A seca e o sol,
Desperta o dragão
Que se faz furacão,
Sob imenso lnçol.
E o fogo arde,
E o fogo queima !
E o fogo reina
Arde ,queima reina;
E avança e teima
E vai em frente
Fumando soprando,
Feliz contente
Segue queimando;
Fauna Flora -gritando.
Artur Barbosa
sábado, 31 de maio de 2008
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Intemporal
Viver somente agora
E a tudo dizer sim
É estar na eterna aurora
De um dia sem fim
Viver nos vãos da mente
Ou no amanhã incerto
É da vida estar ausente
A vagar pelo deserto
Conhecer a realidade
Seja alegre ou triste
É saber alta verdade
E morrer ao que não existe
Viver com grandeza
É querer a própria sorte
E acolher a certeza
De que certa é a morte
Juliana Corrêa
E a tudo dizer sim
É estar na eterna aurora
De um dia sem fim
Viver nos vãos da mente
Ou no amanhã incerto
É da vida estar ausente
A vagar pelo deserto
Conhecer a realidade
Seja alegre ou triste
É saber alta verdade
E morrer ao que não existe
Viver com grandeza
É querer a própria sorte
E acolher a certeza
De que certa é a morte
Juliana Corrêa
Olhai os lírios do campo
Como posso, de bom grado
Trocar o encanto da floresta
Por este aborrecido fado
O suor diário na testa?
Vejo, presos a grilhões
Uns obreiros tristonhos
Sempre ansiando milhões
A despeito de seus sonhos
Não fruirá seu obrar árido
Da graça de ser sereno
Da doçura de um amor cálido
E do valor de um viver pleno
Assim, não troco a vida inteira
Pela ilusão de futuro estável
Ou a sombra da videira
Por um túmulo confortável
Juliana Correa
Trocar o encanto da floresta
Por este aborrecido fado
O suor diário na testa?
Vejo, presos a grilhões
Uns obreiros tristonhos
Sempre ansiando milhões
A despeito de seus sonhos
Não fruirá seu obrar árido
Da graça de ser sereno
Da doçura de um amor cálido
E do valor de um viver pleno
Assim, não troco a vida inteira
Pela ilusão de futuro estável
Ou a sombra da videira
Por um túmulo confortável
Juliana Correa
Andarilha
Neste estado de espírito vago
Estou perambulando
Tão perdida quanto o pensamento
Angustiada pela injustiça
Que é viver sem ter motivo,
buscando um desvio da infelicidade
Sem saber o momento apropriado
De desistir do comum e razoável;
De dizer a si mesma a verdade
Ignorando o alcance das palavras
Sem saber como criar
A felicidade de uso freqüente
Temendo ser egoísta e arrogante
Por não poder desistir de procurar
O prazer de que não desfruto ainda
Iriene Borges
Estou perambulando
Tão perdida quanto o pensamento
Angustiada pela injustiça
Que é viver sem ter motivo,
buscando um desvio da infelicidade
Sem saber o momento apropriado
De desistir do comum e razoável;
De dizer a si mesma a verdade
Ignorando o alcance das palavras
Sem saber como criar
A felicidade de uso freqüente
Temendo ser egoísta e arrogante
Por não poder desistir de procurar
O prazer de que não desfruto ainda
Iriene Borges
Descoberta
Sobre o corpo meu espírito não pesa
Abarrotado de princípios obsoletos
Pois exilei os valores prediletos
Muito alem da minha natureza
Sonhos também forma descartado
Visto que perdiam a sua serventia
E consumiam toda minha energia
Na preservação de seus significados
Como se eu fosse casa sem ornamentos
Observo minha própria estrutura
Suavemente assimilo a essência pura
Que constitui meus reais fundamentos
Absorvo a energia dos elementos
Constituintes desta ampla serenidade
E finalmente desfruto plena liberdade
De desnudar e contemplar sentimentos
Iriene Borges
Abarrotado de princípios obsoletos
Pois exilei os valores prediletos
Muito alem da minha natureza
Sonhos também forma descartado
Visto que perdiam a sua serventia
E consumiam toda minha energia
Na preservação de seus significados
Como se eu fosse casa sem ornamentos
Observo minha própria estrutura
Suavemente assimilo a essência pura
Que constitui meus reais fundamentos
Absorvo a energia dos elementos
Constituintes desta ampla serenidade
E finalmente desfruto plena liberdade
De desnudar e contemplar sentimentos
Iriene Borges
Paixão
E o sonho quase ganha forma
Sinto o cheiro aproximar e dispersar
Antes que meu olfato o possa alcançar
Noções de volume me perturbam
A ponto de atiçar o instinto de tocar
E à medida que aproximo o toque
Sinto o calor eminente e familiar
E quando o desejo de sentir é quase dor
Percebo que não passa de um sonho
Que posso sonhar de olhos abertos,
E posso perder entre pensamentos
E ainda assim voltará
Com uma promessa de felicidade
Balançando num fio de esperança
Com os fortes instintos do corpo
Amarrados às febres do espírito
Produzindo uma estranha saudade
Tão grande que está além do sonho
Mas não alcança a realidade.
Iriene Borges
E o sonho quase ganha forma
Sinto o cheiro aproximar e dispersar
Antes que meu olfato o possa alcançar
Noções de volume me perturbam
A ponto de atiçar o instinto de tocar
E à medida que aproximo o toque
Sinto o calor eminente e familiar
E quando o desejo de sentir é quase dor
Percebo que não passa de um sonho
Que posso sonhar de olhos abertos,
E posso perder entre pensamentos
E ainda assim voltará
Com uma promessa de felicidade
Balançando num fio de esperança
Com os fortes instintos do corpo
Amarrados às febres do espírito
Produzindo uma estranha saudade
Tão grande que está além do sonho
Mas não alcança a realidade.
Iriene Borges
Na deserta rua...
À noite...
na deserta rua...
São seus olhos a fitar-me
A lembrar-me que não sobrou mais nada
Que o meu sonho acabou
E tudo finda...
São teus olhos a condenar-me
A uma existência vazia...
Seus olhos, seus longos cabelos
Seus toques...
Tudo enfim...
A lembrar-me que ainda amo você...
E o ritmo das máquinas...
Ao som das máquinas...
A lembrar-me que eu não sou mais nada...
Que tudo acabou...
E não sobro mais nada
Só você...na deserta rua...
São seus longos cabelos.
Seu olhar...
Seu toque
São Adágios
Em horas remotas
Teu doce olor
Em estranhas horas
A lembrar-me que ainda amo você
E eu nem sei o porquê disto tudo?
Samuel da Costa é poeta em Itajaí
À noite...
na deserta rua...
São seus olhos a fitar-me
A lembrar-me que não sobrou mais nada
Que o meu sonho acabou
E tudo finda...
São teus olhos a condenar-me
A uma existência vazia...
Seus olhos, seus longos cabelos
Seus toques...
