menezes
Por quê leio?
Por um desejo profundo de me comunicar.
Tão imensa essa necessidade que as palavras faladas são pouco; as palavras ouvidas são pouco; as palavras escritas são pouco; as palavras lidas são pouco; as palavras pensadas são pouco. Todas juntas dão algum resultado.
Ao ler, tudo vem do silêncio. Ouço a voz das palavras saltarem da aparência gráfica; seu coração feito montaria por seu laborioso uso da mão em favor da escrita.
Aqui identifico o escritor que você é dirigindo-se a mim. Eu, leitor que te identifico como escritor por que a ti me reporto.
Maria José de Menezes
P.S
P.S.
Muitas letras
grafadas na Casa Grande
atestam, protestam, dão fé.
A bola, no entanto,
é dominada por Pelé.
Embora se possa dizer:
A bola, domina Pelé
Nesse caso fonético
A bola domina ou não
Sem contradição
A bola é a bola da vez
Dominada da cabeça ao pés
Por Pelé
Ao mundo do Santos
É de som
Ar
Antes do Nascimento.
Maria José de Menezes
Muitas letras
grafadas na Casa Grande
atestam, protestam, dão fé.
A bola, no entanto,
é dominada por Pelé.
Embora se possa dizer:
A bola, domina Pelé
Nesse caso fonético
A bola domina ou não
Sem contradição
A bola é a bola da vez
Dominada da cabeça ao pés
Por Pelé
Ao mundo do Santos
É de som
Ar
Antes do Nascimento.
Maria José de Menezes
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Como canta de noche
la esquirina
al esquirín
que está sobre otra
rama
“esquirín,
si querés que vaya, iré
si querés que vaya, iré;
y a su rama la llama
el esquirín:
Esquirina,
Si querés venir,
vení
Si querés venir,
vení”,
y cuando ella
se va donde él está
el esquirín se va
para otra rama:
así te llamo
yo a ti,
y tú te vas
Así te llamo a ti,
y tú te vas.
Ernesto Cardenal.
la esquirina
al esquirín
que está sobre otra
rama
“esquirín,
si querés que vaya, iré
si querés que vaya, iré;
y a su rama la llama
el esquirín:
Esquirina,
Si querés venir,
vení
Si querés venir,
vení”,
y cuando ella
se va donde él está
el esquirín se va
para otra rama:
así te llamo
yo a ti,
y tú te vas
Así te llamo a ti,
y tú te vas.
Ernesto Cardenal.
A Cachorra e o Bebê Abandonado
Num terreno baldio um bebê foi abandonado ,
E , desumanamente , rejeitado !
Mas , uma cachorra do alto do morro ...
Escutou o seu desesperado choro !
Então , ela empurrou a cesta ,
Com a força de uma besta ,
Até a sua casinha de madeira ...
Tão pequena e verdadeira !
Nela estavam seus filhotes queridos ,
Que se assustaram ao ver o bebê ferido !
A cadela ofereceu seu leite ao menino ...
De um jeito puro , inocente e fino !
Assim , como fez a loba com Rômulo e Remo ,
Que ofereceu o seu leite a estes órfãos pequenos !
A cachorra muito sofrida ...
Ofereceu ao bebê comida !
Porém , apesar do esforço este neném faleceu ...
Naquela noite fria e repleta de breu !
Uma cachorra sem nenhum plano ...
Pode ser mais amorosa do que um humano ,
Que é capaz de abandonar o próprio filho ...
Numa noite escura e sem nenhum brilho .
Luciana do Rocio Mallon
E , desumanamente , rejeitado !
Mas , uma cachorra do alto do morro ...
Escutou o seu desesperado choro !
Então , ela empurrou a cesta ,
Com a força de uma besta ,
Até a sua casinha de madeira ...
Tão pequena e verdadeira !
Nela estavam seus filhotes queridos ,
Que se assustaram ao ver o bebê ferido !
A cadela ofereceu seu leite ao menino ...
De um jeito puro , inocente e fino !
Assim , como fez a loba com Rômulo e Remo ,
Que ofereceu o seu leite a estes órfãos pequenos !
A cachorra muito sofrida ...
Ofereceu ao bebê comida !
Porém , apesar do esforço este neném faleceu ...
Naquela noite fria e repleta de breu !
Uma cachorra sem nenhum plano ...
Pode ser mais amorosa do que um humano ,
Que é capaz de abandonar o próprio filho ...
Numa noite escura e sem nenhum brilho .
Luciana do Rocio Mallon
É PROIBIDO PROIBIR ?
É PROIBIDO PROIBIR?
nossas escolhas tem efeito
tem defeito, tem virtude
simular amor não permitido
é sofrer em vão, quietude...
não te iludes a fogueira?
a chama do proibido?
faz sentido estar feliz
matar os sonhos de um amigo?
por instantes me embriago
em teu colo, em teu perfume
e me perco em tua boca
só consigo ver teu lume!
foi tão louco, surreal
me perder nesse teu corpo
parecia tão normal
e o desejo não era pouco...
era carne, era sexo
pensamentos sem nexo
almas na lama, no drama
de se viver o impermitível...
Polak
nossas escolhas tem efeito
tem defeito, tem virtude
simular amor não permitido
é sofrer em vão, quietude...
não te iludes a fogueira?
a chama do proibido?
faz sentido estar feliz
matar os sonhos de um amigo?
por instantes me embriago
em teu colo, em teu perfume
e me perco em tua boca
só consigo ver teu lume!
foi tão louco, surreal
me perder nesse teu corpo
parecia tão normal
e o desejo não era pouco...
era carne, era sexo
pensamentos sem nexo
almas na lama, no drama
de se viver o impermitível...
Polak
Leminskiando
lambia letras
- [leminskiava]
tocava flautas
e girava tonto
e no entanto
- entre os tantos
tanto faz, tanto fez, tanto fazia!
Polak
02.06.07
- [leminskiava]
tocava flautas
e girava tonto
e no entanto
- entre os tantos
tanto faz, tanto fez, tanto fazia!
Polak
02.06.07
O Vazio do Som nos Cala a Voz
Emudecemos em silêncio bruto
Apática mudez / palidez estática
Ausência percebida, doída, ferida
Tristeza calada entre estrelas cadentes
Acalmamos os gritos, evitamos os berros / os ecos já não ecoam por esse lugar
Aprisionando palavras amarramos línguas / sufocando angústias em nossos lençóis
Estamos tão sós...
-
O sol renasce e não brilha para o meu amor, não brilhou
Luz se escondeu em úmido jardim, e fez-se assim um jardim sem cor
Amarelou este roseiral, sem qualquer razão amarelou
Ausência do teu sabor, a amargura em meus lábios secos
Os meus tormentos, os medos
Da solidão nas estradas
Das luas, das madrugadas
Envoltas em tédio e dor
No tato cego da tua voz emudecida, enlouqueci
Em meus sentidos te senti , em sentimentos vivi
Esqueci-me de mim, embranqueci corpo, alma e coração
Abandonei a razão tocando teu peito amiúde, dilacerando a emoção...
Polak
Apática mudez / palidez estática
Ausência percebida, doída, ferida
Tristeza calada entre estrelas cadentes
Acalmamos os gritos, evitamos os berros / os ecos já não ecoam por esse lugar
Aprisionando palavras amarramos línguas / sufocando angústias em nossos lençóis
Estamos tão sós...
-
O sol renasce e não brilha para o meu amor, não brilhou
Luz se escondeu em úmido jardim, e fez-se assim um jardim sem cor
Amarelou este roseiral, sem qualquer razão amarelou
Ausência do teu sabor, a amargura em meus lábios secos
Os meus tormentos, os medos
Da solidão nas estradas
Das luas, das madrugadas
Envoltas em tédio e dor
No tato cego da tua voz emudecida, enlouqueci
Em meus sentidos te senti , em sentimentos vivi
Esqueci-me de mim, embranqueci corpo, alma e coração
Abandonei a razão tocando teu peito amiúde, dilacerando a emoção...
Polak
Lição número 1
A folha de uva
me ensina mais que as teorias.
O olhar do garotinho mestiço
do terceiro andar.
Yáyá do 607, com suas palavras-
arnica curando minha alma esfolada,
entre chás e sorrisos...
Uma marmota na TV, olhar astuto,
dorso estirado de manequim...
Também me ensina a ser zen,
o desenho oriental em tinta nanquim.
Sinfonia & chuva &
epopéia terna - um filme -
cenas que resgato dos cílios
do filho adormecido...
Um cem número de visões, sabor e sons,
que degolam as vãs teorias,
um livro humano que me ensina
a entender a vida.
BÁRBARA LIA
2.007 de luz poesia paz
Bárbara Lia
www.chaparaasborboletas.blogspot.com
me ensina mais que as teorias.
O olhar do garotinho mestiço
do terceiro andar.
Yáyá do 607, com suas palavras-
arnica curando minha alma esfolada,
entre chás e sorrisos...
Uma marmota na TV, olhar astuto,
dorso estirado de manequim...
Também me ensina a ser zen,
o desenho oriental em tinta nanquim.
Sinfonia & chuva &
epopéia terna - um filme -
cenas que resgato dos cílios
do filho adormecido...
Um cem número de visões, sabor e sons,
que degolam as vãs teorias,
um livro humano que me ensina
a entender a vida.
BÁRBARA LIA
2.007 de luz poesia paz
Bárbara Lia
www.chaparaasborboletas.blogspot.com
Apelação
Cauteloso, silente e lentamente
faço coisas que sei que Deus duvida
me divido por quatro e sofro um pouco...
fico louco pra tudo se acabar
vejo o mundo rodando e penso penso.
E medito no dito por não dito
e me dito meu grito mais imenso
e ensaio o que digo e o que não digo
se desmaio, se corro ou se gargalho
qualquer coisa que afaste do perigo
que mendigue derrota aos inimigos
mas me safe na hora do sufoco.
Altair de Oliveira
– In: O Embebedário...
faço coisas que sei que Deus duvida
me divido por quatro e sofro um pouco...
fico louco pra tudo se acabar
vejo o mundo rodando e penso penso.
E medito no dito por não dito
e me dito meu grito mais imenso
e ensaio o que digo e o que não digo
se desmaio, se corro ou se gargalho
qualquer coisa que afaste do perigo
que mendigue derrota aos inimigos
mas me safe na hora do sufoco.
Altair de Oliveira
– In: O Embebedário...
O Amor Além de Si
Mordi a própria língua.
Como aquilo que sente pode sentir o próprio sabor?
Como aquele que ama pode ter a medida do próprio desejo?
o amor aliena, nos abandona ao abstrato,
é a única imprudência que a sensatez releva
o amor é a mais simples constatação do efêmero!!!!!
eterna interrogação do outro?????
perceber a força de um grande amor
é o primeiro sinal de que ele já acabou
pelo menos a mordida da língua
um dia cicatrizará.
Luiz Belmiro Teixeira
(Opinião e Informação )
Como aquilo que sente pode sentir o próprio sabor?
Como aquele que ama pode ter a medida do próprio desejo?
o amor aliena, nos abandona ao abstrato,
é a única imprudência que a sensatez releva
o amor é a mais simples constatação do efêmero!!!!!
eterna interrogação do outro?????
perceber a força de um grande amor
é o primeiro sinal de que ele já acabou
pelo menos a mordida da língua
um dia cicatrizará.
Luiz Belmiro Teixeira
(Opinião e Informação )
Marginália
Pus misturado com saliva,
ao sugar o esperma
que ainda respingava
no clitóris,
e assim era seco
pela língua há tempos
cortada por uma navalha
enferrujada.
Nos delírios de gozo
durante a masturbação
de um moralista
cego, quando a
navalha ainda
era nova e além do mais,
limpa.
Luiz Belmiro Teixeira
(Opinião e informação )
ao sugar o esperma
que ainda respingava
no clitóris,
e assim era seco
pela língua há tempos
cortada por uma navalha
enferrujada.
Nos delírios de gozo
durante a masturbação
de um moralista
cego, quando a
navalha ainda
era nova e além do mais,
limpa.
Luiz Belmiro Teixeira
(Opinião e informação )
Power
Meu cachorro parado na
frente da televisão :
Eu aperto o POWER,
meu cachorro dorme.
Não tenho mais cachorro,
Apenas um controle remoto.
Adriano esturilho
(O Ser Social )
frente da televisão :
Eu aperto o POWER,
meu cachorro dorme.
Não tenho mais cachorro,
Apenas um controle remoto.
Adriano esturilho
(O Ser Social )
Layla
Calçadas molhadas
-uma lâmpada grávida
estremecida de sol
pequeno-
a lembrar
que ainda é verde o trigo.
florirá
amanhã
em sol granulado,
farpas de doçura
sempre.
Bárbara Lia
(A Ùltima Chuva )
-uma lâmpada grávida
estremecida de sol
pequeno-
a lembrar
que ainda é verde o trigo.
florirá
amanhã
em sol granulado,
farpas de doçura
sempre.
Bárbara Lia
(A Ùltima Chuva )
Qual é a Sua ?
