sexta-feira, 31 de julho de 2009
Dia Outonal...
Haviam alguns velhos...
No meio do aldeião...
Todos com carapuças...
Alguns meio símios...
Um deles andava por entre vasos ornamentais...
Confundindo-se, ele mesmo, com as lamparinas ilusórias...
Os demais, o viam apenas no seu pigarrear...
Outros dos velhos, faziam das marteladas em pedregulhos uma espécie de dentada memorável, onde saboreavam o passado...
Mais que ferramentas...
Os martelos tornavam-se órgãos vitais em seus punhos....
Abaixo de seus super cílios abriam-se cabanas diminuídas
Onde moravam em suas lembranças...
Mesmo suas lembranças...
Desembocavam num pensamento inexistente...
Eram reflexos furtivos, de devaneios extintos no passado...
Projetados agora em um evento ilusório...
Assim...
De suas orelhas um tanto quanto deformadas...
Saíam violões...
Tocando melodias tristes...
Melancólicas e úmidas...
Onde podia-se associar idéias, como alguém que diz:
“- Ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes...
Eu acredito no ontem...”
Eram cordas moles...
Que saindo do violão desciam na água...
Em poços artesianos...
Onde pombos sossegados amoleciam também...
Por horas...
Não conseguiam permanecer nem dentro, nem fora das casas...
As vezes, não sabiam existir...
Porém, também não sabiam não existir...
Eram como visões...
Visões deles próprios...
Que nos gramados secos...
Costuravam seu sono...
MOsiah Schaule
sob a luz das Trevas
No meio do aldeião...
Todos com carapuças...
Alguns meio símios...
Um deles andava por entre vasos ornamentais...
Confundindo-se, ele mesmo, com as lamparinas ilusórias...
Os demais, o viam apenas no seu pigarrear...
Outros dos velhos, faziam das marteladas em pedregulhos uma espécie de dentada memorável, onde saboreavam o passado...
Mais que ferramentas...
Os martelos tornavam-se órgãos vitais em seus punhos....
Abaixo de seus super cílios abriam-se cabanas diminuídas
Onde moravam em suas lembranças...
Mesmo suas lembranças...
Desembocavam num pensamento inexistente...
Eram reflexos furtivos, de devaneios extintos no passado...
Projetados agora em um evento ilusório...
Assim...
De suas orelhas um tanto quanto deformadas...
Saíam violões...
Tocando melodias tristes...
Melancólicas e úmidas...
Onde podia-se associar idéias, como alguém que diz:
“- Ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes...
Eu acredito no ontem...”
Eram cordas moles...
Que saindo do violão desciam na água...
Em poços artesianos...
Onde pombos sossegados amoleciam também...
Por horas...
Não conseguiam permanecer nem dentro, nem fora das casas...
As vezes, não sabiam existir...
Porém, também não sabiam não existir...
Eram como visões...
Visões deles próprios...
Que nos gramados secos...
Costuravam seu sono...
MOsiah Schaule
sob a luz das Trevas
Submerso
Sem mais cansar-se...
Assim mais adiante digo-me a mim mesmo para hoje ouvir...
Enquanto árvore e sorriso de polvo, entre recifes de sonhos...
Pois o fundo se expressa onde sem mais pressa existe-se...
Nas razões sem luz, nos mundos nascidos na escuridão profunda...
Distantes do que se sabe por consciência...
Onde não se sabe, onde multidões semiológicas aproximam-se e afastam-se...
Sais de logos são partículas na fluidez do imenso...
E o movimento que entorna, revolto com toda a intensidade por onde quer que exista...
E no inteiro de seu som, recortam-se pedaços de silencio profundo...
Onde movem-se uma infinidade de céus...
As criaturas incomunicáveis em presença fazem-se todas uma...
Assim, submerso posso experimentar as imagens que se criam...
Na imensidão de instantes...
Onde em cada recorte do silêncio, em cada fragmento de silêncio está uma pintura...
Em animo próprio, tais fragmentos do silêncio se auto-recortam e unem-se...
Sempre de modo inusitado...
Há em cada uma de suas partes o desvio do entendimento...
E a percepção nas profundezas afóticas se apresenta...
Mosiah Schaule
Assim mais adiante digo-me a mim mesmo para hoje ouvir...
Enquanto árvore e sorriso de polvo, entre recifes de sonhos...
Pois o fundo se expressa onde sem mais pressa existe-se...
Nas razões sem luz, nos mundos nascidos na escuridão profunda...
Distantes do que se sabe por consciência...
Onde não se sabe, onde multidões semiológicas aproximam-se e afastam-se...
Sais de logos são partículas na fluidez do imenso...
E o movimento que entorna, revolto com toda a intensidade por onde quer que exista...
E no inteiro de seu som, recortam-se pedaços de silencio profundo...
Onde movem-se uma infinidade de céus...
As criaturas incomunicáveis em presença fazem-se todas uma...
Assim, submerso posso experimentar as imagens que se criam...
Na imensidão de instantes...
Onde em cada recorte do silêncio, em cada fragmento de silêncio está uma pintura...