Tudo enfim...
A lembrar-me que ainda amo você...
E o ritmo das máquinas...
Ao som das máquinas...
A lembrar-me que eu não sou mais nada...
Que tudo acabou...
E não sobro mais nada
Só você...na deserta rua...
São seus longos cabelos.
Seu olhar...
Seu toque
São Adágios
Em horas remotas
Teu doce olor
Em estranhas horas
A lembrar-me que ainda amo você
E eu nem sei o porquê disto tudo?
Samuel da Costa é poeta em Itajaí
Significações
Agora eu sei... Agora eu sei...
Lutei & lutei
Mas perdi...
A confiança nas pessoas
Perdi a fé em mim mesmo
Perdi meus direitos mais sagrados
Perdi o rumo
Meus amigos de luta e fé
Perdi a vontade prosseguir em frente
E com rancor renasci
Uma nova pessoa
Cheia de magoas
Contudo, mais puro..
Mais duro
E com toda a ferocidade...
Renasci em mim mesmo
Um outro ser
Que agora desconheço
Mas quem sabe a dor...
Mas quem sabe a esperança
De dias melhores
De ver seu semblante novamente
Quem sabe você de novo
Na minha vida...
De forma avassaladora...
Consumir todo o meu ser
Samuel da Costa poeta em Itajaí
Antes de amar-te
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Tudo era vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Me consumia num mar afoito de solidão
Como a um barco numa tormenta de verão
As manhãs pareciam cinzas, sem flores
Como que se privasse minha vida de seus belos odores
E a noite carecia de estrelas, de sua imensidão
E o firmamento aludia a agonia que invadia meu coração
Tudo era perene, tudo era pequeno
Parecia loucura!
Minha sanidade se transformou em alienação
Oh! Minha amada, ondes estás que não me aparece
Deixas-me aqui a agonizar em minhas entranhas
Deixas-me aqui a vadiar em corpos inertes
Até que um dia, amor, te encontrei
E tua beleza e tua pobreza...
De dádivas encheram o outono
E nunca mais pude deixar ...
De na eternidade de teus olhos me perder
De em teu sorriso malicioso me embriagar
De em teu corpo solene me saciar
Apenas nós dois...
Pela eternidade a nos amar
E nada mais parecia importar
Apenas que nunca, nunca, meu amor!
Saísse de seu lugar...
Que é aqui no meu peito a te acarinhar
E minha loucura foi inundada de paixão
Agora tudo era cheio e vivo
Não queria outra coisa em minha vida, não!
Rafael Morales. São Paulo - SPrafaelmorales@ig.com.br
Tudo era vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Me consumia num mar afoito de solidão
Como a um barco numa tormenta de verão
As manhãs pareciam cinzas, sem flores
Como que se privasse minha vida de seus belos odores
E a noite carecia de estrelas, de sua imensidão
E o firmamento aludia a agonia que invadia meu coração
Tudo era perene, tudo era pequeno
Parecia loucura!
Minha sanidade se transformou em alienação
Oh! Minha amada, ondes estás que não me aparece
Deixas-me aqui a agonizar em minhas entranhas
Deixas-me aqui a vadiar em corpos inertes
Até que um dia, amor, te encontrei
E tua beleza e tua pobreza...
De dádivas encheram o outono
E nunca mais pude deixar ...
De na eternidade de teus olhos me perder
De em teu sorriso malicioso me embriagar
De em teu corpo solene me saciar
Apenas nós dois...
Pela eternidade a nos amar
E nada mais parecia importar
Apenas que nunca, nunca, meu amor!
Saísse de seu lugar...
Que é aqui no meu peito a te acarinhar
E minha loucura foi inundada de paixão
Agora tudo era cheio e vivo
Não queria outra coisa em minha vida, não!
Rafael Morales. São Paulo - SPrafaelmorales@ig.com.br
quinta-feira, 29 de maio de 2008
A vida secreta das meninas
Somos uma psicóloga e uma socióloga, que volta e meia conversamos sobre determinados assuntos e, quando menos percebemos misturamos aprendizado prático com lições teóricas. Nessa troca de opiniões, não temos a pretensão de fazer grandes descobertas, pois simplesmente deixamos fluir as idéias e do meio delas percebemos, assustadas surgir nossos maravilhosos “insights”, verdadeiras visões que nos fazem repensar e reanalisar nossas vidas. Sigmund Freud, aquele que entre tantas coisas falou sobre o inconsciente, os sonhos e a castração, pensava que o momento de elaboração do sofrimento emocional culminava com o equilíbrio e distribuição da energia psíquica, isso para ele era a descrição perfeita do “insight”.
Essa coluna surge com uma proposta: a de expor textualmente algumas de nossas conversas bem como contar algumas histórias por nós ouvidas nesse mundão de minha Deusa! Quem sabe a leitora e o leitor possam através de nossos escritos (hehehe!) ter seus momentos mágicos de “insight” também.
Para nós A Vida Secreta das Meninas, é também constituída de momentos tensos de análise interna e de luta entre o que querem que sejamos e o que desejamos ser.
Para mostrar a vocês que essa luta acontece, temos a história de uma amiga que depois de cinco anos reencontrou seu ex-namorado no orkut. Ele lhe pediu permissão para escrever um “testimonial”, e faria isso enviando-lhe por e-mail primeiramente para aprovação. Ela imaginava milhares de coisas que ele poderia dizer sobre sua pessoa, namoravam na faculdade gazetavam aula, iam para o bar beber, fumavam juntos inclusive faziam sexo mas acabou escrevendo algo que ela nem lembrava.
Porque ele se lembrou somente do aspecto religioso? Eles discutiram algumas vezes sobre religião e no “testimonial” ele gastou bastante linhas para escrever como ela defendia com fervor sua Igreja, a Católica Apostólica Romana. É curioso! Será que não poderia ter se lembrado o tanto de coisas “pecadoras” que fizeram juntos? Perguntamos isso pelo fato de haver uma contradição entre o que ela é e a imagem que ele fez dela, de alguém que protege e defende a Igreja Católica.
Claro que ela se sentiu um tanto confusa quanto a isto pois não se dava conta que pudesse ter marcado alguém que conviveu com tamanha religiosidade! É interessante pensarmos que talvez os homens ainda vejam como virtude as mulheres serem beatas e quanto mais vão a Igreja não importa os pecados, mais santas são.
Hoje em dia os homens ainda pensam em casar com mulheres “santinhas” só que depois do casamento eles descobrem que elas vão bastante à Igreja, não sabem sentir e dar prazer devido a sua educação ser construída para serem boas meninas e donas de casa o que teoricamente não acontece com as meninas para curtir.
Essa história nos fez questionar até que ponto os homens ainda nos dividem como mulheres para casar ou para se divertir. Depois deles terem terminado o relacionamento, o ex-namorado de nossa amiga arrumou uma namorada e hoje escreve no orkut que ela é o amor da sua vida, enquanto que quando os dois namoravam,ela não pôde nem dizer aos amigos que estavam juntos. Será que ela não era mocinha para casar?