Quem
por uma única vez,
mesmo que na embriaguez,
não rogou por um deus ?
Quem?
Não bebes, nem fumas e tão pouco cheiras,
mas ora !- não oras ?
de quem és tu ?
Homem de deuses,
de quem és ?
Pecar,
eu peco,
você peca,
nós pecaremos,
o tempo todo e todo o tempo.
Mário auvim
(O Ser Social )
por uma única vez,
mesmo que na embriaguez,
não rogou por um deus ?
Quem?
Não bebes, nem fumas e tão pouco cheiras,
mas ora !- não oras ?
de quem és tu ?
Homem de deuses,
de quem és ?
Pecar,
eu peco,
você peca,
nós pecaremos,
o tempo todo e todo o tempo.
Mário auvim
(O Ser Social )
Bolo de Fubá
Não sei fazer bosta nenhuma
na cozinha
senão o cotidiano
árabe, eslavo, chinês, japonês
indiano, francês
algum americano
africano, italiano
indígena
brasileira
Doce
de banana
Como sou
trivial
Maria José de Menezes
na cozinha
senão o cotidiano
árabe, eslavo, chinês, japonês
indiano, francês
algum americano
africano, italiano
indígena
brasileira
Doce
de banana
Como sou
trivial
Maria José de Menezes
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Ritmo
Engraçado como algumas coisas que fazem parte do nosso cotidiano podem começar a "bater" de outra maneira se as virmos por outros ângulos, diferentes daquele que estamos acostumados.
Eu sempre peço às minhas alunas que ouçam a música com o coração, para que cada uma a interprete de uma maneira. Há uma ordem, uma coreografia, mas cada ser humano é único, deve-se respeitar a individualidade mesmo nesse caso.
Foi em meio à euforia e festa do Carnaval que escutei a música de uma maneira diferente. A música estava ali o tempo todo, tocando há algum tempo, mas só agora eu pude escutar de verdade.
Digo escutar porque ouvir é um ato mecânico, inerente ao ser humano, escutar é divino, escuta-se com a alma e com o coração, e poucos privilegiados conseguem desfrutar desse prazer.
Talvez o que me toca estivesse encoberto pelos vocais, pela letra ou pela melodia, pois todos eles são percebidos facilmente quando ouvimos a música, e talvez sejam o que toca a maioria das pessoas.
A música para mim está ao fundo, na batida que, mesmo sendo fundamental para que haja harmonia, pode parecer menos importante para outros ouvidos. Foi lá que encontrei a minha música, no balé das baquetas e no toque do couro. Quando a música me transporta para outro mundo, onde tudo tem uma razão maior para acontecer, meu coração pulsa e minha alma é embalada no ritmo da percussão.
Déa Paulino
Eu sempre peço às minhas alunas que ouçam a música com o coração, para que cada uma a interprete de uma maneira. Há uma ordem, uma coreografia, mas cada ser humano é único, deve-se respeitar a individualidade mesmo nesse caso.
Foi em meio à euforia e festa do Carnaval que escutei a música de uma maneira diferente. A música estava ali o tempo todo, tocando há algum tempo, mas só agora eu pude escutar de verdade.
Digo escutar porque ouvir é um ato mecânico, inerente ao ser humano, escutar é divino, escuta-se com a alma e com o coração, e poucos privilegiados conseguem desfrutar desse prazer.
Talvez o que me toca estivesse encoberto pelos vocais, pela letra ou pela melodia, pois todos eles são percebidos facilmente quando ouvimos a música, e talvez sejam o que toca a maioria das pessoas.
A música para mim está ao fundo, na batida que, mesmo sendo fundamental para que haja harmonia, pode parecer menos importante para outros ouvidos. Foi lá que encontrei a minha música, no balé das baquetas e no toque do couro. Quando a música me transporta para outro mundo, onde tudo tem uma razão maior para acontecer, meu coração pulsa e minha alma é embalada no ritmo da percussão.
Déa Paulino
Mercadoria de Escasso Valor
Não,não me convido para o ocaso das pessoas.S ou como o vampiro,para poder entrar preciso ser convidado,não e por educação ,e, sim por força de um mau-hálito embora...
Deixa para lá.
Uma vez dentro do recinto, no aconchego de espíritos livres, bebo o sangue das palavras e no espelho de suas almas a melodia de seus corpos.E, depois do décimo copo de café, pois não bebo, embora minha religião permita ser vampiro de meu Pai Eterno, e ser seu canibal, em sí se vendo. Coisa que não faço e saciar de alho as narinas das ninfas com meus falares no discurso da fome de ser de um ego gasoso e solitário.
Gosto do gozo de viver que a morte ceifa de neuroses , e, de sonos sem sonhos,reservando apenas o pesadelo das esquinas e dos fantasmas de nossos espelhos escondidos,tão desvelados diante de nós para o nosso deleite de sangue.É o que corta nossa máscara revelando nossa face celerada e monstruosa de sociedade sifilizada.
Janelas quadriculadas de claustros, presídios, prédios com a WEB , não precisa sair da redoma, da estufa de aço e metal,concreto e cimento um elegante mausoléu ,onde o medo está protegido de ti lá fora..
Não,estou aqui dentro,dentro do teu corpo,na tua Távora de mármore,no oco do teu cinzeiro,sou tua ânsia de superar a tua morte vivendo no limo do limite da tua vida,sou o dólar que queimaste ao... Enriqueço-te de miséria e desespero sou tua sepultura, muito além do teu desejo sou a vingança do Sistema te tragando a vida, diluindo –te.
Ele mesmo colocou uma pedra
no meio do caminho do pensamento,
para incauta pessoa encontrar o piso
de seu lamento na topada da pedra,
o grito tomando lugar de todo firmamento.
Pedra do drama de existir
Pedra no meio do caminho
Posta para o eu cair e na queda pela pedra,
Refletir.
Se isso for transferível,
Além dos limites do corpo
da Dor e da razão.
Wilson Roberto Nogueira 061002
Deixa para lá.
Uma vez dentro do recinto, no aconchego de espíritos livres, bebo o sangue das palavras e no espelho de suas almas a melodia de seus corpos.E, depois do décimo copo de café, pois não bebo, embora minha religião permita ser vampiro de meu Pai Eterno, e ser seu canibal, em sí se vendo. Coisa que não faço e saciar de alho as narinas das ninfas com meus falares no discurso da fome de ser de um ego gasoso e solitário.
Gosto do gozo de viver que a morte ceifa de neuroses , e, de sonos sem sonhos,reservando apenas o pesadelo das esquinas e dos fantasmas de nossos espelhos escondidos,tão desvelados diante de nós para o nosso deleite de sangue.É o que corta nossa máscara revelando nossa face celerada e monstruosa de sociedade sifilizada.
Janelas quadriculadas de claustros, presídios, prédios com a WEB , não precisa sair da redoma, da estufa de aço e metal,concreto e cimento um elegante mausoléu ,onde o medo está protegido de ti lá fora..
Não,estou aqui dentro,dentro do teu corpo,na tua Távora de mármore,no oco do teu cinzeiro,sou tua ânsia de superar a tua morte vivendo no limo do limite da tua vida,sou o dólar que queimaste ao... Enriqueço-te de miséria e desespero sou tua sepultura, muito além do teu desejo sou a vingança do Sistema te tragando a vida, diluindo –te.
Ele mesmo colocou uma pedra
no meio do caminho do pensamento,
para incauta pessoa encontrar o piso
de seu lamento na topada da pedra,
o grito tomando lugar de todo firmamento.
Pedra do drama de existir
Pedra no meio do caminho
Posta para o eu cair e na queda pela pedra,
Refletir.
Se isso for transferível,
Além dos limites do corpo
da Dor e da razão.
Wilson Roberto Nogueira 061002
A vida secreta das Meninas
Somos uma psicóloga e uma socióloga, que volta e meia conversamos sobre determinados assuntos e, quando menos percebemos misturamos aprendizado prático com lições teóricas. Nessa troca de opiniões, não temos a pretensão de fazer grandes descobertas, pois simplesmente deixamos fluir as idéias e do meio delas percebemos, assustadas surgir nossos maravilhosos “insights”, verdadeiras visões que nos fazem repensar e reanalisar nossas vidas. Sigmund Freud, aquele que entre tantas coisas falou sobre o inconsciente, os sonhos e a castração, pensava que o momento de elaboração do sofrimento emocional culminava com o equilíbrio e distribuição da energia psíquica, isso para ele era a descrição perfeita do “insight”.
Essa coluna surge com uma proposta: a de expor textualmente algumas de nossas conversas bem como contar algumas histórias por nós ouvidas nesse mundão de minha Deusa! Quem sabe a leitora e o leitor possam através de nossos escritos (hehehe!) ter seus momentos mágicos de “insight” também.
Para nós A Vida Secreta das Meninas, é também constituída de momentos tensos de análise interna e de luta entre o que querem que sejamos e o que desejamos ser.
Para mostrar a vocês que essa luta acontece, temos a história de uma amiga que depois de cinco anos reencontrou seu ex-namorado no orkut. Ele lhe pediu permissão para escrever um “testimonial”, e faria isso enviando-lhe por e-mail primeiramente para aprovação. Ela imaginava milhares de coisas que ele poderia dizer sobre sua pessoa, namoravam na faculdade gazetavam aula, iam para o bar beber, fumavam juntos inclusive faziam sexo mas acabou escrevendo algo que ela nem lembrava.
Porque ele se lembrou somente do aspecto religioso? Eles discutiram algumas vezes sobre religião e no “testimonial” ele gastou bastante linhas para escrever como ela defendia com fervor sua Igreja, a Católica Apostólica Romana. É curioso! Será que não poderia ter se lembrado o tanto de coisas “pecadoras” que fizeram juntos? Perguntamos isso pelo fato de haver uma contradição entre o que ela é e a imagem que ele fez dela, de alguém que protege e defende a Igreja Católica.
Claro que ela se sentiu um tanto confusa quanto a isto pois não se dava conta que pudesse ter marcado alguém que conviveu com tamanha religiosidade! É interessante pensarmos que talvez os homens ainda vejam como virtude as mulheres serem beatas e quanto mais vão a Igreja não importa os pecados, mais santas são.
Hoje em dia os homens ainda pensam em casar com mulheres “santinhas” só que depois do casamento eles descobrem que elas vão bastante à Igreja, não sabem sentir e dar prazer devido a sua educação ser construída para serem boas meninas e donas de casa o que teoricamente não acontece com as meninas para curtir.
Essa história nos fez questionar até que ponto os homens ainda nos dividem como mulheres para casar ou para se divertir. Depois deles terem terminado o relacionamento, o ex-namorado de nossa amiga arrumou uma namorada e hoje escreve no orkut que ela é o amor da sua vida, enquanto que quando os dois namoravam,ela não pôde nem dizer aos amigos que estavam juntos. Será que ela não era mocinha para casar?
Bom, esse é o propósito dessa coluna, nos fazer pensar como nos vemos e como somos vistas. Quem sabe essa moça como muitas de nós meninas e/ ou mulheres não vive em sua vida secreta coisas mundanas que até Deus duvida!
Cybelle Martins Cardozo
26 de janeiro de 2006
Opinião e Informação
Essa coluna surge com uma proposta: a de expor textualmente algumas de nossas conversas bem como contar algumas histórias por nós ouvidas nesse mundão de minha Deusa! Quem sabe a leitora e o leitor possam através de nossos escritos (hehehe!) ter seus momentos mágicos de “insight” também.
Para nós A Vida Secreta das Meninas, é também constituída de momentos tensos de análise interna e de luta entre o que querem que sejamos e o que desejamos ser.
Para mostrar a vocês que essa luta acontece, temos a história de uma amiga que depois de cinco anos reencontrou seu ex-namorado no orkut. Ele lhe pediu permissão para escrever um “testimonial”, e faria isso enviando-lhe por e-mail primeiramente para aprovação. Ela imaginava milhares de coisas que ele poderia dizer sobre sua pessoa, namoravam na faculdade gazetavam aula, iam para o bar beber, fumavam juntos inclusive faziam sexo mas acabou escrevendo algo que ela nem lembrava.
Porque ele se lembrou somente do aspecto religioso? Eles discutiram algumas vezes sobre religião e no “testimonial” ele gastou bastante linhas para escrever como ela defendia com fervor sua Igreja, a Católica Apostólica Romana. É curioso! Será que não poderia ter se lembrado o tanto de coisas “pecadoras” que fizeram juntos? Perguntamos isso pelo fato de haver uma contradição entre o que ela é e a imagem que ele fez dela, de alguém que protege e defende a Igreja Católica.
Claro que ela se sentiu um tanto confusa quanto a isto pois não se dava conta que pudesse ter marcado alguém que conviveu com tamanha religiosidade! É interessante pensarmos que talvez os homens ainda vejam como virtude as mulheres serem beatas e quanto mais vão a Igreja não importa os pecados, mais santas são.
Hoje em dia os homens ainda pensam em casar com mulheres “santinhas” só que depois do casamento eles descobrem que elas vão bastante à Igreja, não sabem sentir e dar prazer devido a sua educação ser construída para serem boas meninas e donas de casa o que teoricamente não acontece com as meninas para curtir.