Em animo próprio, tais fragmentos do silêncio se auto-recortam e unem-se...
Sempre de modo inusitado...
Há em cada uma de suas partes o desvio do entendimento...
E a percepção nas profundezas afóticas se apresenta...
Mosiah Schaule
...À Porta que por Onde Não se Sabe...
A porta que por onde não se sabe...
A porta se abria...
E não via-se ninguém lá dentro...
Lá fora...
Também não havia ninguém que abria a porta...
Mas via-se alguém dentro da casa...
Mesmo sem ninguém estar lá...
Não sabia-se o que era o que estava do lado de fora da porta...
Apenas via-se de dentro da casa que alguém estava lá fora...
Enquanto o ruído se fazia...
Ao abrir-se a velha porta...
Queria-se saber, de dentro da casa vazia, quem estaria mesmo lá dentro, através de uma ligeira observação pelo lado externo da casa, colocando-se a uma interpretação da expeculação de quem abre a velha porta, para em seguida, no vazio da casa, vista de fora para dentro, compreender quem está abrindo a porta, e vislumbrando a partir do vazio interno da casa o seu próprio vazio, ou a identidade do seu vazio...
Com a intersecção dos campos vazios...
Que vagueiam de um para o outro...
Pelo limiar do caxilho envelhecido da porta da casa...
Quem esta dentro da casa questiona-se sobre a internalidade de sua existência, devido a evasão contínua de uma permanência externa nos campos para além da porta, seja de dentro para fora ou de fora para dentro...
Pela porta, tentou-se compreender quem abria de fora para dentro, quando dentro se exteriorizando lá fora, mesmo sem dentro estar e mesmo sem fora estar, e nessa expectativa, a orientação dos de fora para dentro já invertia-se...
Quando lúcidos...
Da imensidão existencial...
Que configurava-se com a internalidade e externalidade do espaço...
Procuravam ver-se realmente do lado de fora da casa...
Antes mesmo de terem entrado...
Porém, com a percepção de que verdadeiramente haviam saído...
Mosiah Schaule
sob a luz das Trevas
A porta se abria...
E não via-se ninguém lá dentro...
Lá fora...
Também não havia ninguém que abria a porta...
Mas via-se alguém dentro da casa...
Mesmo sem ninguém estar lá...
Não sabia-se o que era o que estava do lado de fora da porta...
Apenas via-se de dentro da casa que alguém estava lá fora...
Enquanto o ruído se fazia...
Ao abrir-se a velha porta...
Queria-se saber, de dentro da casa vazia, quem estaria mesmo lá dentro, através de uma ligeira observação pelo lado externo da casa, colocando-se a uma interpretação da expeculação de quem abre a velha porta, para em seguida, no vazio da casa, vista de fora para dentro, compreender quem está abrindo a porta, e vislumbrando a partir do vazio interno da casa o seu próprio vazio, ou a identidade do seu vazio...
Com a intersecção dos campos vazios...
Que vagueiam de um para o outro...
Pelo limiar do caxilho envelhecido da porta da casa...
Quem esta dentro da casa questiona-se sobre a internalidade de sua existência, devido a evasão contínua de uma permanência externa nos campos para além da porta, seja de dentro para fora ou de fora para dentro...
Pela porta, tentou-se compreender quem abria de fora para dentro, quando dentro se exteriorizando lá fora, mesmo sem dentro estar e mesmo sem fora estar, e nessa expectativa, a orientação dos de fora para dentro já invertia-se...
Quando lúcidos...
Da imensidão existencial...
Que configurava-se com a internalidade e externalidade do espaço...
Procuravam ver-se realmente do lado de fora da casa...
Antes mesmo de terem entrado...
Porém, com a percepção de que verdadeiramente haviam saído...
Mosiah Schaule
sob a luz das Trevas
As Visitas de Tardes
Quando as roseiras estavam suavemente secas...
Mas ainda com flores...
Somente algumas...
Simplesmente aquele antigo terreno era pequeno...
Porém de uma imensidão abstratamente física ...
Psíquicamente expansiva e acolhedora em seu silêncio devagar...
Apesar de não ser o domingo no interior da cidadela, dentro dos cercados do quintal dianteiro era mais sossegado do que o comum...
E o deitar suave do arvoredo calmo sobre a rua cinzenta dava sentido ao cinza dos pedregulhos...
Seu verdume não era apenas cor...sua cor não era apenas minha percepção...
Minha percepção não era mais percepção e percepção não era mais...
O que sossegava a viela em atemporalidade não era apenas percepção...
Tudo não estava em sí mesmo...
E assim assoviava-se...
Quanto mais calmo o dia era, mais suave o vento levava os pássaros...
Onde não havia ninguém, a fumaça de uma fogueira recente subia...
Era outro quintal, não o da casa, mas o da porta sem quintal...
Pelo outro lado da casa, onde a rua não se via, criava-se um quintal...
Onde nunca viu-se tal lugar...
Mas ele sempre esteve lá...