Bom, esse é o propósito dessa coluna, nos fazer pensar como nos vemos e como somos vistas. Quem sabe essa moça como muitas de nós meninas e/ ou mulheres não vive em sua vida secreta coisas mundanas que até Deus duvida!
Cybelle Cardozo
Essa coluna surge com uma proposta: a de expor textualmente algumas de nossas conversas bem como contar algumas histórias por nós ouvidas nesse mundão de minha Deusa! Quem sabe a leitora e o leitor possam através de nossos escritos (hehehe!) ter seus momentos mágicos de “insight” também.
Para nós A Vida Secreta das Meninas, é também constituída de momentos tensos de análise interna e de luta entre o que querem que sejamos e o que desejamos ser.
Para mostrar a vocês que essa luta acontece, temos a história de uma amiga que depois de cinco anos reencontrou seu ex-namorado no orkut. Ele lhe pediu permissão para escrever um “testimonial”, e faria isso enviando-lhe por e-mail primeiramente para aprovação. Ela imaginava milhares de coisas que ele poderia dizer sobre sua pessoa, namoravam na faculdade gazetavam aula, iam para o bar beber, fumavam juntos inclusive faziam sexo mas acabou escrevendo algo que ela nem lembrava.
Porque ele se lembrou somente do aspecto religioso? Eles discutiram algumas vezes sobre religião e no “testimonial” ele gastou bastante linhas para escrever como ela defendia com fervor sua Igreja, a Católica Apostólica Romana. É curioso! Será que não poderia ter se lembrado o tanto de coisas “pecadoras” que fizeram juntos? Perguntamos isso pelo fato de haver uma contradição entre o que ela é e a imagem que ele fez dela, de alguém que protege e defende a Igreja Católica.
Claro que ela se sentiu um tanto confusa quanto a isto pois não se dava conta que pudesse ter marcado alguém que conviveu com tamanha religiosidade! É interessante pensarmos que talvez os homens ainda vejam como virtude as mulheres serem beatas e quanto mais vão a Igreja não importa os pecados, mais santas são.
Hoje em dia os homens ainda pensam em casar com mulheres “santinhas” só que depois do casamento eles descobrem que elas vão bastante à Igreja, não sabem sentir e dar prazer devido a sua educação ser construída para serem boas meninas e donas de casa o que teoricamente não acontece com as meninas para curtir.
Essa história nos fez questionar até que ponto os homens ainda nos dividem como mulheres para casar ou para se divertir. Depois deles terem terminado o relacionamento, o ex-namorado de nossa amiga arrumou uma namorada e hoje escreve no orkut que ela é o amor da sua vida, enquanto que quando os dois namoravam,ela não pôde nem dizer aos amigos que estavam juntos. Será que ela não era mocinha para casar?
Bom, esse é o propósito dessa coluna, nos fazer pensar como nos vemos e como somos vistas. Quem sabe essa moça como muitas de nós meninas e/ ou mulheres não vive em sua vida secreta coisas mundanas que até Deus duvida!
Cybelle Cardozo
Marés Curitibanas
Endomingado no pântano das saudades daquele sol senegalesco, desfolhando, empilhando essências de volúpias e arrebatamentos. Nada como o verão para tomar o vinho das ânforas, fêmeas mais suculentas e lânguidos seus movimentos, convidativos seus olhares. Sol queimando corpos e refrescando de suor, revelando contornos velados em seda sorridente de transparências, vontades.
Janela suada imagem de sonho, abre o oceano, ela corre e pára, olha com olhos de oceano. Está como sempre esteve, Eva no Paraíso, vestida de suor e sorriso. Atravessa a cidade a pé, a pé nos caminhos pluviais, rios-artérias-urbanas, afogadas, afogadas de prazer sereia, de uma sereia curitibana.
Tu és a benção e o perdão deste clima niñes de monção atrapalhado, fala o bengali brasileiro que ama a água, como ama o amor que o pensamento leva, olhando aquela lótus que conduz ao Kama Sutra. Vapores enevoados de sonho despertado no coaxar de um sapo infeliz, perdido no charco ao desmaiar da noite preguiçosa, que não quer chegar.
E há quem prefira os becos escuros, dos excrementos da cidade, seu pus e náusea, suas secreções e odores de cloaca e morgue macróbia, onde a brisa faz a curva para não parar diante de um muro de farrapos e arames, hera e pesadelo.
A Curitiba do caminhante não é um esgoto a céu aberto, onde famílias-gabirus se apinham em cavernas de papelão, onde a vida vale a viagem de uma pedra.
Sonha os marés e arrecifes da bela cachopa molhada. Não a cotidiana realidade que sangra todos os dias de lamento a mãe que perdera o filho em um incêndio, porque tinha que trabalhar para alimentá-lo e não tinha com quem deixá-lo, deixou nas mãos de Deus que preferiu jogar dados na areia humana.
Que futilidade deitar emoções – vivas pequenas histórias a cada sutil movimento, se o Tsunami arrasta da terra bibliotecas vivas contidas nas cores, vozes, cheiros e temperos de povos inteiros retornando do inferno marinho só cinzas e cascas, cinzas junto aos restos dos condenados a sobreviverem aos seus entes queridos.
Um camaleão agarra com a língua uma libélula.
A cidade continua sendo construída e desconstruída no caleidoscópio da memória de um sonho, no trôpego caminhar de alguém que pensa estar acordado, caindo e caindo como em todas as manhãs, mergulhando no abismo.
Qual a finalidade da vida, além da dor, da mãe urrando sob o cadáver do filho ou é a completa ausência de si, como aquela que defeca a prole na privada. Um lapso, uma fronteira de papel separando instinto de razão, natural e social, a dor de uma só é mais profunda, mais próxima do que açúcares diluídos na água, estatísticas, meros números, alguém vê atrás dos números, rostos, sentimentos, histórias?
Continua em Curitiba, caminhando, o sapato já se dissolveu em mais uma lagoa entre a calçada e a rua-rio, em uma cidade que foi projetada para a civilização do automóvel, mesmo havendo eficiente rede de transporte urbano, lá está a horda de carros com uma única pessoa, afinal o carro representa status e poder sobre os sem-automóveis, poder de matá-los como moscas ou a eles próprios nos rachas. A propósito dependendo da carruagem pode-se pescar cada peixe-gata!
E mais um banho de graça no passar do rodante.
O catador de papel, homem-cavalo, puxa o carrinho, dentro uma criança no meio do lixo reciclável, ela segura uns vira-latas, nada mais Chapliniano, nada mais ilustrativo.