Essa história nos fez questionar até que ponto os homens ainda nos dividem como mulheres para casar ou para se divertir. Depois deles terem terminado o relacionamento, o ex-namorado de nossa amiga arrumou uma namorada e hoje escreve no orkut que ela é o amor da sua vida, enquanto que quando os dois namoravam,ela não pôde nem dizer aos amigos que estavam juntos. Será que ela não era mocinha para casar?
Bom, esse é o propósito dessa coluna, nos fazer pensar como nos vemos e como somos vistas. Quem sabe essa moça como muitas de nós meninas e/ ou mulheres não vive em sua vida secreta coisas mundanas que até Deus duvida!
Cybelle Martins Cardozo
26 de janeiro de 2006
Opinião e Informação
Cetro Bengala e Caneta
Gloria Kirinus
De amanhã não passa. O tal amanhã passou e foi precisamente ontem o dia limite para cumprir o que deveria ter sido cumprido há muito tempo: enfim, resgatei os banners que deixei guardados numa livraria no centro da Praça Osório de Curitiba.
Estavam ali, enrolados, prontos para o retorno. No caminho de volta encurtei os dois pontos mais distantes pela reta que sempre une. Para meu espanto ,ganhei alguma soberania inusitada com meu passo diagonal que em total vagabundagem do pensamento desfilava reinos invisíveis.
A banca de jornal no meio da praça indicou boa pedida para descansar meu =etro, digo, o rolo de banners, quando saltou a primeira manchete do jornal do dia: Autor de Literatura Infanto-Juvenil... Mas essa é minha raça, minha tribo, meu lago de cisnes... Aprumei os óculos e continuei a leitura - bengaladas em direção do Dirceu... Mas é o Ives, o próprio homem de bem e de galante gala! Lembro dele, sempre de caneta em mão, alian=o ao milenar bastão mágico a vasta palavra Abracadabra...
Peguei rapidamente meu cetro do chão e vislumbrei uma justiça movida a =astão mágico, em elevação moral, desfeita pelo Ives, esse Rômulo germânico, encarnando por instantes o estandarte virtus.
De rainha virei guerreira e desferi bengaladas nos gigantes da praça. O rôlo de banners cumpria bem sua missão dinamizando um misto de ira e dignidade. O basta do bastão do Ives contra injustiças sociais e contra a corrupção política ganhou desta vez a praça, a mídia e seus contornos.
Não passou de ontem. A crise do mensalão cumpriu uma etapa e os magos milenares encurtaram suas varas. Dedos no teclado e novas histórias para o amanhã. Sejam bengalas, sejam canetas, sejam banners, sejam bastões, a mensagem é uma só: basta.
22 de fevereiro de 2006." site Opinião e Informação " .
De amanhã não passa. O tal amanhã passou e foi precisamente ontem o dia limite para cumprir o que deveria ter sido cumprido há muito tempo: enfim, resgatei os banners que deixei guardados numa livraria no centro da Praça Osório de Curitiba.
Estavam ali, enrolados, prontos para o retorno. No caminho de volta encurtei os dois pontos mais distantes pela reta que sempre une. Para meu espanto ,ganhei alguma soberania inusitada com meu passo diagonal que em total vagabundagem do pensamento desfilava reinos invisíveis.
A banca de jornal no meio da praça indicou boa pedida para descansar meu =etro, digo, o rolo de banners, quando saltou a primeira manchete do jornal do dia: Autor de Literatura Infanto-Juvenil... Mas essa é minha raça, minha tribo, meu lago de cisnes... Aprumei os óculos e continuei a leitura - bengaladas em direção do Dirceu... Mas é o Ives, o próprio homem de bem e de galante gala! Lembro dele, sempre de caneta em mão, alian=o ao milenar bastão mágico a vasta palavra Abracadabra...
Peguei rapidamente meu cetro do chão e vislumbrei uma justiça movida a =astão mágico, em elevação moral, desfeita pelo Ives, esse Rômulo germânico, encarnando por instantes o estandarte virtus.
De rainha virei guerreira e desferi bengaladas nos gigantes da praça. O rôlo de banners cumpria bem sua missão dinamizando um misto de ira e dignidade. O basta do bastão do Ives contra injustiças sociais e contra a corrupção política ganhou desta vez a praça, a mídia e seus contornos.
Não passou de ontem. A crise do mensalão cumpriu uma etapa e os magos milenares encurtaram suas varas. Dedos no teclado e novas histórias para o amanhã. Sejam bengalas, sejam canetas, sejam banners, sejam bastões, a mensagem é uma só: basta.
22 de fevereiro de 2006." site Opinião e Informação " .
Quanto Você Custa ?
Quanto você custa?
Essa pergunta nos pega de surpresa, ou não?
Você já parou para pensar em quanto você custa? Hummm, não? Pois é. Alguns gurus da auto-ajuda diriam que o não-saber, não é um problema, pois saber o seu preço depende se você é (ou não) um ser com auto-estima. Se você estiver com sua auto-estima "lá em cima" poderá dizer que o lance mínimo para sua vida é um milhão, dois, ou até três. Isso tudo sem precisar passar pelo próximo BBB. Caso contrário você pode dizer que o custo é de um conto de réis. Que nem existe mais, assim como, também, o seu acreditar em si mesmo.
Mas você pode ler até aqui e achar isso tudo uma grande bobagem. Ou seja, por que definir um valor para mim, se eu nunca me vendo? Ou nunca me venderia?
Bobagem é não perceber que num mundo tão atribulado, mal prestamos atenção em nós mesmos. Bobagem é achar que somos donos da nossa vida, quando quem coloca valor em nós é o trabalho explorador, a mídia gananciosa, a moral social castradora e pior, nossos próprios sentimentos de inferioridade, de descrédito, desmotivação e de vazio interior.
Então... quanto valemos?
Tudo depende do quanto você acredita que valha o ser humano. Quanto custa seu amigo? Quanto custa às pessoas da sua família? Quanto custam as pessoas que sofrem à mercê da desigualdade social e do nosso descaso? Quanto vale todas essas pessoas?
Para nós humanistas o SER HUMANO NÃO TEM PREÇO! Não há cartão de crédito que pague. Não há dinheiro que se compare, não há relação e nem câmbio comercial para as nossas relações.
Por acreditarmos nisso, nos colocamos como protagonistas de uma nova história. De um novo modelo de vida pessoal e social, que é muito simples, que se baseia no tratar o outro como eu gostaria de ser tratado.
Se eu quero ser tratado com respeito, dignidade e com amabilidade, devo tratar o outro dessa forma. Mas nossa atitude não acaba aí. Aliás, esse é o começo. É o começo de um desejo por um mundo melhor, um mundo de iguais oportunidades, um mundo onde nós, e o próximo, sejamos respeitados como PESSOAS e não coisas.
Estamos nesse processo de construção. Dando a cada dia um passo a mais. E você? Vai ficar parado? Bem, se for assim, você pode inverter a pergunta, e ao invés de dizer o seu valor, pode perguntar: "quer pagar quanto?"...
Ainda podemos definir o que queremos para nós.
Se queremos um mundo melhor, mais justo e digno, ou se preferimos nos entreter com algo superficial. Temos o poder de escolher a vida que queremos viver.
Mas lembre-se: "Não é indiferente o que faças com a tua vida".
Paula Batista.
(Publicada origináriamente no extinto site "Opinião e Informação " )
Essa pergunta nos pega de surpresa, ou não?
Você já parou para pensar em quanto você custa? Hummm, não? Pois é. Alguns gurus da auto-ajuda diriam que o não-saber, não é um problema, pois saber o seu preço depende se você é (ou não) um ser com auto-estima. Se você estiver com sua auto-estima "lá em cima" poderá dizer que o lance mínimo para sua vida é um milhão, dois, ou até três. Isso tudo sem precisar passar pelo próximo BBB. Caso contrário você pode dizer que o custo é de um conto de réis. Que nem existe mais, assim como, também, o seu acreditar em si mesmo.
Mas você pode ler até aqui e achar isso tudo uma grande bobagem. Ou seja, por que definir um valor para mim, se eu nunca me vendo? Ou nunca me venderia?
Bobagem é não perceber que num mundo tão atribulado, mal prestamos atenção em nós mesmos. Bobagem é achar que somos donos da nossa vida, quando quem coloca valor em nós é o trabalho explorador, a mídia gananciosa, a moral social castradora e pior, nossos próprios sentimentos de inferioridade, de descrédito, desmotivação e de vazio interior.
Então... quanto valemos?
Tudo depende do quanto você acredita que valha o ser humano. Quanto custa seu amigo? Quanto custa às pessoas da sua família? Quanto custam as pessoas que sofrem à mercê da desigualdade social e do nosso descaso? Quanto vale todas essas pessoas?
Para nós humanistas o SER HUMANO NÃO TEM PREÇO! Não há cartão de crédito que pague. Não há dinheiro que se compare, não há relação e nem câmbio comercial para as nossas relações.
Por acreditarmos nisso, nos colocamos como protagonistas de uma nova história. De um novo modelo de vida pessoal e social, que é muito simples, que se baseia no tratar o outro como eu gostaria de ser tratado.
Se eu quero ser tratado com respeito, dignidade e com amabilidade, devo tratar o outro dessa forma. Mas nossa atitude não acaba aí. Aliás, esse é o começo. É o começo de um desejo por um mundo melhor, um mundo de iguais oportunidades, um mundo onde nós, e o próximo, sejamos respeitados como PESSOAS e não coisas.
Estamos nesse processo de construção. Dando a cada dia um passo a mais. E você? Vai ficar parado? Bem, se for assim, você pode inverter a pergunta, e ao invés de dizer o seu valor, pode perguntar: "quer pagar quanto?"...
Ainda podemos definir o que queremos para nós.
Se queremos um mundo melhor, mais justo e digno, ou se preferimos nos entreter com algo superficial. Temos o poder de escolher a vida que queremos viver.
Mas lembre-se: "Não é indiferente o que faças com a tua vida".
Paula Batista.
(Publicada origináriamente no extinto site "Opinião e Informação " )
Terrorismo Poético
Marilia Kubota*
É fácil. Porque você não tem nada pra fazer, comece a rasgar pedaços de jornal. Faça bolinhas minúsculas, enrolando o jornal até ficarem duras. Enrole umas 50 bolinhas. A seguir, pegue um canudo plástico de refresco. Sente junto a uma janela, posicionando-se estrategicamente, ou seja, sem que ninguém passando na rua possa vê-lo. Coloque uma bolinha de papel no buraco da frente do canudo e sua boca no outro buraco. Escolha um alvo móvel, mire e sopre. A princípio não tem graça, os atingidos apenas olham para cima (é preciso atirar de um lugar alto) e balançam a cabeça em desaprovação. Ou xingam a mãe e você responde atirando mais bolinhas de papel. Você pode incrementar o game se souber ser rápido e atingir não uma, mas duas vítimas. Duas pessoas atingidas por projéteis disparados não se sabe de onde e não sei por quem são capazes de armar um barraco federal. Porque uma se confraterniza com a outra por ter sido alvo de uma brincadeira sem graça. Melhor se forem mulheres ou jovens ou velhas ou negras ou pobres, grupos sociais reconhecidamente suscetíveis a intempéries emotivas. Olham pra cima sem saber o que está acontecendo - mulheres seguem arranjando os cabelos e segurando firme a bolsa, jovens dão de dedo, velhos lamentam a juventude que está perdida, negros fazem uma piada ou dizem um palavrão, pobres se benzem. Se tiver sorte pode atingir um cidadão bem colocado, equilibrado e seguro de si, ao lado de sua mulher, inteligente, bonita, artista plástica. É claro que na primeira bolada não sentem o impacto, protegidos por coletes à prova de tato e sobretudos de lã. Descarregue uma rajada de bolinhas de papel sobre o supercasal: ela se desprende do braço dele, solta gritinhos diz que estão atirando neles ele vê e diz são bolinhas de papel, mas ao terem certeza que são bolinhas de papel, dispare nova carga. Olham estupefatos pra cima, procurando o franco-atirador, não encontram. Você quase mija de rir, eles somem na praça, batendo a sola dos sapatos de couro de cobra. Você observa o casal desaparecer, furioso, voltando a atacar pobres inocentes. Quinze minutos depois, quando você enfia algumas bolinhas na orelha de um cachorro no colo de uma velhinha de 80 anos, ela se assusta, tem uma síncope, é acudida por mulheres, jovens, negros. Volta o casal com um polícia, o tumultuador naquele prédio (indicam seu edifício), mais ou menos o andar de seu apartamento. Você assiste a tudo, calmamente pega as duas ou três bolinhas que restam e atira no guardinha. Ele sente os tapas na nuca e mira em direção à sua janela. Com o casal mais duas ou três pessoas entra em seu prédio. Você sai da janela, sorrindo. Guarda o canudo no armário da cozinha, tira um cigarro da carteira, acende, dá uma tragada e espera. Cinco minutos. Ouve baterem no apartamento do andar abaixo do seu. O vizinho assiste um pornô e em pânico, como se flagrado por sua mãezinha de Minas, corre para desligar o vídeo e abrir a porta antes que a ponham abaixo. A mulher e o homem de bem colocam o dedo no nariz do vizinho, que reage com um empurrão, o polícia intervém, quer uma vistoria no apê, o vizinho não, diz que tem direitos, o polícia fala em desacato, começa a revistar o apê o vizinho sempre suspeito, a mulher você não tem vergonha, um bruto homão como um adolescente rebelde, o vizinho não entende como podem ter visto o que assistia, fala em invasão de privacidade, as outras duas ou três pessoas dão palpites e um encontra a coleção de vídeos pornôs, o polícia diz que vai recolher o material, outros vizinhos correm pra ver que barulheira, encontram aqueles títulos indecentes, você acompanha dez minutos, sua mulher chega do trabalho com a menina, pergunta: melhorou a gripe, lá embaixo uma confusão, acharam um tarado. Dia seguinte você fica sabendo que levaram o vizinho mas não conseguiram provar nada a não ser que era fanático por um filão de cinema muito popular.