Todos o sabiam, todos os que ali nunca estiveram, mesmo pensando estar...
Mesmo percebendo estar...
Os dias que se faziam entre as festinhas de aniversário não aconteciam...
Mas todos ali adoravam provar os quitutes e refrescos das ternas festinhas da menina a qual todos atribuiam um percepção menor dos fenômenos naturais da existência...
A realidade se desfazia para sua clara percepção das tardes, dos ventos...
Tudo não passava de dissertações fugazes por entre o cotidiano dos que a criavam e de todos os que ali visitavam...
Pois hora ou outra viu-se por si mesmo, o tempo dalí onde não se contam horas, que ninguém passou de fato por aquelas festinhas e pela ternura da realidade própria da pequena aniversariante...
Nunca identificou-se, com a percepção dos demais, a qual conduz os demais, que não se percebe pela própria percepção a percepção de quem percebe de modo a não perceber as coisas...
A singularidade das relações psíquicas que dissipam-se dela, fazem-se de modo a não fazerem-se...
Distanciando-se de todas as tentativas de proximidades perceptíveis...
O fogão esquenta toda a casa...
Desde quando não havia o frio...
Pelos amontoados de calma, a doçura de sua infância floria em sí mesma, onde estendida por toda sua vivência estava...
A visão de uma realidade pelos que ali visitavam terminava em sí mesma...
Assim, tal doçura não era apenas o fruto de uma percepção limitada em sí ou no que ela pode conferir como real fora de sí...
Mosiah Schaule
sob a luz das Trevas
Mas ainda com flores...
Somente algumas...
Simplesmente aquele antigo terreno era pequeno...
Porém de uma imensidão abstratamente física ...
Psíquicamente expansiva e acolhedora em seu silêncio devagar...
Apesar de não ser o domingo no interior da cidadela, dentro dos cercados do quintal dianteiro era mais sossegado do que o comum...
E o deitar suave do arvoredo calmo sobre a rua cinzenta dava sentido ao cinza dos pedregulhos...
Seu verdume não era apenas cor...sua cor não era apenas minha percepção...
Minha percepção não era mais percepção e percepção não era mais...
O que sossegava a viela em atemporalidade não era apenas percepção...
Tudo não estava em sí mesmo...
E assim assoviava-se...
Quanto mais calmo o dia era, mais suave o vento levava os pássaros...
Onde não havia ninguém, a fumaça de uma fogueira recente subia...
Era outro quintal, não o da casa, mas o da porta sem quintal...
Pelo outro lado da casa, onde a rua não se via, criava-se um quintal...
Onde nunca viu-se tal lugar...
Mas ele sempre esteve lá...
Todos o sabiam, todos os que ali nunca estiveram, mesmo pensando estar...
Mesmo percebendo estar...
Os dias que se faziam entre as festinhas de aniversário não aconteciam...
Mas todos ali adoravam provar os quitutes e refrescos das ternas festinhas da menina a qual todos atribuiam um percepção menor dos fenômenos naturais da existência...
A realidade se desfazia para sua clara percepção das tardes, dos ventos...
Tudo não passava de dissertações fugazes por entre o cotidiano dos que a criavam e de todos os que ali visitavam...
Pois hora ou outra viu-se por si mesmo, o tempo dalí onde não se contam horas, que ninguém passou de fato por aquelas festinhas e pela ternura da realidade própria da pequena aniversariante...
Nunca identificou-se, com a percepção dos demais, a qual conduz os demais, que não se percebe pela própria percepção a percepção de quem percebe de modo a não perceber as coisas...
A singularidade das relações psíquicas que dissipam-se dela, fazem-se de modo a não fazerem-se...
Distanciando-se de todas as tentativas de proximidades perceptíveis...
O fogão esquenta toda a casa...
Desde quando não havia o frio...
Pelos amontoados de calma, a doçura de sua infância floria em sí mesma, onde estendida por toda sua vivência estava...
A visão de uma realidade pelos que ali visitavam terminava em sí mesma...
Assim, tal doçura não era apenas o fruto de uma percepção limitada em sí ou no que ela pode conferir como real fora de sí...
Mosiah Schaule
sob a luz das Trevas
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Bailarina
vira vida bailarina
vida vira devagar
assim se vai tão longe
muda tanto de lugar
mesmo pés mesmo bailado
mesmo vestido rodado
mas lugar não é o mesmo:
os pés estão trocados
me importa a bailarina
roda roda rodopiar
inventar outro passo
outro jeito de virar
mundo vida a teus pés
na cidade é outro mar
se a bailarina se vira
vira vida vida roda
roda roda bailarina
mundo é mais redondo
se teus pés são tua roda
no teu baile milenar
roda cidades e homens
bailam no teu olhar
há suspiros no mundo
porque tu danças de tudo
assim no fundo do copo
também no copo que cai
roda
...gira
......vira
........baila
............vida
vida vida bailarina
vida vira devagar
eu me vivo viro vida
no teu invento de andar
Hamilton Faría.
vida vira devagar
assim se vai tão longe
muda tanto de lugar
mesmo pés mesmo bailado
mesmo vestido rodado
mas lugar não é o mesmo:
os pés estão trocados
me importa a bailarina
roda roda rodopiar
inventar outro passo
outro jeito de virar
mundo vida a teus pés
na cidade é outro mar
se a bailarina se vira
vira vida vida roda
roda roda bailarina
mundo é mais redondo
se teus pés são tua roda
no teu baile milenar
roda cidades e homens
bailam no teu olhar
há suspiros no mundo
porque tu danças de tudo
assim no fundo do copo
também no copo que cai
roda
...gira
......vira
........baila
............vida
vida vida bailarina
vida vira devagar
eu me vivo viro vida
no teu invento de andar
Hamilton Faría.