A chuva para, e pensa. A calmaria sem força, desfalecida dorme e uma parcela de si morre um pouco, sexo rápido da natureza com a cidade. Tsunami foi o sexo de uma ninfomaníaca com um estuprador, o homem estuprou a natureza e a natureza o matou de tanto fazer amor. A água é nosso berço primal, o líquido amniótico é o nosso quente mar onde os humores do afeto nos chegarem vibrações acariciantes ou em ondas revoltas dependendo da mãe terra onde estamos germinando. Assim é entre a Lua e os mares, do oceano e de nossas formosas fêmeas.
Chega que estou ficando diabético.
Para comer uma portuguesa lá na esquina o caminhante pára, e o pizzaiolo sem precisar que o freguês solicite, já sabe e diz: “- É pra já doutor em dez minutos a pizza portuguesa com borda recheada de catupiry estará pronta”. Ouve, porque ouvir não pede licença, a voz das ruas, uma esganiçada, outra, que exigiu toneladas de nicotina para produzir aquela voz cancerosa que causa arrepios nas cordas da harpa sensível de Grisette.
Nada como uma catástrofe colossal para que se extraia do ser humano o que ele tem de melhor, e de pior, praticamente toda a grande potência se mobilizaram para levantar recursos aos países afetados pelo “Tsunamis”, os artistas, o Schumacher endinheirado, os povos do planeta estão fazendo doações até o Timor, que é um país pobre doou o que não tinha, proporcionalmente doou mais do que os sovinas EUA do Bush, que prefere gastar para destruir, matar e saquear, deixe quieto, os americanos verão cortes na previdência, ensino público mas continuaram votando na quadrilha dele, porque quem elege nos EUA é o capital, que comanda a economia dos estados mais poderosos, com mais votos no colégio eleitoral deles, nos pequenos estados ele também tem voto, lá também tem os grotões como aqui, com mentalidade pré era da razão. Os Estados Unidos percebeu que perderia a corrida para japoneses, alemães e britânicos o quanto não lucrariam reconstruindo os resorts, abrindo financiamentos e de quebra puxando o tapete da influência chinesa, cada vez mais percebida como superpotência emergente, mas vieram os caipiras canadenses e atravessaram o samba com uma idéia estapafúrdia, de perdão da divida dos países como Sri-Lanka, Índia, Indonésia, Tailândia, Maldivas, Seychelles. De vagar com o andor, os banqueiros achariam esbanjamento de bondade, uma moratória de cinco anos, e claro haverá compensações para os tubarões e não só aos cevados tubarões do Índico, àqueles de Nova Iorque, Londres, Zurich.
Banqueiros não fazem caridade e o Tio Sam se apressou em declarar que não haverá um Plano Marshall para a região (nem um Plano Colombo como houve para o Japão). O Brasil mostrou presença e a ponte aérea da FAB levou o coração do nosso povo fraterno para minorar os sofrimentos dos flagelados, nossos irmãos asiáticos, doando remédios, alimentos não perecíveis, água potável, roupas e é claro de contrabando algumas urnas para os votos dos sul-asiáticos para as pretensões do Brasil ao assento no Conselho de Segurança da Onu, o que supostamente nos conferiria um status de potencia com direito de vos e vez através do veto. Pena que não tínhamos aviões suficientes para levar os mantimentos, isso requeriria algo além do discurso, para sermos uma potência precisamos nos impor também com o que temos para não pagarmos mico. Tomara que sobre uma oportunidade de negócios para a Petrobrás, Odebrecht, Gerdau.
O vizinho da mesa não só tem de podre o hálito, cuja fumaça chega ate aqui, invisível e nauseante, mas o quanto de falso há no que disse?
Finalmente a gostosa chega e dá-lhe Gallo. E a noite chega com um choro soluçado de uma garotinha de olhos verdes afogados em lágrimas, com a mão suplicando uma moeda, o desconhecido deu um pedaço de pizza para ela e embrulhou outro em um guardanapo para que ela o levasse para casa, ela coçou o nariz deu um sorriso e foi embora, apareceu um guri e ela deu o outro pedaço para ele.
Pensou. Chaplin outra vez, a cidade tem sua canção, sua poesia basta ter olhos para ver, pena que haja tanto tempo escasso em pressas viciantes de escravos voluntários. Pressa que consome uma vida objetivada em coisa, em máquina o homem, peça de uma engrenagem sem finalidade, estéril semeadura de clônica mediocridade cotidiana.
Falou o filósofo, do que uma vodka não é capaz. O álcool abre a porteira para a boiada do imaginado, do irrefreado adquirir substância no real sem fronteiras dos atos valentes na verborragia cachoeira de grunhidos gritados como orquestra de um homem só, desafinado e desafiador desalinho e abandono de si como aquela garrafa voando ou aquele que dorme em meio aos produtos de seus intestinos extrovertidos a cantar. Enfrentar sóbria a vida requer fibra e coragem o que não é fácil. A vida ela própria age como uma mãe bêbada ou um pai, progenitor que violenta a filha como se quisesse fazer-lhe um carinho mas a marca para o resto da vida.
O caminhante com seus passos tropeças em suas próprias pegadas, se perde e perde-se nas sendas, nas clareiras enganosas da floresta que pensou transpor, segue intuindo o caminho na confiança cega de um rio, que mais uns metros dentro da escuridão seca, secando a esperança de sair dali. Dorme na madrugada eterna nem um pio de coruja ou uivar de lobos, nada além do silêncio. Está morto, a morte é o vazio onde ele permanece na escuridão. Será o inferno ou ele estará no sonho de alguém, estará ele sonhando?
Caindo, caindo a queda sem fim, escuridão, onde estará, um eco seco na garganta, angustias, uma súplica ao sorriso da sorte, de encontrar enfim o fundo, o fim, que seja agora, mas apenas a vertigem eterna dos condenados, pesadelo, qual é a saída, e, sair do que, do vazio.
- Você já acordou com a sensação de se estar caindo? Fugindo do inferno de existir, voando por cima de si olhando a carcaça apodrecer.
Wilson Roberto Nogueira(livro : Pó & Teias )
Janela suada imagem de sonho, abre o oceano, ela corre e pára, olha com olhos de oceano. Está como sempre esteve, Eva no Paraíso, vestida de suor e sorriso. Atravessa a cidade a pé, a pé nos caminhos pluviais, rios-artérias-urbanas, afogadas, afogadas de prazer sereia, de uma sereia curitibana.
Tu és a benção e o perdão deste clima niñes de monção atrapalhado, fala o bengali brasileiro que ama a água, como ama o amor que o pensamento leva, olhando aquela lótus que conduz ao Kama Sutra. Vapores enevoados de sonho despertado no coaxar de um sapo infeliz, perdido no charco ao desmaiar da noite preguiçosa, que não quer chegar.
E há quem prefira os becos escuros, dos excrementos da cidade, seu pus e náusea, suas secreções e odores de cloaca e morgue macróbia, onde a brisa faz a curva para não parar diante de um muro de farrapos e arames, hera e pesadelo.