Marília Kubota é escritora e jornalista, mora em Curitiba, mantém o blog www.micropolis.blogspot.com e colabora com o site www.escritorassuicidas.com.br. Outros trabalhos em http://www.germinalitertura.com.br
É fácil. Porque você não tem nada pra fazer, comece a rasgar pedaços de jornal. Faça bolinhas minúsculas, enrolando o jornal até ficarem duras. Enrole umas 50 bolinhas. A seguir, pegue um canudo plástico de refresco. Sente junto a uma janela, posicionando-se estrategicamente, ou seja, sem que ninguém passando na rua possa vê-lo. Coloque uma bolinha de papel no buraco da frente do canudo e sua boca no outro buraco. Escolha um alvo móvel, mire e sopre. A princípio não tem graça, os atingidos apenas olham para cima (é preciso atirar de um lugar alto) e balançam a cabeça em desaprovação. Ou xingam a mãe e você responde atirando mais bolinhas de papel. Você pode incrementar o game se souber ser rápido e atingir não uma, mas duas vítimas. Duas pessoas atingidas por projéteis disparados não se sabe de onde e não sei por quem são capazes de armar um barraco federal. Porque uma se confraterniza com a outra por ter sido alvo de uma brincadeira sem graça. Melhor se forem mulheres ou jovens ou velhas ou negras ou pobres, grupos sociais reconhecidamente suscetíveis a intempéries emotivas. Olham pra cima sem saber o que está acontecendo - mulheres seguem arranjando os cabelos e segurando firme a bolsa, jovens dão de dedo, velhos lamentam a juventude que está perdida, negros fazem uma piada ou dizem um palavrão, pobres se benzem. Se tiver sorte pode atingir um cidadão bem colocado, equilibrado e seguro de si, ao lado de sua mulher, inteligente, bonita, artista plástica. É claro que na primeira bolada não sentem o impacto, protegidos por coletes à prova de tato e sobretudos de lã. Descarregue uma rajada de bolinhas de papel sobre o supercasal: ela se desprende do braço dele, solta gritinhos diz que estão atirando neles ele vê e diz são bolinhas de papel, mas ao terem certeza que são bolinhas de papel, dispare nova carga. Olham estupefatos pra cima, procurando o franco-atirador, não encontram. Você quase mija de rir, eles somem na praça, batendo a sola dos sapatos de couro de cobra. Você observa o casal desaparecer, furioso, voltando a atacar pobres inocentes. Quinze minutos depois, quando você enfia algumas bolinhas na orelha de um cachorro no colo de uma velhinha de 80 anos, ela se assusta, tem uma síncope, é acudida por mulheres, jovens, negros. Volta o casal com um polícia, o tumultuador naquele prédio (indicam seu edifício), mais ou menos o andar de seu apartamento. Você assiste a tudo, calmamente pega as duas ou três bolinhas que restam e atira no guardinha. Ele sente os tapas na nuca e mira em direção à sua janela. Com o casal mais duas ou três pessoas entra em seu prédio. Você sai da janela, sorrindo. Guarda o canudo no armário da cozinha, tira um cigarro da carteira, acende, dá uma tragada e espera. Cinco minutos. Ouve baterem no apartamento do andar abaixo do seu. O vizinho assiste um pornô e em pânico, como se flagrado por sua mãezinha de Minas, corre para desligar o vídeo e abrir a porta antes que a ponham abaixo. A mulher e o homem de bem colocam o dedo no nariz do vizinho, que reage com um empurrão, o polícia intervém, quer uma vistoria no apê, o vizinho não, diz que tem direitos, o polícia fala em desacato, começa a revistar o apê o vizinho sempre suspeito, a mulher você não tem vergonha, um bruto homão como um adolescente rebelde, o vizinho não entende como podem ter visto o que assistia, fala em invasão de privacidade, as outras duas ou três pessoas dão palpites e um encontra a coleção de vídeos pornôs, o polícia diz que vai recolher o material, outros vizinhos correm pra ver que barulheira, encontram aqueles títulos indecentes, você acompanha dez minutos, sua mulher chega do trabalho com a menina, pergunta: melhorou a gripe, lá embaixo uma confusão, acharam um tarado. Dia seguinte você fica sabendo que levaram o vizinho mas não conseguiram provar nada a não ser que era fanático por um filão de cinema muito popular.
Marília Kubota é escritora e jornalista, mora em Curitiba, mantém o blog www.micropolis.blogspot.com e colabora com o site www.escritorassuicidas.com.br. Outros trabalhos em http://www.germinalitertura.com.br
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Renegada Queda
À certa altura da vida
onde degraus se degradam,
Eu decido ser de descida,
e, num impulso suicida,
saltar os meus sobressaltos
e descer ao ser que acovardo
tomar-lhe os sonhos que guarda,
usar-lhe as asas rasgadas
e tentar cair para o alto.
Altair Oliveira
(o Lento Alento )
onde degraus se degradam,
Eu decido ser de descida,
e, num impulso suicida,
saltar os meus sobressaltos
e descer ao ser que acovardo
tomar-lhe os sonhos que guarda,
usar-lhe as asas rasgadas
e tentar cair para o alto.
Altair Oliveira
(o Lento Alento )
Asas de Nietzsche
A essência da felicidade é não ter mêdo
(Nietzche )
Em urdidura silenciosa
escondem o pásaro
no crânio branco
-arapuca tétrica-
caveira fria.
Asas em valsa coloridas de raios
que entram pelos olhos vazados,
e aquecem feito o fogo e as papoulas
da primeira primavera.
Asas de pluma se ferem
no oso-cárcere-sangram;
asas metafísicas
voam céus de antes.
Bárbara Lia
(A Última Chuva )
(Nietzche )
Em urdidura silenciosa
escondem o pásaro
no crânio branco
-arapuca tétrica-
caveira fria.
Asas em valsa coloridas de raios
que entram pelos olhos vazados,
e aquecem feito o fogo e as papoulas
da primeira primavera.
Asas de pluma se ferem
no oso-cárcere-sangram;
asas metafísicas
voam céus de antes.
Bárbara Lia
(A Última Chuva )
Verdes
Um poeta sobre a Terra, por gostar de flores,
joga da sua janela as dores que sofre o planeta.
Veste-se de verde e enfrenta o desabrochar das trevas...
Frescas florestas e indefesos animais,
Espécies em extinção, sob a fúria de homens "racionais"...
Na neblina racional de suas trevas,
O homem é erva de sua própria flor, e
Envenena a Terra pra tentar sobreviver.
Desua semente morre não apenas quem sonhou.
Sob as flores mortas de um Poeta Verde,
Num planeta morto,
Seu corpo é podre, no desespero do "progresso".
Angela Gomes
joga da sua janela as dores que sofre o planeta.
Veste-se de verde e enfrenta o desabrochar das trevas...
Frescas florestas e indefesos animais,
Espécies em extinção, sob a fúria de homens "racionais"...
Na neblina racional de suas trevas,
O homem é erva de sua própria flor, e
Envenena a Terra pra tentar sobreviver.
Desua semente morre não apenas quem sonhou.
Sob as flores mortas de um Poeta Verde,
Num planeta morto,
Seu corpo é podre, no desespero do "progresso".
Angela Gomes
Sandálias e Peneiras
de sandálias nos pés o espaço ganhas
sobre a cambraia de sonhadas dunas.
ao precípe andar em chãs nenhumas
luas pânicas pulsam, subterrâneas.
o que gritas e calas sob a Letra?
raízes arrebentadas, sem nome
anjos tripétalos dentro da fome
verdades absolutas obsoletas.
do que perdes aos passos inda fica
despencar do alcantilado em prazer?
"eu, bispo, que côo meu café na mitra,
exponho, sujo de sol, a vocês
abismo de um surto vir a ser
loucura mais sã que tal lucidez "
Rodrigo Madeira.
(Sol sem Pálpebras )
sobre a cambraia de sonhadas dunas.
ao precípe andar em chãs nenhumas
luas pânicas pulsam, subterrâneas.
o que gritas e calas sob a Letra?
raízes arrebentadas, sem nome
anjos tripétalos dentro da fome
verdades absolutas obsoletas.
do que perdes aos passos inda fica
despencar do alcantilado em prazer?
"eu, bispo, que côo meu café na mitra,
exponho, sujo de sol, a vocês
abismo de um surto vir a ser
loucura mais sã que tal lucidez "
Rodrigo Madeira.
(Sol sem Pálpebras )
Memória
(para G.)
I.
Talvez nós tivéssemos amado aqui
ao longo deste litoral.
desde o avião, as marinas
minúsculas, os barcos com se
pudessem caber na minha mão : só
o mar na sua mansa
imensidão cinzenta.
na minha memória daquilo
que nunca foi, achamos um
caminho, atrás dos cais, por
trás do lixo acumulado
de vários dias. Fui euquem
quis amar assim: com um
desespero de adolescente
nos escombros da cidade.
II.
Estou esquecendo tua cidade
diferente de todas as outras.
lembro só do vento, comobatia
ao redor de mim, como as sujas
asas dos pombos. uma vez
abandonei um lugar para sempre,
guardando a mentira do retorno
como uma bala ardendo
no meu coração esvaziado.
III.
Tua terra de abundância:
as cores explodindo num interminável
corredor de mercado, nas fileiras metálicas
da estrada.
o que você me falou: ela, no seu país
durante meses só comia arroz, um pouco de pimenta.
.E eu não lembo
mais da tua cidade, senão
da lenta máquina de um trem enferrujado
cavalosescorregando numa trilha de barro
um presentimento de chuva
nas colinas.
IV.
O fuso horário muda.
Aqui está escuro, embora lá
onde você continua,a branca
luz do sol se recuse a sumir, os telhados
de verão exalem ainda seu
hálito quente.
V.
O que acontece com a dor
quando encontro as palavras oara
dizê-la? é como se colocasse
as rendas mais azuis do meu
vestido, cobrindo minha pele
esfoliada, cobrindo a
ausência, a mais profunda
das feridas.
Miriam Adelmam
(15 concurso nacional de poesia "Helena Kolody " 2005 )
I.
Talvez nós tivéssemos amado aqui
ao longo deste litoral.
desde o avião, as marinas
minúsculas, os barcos com se
pudessem caber na minha mão : só
o mar na sua mansa
imensidão cinzenta.
na minha memória daquilo
que nunca foi, achamos um
caminho, atrás dos cais, por
trás do lixo acumulado
de vários dias. Fui euquem
quis amar assim: com um
desespero de adolescente
nos escombros da cidade.
II.
Estou esquecendo tua cidade
diferente de todas as outras.
lembro só do vento, comobatia
ao redor de mim, como as sujas
asas dos pombos. uma vez
abandonei um lugar para sempre,
guardando a mentira do retorno
como uma bala ardendo
no meu coração esvaziado.
III.
Tua terra de abundância:
as cores explodindo num interminável
corredor de mercado, nas fileiras metálicas
da estrada.
o que você me falou: ela, no seu país
durante meses só comia arroz, um pouco de pimenta.
.E eu não lembo
mais da tua cidade, senão
da lenta máquina de um trem enferrujado
cavalosescorregando numa trilha de barro
um presentimento de chuva
nas colinas.
IV.
O fuso horário muda.
Aqui está escuro, embora lá
onde você continua,a branca
luz do sol se recuse a sumir, os telhados
de verão exalem ainda seu
hálito quente.
V.
O que acontece com a dor
quando encontro as palavras oara
dizê-la? é como se colocasse
as rendas mais azuis do meu
vestido, cobrindo minha pele
esfoliada, cobrindo a
ausência, a mais profunda
das feridas.
Miriam Adelmam
(15 concurso nacional de poesia "Helena Kolody " 2005 )
domingo, 30 de novembro de 2008
Antuco
Antuco.
Hasta entonces, nunca había escuchado del lugar. Hasta que pasó lo que pasó. Ni siquiera sé ponerle nombre a lo sucedido. Desde hace días, sólo tengo un nombre que me retumba durante el día mientras manejo por la avenida Massachussets, hago una traducción, compro un café o me lavo los dientes. Aquí, en Washington, D.C.