Criação
Deu-me a poesia o dom
de em palavras transmutar-me
Ser asa casa amor magia
Ao dizer Asa
subir-me cem alturas
Ao dizer Casa
esparramar-me, telúrico
Quando Amor ser-me eu
o outro
Magia, o mundo se ergueria
além do chão e das asas
Assim o mundo crio
O nome. A coisa nomeada.
E quando luz
sou muito mais do que qualquer saber
sou mais além
mais do que todos os meus olhos
podem ver
Deu-me Deus o dom de amar
e de escrever o vivido
E o dom maior me-deus:
o de viver o escrevído.
Hamilton Faria
de em palavras transmutar-me
Ser asa casa amor magia
Ao dizer Asa
subir-me cem alturas
Ao dizer Casa
esparramar-me, telúrico
Quando Amor ser-me eu
o outro
Magia, o mundo se ergueria
além do chão e das asas
Assim o mundo crio
O nome. A coisa nomeada.
E quando luz
sou muito mais do que qualquer saber
sou mais além
mais do que todos os meus olhos
podem ver
Deu-me Deus o dom de amar
e de escrever o vivido
E o dom maior me-deus:
o de viver o escrevído.
Hamilton Faria
Oxímono
Achei que a vida continuasse
como as nuvens
e a independência da lua,
extrato contínuo sem fim
espaço de homens e ossos
onde começa a cancela.
Descontínuo,
o instante poreja
das terras:
pegadas,
o tempo não desperta
continua
entre pegadas
e pés,
a arcada de paragens,
o espanto me acalma.
Continuo
por memórias anagramáticas
do futuro.
como as nuvens
e a independência da lua,
extrato contínuo sem fim
espaço de homens e ossos
onde começa a cancela.
Descontínuo,
o instante poreja
das terras:
pegadas,
o tempo não desperta
continua
entre pegadas
e pés,
a arcada de paragens,
o espanto me acalma.
Continuo
por memórias anagramáticas
do futuro.
Prosa a Camonho do Amarelo
São antenas labirintos
da memória, a recapitular
degraus e turvar
nosso pretérito restrito
na sala de estar.
Invicto,
reside o
indivíduo
pleno
das significações
tramadas
de percursos
coletivos
que o unifica
na solitária
radiotônica.
Ante um coliseu mudo
implode a presa
qual febre palúdica
rarefeita de monitores
e do sol não nascente.
Stefano & Pozzo
da memória, a recapitular
degraus e turvar
nosso pretérito restrito
na sala de estar.
Invicto,
reside o
indivíduo
pleno
das significações
tramadas
de percursos
coletivos
que o unifica
na solitária
radiotônica.
Ante um coliseu mudo
implode a presa
qual febre palúdica
rarefeita de monitores
e do sol não nascente.
Stefano & Pozzo
domingo, 26 de julho de 2009
Galã ou Galinha
Ele é galã, quando sabe cantar.
E é galinha, quando canta
de maneira vulgar.
Anair Weirich
E é galinha, quando canta
de maneira vulgar.
Anair Weirich
À Janela
À JANELA
Espero por ela que nunca passa,
nisso, meu amor
segue amarrotado.
Sérgio Edvaldo - 07/09
Espero por ela que nunca passa,
nisso, meu amor
segue amarrotado.
Sérgio Edvaldo - 07/09
Louvemo-nos
Que cada minuto vivido seja um ponto parágrafo.
Que possamos em perfeita concordância escrever o novo minuto.
Que o dia, seja capítulo.
Que a cada começo, o tema seja apaixonante.
Enfim...,
Que quando chegar a derradeira página,
Possamos saber o livro,
Como obra completa,
Com ótimo conteúdo.
Que fique nas prateleiras da vida, como a maioria dos clássicos,
Existentes e sabidos como tal,
Mas pouco ou quase nunca lidos.
Olinto Simões
Que possamos em perfeita concordância escrever o novo minuto.
Que o dia, seja capítulo.
Que a cada começo, o tema seja apaixonante.
Enfim...,
Que quando chegar a derradeira página,
Possamos saber o livro,
Como obra completa,
Com ótimo conteúdo.
Que fique nas prateleiras da vida, como a maioria dos clássicos,
Existentes e sabidos como tal,
Mas pouco ou quase nunca lidos.