A Curitiba do caminhante não é um esgoto a céu aberto, onde famílias-gabirus se apinham em cavernas de papelão, onde a vida vale a viagem de uma pedra.
Sonha os marés e arrecifes da bela cachopa molhada. Não a cotidiana realidade que sangra todos os dias de lamento a mãe que perdera o filho em um incêndio, porque tinha que trabalhar para alimentá-lo e não tinha com quem deixá-lo, deixou nas mãos de Deus que preferiu jogar dados na areia humana.
Que futilidade deitar emoções – vivas pequenas histórias a cada sutil movimento, se o Tsunami arrasta da terra bibliotecas vivas contidas nas cores, vozes, cheiros e temperos de povos inteiros retornando do inferno marinho só cinzas e cascas, cinzas junto aos restos dos condenados a sobreviverem aos seus entes queridos.
Um camaleão agarra com a língua uma libélula.
A cidade continua sendo construída e desconstruída no caleidoscópio da memória de um sonho, no trôpego caminhar de alguém que pensa estar acordado, caindo e caindo como em todas as manhãs, mergulhando no abismo.
Qual a finalidade da vida, além da dor, da mãe urrando sob o cadáver do filho ou é a completa ausência de si, como aquela que defeca a prole na privada. Um lapso, uma fronteira de papel separando instinto de razão, natural e social, a dor de uma só é mais profunda, mais próxima do que açúcares diluídos na água, estatísticas, meros números, alguém vê atrás dos números, rostos, sentimentos, histórias?
Continua em Curitiba, caminhando, o sapato já se dissolveu em mais uma lagoa entre a calçada e a rua-rio, em uma cidade que foi projetada para a civilização do automóvel, mesmo havendo eficiente rede de transporte urbano, lá está a horda de carros com uma única pessoa, afinal o carro representa status e poder sobre os sem-automóveis, poder de matá-los como moscas ou a eles próprios nos rachas. A propósito dependendo da carruagem pode-se pescar cada peixe-gata!
E mais um banho de graça no passar do rodante.
O catador de papel, homem-cavalo, puxa o carrinho, dentro uma criança no meio do lixo reciclável, ela segura uns vira-latas, nada mais Chapliniano, nada mais ilustrativo.
A chuva para, e pensa. A calmaria sem força, desfalecida dorme e uma parcela de si morre um pouco, sexo rápido da natureza com a cidade. Tsunami foi o sexo de uma ninfomaníaca com um estuprador, o homem estuprou a natureza e a natureza o matou de tanto fazer amor. A água é nosso berço primal, o líquido amniótico é o nosso quente mar onde os humores do afeto nos chegarem vibrações acariciantes ou em ondas revoltas dependendo da mãe terra onde estamos germinando. Assim é entre a Lua e os mares, do oceano e de nossas formosas fêmeas.
Chega que estou ficando diabético.
Para comer uma portuguesa lá na esquina o caminhante pára, e o pizzaiolo sem precisar que o freguês solicite, já sabe e diz: “- É pra já doutor em dez minutos a pizza portuguesa com borda recheada de catupiry estará pronta”. Ouve, porque ouvir não pede licença, a voz das ruas, uma esganiçada, outra, que exigiu toneladas de nicotina para produzir aquela voz cancerosa que causa arrepios nas cordas da harpa sensível de Grisette.
Nada como uma catástrofe colossal para que se extraia do ser humano o que ele tem de melhor, e de pior, praticamente toda a grande potência se mobilizaram para levantar recursos aos países afetados pelo “Tsunamis”, os artistas, o Schumacher endinheirado, os povos do planeta estão fazendo doações até o Timor, que é um país pobre doou o que não tinha, proporcionalmente doou mais do que os sovinas EUA do Bush, que prefere gastar para destruir, matar e saquear, deixe quieto, os americanos verão cortes na previdência, ensino público mas continuaram votando na quadrilha dele, porque quem elege nos EUA é o capital, que comanda a economia dos estados mais poderosos, com mais votos no colégio eleitoral deles, nos pequenos estados ele também tem voto, lá também tem os grotões como aqui, com mentalidade pré era da razão. Os Estados Unidos percebeu que perderia a corrida para japoneses, alemães e britânicos o quanto não lucrariam reconstruindo os resorts, abrindo financiamentos e de quebra puxando o tapete da influência chinesa, cada vez mais percebida como superpotência emergente, mas vieram os caipiras canadenses e atravessaram o samba com uma idéia estapafúrdia, de perdão da divida dos países como Sri-Lanka, Índia, Indonésia, Tailândia, Maldivas, Seychelles. De vagar com o andor, os banqueiros achariam esbanjamento de bondade, uma moratória de cinco anos, e claro haverá compensações para os tubarões e não só aos cevados tubarões do Índico, àqueles de Nova Iorque, Londres, Zurich.
Banqueiros não fazem caridade e o Tio Sam se apressou em declarar que não haverá um Plano Marshall para a região (nem um Plano Colombo como houve para o Japão). O Brasil mostrou presença e a ponte aérea da FAB levou o coração do nosso povo fraterno para minorar os sofrimentos dos flagelados, nossos irmãos asiáticos, doando remédios, alimentos não perecíveis, água potável, roupas e é claro de contrabando algumas urnas para os votos dos sul-asiáticos para as pretensões do Brasil ao assento no Conselho de Segurança da Onu, o que supostamente nos conferiria um status de potencia com direito de vos e vez através do veto. Pena que não tínhamos aviões suficientes para levar os mantimentos, isso requeriria algo além do discurso, para sermos uma potência precisamos nos impor também com o que temos para não pagarmos mico. Tomara que sobre uma oportunidade de negócios para a Petrobrás, Odebrecht, Gerdau.
O vizinho da mesa não só tem de podre o hálito, cuja fumaça chega ate aqui, invisível e nauseante, mas o quanto de falso há no que disse?
Finalmente a gostosa chega e dá-lhe Gallo. E a noite chega com um choro soluçado de uma garotinha de olhos verdes afogados em lágrimas, com a mão suplicando uma moeda, o desconhecido deu um pedaço de pizza para ela e embrulhou outro em um guardanapo para que ela o levasse para casa, ela coçou o nariz deu um sorriso e foi embora, apareceu um guri e ela deu o outro pedaço para ele.
Pensou. Chaplin outra vez, a cidade tem sua canção, sua poesia basta ter olhos para ver, pena que haja tanto tempo escasso em pressas viciantes de escravos voluntários. Pressa que consome uma vida objetivada em coisa, em máquina o homem, peça de uma engrenagem sem finalidade, estéril semeadura de clônica mediocridade cotidiana.
Falou o filósofo, do que uma vodka não é capaz. O álcool abre a porteira para a boiada do imaginado, do irrefreado adquirir substância no real sem fronteiras dos atos valentes na verborragia cachoeira de grunhidos gritados como orquestra de um homem só, desafinado e desafiador desalinho e abandono de si como aquela garrafa voando ou aquele que dorme em meio aos produtos de seus intestinos extrovertidos a cantar. Enfrentar sóbria a vida requer fibra e coragem o que não é fácil. A vida ela própria age como uma mãe bêbada ou um pai, progenitor que violenta a filha como se quisesse fazer-lhe um carinho mas a marca para o resto da vida.