Antuco.
Ayer un amigo gringo me llamó y me dijo algo así como que lo sentía tanto, o sea, “I
am so sorry about what happened to your soldiers in Chile. “ Y empecé a decirle de qué me estás hablando, no son los míos, nunca me han gustado los militares, you got it all wrong. Y de pronto me detuve. El cuento era más complicado que eso y no se lo iba a explicar a él, menos en inglés.
Entonces decidí escribir esta columna.
Quizás porque cuando uno lee la noticia en pantalla o papel no hay modo de esquivarla como si fuese una bola de nieve. O espantarla como si fuese una mosca. La verdad no es una sola y, por lo mismo, cuesta tanto reconocerla, abrazarla.
Pero advertí que en cuestión de horas, muchos, millones, un país entero, nos vimos envueltos en esa tormenta blanca, un tsunami de nieve, como dijo la prensa, que atrapó a esos adolescentes, que podrían ser nuestros hijos. Incluso son o eran menores que nuestros hijos. Lo cierto es que ellos – Juan, Pedro, Manuel, Luis, muchachos sencillos, modestos, como dicen en Chile, sin erres ni guiones en sus apellidos-hacían el servicio militar y, quizás, se aprontaban para hacer de la obediencia debida su verdad y del uniforme su orgullo.
Quizás era la forma elegida por sus padres para “ser alguien en la vida”, para perseguir un sueño y asegurarse una carrera, una profesión, que les diera pan, techo y, lo más importante, dignidad. Una fuente de sustento y un sentido de misión porque quizás la verdad no es una sola pero la patria sí. Y cuando el deber llama, llama.
Juan, Pedro, Manuel y Luis no tuvieron tiempo de hacer carrera ni de ganar medalla alguna. Apenas alcanzaron a abrir los ojos, botar el fusil y estirar los brazos a tientas como en una pieza oscura en medio de la nada sólo que esta vez estaban sumidos en una blancura espesa que los envolvió en silencio mientras a sus espaldas se levantaba esa cordillera maciza, imperturbable, inconmovible ante tanta juventud y desconcierto. Cayeron en silencio, sin ruido de metralla, sin intento de fuga, sin enfrentamiento ficticio ni grito de tormento. Cerraron los ojos y durmieron en paz.
Antuco.
No es fácil entender que sucedió, qué fue lo que falló, error humano o del otro, cuando uno vive en medio de un bosque en la avenida Massachussets. Entonces el peso de la distancia y la ausencia se sienten. Cuando la tragedia me pegó en la cara, quise estar allá, en el sur, con esas familias, en el primer velatorio y entierro. No como periodista, sino como mujer, como chilena, como hija del dolor. Es allí, en la pena profunda y en el placer infinito, donde siento el llamado de la patria. No conoceré nunca a esos muchachos inexpertos del sur; nunca los miraré a los ojos ni sabré sus nombres. No tomaré té con sus familias ni visitaré sus pueblos, pero en mi mapa interno Antuco quedará clavado en mi memoria.
Porque hace unos días descubrí un tesoro, hice un hallazgo que me estremeció.
Llevaré diez años en Estados Unidos pero mientras leía la prensa chilena ese primer día y los días siguientes, lloré lágrimas de dolor y me conmovieron la espera de las familias, la contradicción en las versiones, los cuerpos que no aparecían, los muchachos que morían y resucitaban en cada error y acierto. El minuto de silencio con que el Presidente Lagos inició su cuenta anual en el Congreso, las ojeras de Cheyre, los vidrios rotos por la ira en aquel recinto y la impotencia de los que exigen saber, la inutilidad del supuesto ejercicio de rigor, la bandera chilena que cubre el ataúd, el soldado de piel morena y orejas grandes que hace guardia con la misma mirada de los edecanes presidenciales.
Antuco.
Cuando me sacudo con los sollozos entiendo que Chile ha cambiado tanto en estos diez años. Yo también. Tanto que hoy lloro por esos soldados y sus familias, por un ejército que no sólo temí sino desprecié en el pasado. Esos soldados son mis soldados, su pérdida es también la mía. Celebrar un triunfo a nivel nacional no cuesta nada, para eso estamos siempre listos. Lo difícil es lo otro. Tenía razón mi amigo gringo. Y entonces por cuarta vez leo la lista de los aparecidos y de los desaparecidos y me confundo con los números totales que nunca coinciden y me entero de las cifras de las indemnizaciones que se entregarán al más breve plazo, dicen, y en el intertanto Juan, hermano de David Alejandro, grita que con tres millones no compran la vida de mi hermano y se le quiebra la voz cuando pide que le devuelvan el cuerpo porque llevan cuatro días y aún no pasa nada.
Cuatro días. Yo llevo casi 30 años y de desaparecidos sé más que todos ustedes, me dan ganas de gritarle pero sigo leyendo la noticia en internet, sola, afiebrada, medio aturdida, como si la tormenta me hubiese alcanzado a mí también. Y en vez de sentir la dulzura de la venganza en los labios porque ahora sabrá el ejército lo que es tener desaparecidos propios mi boca se llena de amargura y la tristeza se instala en la garganta como un bocado imposible de tragar. No sólo sentir nada salvo tristeza y tengo la piel de gallina pese a que la gente anda en shorts por la calle.
No bajemos los brazos, no bajemos las fuerzas, no bajemos las esperanzas, dice el general Cheyre. Yo vuelvo a mirar sus ojeras violáceas y pienso cómo me habría gustado que un comandante en jefe del ejército de Chile me hubiese dicho esto a mí y a tantos cuando buscábamos a nuestros desaparecidos. A los enterrados en el desierto, acribillados en la cordillera, arrojados al mar, torturados en la esa casona antigua de Nuñoa. Catorce o tres mil, ¿cuánto importa? ¿Mientras mas alta la cifra, más profundo el dolor?
Cómo me habría reconfortado que alguien me hubiese asegurado que la búsqueda por mi hermana, mi hermano, mi padre o mi amigo no se suspendería hasta encontrarlos y si había que esperar que se derritiesen todos los hielos del mundo, pues, a esperar.
Hay cruces que uno quisiera que nunca le pasaran, pero la cruz hay que llevarla, y no eludirla, dice Cheyre con los ojos cada vez más hundidos y el corazón también. Y me dan ganas de coger el telefóno y llamarlo y decirle, general, sé que anduvo hace poco por Washington y qué lástima que no nos vimos pero lo llamo porque quiero que sepa que yo de cruces también sé, como mi familia entera. También de nieves que se hicieron ríos y nosotros seguimos esperando. No tenemos formación militar pero de paciencia y dolor sabemos más que usted y los suyos. Y no es por hacerme la víctima porque me carga la gente que se hace la víctima pero le aseguro que usted tendrá la espalda de soldado que yo nunca tuve ni tendré pero la mía ha soportado más carga que la suya y aún no se quiebra ni se dobla aunque siempre me duele. Mi cruz, general, es más pesada que la suya. Y habría dado la vida por no tener que cargarla, igual que usted ahora, en los momentos más difíciles de su carrera.
Pero le ruego que me crea cuando le digo que su dolor es mi dolor. Y si Antuco debe ser el puente para que, al menos por un rato, un día o quizás más, civiles y uniformados se puedan reconocer y compadecer unos con otros, abrazar en su desamparo, entonces que sea Antuco. Que el dolor de los presentes pueda honrar la memoria de los ausentes, los caídos, hoy y ayer. No creo en los héroes ni en los monumentos, desconfío de las condecoraciones y me aburren los discursos, sobre todo los de ustedes, plagados de lugares comunes y cursilerías. Me irritan sus desfiles militares, soberbios y tan de la guerra fría. Me incomoda el saludo a la bandera y la canción nacional en los llamados actos oficiales. No los entiendo, ni de a uno ni formados, y me violenta cuando gritan, juntan los tacones y hacen esos giros raros. Tienen la mirada dura y el lenguaje ídem.
Lo que no quita que su dolor es tanto suyo como mío, general. Y ya sabemos que esos soldados, sus familias y sus amigos no están solos en su tristeza profunda. Desde acá, en medio de mi bosque y mis ardillas, después de tanta ausencia y distancia, constato que el dolor no le pertenece a nadie. Alcanza para todos. Esos muchachos, los de Chile, no volverán vivos. Pero ruego a Dios que vuelvan porque vivir con la incertidumbre es morir es cada día un poco. Confío en que regresarán al lado de sus familias, aunque sea la primavera quien los entregue en medio de campos floridos. Porque la peor cruz, la peor pesadilla, general, es tener el nombre, la memoria, la flor. Y no tener la tumba dónde hacer el duelo.
Odette Magnet
Periodista
Washington, D.C. 26 de mayo de 2005
Hasta entonces, nunca había escuchado del lugar. Hasta que pasó lo que pasó. Ni siquiera sé ponerle nombre a lo sucedido. Desde hace días, sólo tengo un nombre que me retumba durante el día mientras manejo por la avenida Massachussets, hago una traducción, compro un café o me lavo los dientes. Aquí, en Washington, D.C.
Antuco.
Ayer un amigo gringo me llamó y me dijo algo así como que lo sentía tanto, o sea, “I
am so sorry about what happened to your soldiers in Chile. “ Y empecé a decirle de qué me estás hablando, no son los míos, nunca me han gustado los militares, you got it all wrong. Y de pronto me detuve. El cuento era más complicado que eso y no se lo iba a explicar a él, menos en inglés.
Entonces decidí escribir esta columna.
Quizás porque cuando uno lee la noticia en pantalla o papel no hay modo de esquivarla como si fuese una bola de nieve. O espantarla como si fuese una mosca. La verdad no es una sola y, por lo mismo, cuesta tanto reconocerla, abrazarla.
Pero advertí que en cuestión de horas, muchos, millones, un país entero, nos vimos envueltos en esa tormenta blanca, un tsunami de nieve, como dijo la prensa, que atrapó a esos adolescentes, que podrían ser nuestros hijos. Incluso son o eran menores que nuestros hijos. Lo cierto es que ellos – Juan, Pedro, Manuel, Luis, muchachos sencillos, modestos, como dicen en Chile, sin erres ni guiones en sus apellidos-hacían el servicio militar y, quizás, se aprontaban para hacer de la obediencia debida su verdad y del uniforme su orgullo.
Quizás era la forma elegida por sus padres para “ser alguien en la vida”, para perseguir un sueño y asegurarse una carrera, una profesión, que les diera pan, techo y, lo más importante, dignidad. Una fuente de sustento y un sentido de misión porque quizás la verdad no es una sola pero la patria sí. Y cuando el deber llama, llama.
Juan, Pedro, Manuel y Luis no tuvieron tiempo de hacer carrera ni de ganar medalla alguna. Apenas alcanzaron a abrir los ojos, botar el fusil y estirar los brazos a tientas como en una pieza oscura en medio de la nada sólo que esta vez estaban sumidos en una blancura espesa que los envolvió en silencio mientras a sus espaldas se levantaba esa cordillera maciza, imperturbable, inconmovible ante tanta juventud y desconcierto. Cayeron en silencio, sin ruido de metralla, sin intento de fuga, sin enfrentamiento ficticio ni grito de tormento. Cerraron los ojos y durmieron en paz.
Antuco.
No es fácil entender que sucedió, qué fue lo que falló, error humano o del otro, cuando uno vive en medio de un bosque en la avenida Massachussets. Entonces el peso de la distancia y la ausencia se sienten. Cuando la tragedia me pegó en la cara, quise estar allá, en el sur, con esas familias, en el primer velatorio y entierro. No como periodista, sino como mujer, como chilena, como hija del dolor. Es allí, en la pena profunda y en el placer infinito, donde siento el llamado de la patria. No conoceré nunca a esos muchachos inexpertos del sur; nunca los miraré a los ojos ni sabré sus nombres. No tomaré té con sus familias ni visitaré sus pueblos, pero en mi mapa interno Antuco quedará clavado en mi memoria.
Porque hace unos días descubrí un tesoro, hice un hallazgo que me estremeció.
Llevaré diez años en Estados Unidos pero mientras leía la prensa chilena ese primer día y los días siguientes, lloré lágrimas de dolor y me conmovieron la espera de las familias, la contradicción en las versiones, los cuerpos que no aparecían, los muchachos que morían y resucitaban en cada error y acierto. El minuto de silencio con que el Presidente Lagos inició su cuenta anual en el Congreso, las ojeras de Cheyre, los vidrios rotos por la ira en aquel recinto y la impotencia de los que exigen saber, la inutilidad del supuesto ejercicio de rigor, la bandera chilena que cubre el ataúd, el soldado de piel morena y orejas grandes que hace guardia con la misma mirada de los edecanes presidenciales.
Antuco.