Olinto Simões
O Sono das Rosas
a cidade não dorme
no entanto, é preciso ninar o Poema
as pedras transpiram liberdade
os sonhos vagam na noite
poetas espalham-se feito
pólen no vento
e as luzes, nem sempre da ribalta,
madrugada afora chovem cascalhos
cheios de silêncios
o Poeta finge adormecer
cerrando as janelas de sua alma
que por dentro da retina faíscam vida
também silenciosas
no coração pulsante da Avenida
para que, enfim,
descansem as Rosas.
LG
no entanto, é preciso ninar o Poema
as pedras transpiram liberdade
os sonhos vagam na noite
poetas espalham-se feito
pólen no vento
e as luzes, nem sempre da ribalta,
madrugada afora chovem cascalhos
cheios de silêncios
o Poeta finge adormecer
cerrando as janelas de sua alma
que por dentro da retina faíscam vida
também silenciosas
no coração pulsante da Avenida
para que, enfim,
descansem as Rosas.
LG
Haicais
I
jardim-de-inverno;
sete azaléias-anãs
brancas de neve
II
velha botina;
no calor do abandono
aranha-marrom
encontrários
ele, impressionista
ela, meteorologista
mal se conheceram
pintou um clima
e agora, john?
homem nenhum é uma ilha...
e esta porção de mim
cercada de mágoa
por todos os lados?
Raul Pough
jardim-de-inverno;
sete azaléias-anãs
brancas de neve
II
velha botina;
no calor do abandono
aranha-marrom
encontrários
ele, impressionista
ela, meteorologista
mal se conheceram
pintou um clima
e agora, john?
homem nenhum é uma ilha...
e esta porção de mim
cercada de mágoa
por todos os lados?
Raul Pough
Consciência Triste
A poesia escrita fica para a posteridade.
A poesia falada faz-se luz e no espaço dissipa-se.
Não desaparece, vira uma estrela.
Sou Poeta, sou o espaço.
Em meu peito brilham as estrelas.
Para vê-las é preciso olhar com o coração.
Você as pode ver?
- Não?
- Então a luz se apaga..., o poeta se cala.
E a humanidade?
- Essa..., continua triste.
Olinto Simões
A poesia falada faz-se luz e no espaço dissipa-se.
Não desaparece, vira uma estrela.
Sou Poeta, sou o espaço.
Em meu peito brilham as estrelas.
Para vê-las é preciso olhar com o coração.
Você as pode ver?
- Não?
- Então a luz se apaga..., o poeta se cala.
E a humanidade?
- Essa..., continua triste.
Olinto Simões
Procura Insana
Preciso encontrar uma pessoa,
Alguém que de certa forma,
Seja importante ao menos pra mim,
Preciso disso, antes do fim.
Alguém que se sinta bem
Ao dar um abraço amigo,
Mas que principalmente,
Sinta-se bem ao receber outro.
Um tipo de gente simples,
Que descomplique as coisas,
Se revolte perante a iniqüidade,
Não aceite a perenidade da mesmice,
Lute pela melhoria da humanidade,
E sinta prazer de encontrar o outro.
Preciso encontrar essa pessoa,
Para reencontrar a vida,
Não mais morrer vivendo,
E saber que o amor ainda existe.
Esse alguém..., eu o sei possível,
Escondido..., mas ao mesmo tempo,
Que se mostra a todos e sem medos,
Na espera também de ser encontrado.
Quero encontrar esse tipo de gente,
Que tenha sensibilidade,
Saiba chorar sem vergonha,
Rir ou gargalhar com liberdade,
Que tenha as mãos suaves,
Para o toque do carinho.
Preciso dessa pessoa para beijá-la,
E ser por ela beijado,
Desejá-la..., e também a um só tempo,
Por ela ser completado.
É alguém que deve saber bem ouvir,
E ainda..., melhor na hora certa..., falar,
Ter no olhar a ternura,
E sentir cheiro de flores no ar.
Uma pessoa normal,
Que a cabeça se aninhe,
Nas mãos de quem a acaricie,
E que a respiração compassada,
Se altere ao encontrar olhos,
Tão sinceros quanto os próprios.
Estou cansado...,
A procura é insana,
Por muitas mãos já passei,
Em nenhuma delas fiquei.
A vida infantil foi rica de imagens,
A jovem nem tanto, faltava alegria,
Como adulto, cedo, pus os pés ao chão,
Agora maduro..., a procura é insana.
Chego a quase uma velhice,
Vida vivida com apegos sim,
Mas com pieguices..., não,
Consciente da falta que isso faz,
Procuro sanar a angústia voraz,
Com doses homeopáticas ineficazes.
Preciso de um tratamento de choque,
Um antibiótico injetado na alma,
Que mate de uma vez por todas,
O lastimável micróbio da solidão.
É..., chega de ser só, viver só, só..., sentir,
Chega de colocar nos outros viventes,
Qualidades neles, inexistentes,
Chega de fechar os olhos à realidade,
Chega de ouvir o que não quero,
Basta de preocupação sem esmero.