O caminhante com seus passos tropeças em suas próprias pegadas, se perde e perde-se nas sendas, nas clareiras enganosas da floresta que pensou transpor, segue intuindo o caminho na confiança cega de um rio, que mais uns metros dentro da escuridão seca, secando a esperança de sair dali. Dorme na madrugada eterna nem um pio de coruja ou uivar de lobos, nada além do silêncio. Está morto, a morte é o vazio onde ele permanece na escuridão. Será o inferno ou ele estará no sonho de alguém, estará ele sonhando?
Caindo, caindo a queda sem fim, escuridão, onde estará, um eco seco na garganta, angustias, uma súplica ao sorriso da sorte, de encontrar enfim o fundo, o fim, que seja agora, mas apenas a vertigem eterna dos condenados, pesadelo, qual é a saída, e, sair do que, do vazio.
- Você já acordou com a sensação de se estar caindo? Fugindo do inferno de existir, voando por cima de si olhando a carcaça apodrecer.
Wilson Roberto Nogueira(livro : Pó & Teias )
terça-feira, 27 de maio de 2008
Menino Falcão
Preste muita atenção
Na história que vou contar
é chocante, é real
Eu preciso gritar
No que se deu
o seu mal
Nem adianta chorar
Essa é a história cruel
De um menino falcão
Por isso, preste atenção
É história de dor e humilhação
Tudo que ele queria
Era um cantinho no céu
No céu da cidadania
Mas viveu jogado ao léu.
Mergulhado na hipocrisia
Sociedade coberta com véu
Filho da miséria esquecido
Da fome e do preconceito
Nunca viveu uma infância
Nunca teve outro jeito
A primeira coisa que aprendeu
foi segurar um arma
no passo que sucedeu
o pior já tava feito
Menino filho da rua
Filho da desigualdade
Não queria nada mais
Que viver com dignidade
Não encontrou noutro canto
Um lugar na sociedade
Hoje é o falcão
De muitas comunidades
Cresceu entre a fome e a maldade.
Mas não é passaro majestoso
É criança assustada
Tudo que desejava segurar
Não era metralhadora de rajada
Ele queria era estudar
Mas sua sorte foi cortada
Não voa sobre seus sonhos
Suas asas estão aparadas
Não tem direito a vida
Vivo ou morto, pouco importa
Não tem justiça que o proteja
Não respira, é esperança morta
Esse é o menino falcão
Do Brasil dos excluídos
Negro, branco, fuzilado
Nem queria ter nascido
Vive a ser desprezado
Sofre e chora esquecido
Não queria ser bandido
Pelo caos foi escolhido
Ele voa muito cedo
Quebrou as asas , nem tem nome
Acredita que noutro lado
Ao menos não morrerá de fome
Um menino Falcão
Nem nome, nem sobrenome
Não há luto em sua morte
É mais um corpo que some
Não a esperança pra sua sorte
Nunca chegará a ser um homem.
Sirlei Passolongo
Na história que vou contar
é chocante, é real
Eu preciso gritar
No que se deu
o seu mal
Nem adianta chorar
Essa é a história cruel
De um menino falcão
Por isso, preste atenção
É história de dor e humilhação
Tudo que ele queria
Era um cantinho no céu
No céu da cidadania
Mas viveu jogado ao léu.
Mergulhado na hipocrisia
Sociedade coberta com véu
Filho da miséria esquecido
Da fome e do preconceito
Nunca viveu uma infância
Nunca teve outro jeito
A primeira coisa que aprendeu
foi segurar um arma
no passo que sucedeu
o pior já tava feito
Menino filho da rua
Filho da desigualdade
Não queria nada mais
Que viver com dignidade
Não encontrou noutro canto
Um lugar na sociedade
Hoje é o falcão
De muitas comunidades
Cresceu entre a fome e a maldade.
Mas não é passaro majestoso
É criança assustada
Tudo que desejava segurar
Não era metralhadora de rajada
Ele queria era estudar
Mas sua sorte foi cortada
Não voa sobre seus sonhos
Suas asas estão aparadas
Não tem direito a vida
Vivo ou morto, pouco importa
Não tem justiça que o proteja
Não respira, é esperança morta
Esse é o menino falcão
Do Brasil dos excluídos
Negro, branco, fuzilado
Nem queria ter nascido
Vive a ser desprezado
Sofre e chora esquecido
Não queria ser bandido
Pelo caos foi escolhido
Ele voa muito cedo
Quebrou as asas , nem tem nome
Acredita que noutro lado
Ao menos não morrerá de fome
Um menino Falcão
Nem nome, nem sobrenome
Não há luto em sua morte
É mais um corpo que some
Não a esperança pra sua sorte
Nunca chegará a ser um homem.
Sirlei Passolongo
Cantiga do Herói Rasgado
Quis ter teu rosto num quadro
depois do estrago do drama
quis ler o rastro da chama
que um dia ardeu-te no esforço
de estar num meio adequado
pra mudar regras do jogo
mas vi somente o desgosto
do teu retrato irritado
por dor de todos os lados:
enfado, aborto de gozo...
Trouxeste traços de crenças
de buscas e desistências...
ou eram meras esperas,
ocultas por aparências,
das horas que se demoram
rodando a rude existência?
Colho do pouco que foste
forçando a história no corpo
colo teus tristes pedaços
olho os teus frutos tão poucos
e sofro certo embaraço
pois deste um morto tão moço!
Penso nos loucos que às vezes
atiram pérolas aos porcos
ou lutam contra moinhos
ou matam morte dos outros...
...os que querem com tanta força
e fazem até que desfazem-se
e morrem sempre ozinhos
jazem inimigos do povo.
(Altair de Oliveira – In: O Embebedario Diverso)
depois do estrago do drama
quis ler o rastro da chama
que um dia ardeu-te no esforço
de estar num meio adequado
pra mudar regras do jogo
mas vi somente o desgosto
do teu retrato irritado
por dor de todos os lados:
enfado, aborto de gozo...
Trouxeste traços de crenças
de buscas e desistências...
ou eram meras esperas,
ocultas por aparências,
das horas que se demoram
rodando a rude existência?
Colho do pouco que foste
forçando a história no corpo
colo teus tristes pedaços
olho os teus frutos tão poucos
e sofro certo embaraço
pois deste um morto tão moço!
Penso nos loucos que às vezes
atiram pérolas aos porcos
ou lutam contra moinhos
ou matam morte dos outros...
...os que querem com tanta força
e fazem até que desfazem-se
e morrem sempre ozinhos
jazem inimigos do povo.