Cuando me sacudo con los sollozos entiendo que Chile ha cambiado tanto en estos diez años. Yo también. Tanto que hoy lloro por esos soldados y sus familias, por un ejército que no sólo temí sino desprecié en el pasado. Esos soldados son mis soldados, su pérdida es también la mía. Celebrar un triunfo a nivel nacional no cuesta nada, para eso estamos siempre listos. Lo difícil es lo otro. Tenía razón mi amigo gringo. Y entonces por cuarta vez leo la lista de los aparecidos y de los desaparecidos y me confundo con los números totales que nunca coinciden y me entero de las cifras de las indemnizaciones que se entregarán al más breve plazo, dicen, y en el intertanto Juan, hermano de David Alejandro, grita que con tres millones no compran la vida de mi hermano y se le quiebra la voz cuando pide que le devuelvan el cuerpo porque llevan cuatro días y aún no pasa nada.
Cuatro días. Yo llevo casi 30 años y de desaparecidos sé más que todos ustedes, me dan ganas de gritarle pero sigo leyendo la noticia en internet, sola, afiebrada, medio aturdida, como si la tormenta me hubiese alcanzado a mí también. Y en vez de sentir la dulzura de la venganza en los labios porque ahora sabrá el ejército lo que es tener desaparecidos propios mi boca se llena de amargura y la tristeza se instala en la garganta como un bocado imposible de tragar. No sólo sentir nada salvo tristeza y tengo la piel de gallina pese a que la gente anda en shorts por la calle.
No bajemos los brazos, no bajemos las fuerzas, no bajemos las esperanzas, dice el general Cheyre. Yo vuelvo a mirar sus ojeras violáceas y pienso cómo me habría gustado que un comandante en jefe del ejército de Chile me hubiese dicho esto a mí y a tantos cuando buscábamos a nuestros desaparecidos. A los enterrados en el desierto, acribillados en la cordillera, arrojados al mar, torturados en la esa casona antigua de Nuñoa. Catorce o tres mil, ¿cuánto importa? ¿Mientras mas alta la cifra, más profundo el dolor?
Cómo me habría reconfortado que alguien me hubiese asegurado que la búsqueda por mi hermana, mi hermano, mi padre o mi amigo no se suspendería hasta encontrarlos y si había que esperar que se derritiesen todos los hielos del mundo, pues, a esperar.
Hay cruces que uno quisiera que nunca le pasaran, pero la cruz hay que llevarla, y no eludirla, dice Cheyre con los ojos cada vez más hundidos y el corazón también. Y me dan ganas de coger el telefóno y llamarlo y decirle, general, sé que anduvo hace poco por Washington y qué lástima que no nos vimos pero lo llamo porque quiero que sepa que yo de cruces también sé, como mi familia entera. También de nieves que se hicieron ríos y nosotros seguimos esperando. No tenemos formación militar pero de paciencia y dolor sabemos más que usted y los suyos. Y no es por hacerme la víctima porque me carga la gente que se hace la víctima pero le aseguro que usted tendrá la espalda de soldado que yo nunca tuve ni tendré pero la mía ha soportado más carga que la suya y aún no se quiebra ni se dobla aunque siempre me duele. Mi cruz, general, es más pesada que la suya. Y habría dado la vida por no tener que cargarla, igual que usted ahora, en los momentos más difíciles de su carrera.
Pero le ruego que me crea cuando le digo que su dolor es mi dolor. Y si Antuco debe ser el puente para que, al menos por un rato, un día o quizás más, civiles y uniformados se puedan reconocer y compadecer unos con otros, abrazar en su desamparo, entonces que sea Antuco. Que el dolor de los presentes pueda honrar la memoria de los ausentes, los caídos, hoy y ayer. No creo en los héroes ni en los monumentos, desconfío de las condecoraciones y me aburren los discursos, sobre todo los de ustedes, plagados de lugares comunes y cursilerías. Me irritan sus desfiles militares, soberbios y tan de la guerra fría. Me incomoda el saludo a la bandera y la canción nacional en los llamados actos oficiales. No los entiendo, ni de a uno ni formados, y me violenta cuando gritan, juntan los tacones y hacen esos giros raros. Tienen la mirada dura y el lenguaje ídem.
Lo que no quita que su dolor es tanto suyo como mío, general. Y ya sabemos que esos soldados, sus familias y sus amigos no están solos en su tristeza profunda. Desde acá, en medio de mi bosque y mis ardillas, después de tanta ausencia y distancia, constato que el dolor no le pertenece a nadie. Alcanza para todos. Esos muchachos, los de Chile, no volverán vivos. Pero ruego a Dios que vuelvan porque vivir con la incertidumbre es morir es cada día un poco. Confío en que regresarán al lado de sus familias, aunque sea la primavera quien los entregue en medio de campos floridos. Porque la peor cruz, la peor pesadilla, general, es tener el nombre, la memoria, la flor. Y no tener la tumba dónde hacer el duelo.
Odette Magnet
Periodista
Washington, D.C. 26 de mayo de 2005
Contraste
Conflitos rasgados
consagram nos olhos
a extrema fragilidade
do grito preso ao relógio.
Andréa Motta
consagram nos olhos
a extrema fragilidade
do grito preso ao relógio.
Andréa Motta
Urgências
é urgente o agradecimento
à consciência alpinista
das palavras lidas
em câmera lenta.
é urgente a celebração
da tarde em sua essência
gota de ousadia
na montagem acessória da lida
fazer-se fêmea
borboleta
de formas discretas
amores secretos
é urgente uma glosa
no império dos astros
disfarçar a sorte
pra mudar de rota
puro golpe
o seu olhar de monumento
D'onde vertem tempestades
e águias insones
é urgente uma resposta
mesmo que debochada
para a solidão
sindicalizada.
Andréa Motta
à consciência alpinista
das palavras lidas
em câmera lenta.
é urgente a celebração
da tarde em sua essência
gota de ousadia
na montagem acessória da lida
fazer-se fêmea
borboleta
de formas discretas
amores secretos
é urgente uma glosa
no império dos astros
disfarçar a sorte
pra mudar de rota
puro golpe
o seu olhar de monumento
D'onde vertem tempestades
e águias insones
é urgente uma resposta
mesmo que debochada
para a solidão
sindicalizada.
Andréa Motta
No Pulsar Poético do Silêncio
Estrelas cadentes
precipitam-se pela noite
uma voz audaz explora
com lucidez
os sentidos
o silêncio
o despertar
da lingua e da memória
Sem concessões
transgride
ritos
assinala a decisão
entre a palavra
e o imaginário.
Andréa Motta
precipitam-se pela noite
uma voz audaz explora
com lucidez
os sentidos
o silêncio
o despertar
da lingua e da memória
Sem concessões
transgride
ritos
assinala a decisão
entre a palavra
e o imaginário.
Andréa Motta
Percepção Abrumada
Não era desabafo
aquela tristeza estranha
Não era adeus ou regresso,
talvez fosse mera sanha
É sempre assim...
Sem levantar suspeita
o verbo oculta a lágrima
que derradeira se deita
e silencia a palavra
O verso chega manso
mas o papel
permanece intacto.
Andréa Motta
aquela tristeza estranha
Não era adeus ou regresso,
talvez fosse mera sanha
É sempre assim...
Sem levantar suspeita
o verbo oculta a lágrima
que derradeira se deita
e silencia a palavra
O verso chega manso
mas o papel
permanece intacto.
Andréa Motta
Ao Sabor do Pensamento
O olhar cego começa um poema
desenha a trama.
Com mãos impolutas
despeja desejos
cria amores
e abandonos
em estranhos jogos
de memória
cogita
sangra
sonha interminavelmente
derrama sobre o papel
armadilhas inequívocas
do pensamento
Sorri
vertiginosamente
sorri até a exaustão
um sorriso marginal.
Etéreo
tece ilusões
e finda o poema.
Andréa Motta
desenha a trama.
Com mãos impolutas
despeja desejos
cria amores
e abandonos
em estranhos jogos
de memória
cogita
sangra
sonha interminavelmente
derrama sobre o papel
armadilhas inequívocas
do pensamento
Sorri
vertiginosamente
sorri até a exaustão
um sorriso marginal.
Etéreo
tece ilusões
e finda o poema.
Andréa Motta
Apesar
Apesar de o sol
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.
Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
os hemisférios juntarem-se.
Mas a composição atmosférica
não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sózinhos
em nossas próprias estrelas.
Deisi Perin
ser a estrela do centro do Sistema Solar,
na fraca faixa de luz
através do céu noturno, habitamos.
Entre estrelas e nebulosas
passeamos os dias na Via Láctea
e preferimos astros artificiais
e luzes frias e solitárias.
Giramos em meio à poeira cósmica
sem atingir o núcleo.
Apenas conhecimentos elípticos
à velocidade do som
nos aproximam das constelações.
E quase sentimos
os hemisférios juntarem-se.
Mas a composição atmosférica
não tem energia suficiente para interagir.
Então emitimos
fracos raios espectrais sem cor, nem calor.
E brilhamos pouco e sózinhos
em nossas próprias estrelas.
Deisi Perin
sábado, 29 de novembro de 2008
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Reflexões Sobre a Imagem
Acredito que a imagem tem poder de gritar em silêncio; porém a cada dia que passa, percebo que poucos são a-queles que ouvem os gritos.
Somos bombardeados com imagens o tempo todo, de tal forma que acaba por ocorrer o embotar de nossos sentidos.
A grande maioria das pessoas não é tocada realmente pela imagem, como reflexo de uma realidade que grita para ser modificada.
A pergunta é:
- Porque o retrato das mazelas hu-manas, a dor estampada em cada olhar vitimado pela ignorância atinge poucos ?
A resposta talvez esteja na banali-zação da vida como um todo.
Fechamos os olhos ou não olhamos para o feio, o triste, o sem cor ?
Queremos a vida colorida a qual-quer custo. Faz-se necessário a ressen-sibilização real de nossos sentidos. Pre-cisamos (re)aprender a ver não com nos-sos olhos, mas com a nossa alma.
Precisamos perceber que somos vi-da. Estamos rodeados de vida que não conhecemos, porque não nos permitimos olhar. Milhares de fotógrafos e cinegrafistas tiveram as vidas ceifadas para que pudéssemos saber o que está acontecendo num determinado lugar. Acreditam no poder da imagem, porém ela nos é servida entre a novela das sete e das oito em meio a culinária ou a vida badalada de alguma celebridade.
Tudo bem se você não quer olhar o feio, comece então olhando os olhos da criança que estiver mais próxima de vo-cê, pense que talvez daqui a algum tem-po esse olhar já não será tão belo; talvez seja o olhar daquele que matará alguém empunhando uma arma, ou a muitos, se uma caneta.
Somos bombardeados com imagens o tempo todo, de tal forma que acaba por ocorrer o embotar de nossos sentidos.
A grande maioria das pessoas não é tocada realmente pela imagem, como reflexo de uma realidade que grita para ser modificada.
A pergunta é:
- Porque o retrato das mazelas hu-manas, a dor estampada em cada olhar vitimado pela ignorância atinge poucos ?
A resposta talvez esteja na banali-zação da vida como um todo.
Fechamos os olhos ou não olhamos para o feio, o triste, o sem cor ?
Queremos a vida colorida a qual-quer custo. Faz-se necessário a ressen-sibilização real de nossos sentidos. Pre-cisamos (re)aprender a ver não com nos-sos olhos, mas com a nossa alma.
Precisamos perceber que somos vi-da. Estamos rodeados de vida que não conhecemos, porque não nos permitimos olhar. Milhares de fotógrafos e cinegrafistas tiveram as vidas ceifadas para que pudéssemos saber o que está acontecendo num determinado lugar. Acreditam no poder da imagem, porém ela nos é servida entre a novela das sete e das oito em meio a culinária ou a vida badalada de alguma celebridade.
Tudo bem se você não quer olhar o feio, comece então olhando os olhos da criança que estiver mais próxima de vo-cê, pense que talvez daqui a algum tem-po esse olhar já não será tão belo; talvez seja o olhar daquele que matará alguém empunhando uma arma, ou a muitos, se uma caneta.
Muros
Parte II
Países abandonados canibalizam suas populações expurgando cada fibra humana, empilhando em pesadelo seus restos transformados em diamantes, urânio, ouro, petróleo, mais além de seus rins, fígados pulmões e sangue, o sangue verde de sua pujante riqueza tropical, da biblioteca contida em suas raízes culturais, na tradição de seus autóctones patenteados, que jamais terão suas moléstias curadas em prol da saúde e a prosperidade das fortalezas setentrionais.
Aos pés dos muros, fugitivos da angústia, expropriados de seus órgãos, de suas famílias famélicas se arremessam à luz esfumaçada da França, Espanha, Itália e são devidamente expelidos após serem usados. Caem aos montes, às moscas da carniça de seus sonhos, a desilusão, o sonho de fazer a América, que quer braços e não bocas sobram presídios cinco estrelas para aqueles que não terão vaga nesse arame farpado estendido no alto dos arranha-céus onde as feras do desemprego fazem suas vítimas.
Muros onde cada tijolo é um auto-engano da boa sociedade burguesa, hipócrita, purgando suas consciências, dando esmolas, atuando no teatro paternalista de medidas paliativas, de politiqueiros de plantão, na cordialidade estudada de preconceitos velados, manifestos no vidro de seu caviar, se espraiando dos incluídos nas calçadas, ignorando o direito de ir e vir da massa amorfa e pútrida das não pessoas.