É..., a verdade grita,
E com ela me desperto,
Se isso que declaro é o que quero,
Não posso parar no tempo.
A vida continua...,
Eu permaneço,
Não sei por quanto tempo,
Mas a urgência se faz presente...,
Preciso..., me re-encontrar.
Olinto Simões
Alguém que de certa forma,
Seja importante ao menos pra mim,
Preciso disso, antes do fim.
Alguém que se sinta bem
Ao dar um abraço amigo,
Mas que principalmente,
Sinta-se bem ao receber outro.
Um tipo de gente simples,
Que descomplique as coisas,
Se revolte perante a iniqüidade,
Não aceite a perenidade da mesmice,
Lute pela melhoria da humanidade,
E sinta prazer de encontrar o outro.
Preciso encontrar essa pessoa,
Para reencontrar a vida,
Não mais morrer vivendo,
E saber que o amor ainda existe.
Esse alguém..., eu o sei possível,
Escondido..., mas ao mesmo tempo,
Que se mostra a todos e sem medos,
Na espera também de ser encontrado.
Quero encontrar esse tipo de gente,
Que tenha sensibilidade,
Saiba chorar sem vergonha,
Rir ou gargalhar com liberdade,
Que tenha as mãos suaves,
Para o toque do carinho.
Preciso dessa pessoa para beijá-la,
E ser por ela beijado,
Desejá-la..., e também a um só tempo,
Por ela ser completado.
É alguém que deve saber bem ouvir,
E ainda..., melhor na hora certa..., falar,
Ter no olhar a ternura,
E sentir cheiro de flores no ar.
Uma pessoa normal,
Que a cabeça se aninhe,
Nas mãos de quem a acaricie,
E que a respiração compassada,
Se altere ao encontrar olhos,
Tão sinceros quanto os próprios.
Estou cansado...,
A procura é insana,
Por muitas mãos já passei,
Em nenhuma delas fiquei.
A vida infantil foi rica de imagens,
A jovem nem tanto, faltava alegria,
Como adulto, cedo, pus os pés ao chão,
Agora maduro..., a procura é insana.
Chego a quase uma velhice,
Vida vivida com apegos sim,
Mas com pieguices..., não,
Consciente da falta que isso faz,
Procuro sanar a angústia voraz,
Com doses homeopáticas ineficazes.
Preciso de um tratamento de choque,
Um antibiótico injetado na alma,
Que mate de uma vez por todas,
O lastimável micróbio da solidão.
É..., chega de ser só, viver só, só..., sentir,
Chega de colocar nos outros viventes,
Qualidades neles, inexistentes,
Chega de fechar os olhos à realidade,
Chega de ouvir o que não quero,
Basta de preocupação sem esmero.
É..., a verdade grita,
E com ela me desperto,
Se isso que declaro é o que quero,
Não posso parar no tempo.
A vida continua...,
Eu permaneço,
Não sei por quanto tempo,
Mas a urgência se faz presente...,
Preciso..., me re-encontrar.
Olinto Simões
"O Mundo Anda Tão Complicado "
mulher,
gera e fala.
homem,
mata e cala.
criança,
brinca: boneca e bola.
quem mata,
não chora.
quem chora,
faz rir.
e quem ri,
é louco.
palavras bonitas,
não são mais ditas.
verdades ,
são facilmente esquecidas.
o Amor,
vende-se ou compra-se,
atacado e varejo.
o Sol,
não somente aquece,
coze, frigi, mata.
a chuva,
não somente molha,
chuá, inunda, mata.
tudo muda o tempo todo.
o homem falha,
a falha é o homem.
“estrelas começam a cair,
pra onde a gente vai fugir?”
e a Holanda?
há tempos,
o Amor foi assassinado,
o redentor foi crucificado,
o iluminado foi finado.
eslavos são espionados.
cogumelos são americanizados.
água se transforma em sangue,
diabos em deuses
e Deus foi esquecido,
pasárgada foi esquecida,
primaveras foram esquecidas,
- mas eu não esqueci. (Será que sou o único?)
sete são os anjos;
sete são as trombetas;
sete são os selos;
mulheres e homens não mais brigam,
imploram.
crianças não mais brincam,
choram.
Mário Auvim
gera e fala.
homem,
mata e cala.
criança,
brinca: boneca e bola.
quem mata,
não chora.
quem chora,
faz rir.
e quem ri,
é louco.
palavras bonitas,
não são mais ditas.
verdades ,
são facilmente esquecidas.
o Amor,
vende-se ou compra-se,
atacado e varejo.
o Sol,
não somente aquece,
coze, frigi, mata.
a chuva,
não somente molha,
chuá, inunda, mata.
tudo muda o tempo todo.
o homem falha,
a falha é o homem.
“estrelas começam a cair,
pra onde a gente vai fugir?”
e a Holanda?
há tempos,
o Amor foi assassinado,
o redentor foi crucificado,
o iluminado foi finado.
eslavos são espionados.
cogumelos são americanizados.