(Altair de Oliveira – In: O Embebedario Diverso)
Maria Helena
Tantas vezes ensaiei esse monólogo
Que desperdicei rimas ate perder a conta
Tantas palavras joguei noite afora
Que agora ao procurá-las fico tonta
Na presente tentativa busco a redenção
De um sentimento velho e rabugento
Que, feroz, ataca minhas lembranças
E traz á memória um lúgubre lamento
Talvez seja fruto de um profundo egoísmo
Esse desejo de tornar conhecidas
As ruínas da confiança que partilhamos
Num curto e marcante tempo da minha vida
Iriene Borges
Que desperdicei rimas ate perder a conta
Tantas palavras joguei noite afora
Que agora ao procurá-las fico tonta
Na presente tentativa busco a redenção
De um sentimento velho e rabugento
Que, feroz, ataca minhas lembranças
E traz á memória um lúgubre lamento
Talvez seja fruto de um profundo egoísmo
Esse desejo de tornar conhecidas
As ruínas da confiança que partilhamos
Num curto e marcante tempo da minha vida
Iriene Borges
Constatação
Não é dor, é desencanto
Se fosse dor eu sofreria,
Eu gritaria como um demônio
Eu me contorceria, para sentir mais fundo
O corpo estranho a invadir ,minha alma
E assim provar que suporto
Mais dor do que me foi dada.
Mas é desencanto.
Uma substância indecifrável.
Insípida, inodora, impalpável.
É ele quem me sorve, como
Se eu fosse doce, e seca
O meu riso ávido e espontâneo.
Se fosse dor eu conheceria,
mas o desencanto é forasteiro
por estas paragens, nunca pediu
pouso no meu peito aberto.
Iriene Borges
Se fosse dor eu sofreria,
Eu gritaria como um demônio
Eu me contorceria, para sentir mais fundo
O corpo estranho a invadir ,minha alma
E assim provar que suporto
Mais dor do que me foi dada.
Mas é desencanto.
Uma substância indecifrável.
Insípida, inodora, impalpável.
É ele quem me sorve, como
Se eu fosse doce, e seca
O meu riso ávido e espontâneo.
Se fosse dor eu conheceria,
mas o desencanto é forasteiro
por estas paragens, nunca pediu
pouso no meu peito aberto.
Iriene Borges
Não sei porque espero a resposta
Com o coração palpitante sondo
A precária possibilidade dela
Essa disponibilidade me desgosta
Constranjo-me comigo mesma
Escapando sorrateira da tutela da razão.
Sutilmente decompondo
Estruturas sólidas em partículas
Indeterminadas, dispersadas no ar
Num suposto suspiro brando
Ambíguo nas proporções ridículas
Às quais consegue condensar
Um sofrimento sem medida
Feito um reanimador sopro de vida
penso em você
Sensação dúbia de prazer e martírio
Alternância de sofrimento e alívio
Em tempos imensuráveis e únicos
Paralelos talvez, ou sobrepostos
Mas preciosos e desejados
Solitários viajores errantes
No meu pensar ordenado
Iriene Borges
Com o coração palpitante sondo
A precária possibilidade dela
Essa disponibilidade me desgosta
Constranjo-me comigo mesma
Escapando sorrateira da tutela da razão.
Sutilmente decompondo
Estruturas sólidas em partículas
Indeterminadas, dispersadas no ar
Num suposto suspiro brando
Ambíguo nas proporções ridículas
Às quais consegue condensar
Um sofrimento sem medida
Feito um reanimador sopro de vida
penso em você
Sensação dúbia de prazer e martírio
Alternância de sofrimento e alívio
Em tempos imensuráveis e únicos
Paralelos talvez, ou sobrepostos
Mas preciosos e desejados
Solitários viajores errantes
No meu pensar ordenado
Iriene Borges
À noite sinto fome
Um impulso visceral
De viver consome a letargia
Que me domina durante o dia.
Passa o torpor que me torna capaz
De ouvir o rumor de vida
Ao meu redor sem viver
E quero lutar com a morte
Que habita em mim.
Meus músculos se manifestam
Inchados de energia, tesos de desejo.
A dor física diminui , substituída
Por um breve ensaio de prazer
A aquecer meu sangue.
Quero vida. Tenho apetite.
Meu paladar enfarado desabrocha.
O dia traz um fardo de obrigações.
Com o sol, renasce o instinto,
sobre o qual o mundo ferve
em espasmos de desejo insatisfeito
Mas a noite o burburinho cessa
e a angustia dorme nos exauridos
Então, viver tem sabor de escolha
E frescor de novidade.
É quando desperto ávida
Pela vida escassa .
Iriene Borges
Um impulso visceral
De viver consome a letargia
Que me domina durante o dia.
Passa o torpor que me torna capaz
De ouvir o rumor de vida
Ao meu redor sem viver
E quero lutar com a morte
Que habita em mim.
Meus músculos se manifestam
Inchados de energia, tesos de desejo.
A dor física diminui , substituída
Por um breve ensaio de prazer
A aquecer meu sangue.
Quero vida. Tenho apetite.
Meu paladar enfarado desabrocha.
O dia traz um fardo de obrigações.
Com o sol, renasce o instinto,
sobre o qual o mundo ferve
em espasmos de desejo insatisfeito
Mas a noite o burburinho cessa
e a angustia dorme nos exauridos
Então, viver tem sabor de escolha
E frescor de novidade.
É quando desperto ávida
Pela vida escassa .
Iriene Borges
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Rico e Plural
(À Hilda Hirlst e Octávio Paz )
Isso de ti
tem um quê de saudade
um contínuo trancender-se
um quê de intimidade
um permanente imaginar-se
isso de ti
meio mata meio mar
os olhos
não conseguem decifrar
isso de ti
sei lá porque
tem um quê de insano
um constante desvendar-se
03/12/06
Andrea Motta
Isso de ti
tem um quê de saudade
um contínuo trancender-se
um quê de intimidade
um permanente imaginar-se
isso de ti
meio mata meio mar
os olhos
não conseguem decifrar
isso de ti
sei lá porque
tem um quê de insano
um constante desvendar-se
03/12/06
Andrea Motta
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Espólio
Meu coração pulsa moroso, ressentido
Em vigília, a poesia dele se compadece
E terna o inspira enquanto ele tece
O verso para ludibriar o gemido.
Iriene Borges
Em vigília, a poesia dele se compadece
E terna o inspira enquanto ele tece
O verso para ludibriar o gemido.
Iriene Borges
Liberdade
Vivo correndo atrás dos meus pensamentos
Pois parecem mais vivos e autênticos do que eu
Parecem mais ligados à energia dos elementos
São mais impetuosos do que minha vontade
Tão mais instigantes e perfeitos do que posso ser
Sempre famintos, ávidos por pureza e verdade
Superiores a vida a qual me submeti
Os sigo, tentando incorporar o fulgor da liberdade
À vida repleta de sonhos e pouca saciedade
Que por temor suporto em revoltoso sigilo.