A elite nos países desmoronando tal o peso de seus muros sociais, econômicos, psíquicos.
Os construtores das barragens para conter a barbárie não se vêem bárbaros, sua autofagia virótica, porque anular no outro o resultado do flagelo que provocam, escondem no sótão o quadro purulento de seus excessos, o poder produzido através do acúmulo pela expropriação, pela concentração das riquezas a partir da contração de oportunidades, sem olhos para ver a luta ciclópica, caminham para o suicídio, atentam contra o seu próprio status e privilégios no arrancar da esperança da massa, tão estupefata em suas delícias, tão delirantes em suas obras, não vêem se aproximar à queda de suas fortalezas, de seus muros e o fim da transfusão de sangue fétido que alimenta sua relação com o Estado. Afora seu protetor, o Estado, não podem se proteger da vingança das não-pessoas, das crianças de olhares sem luz.
Wilson Roberto Nogueira
Países abandonados canibalizam suas populações expurgando cada fibra humana, empilhando em pesadelo seus restos transformados em diamantes, urânio, ouro, petróleo, mais além de seus rins, fígados pulmões e sangue, o sangue verde de sua pujante riqueza tropical, da biblioteca contida em suas raízes culturais, na tradição de seus autóctones patenteados, que jamais terão suas moléstias curadas em prol da saúde e a prosperidade das fortalezas setentrionais.
Aos pés dos muros, fugitivos da angústia, expropriados de seus órgãos, de suas famílias famélicas se arremessam à luz esfumaçada da França, Espanha, Itália e são devidamente expelidos após serem usados. Caem aos montes, às moscas da carniça de seus sonhos, a desilusão, o sonho de fazer a América, que quer braços e não bocas sobram presídios cinco estrelas para aqueles que não terão vaga nesse arame farpado estendido no alto dos arranha-céus onde as feras do desemprego fazem suas vítimas.
Muros onde cada tijolo é um auto-engano da boa sociedade burguesa, hipócrita, purgando suas consciências, dando esmolas, atuando no teatro paternalista de medidas paliativas, de politiqueiros de plantão, na cordialidade estudada de preconceitos velados, manifestos no vidro de seu caviar, se espraiando dos incluídos nas calçadas, ignorando o direito de ir e vir da massa amorfa e pútrida das não pessoas.
A elite nos países desmoronando tal o peso de seus muros sociais, econômicos, psíquicos.
Os construtores das barragens para conter a barbárie não se vêem bárbaros, sua autofagia virótica, porque anular no outro o resultado do flagelo que provocam, escondem no sótão o quadro purulento de seus excessos, o poder produzido através do acúmulo pela expropriação, pela concentração das riquezas a partir da contração de oportunidades, sem olhos para ver a luta ciclópica, caminham para o suicídio, atentam contra o seu próprio status e privilégios no arrancar da esperança da massa, tão estupefata em suas delícias, tão delirantes em suas obras, não vêem se aproximar à queda de suas fortalezas, de seus muros e o fim da transfusão de sangue fétido que alimenta sua relação com o Estado. Afora seu protetor, o Estado, não podem se proteger da vingança das não-pessoas, das crianças de olhares sem luz.
Wilson Roberto Nogueira
Muros
Parte I
Todos os dias saltam do alto das muralhas do medo, restos de desespero, fantasmas sem grilhões. Feridas rasgadas, sulcando de quente sangue a pele negra, herança do sofrimento no arame farpado da opressão. Os cães do ódio ladram e seus dentes cravam na carne suja e apodrecida da escravidão.
A afluente aristocracia – dos eupátridas pós-modernos do alto de seus palacetes – quer perpetuar seu fausto enfastiado, com máquinas que não comam, não bebam e não se reproduzam, precisam de criados invisíveis que não ofendam com sua presença.
Os muros são fronteiras que protegem vós mesmos nos outros, a vossa humanidade, a obrigação de enxergar o contraste no espelho da exclusão. Denuncia da conseqüência da ânsia de acumular necessidades supérfluas, carência de necessidades reais da multidão zumbi, do lumpen.
Os muros correspondem ao medo de se verem despojados de suas histórias, construídas dos espólios da guerra fratricida entre a cria mais forte e a mais fraca da loba do sistema.
O abismo se agiganta, as trevas abatem as crias esquálidas do proletariado no esgoto da exclusão, embrutecendo suas vontades na voracidade da vingança, cristalizada no crime, incendiada nos entorpecentes, perdidas na sarjeta.
Os muros são construídos por todos que os exteriorizam na força repressiva do representante autoeleito, o Estado, forte diante dos fracos e fraco diante dos fortes.
É quando o subúrbio se levanta e o morro escorre para a calçada. O subúrbio clama por empregos e o morro por esperança na forma de pão e dignidade.
Cada tijolo ensangüentado, por quem é colocado?
Só o dólar e o pó atravessam os muros, se globalizam. As pessoas estão confinadas em seus pesadelos de consumo, chafurdando no lodo que transformaram as pátrias violentadas.
Caminham, não, se arrastam nas sombras, atravessam desertos guiados por coiotes, são espremidas em contêineres, vagam em barcos, escorraçados em sua esperança, lastros de fantasia, patologia. O não-lugar para as não-pessoas.
A estátua abre os braços, generosa aos miseráveis do mundo inteiro, generosidade de pedra, cláusula que esqueceram de gravar em seu pedestal de bondade:
"desde que tenham dinheiro ou voltem para suas cloacas do terceiro mundo após o expediente, pobreza terrorista que carregam em seus corpos...".
Muros represam o mar pútrido da pobreza, da violência, que agride e alimenta o revide. O muro que engole o berço.
A globalização dos muros erigidos, verdadeiras homenagens ao Apartheid. Os muros ideológicos derrubados a marretadas em Berlim não permitiram aos embriagados ver o quão inebriados de ideologia estavam. Outros muros foram levantados: na Coréia do Norte, em Israel ou na fronteira dos E.U.A. com o México; outros muros construídos com o imperativo de ocultar a agressiva presença do outro, o estrangeiro, que quer um lugar à mesa, um lugar ao sol.
Serviçais sentados à mesa dos patrões com seus modos de sarjeta, com odores fétidos e roupas sujas, restos devorados por suas próprias mães.
Wilson Roberto Nogueira
Todos os dias saltam do alto das muralhas do medo, restos de desespero, fantasmas sem grilhões. Feridas rasgadas, sulcando de quente sangue a pele negra, herança do sofrimento no arame farpado da opressão. Os cães do ódio ladram e seus dentes cravam na carne suja e apodrecida da escravidão.
A afluente aristocracia – dos eupátridas pós-modernos do alto de seus palacetes – quer perpetuar seu fausto enfastiado, com máquinas que não comam, não bebam e não se reproduzam, precisam de criados invisíveis que não ofendam com sua presença.
Os muros são fronteiras que protegem vós mesmos nos outros, a vossa humanidade, a obrigação de enxergar o contraste no espelho da exclusão. Denuncia da conseqüência da ânsia de acumular necessidades supérfluas, carência de necessidades reais da multidão zumbi, do lumpen.
Os muros correspondem ao medo de se verem despojados de suas histórias, construídas dos espólios da guerra fratricida entre a cria mais forte e a mais fraca da loba do sistema.
O abismo se agiganta, as trevas abatem as crias esquálidas do proletariado no esgoto da exclusão, embrutecendo suas vontades na voracidade da vingança, cristalizada no crime, incendiada nos entorpecentes, perdidas na sarjeta.
Os muros são construídos por todos que os exteriorizam na força repressiva do representante autoeleito, o Estado, forte diante dos fracos e fraco diante dos fortes.
É quando o subúrbio se levanta e o morro escorre para a calçada. O subúrbio clama por empregos e o morro por esperança na forma de pão e dignidade.
Cada tijolo ensangüentado, por quem é colocado?
Só o dólar e o pó atravessam os muros, se globalizam. As pessoas estão confinadas em seus pesadelos de consumo, chafurdando no lodo que transformaram as pátrias violentadas.
Caminham, não, se arrastam nas sombras, atravessam desertos guiados por coiotes, são espremidas em contêineres, vagam em barcos, escorraçados em sua esperança, lastros de fantasia, patologia. O não-lugar para as não-pessoas.
A estátua abre os braços, generosa aos miseráveis do mundo inteiro, generosidade de pedra, cláusula que esqueceram de gravar em seu pedestal de bondade:
"desde que tenham dinheiro ou voltem para suas cloacas do terceiro mundo após o expediente, pobreza terrorista que carregam em seus corpos...".
Muros represam o mar pútrido da pobreza, da violência, que agride e alimenta o revide. O muro que engole o berço.
A globalização dos muros erigidos, verdadeiras homenagens ao Apartheid. Os muros ideológicos derrubados a marretadas em Berlim não permitiram aos embriagados ver o quão inebriados de ideologia estavam. Outros muros foram levantados: na Coréia do Norte, em Israel ou na fronteira dos E.U.A. com o México; outros muros construídos com o imperativo de ocultar a agressiva presença do outro, o estrangeiro, que quer um lugar à mesa, um lugar ao sol.
Serviçais sentados à mesa dos patrões com seus modos de sarjeta, com odores fétidos e roupas sujas, restos devorados por suas próprias mães.
Wilson Roberto Nogueira
Dr
Grande demais, todas as coisas tornam-se grandes demais. Logo após, pequenas, contraindo e se expandindo numa medida incalculável de sensatez. Veste o mundo de razão, numa qualquer razão destrambelhada e assim, respira, enxerga, como de dentro para fora; noutras vezes, de fora para dentro. Uma batida de coração, um ar mais profundo vindo de um lugar além, uma dor que doía quando não sabíamos de nada. E sabíamos? Doía tão vagarosamente, naquele compasso manso, como uma longa espera na saleta do consultório médico... e doía tanto, de uma coisa infundada mas um pouco real, um medo além e no entanto, terreno.
Como pupilas na escuridão e as pálpebras que não se fecham. E tudo o que não se move. Vasculantes e tudo o que paira no ar de maneira amena, - estou nos segundos de ontem, que esperavam pela mesma coisa de hoje, e provavelmente nos segundos de amanhã que ainda estarão esperando por nada ou além - como se acontecesse, suspiro aliviada, porque a dor não chegou como nas outras manhãs. Não foi tão dor, mas também, não veio como pouca dor. Foi dosagem e medida, numa dessas tempestuosas sensações e... a dor! Não afirmo que essa dor seja a mesma de todos os dias, nem que a de todos os dias se repita exaustivamente, mas na somatória, no indivisível, dor colando em dor, em alguns dias, dor se anula com dor, noutros, o nulo se faz presente e adiciona um pouco mais de ruído, e doía como antes.
Se visse eu, como me vejo aqui, no passado, não iria doer. E no mesmo passado, não iria existir. Sou nascida de sensações irrisórias e claustrofóbicas, vindo de mim mesma, e nasço há cada dia, num canto diferente e num lugar qualquer. Se quisesse eu mesma, contraída numa razão sobre a existência; nada seria, e eu não existiria. Existo por instinto, e penso por conveniência, por tudo que sinto, há um primeiro passo antecessor que me faz aguilhão e coragem. E justamente nesses pedaços de tempos que não voltam nunca mais, me faço. Para refazer o que fiz no outro dia tem de haver um novo aguilhão e uma nova coragem, se demorar, fico aqui, estagnada - se vier depressa demais, não acompanho o desprendimento com totalidade. É que estou na busca da terrível aceitação e quando tudo passa, pareço um outro qualquer, já não sou quem eu era e nem imagino quem eu seja. Estou em um lado que não quis estar e estou, também, aqui; com o tempo que há de passar.
Juliana Vallim
Como pupilas na escuridão e as pálpebras que não se fecham. E tudo o que não se move. Vasculantes e tudo o que paira no ar de maneira amena, - estou nos segundos de ontem, que esperavam pela mesma coisa de hoje, e provavelmente nos segundos de amanhã que ainda estarão esperando por nada ou além - como se acontecesse, suspiro aliviada, porque a dor não chegou como nas outras manhãs. Não foi tão dor, mas também, não veio como pouca dor. Foi dosagem e medida, numa dessas tempestuosas sensações e... a dor! Não afirmo que essa dor seja a mesma de todos os dias, nem que a de todos os dias se repita exaustivamente, mas na somatória, no indivisível, dor colando em dor, em alguns dias, dor se anula com dor, noutros, o nulo se faz presente e adiciona um pouco mais de ruído, e doía como antes.