água se transforma em sangue,
diabos em deuses
e Deus foi esquecido,
pasárgada foi esquecida,
primaveras foram esquecidas,
- mas eu não esqueci. (Será que sou o único?)
sete são os anjos;
sete são as trombetas;
sete são os selos;
mulheres e homens não mais brigam,
imploram.
crianças não mais brincam,
choram.
Mário Auvim
Saudades dos bobinhos. Especialmente dos bobões
Saudades dos bobinhos. Especialmente dos bobões.
Anos de 88, 89... Tanto tempo que já nem me recordo. Bola na rua. Costume naquela saudosa época. Hoje já não tão corriqueiro. Também, como de costume, havia um perna-de-pau que fazia sempre o favor de jogar a bola em algum terreno baldio. Essa foi nossa sorte. Encontramos duas bolas. A nossa. E uma outra, só com o couro. Claro, criança sempre pinta o sete. Pintamos mais uma vez, então.
Bem perto dali, atrás de nossas casas, estavam a construir prédios, conjuntos residenciais. Quase todos os dias, em certas horas, aqueles “homens-construtores” se encaminhavam pela “Nossa Rua” rumo a panificadora para saciar suas fomes e sedes.
Pintamos então.
Aquela bola encontrada no terreno foi carinhosamente empalhada com pedras. Muitas pedras. De todas as formas, tamanhos, cores e texturas. Deixamos-a em um local estratégico. Ficamos a esperar uma cobaia. Melhor, um “homem-construtor”. Também naquelas certas horas passeavam pela “Nossa Rua” um casalzinho, bem simpático por sinal. Logo resolvemos. Eram eles. Por falta não iríamos pecar, talvez por excesso.
Um prontamente gritou:
- Chuta aí, tio!!!
Claro. Óbvio. Evidentemente que não se recusaria. Estava de sandálias “havaianas”, “as únicas que não soltam as tiras e não tem cheiro”. Lembrou? Então, retirou-as. Tomou pique. Foi.
Era moleque correndo para todo lado.
E o rapaz a gemer:
- Seus filhos da...!!!!!!!
Saudades daquela época. Dos bobinhos. Especialmente dos bobões.
Mário Auvim
Anos de 88, 89... Tanto tempo que já nem me recordo. Bola na rua. Costume naquela saudosa época. Hoje já não tão corriqueiro. Também, como de costume, havia um perna-de-pau que fazia sempre o favor de jogar a bola em algum terreno baldio. Essa foi nossa sorte. Encontramos duas bolas. A nossa. E uma outra, só com o couro. Claro, criança sempre pinta o sete. Pintamos mais uma vez, então.
Bem perto dali, atrás de nossas casas, estavam a construir prédios, conjuntos residenciais. Quase todos os dias, em certas horas, aqueles “homens-construtores” se encaminhavam pela “Nossa Rua” rumo a panificadora para saciar suas fomes e sedes.
Pintamos então.
Aquela bola encontrada no terreno foi carinhosamente empalhada com pedras. Muitas pedras. De todas as formas, tamanhos, cores e texturas. Deixamos-a em um local estratégico. Ficamos a esperar uma cobaia. Melhor, um “homem-construtor”. Também naquelas certas horas passeavam pela “Nossa Rua” um casalzinho, bem simpático por sinal. Logo resolvemos. Eram eles. Por falta não iríamos pecar, talvez por excesso.
Um prontamente gritou:
- Chuta aí, tio!!!
Claro. Óbvio. Evidentemente que não se recusaria. Estava de sandálias “havaianas”, “as únicas que não soltam as tiras e não tem cheiro”. Lembrou? Então, retirou-as. Tomou pique. Foi.
Era moleque correndo para todo lado.
E o rapaz a gemer:
- Seus filhos da...!!!!!!!
Saudades daquela época. Dos bobinhos. Especialmente dos bobões.
Mário Auvim
As janelas do meu coração. Minhas portas – sempre abertas. Meu travesseiro. Os ponteiros do meu único relógio. Minha música... tudo incondicionalmente teu. E só teu. Meu vaga-lume um dia lua cheia. Hoje brasa de cigarro. Cada cantinho da minha alma está fora de mim, perdidos em bancos de praças de cidades que eu nunca visitei. Não foram facadas. Nem tiros, foram palavras e ações que me fizeram acreditar por quase eternos sessenta segundos que eu nunca fui Mario Auvim. Você, sóbria e sombria, traiu e enganou todos os meus sentimentos. E em noites fantasmas me visitavam, mas ontem eu cansei e fizemos um assalto à geladeira.
Mário Auvim
Mário Auvim
Coisas de crianças e coisas de adultos
Quarta-feira. Com certeza era uma quarta. Casa dos tios. Tinha uns 7 ou 8 anos. Talvez 9. Flamengo versus Grêmio era televisionado às 21 horas e 30 minutos. Fizemos um bolão. Os adultos fizeram. Claro. Deixaram palpitar. Palpitei. 2 a 1 a favor do Mengão. 2 a 1 placar final do jogo. Ganhei. Quem diria? Ganhei. E sozinho. Estava eufórico. Feliz. Sentia-me um espertalhão. Sabia mais de futebol que os místicos adultos. Então fiquei no meu canto. Impaciente. Nervoso. Vieram me cumprimentar.