Iriene Borges
Pois parecem mais vivos e autênticos do que eu
Parecem mais ligados à energia dos elementos
São mais impetuosos do que minha vontade
Tão mais instigantes e perfeitos do que posso ser
Sempre famintos, ávidos por pureza e verdade
Superiores a vida a qual me submeti
Os sigo, tentando incorporar o fulgor da liberdade
À vida repleta de sonhos e pouca saciedade
Que por temor suporto em revoltoso sigilo.
Iriene Borges
Perturbação
Como se eu pudesse me despir dos sentimentos
E passar incólume pelo olhar que me absorve
Metaboliza minha essência e me devolve
À uma teia de ilusão e pressentimentos
Quando eles cobrem um vazio sem termo
E me dão certa vivacidade , que mesmo fugidia
Desperta-me ao encanto que a felicidade irradia
De além do horizonte trêmulo do mundo enfermo.
Iriene Borges
E passar incólume pelo olhar que me absorve
Metaboliza minha essência e me devolve
À uma teia de ilusão e pressentimentos
Quando eles cobrem um vazio sem termo
E me dão certa vivacidade , que mesmo fugidia
Desperta-me ao encanto que a felicidade irradia
De além do horizonte trêmulo do mundo enfermo.
Iriene Borges
Eu prefiro a noite
Quando muitos buscam calor e repouso
No aconchego estéril de um leito aparente
E tantos outros esquecimento e gozo
Na vertigem da madrugada decadente
Em que, por gosto, ensurdece à alma
A carne exposta a vários entorpercentes
Sendo toda a gente em volta uma amálgama
De espíritos presos em células dormentes
Eu desperto, transbordando poesia, e ouso
Tornar todas as coisas vistas aparentes
E a tudo em que os olhos d’alma pouso
Direciono as sombras e arestas pertencentes.
Iriene Borges
No aconchego estéril de um leito aparente
E tantos outros esquecimento e gozo
Na vertigem da madrugada decadente
Em que, por gosto, ensurdece à alma
A carne exposta a vários entorpercentes
Sendo toda a gente em volta uma amálgama
De espíritos presos em células dormentes
Eu desperto, transbordando poesia, e ouso
Tornar todas as coisas vistas aparentes
E a tudo em que os olhos d’alma pouso
Direciono as sombras e arestas pertencentes.
Iriene Borges
terça-feira, 20 de maio de 2008
Translúcida
As vezes sou sombria
Dores tornam-se asas
Ecos tornam-se caças
Acolhe-me a treva fria
Converto-me em sombra
Suspensa nas alturas
Acometem-me loucuras
E nada me assombra
Ergo-me dos escombros
Recupero-me dos tombos
E experimento a paz
De não mais sonhar
De não mais sangrar
Viver apenas, sem mais
Iriene Borges
Dores tornam-se asas
Ecos tornam-se caças
Acolhe-me a treva fria
Converto-me em sombra
Suspensa nas alturas
Acometem-me loucuras
E nada me assombra
Ergo-me dos escombros
Recupero-me dos tombos
E experimento a paz
De não mais sonhar
De não mais sangrar
Viver apenas, sem mais
Iriene Borges
Exatidão
Eu rezo por uma chuva calma e constante
Que se faça ouvir no fundo do coração
Que me livre da dúvida e da confusão
E retire-me desse estio degradante*
Tento fugir da minha própria verdade
Não admito ser como me sinto
Todos sabem apenas o que mostro
Enganar é minha grande habilidade
Mas a verdade em mim sempre fala alto
Eu a ignoro por comodismo e covardia
Mas não antes de ver o meu tamanho exato:
__________________________________
Ilusões recorrentes nas quais a vida se fia
Grandes sonhos subjugados por mentiras
Iriene Borges
sábado, 17 de maio de 2008
Adormentada
Quero dizer coisas mórbidas!
Meu corpo está no chão
Eu o trouxe abatido
Arrastando no asfalto
Exposto aos olhos curiosos
E impassíveis dos passantes
E eu também passava
Em vagarosa indiferença,
Consciente da conveniência
Que lhes traria o esquecimento.
Quando cheguei em casa
Me pareceu não ter utilidade
Então em meus experimentos
Deixei para ser pisado
Como de costume,
No chão, para ser surrado
Pelos meus passos ásperos.
Iriene Borges
Meu corpo está no chão
Eu o trouxe abatido
Arrastando no asfalto
Exposto aos olhos curiosos
E impassíveis dos passantes
E eu também passava
Em vagarosa indiferença,
Consciente da conveniência
Que lhes traria o esquecimento.
Quando cheguei em casa
Me pareceu não ter utilidade
Então em meus experimentos
Deixei para ser pisado
Como de costume,
No chão, para ser surrado
Pelos meus passos ásperos.
Iriene Borges
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Beijo
O sabor da vida na tua saliva
é inusitado, mas doce ao paladar
é marcante, faz com que eu viva
cada instante ansiando te tocar.
Iriene Borges
é inusitado, mas doce ao paladar
é marcante, faz com que eu viva
cada instante ansiando te tocar.
Iriene Borges
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Língua e Dialeto
[ Ponha um povo
em cadeias
despoje-o,
amordace-o,
ele continuará livre.
Retire seu trabalho,
seu passaporte
a mesa sobre a qual come,
a cama sobre a qual dorme,
e ele continuará rico.
Um povo
se torna pobre e escravizado
quando se lhe rouba a língua
deixada por seus ancestrais :
Com isso ele fica perdido para sempre.
Ignazio Buttitta (Sícilia 1899- )
em cadeias
despoje-o,
amordace-o,
ele continuará livre.
Retire seu trabalho,
seu passaporte
a mesa sobre a qual come,
a cama sobre a qual dorme,
e ele continuará rico.
Um povo
se torna pobre e escravizado
quando se lhe rouba a língua
deixada por seus ancestrais :
Com isso ele fica perdido para sempre.
Ignazio Buttitta (Sícilia 1899- )
Hoje
Somos culpados por muitos erros e equívocos
Nosso pior crime, porém é abandonar as crianças,
Negligenciar a fonte da vida.
Muitas das coisas de que precisamos podem esperar,
mas a criança ,não.
Este é o momento.
Seus ossos estão sendo formados,
Seu sangue está sendo produzido
E seus sentidos estão sendo desenvolvidos
A ela, não podemos dizer "Amanhã".
Seu nome é "Hoje " .
Gabriela Mistral
Nosso pior crime, porém é abandonar as crianças,
Negligenciar a fonte da vida.
Muitas das coisas de que precisamos podem esperar,
mas a criança ,não.
Este é o momento.
Seus ossos estão sendo formados,
Seu sangue está sendo produzido
E seus sentidos estão sendo desenvolvidos
A ela, não podemos dizer "Amanhã".
Seu nome é "Hoje " .
Gabriela Mistral
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