Se visse eu, como me vejo aqui, no passado, não iria doer. E no mesmo passado, não iria existir. Sou nascida de sensações irrisórias e claustrofóbicas, vindo de mim mesma, e nasço há cada dia, num canto diferente e num lugar qualquer. Se quisesse eu mesma, contraída numa razão sobre a existência; nada seria, e eu não existiria. Existo por instinto, e penso por conveniência, por tudo que sinto, há um primeiro passo antecessor que me faz aguilhão e coragem. E justamente nesses pedaços de tempos que não voltam nunca mais, me faço. Para refazer o que fiz no outro dia tem de haver um novo aguilhão e uma nova coragem, se demorar, fico aqui, estagnada - se vier depressa demais, não acompanho o desprendimento com totalidade. É que estou na busca da terrível aceitação e quando tudo passa, pareço um outro qualquer, já não sou quem eu era e nem imagino quem eu seja. Estou em um lado que não quis estar e estou, também, aqui; com o tempo que há de passar.
Juliana Vallim
Semi-adestrado
Quase madrugada. Quase. Numa benevolência magistral extraio o nulo de mim. O que resta é de todo um vazio; estou para sofredora e estou para não estar. Venho restringindo-me ao imaginado, este, que se torna um milagroso veneno - e prepotente. Tão tudo, tão cheio de tudo e a única coisa que consigo perceber é o eco que acontece dentro de mim. Daqueles vazios de alma sem alma, ou pura alma e puro ser em essência. Apresento-te o vazio das palavras: estou cá, indexada à mim. Pregada aos horrores do que se é em nervo e turbilhão. Perversão do sonho e o indicador, para o lado de trás, qualquer um. Ando aos trancos, reagindo ao vento qualquer e sem som, estou, está. E falo, num imaculado silêncio o que sinto. Paredes mucosas e o ruído final de uma pluma última que cai. E caio aos poucos, num lento e retilíneo desespero. Estou desesperada? vou tateando, corroendo o que não há e a tristeza me comove um pouco mais, como de quem não quer e projeto toda a vontade.
Nevoeiro e surge o que se é, sou. De horror e cheia de felicidade, emociono-me em um breve momento e paro. Vacilo e penso: quase outro dia, estou só. Não digo frustrada, estou somente só. Eis que refaço cheia de medo o meu novo dia em poucos minutos, estará. Contudo estou livre e de olhos abertos. Sinto lenta a solidão que se encaixa perfeitamente em meu vazio cerebral, no meu senil respiro. Balbucio movimentos; há palavras que não ouso dizer, e sendo memorável, estou no meio e vazia. Com todo o vazio, com toda a liberdade de se estar livre e com toda a angústia de se procurar eternamente. Sou eterna em procura e sobrevivo. Por alto estou nula, desagregada de um passado, e num presente-movimento que arranha meus segundos de felicidade; um segundo sim outro não. Transformo diante de qualquer reflexo, já não me sou tão com autoridade, me perdi no tempo vago das memórias e me confundo diante de todos os reflexos; faço um movimento para que eu me perceba como gente. Sou o quê? o que me restar, e é essa mesmo a pergunta? sou o que resta quando não se quer restar; quero a totalidade de tudo, a soma, o resultado de todas as metades e unidades perdidas. Meu corpo parece expelir por vontade minha alma e estou a vagar de corpo presente e trépido.
Encarno num momento inexistente; não o vivi. E uma pessoa, qualquer que me chame atenção prende-me, passo a tê-la como se eu me tivesse nela. Vivo então. Num espectro exorbitante de serenidade; estou viva e me coloco diante da platéia. Quero sacolejos - e sacolejo-me - e gritos, quaisquer que possam me estontear, pois estou viva e tenho vontades urgentíssimas. Agora quero lhe contar como é a soma de toda a loucura de beirada, como é que se vive nesses deslizes que matariam qualquer um: não se vive, deixa-se viver. E de repente vem a foice junto à face e rasga-me em um único golpe. Fui traída pela minha própria vontade e estou à representar, sempre que vivi, representei. E represento minha dor como senão existisse. E nas vezes que choro, estou à representar. E agora, enjaulo-me na minha real verdade. Estou só como nunca estive e o meu gerador é montante de vazios. Como se descreve o vazio? Difícil tarefa, estou entrando nessa perigosa realidade para lhe contar como tudo é tão vazio. E me dói, faz eco e grita, sinto um vazio quase demente. Entro no sossego que retroage para o começo, é a eternidade. O oco, o eco, o começo, o desespero, o começo que não tem fim. É assim quando se sente o vazio; existir sem existir, começar sem começar. E acaba por acreditar na eternidade, sentindo-a, pois ainda não começou, e a espera é cruelmente eterna.
Juliana Vallim
Nevoeiro e surge o que se é, sou. De horror e cheia de felicidade, emociono-me em um breve momento e paro. Vacilo e penso: quase outro dia, estou só. Não digo frustrada, estou somente só. Eis que refaço cheia de medo o meu novo dia em poucos minutos, estará. Contudo estou livre e de olhos abertos. Sinto lenta a solidão que se encaixa perfeitamente em meu vazio cerebral, no meu senil respiro. Balbucio movimentos; há palavras que não ouso dizer, e sendo memorável, estou no meio e vazia. Com todo o vazio, com toda a liberdade de se estar livre e com toda a angústia de se procurar eternamente. Sou eterna em procura e sobrevivo. Por alto estou nula, desagregada de um passado, e num presente-movimento que arranha meus segundos de felicidade; um segundo sim outro não. Transformo diante de qualquer reflexo, já não me sou tão com autoridade, me perdi no tempo vago das memórias e me confundo diante de todos os reflexos; faço um movimento para que eu me perceba como gente. Sou o quê? o que me restar, e é essa mesmo a pergunta? sou o que resta quando não se quer restar; quero a totalidade de tudo, a soma, o resultado de todas as metades e unidades perdidas. Meu corpo parece expelir por vontade minha alma e estou a vagar de corpo presente e trépido.
Encarno num momento inexistente; não o vivi. E uma pessoa, qualquer que me chame atenção prende-me, passo a tê-la como se eu me tivesse nela. Vivo então. Num espectro exorbitante de serenidade; estou viva e me coloco diante da platéia. Quero sacolejos - e sacolejo-me - e gritos, quaisquer que possam me estontear, pois estou viva e tenho vontades urgentíssimas. Agora quero lhe contar como é a soma de toda a loucura de beirada, como é que se vive nesses deslizes que matariam qualquer um: não se vive, deixa-se viver. E de repente vem a foice junto à face e rasga-me em um único golpe. Fui traída pela minha própria vontade e estou à representar, sempre que vivi, representei. E represento minha dor como senão existisse. E nas vezes que choro, estou à representar. E agora, enjaulo-me na minha real verdade. Estou só como nunca estive e o meu gerador é montante de vazios. Como se descreve o vazio? Difícil tarefa, estou entrando nessa perigosa realidade para lhe contar como tudo é tão vazio. E me dói, faz eco e grita, sinto um vazio quase demente. Entro no sossego que retroage para o começo, é a eternidade. O oco, o eco, o começo, o desespero, o começo que não tem fim. É assim quando se sente o vazio; existir sem existir, começar sem começar. E acaba por acreditar na eternidade, sentindo-a, pois ainda não começou, e a espera é cruelmente eterna.
Juliana Vallim
Um para cá; três para lá
Um para cá; três para lá
De versos, estou vazia. Tão vazia de dar espaço para que eu dance e gire pelo oco de tudo o que sou, de tudo o que me sobrou. Vazio manso de solidão devagar, hoje mesmo sou e talvez eu vá além, para o mundo atrás das grandes e intocáveis coisas. Tudo aqui gira numa plenitude singular e removente; como se assim eu fosse. E dum desses removentes prazeres nasço. Antes de mim mesma e o ar já não me dói.
E as explicações eu já não quero como se suficiente eu fosse, pelos próprios sacrifícios humanos, eu me tivesse tornado suficiente nesse silêncio que está à me dominar. Peço em todos os momentos: deixa-me ser. Assim soturnamente imantada por uma fuga constante que insiste em me deflorar como parte indivisível dessas coisas todas tão maiores que meu corpo. Deixa-me ser assim como deixo-te onde queres, nessa partezinha minúscula de sensatez que lhe basta, como se não me bastasse - e não basta!
Vago pelos jardins flamejantes, estou prestes a saltar num golpe contra o universo e isso também não me dói ou segura meu corpo, como se o fim para coisas sensíveis não existisse e como se assim fosse. Se talvez te basta, você se mantêm como gota do que se é. E minha dor submerge nos segundos mais profundos da alma, nada me basta e aqui no fim, sei que também não mata.
Juliana Vallim
De versos, estou vazia. Tão vazia de dar espaço para que eu dance e gire pelo oco de tudo o que sou, de tudo o que me sobrou. Vazio manso de solidão devagar, hoje mesmo sou e talvez eu vá além, para o mundo atrás das grandes e intocáveis coisas. Tudo aqui gira numa plenitude singular e removente; como se assim eu fosse. E dum desses removentes prazeres nasço. Antes de mim mesma e o ar já não me dói.
E as explicações eu já não quero como se suficiente eu fosse, pelos próprios sacrifícios humanos, eu me tivesse tornado suficiente nesse silêncio que está à me dominar. Peço em todos os momentos: deixa-me ser. Assim soturnamente imantada por uma fuga constante que insiste em me deflorar como parte indivisível dessas coisas todas tão maiores que meu corpo. Deixa-me ser assim como deixo-te onde queres, nessa partezinha minúscula de sensatez que lhe basta, como se não me bastasse - e não basta!
Vago pelos jardins flamejantes, estou prestes a saltar num golpe contra o universo e isso também não me dói ou segura meu corpo, como se o fim para coisas sensíveis não existisse e como se assim fosse. Se talvez te basta, você se mantêm como gota do que se é. E minha dor submerge nos segundos mais profundos da alma, nada me basta e aqui no fim, sei que também não mata.
Juliana Vallim
Trocas
Troca-se um coração triste
Pelo cantar de um pássaro livre
Mesmo que o canário preso seja mais fácil de encontrar,
Não há troca entre tristeza e prisão.
Troca-se um sapato furado
Por pés descalços, fraternos do chão,
Nessa troca serei irmã da terra
E o cheiro da chuva, melhor que todas as essências...
Troca-se um palácio cheio de segredos
Por uma casa simples
Da qual eu conheça todos os tijolos
E conheça a mim mesma face a face.
Troco ilusões por sonhos reais
Troco a busca pelo pote de ouro
Por um pote onde possa guardar meus sonhos
E, assim, consultá-los sempre que quiser.
Troco reclamações por versos,
Versos que protestem, que gritem,
Versos de revolta contra a murmuração
Nada de lamúrias, eu quero ação!
Troco lágrimas por sorrisos,
Não um sorriso qualquer,
Mas o sorriso da criança,
Sorriso verdadeiro que com tudo se encanta
E a todos encanta.
Troco minha vida de hoje
Pela vida do próximo amanhã
E troco a vida de agora
Pela do próximo segundo...
Troco meus medos pela coragem da criança
Que se lança nos braços do pai
Sem questionar se será segurada,
Apenas acredita e curte o momento...
Troco o tédio pela surpresa,
Surpresa como a do anoitecer
Que grandes coisas esconde
Para o dia seguinte.
Troco um amor velho por ele mesmo
Só que revigorado por ventos de mudança
Por ventos de conquista
Que renovam o amor todos os dias.
Troco o final de um poema
Pela eternidade das idéias
E que a despedida de hoje
Seja o olá de amanhã.
Huliana Ribeiro dos Santos.
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena "
Blog da Huliana: http://spaces.msn.com/hulianaribeiro/
Pelo cantar de um pássaro livre
Mesmo que o canário preso seja mais fácil de encontrar,
Não há troca entre tristeza e prisão.
Troca-se um sapato furado
Por pés descalços, fraternos do chão,
Nessa troca serei irmã da terra
E o cheiro da chuva, melhor que todas as essências...
Troca-se um palácio cheio de segredos
Por uma casa simples
Da qual eu conheça todos os tijolos
E conheça a mim mesma face a face.
Troco ilusões por sonhos reais
Troco a busca pelo pote de ouro
Por um pote onde possa guardar meus sonhos
E, assim, consultá-los sempre que quiser.
Troco reclamações por versos,
Versos que protestem, que gritem,
Versos de revolta contra a murmuração
Nada de lamúrias, eu quero ação!
Troco lágrimas por sorrisos,
Não um sorriso qualquer,
Mas o sorriso da criança,
Sorriso verdadeiro que com tudo se encanta
E a todos encanta.
Troco minha vida de hoje
Pela vida do próximo amanhã
E troco a vida de agora
Pela do próximo segundo...
Troco meus medos pela coragem da criança
Que se lança nos braços do pai
Sem questionar se será segurada,
Apenas acredita e curte o momento...
Troco o tédio pela surpresa,
Surpresa como a do anoitecer
Que grandes coisas esconde
Para o dia seguinte.
Troco um amor velho por ele mesmo
Só que revigorado por ventos de mudança
Por ventos de conquista
Que renovam o amor todos os dias.
Troco o final de um poema
Pela eternidade das idéias
E que a despedida de hoje
Seja o olá de amanhã.
Huliana Ribeiro dos Santos.
"Tudo vale a pena se a alma não é pequena "
Blog da Huliana: http://spaces.msn.com/hulianaribeiro/
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