- Parabéns pirralho!!!
- Uau!!!
O blá-blá-blá de sempre aos vencedores mirins. Além do mais eu era um vencedor, mesmo que temporário, no meio dos adultos.
Mas quase todos vinham me cumprimentar. Um deles, em alto e bom som dissera:
- O bobão ganhou que tá até tremendo. Mais é um bobão mesmo.
Evidente. Tremi mais ainda. Bobão? Era a primeira vez. A primeira a gente nunca esquece. Nunca esqueci.
Era uma criança. Que culpa tinha eu? De ganhar? O dinheiro não dava para ficar rico. Apenas para algumas coxinhas e refrigerantes a mais na escola.
Bobão?! Creio que se estabeleceu um marco em minha vida. Nada profundo, do qual não sobreviveria. Mas marcante. No meio de uma estonteante alegria. Rara a uma criança em confronto com os adultos. Alguém tinha de vir com esta: bobão.
Ciúmes? Ódio? Medo por não ser mais uma criança? Por uns míseros trocados?
O gosto da vitória, naquele dia, ficou amargo. Fui para casa mais triste do que feliz. Contudo, também com mais dinheiro no bolso. E olhem só. Nem precisei trabalhar por aquilo. Apenas fui mais espertalhão. Sorte? Quero acreditar que mais esperteza.
Quarta-feira. Com certeza era uma quarta. Casa dos tios. Tinha uns 7 ou 8 anos. Talvez 9. Flamengo versus Grêmio era televisionado às 21:30. Naquele dia os deuses me deram dois presentes: alegria e sabedoria. Nunca esqueci. Cresci e apareci.
Mário Auvim
- Parabéns pirralho!!!
- Uau!!!
O blá-blá-blá de sempre aos vencedores mirins. Além do mais eu era um vencedor, mesmo que temporário, no meio dos adultos.
Mas quase todos vinham me cumprimentar. Um deles, em alto e bom som dissera:
- O bobão ganhou que tá até tremendo. Mais é um bobão mesmo.
Evidente. Tremi mais ainda. Bobão? Era a primeira vez. A primeira a gente nunca esquece. Nunca esqueci.
Era uma criança. Que culpa tinha eu? De ganhar? O dinheiro não dava para ficar rico. Apenas para algumas coxinhas e refrigerantes a mais na escola.
Bobão?! Creio que se estabeleceu um marco em minha vida. Nada profundo, do qual não sobreviveria. Mas marcante. No meio de uma estonteante alegria. Rara a uma criança em confronto com os adultos. Alguém tinha de vir com esta: bobão.
Ciúmes? Ódio? Medo por não ser mais uma criança? Por uns míseros trocados?
O gosto da vitória, naquele dia, ficou amargo. Fui para casa mais triste do que feliz. Contudo, também com mais dinheiro no bolso. E olhem só. Nem precisei trabalhar por aquilo. Apenas fui mais espertalhão. Sorte? Quero acreditar que mais esperteza.
Quarta-feira. Com certeza era uma quarta. Casa dos tios. Tinha uns 7 ou 8 anos. Talvez 9. Flamengo versus Grêmio era televisionado às 21:30. Naquele dia os deuses me deram dois presentes: alegria e sabedoria. Nunca esqueci. Cresci e apareci.
Mário Auvim
Assim , Assim
Assim, assim,
Eu vi o tempo passando por mim.
Pedras de cristais,
Gotas, temporais.
Abismos e montanhas. Mas,
Penso no que forma o tempo.
Penso que sem mim,
Que sentido lhe restaria?
Levo comigo o tempo
E todas as passagens que me permiti.
Sonho apenas com as lembranças,
Penso tê-las guardadas em mim.
Vim para esta “terra” resgatar as heranças,
E as grandezas de tudo o que eu vivi.
Se sinto uma montanha,
Nela me transformei.
Hoje sei que sou estrela,
Sou tempo e a eternidade,
E tudo o que jamais sonhei.
Angela Gomes Brochier
Eu vi o tempo passando por mim.
Pedras de cristais,
Gotas, temporais.
Abismos e montanhas. Mas,
Penso no que forma o tempo.
Penso que sem mim,
Que sentido lhe restaria?
Levo comigo o tempo
E todas as passagens que me permiti.
Sonho apenas com as lembranças,
Penso tê-las guardadas em mim.
Vim para esta “terra” resgatar as heranças,
E as grandezas de tudo o que eu vivi.
Se sinto uma montanha,
Nela me transformei.
Hoje sei que sou estrela,
Sou tempo e a eternidade,
E tudo o que jamais sonhei.
Angela Gomes Brochier
Estrelas e Sal
Lanternas esquálidas escarlates
A navegar escamas de Netuno.
Despejam o fluxo de outros mundos
Paridos em noite fria entre os lilases.
Atmosfera imersa em breu soturno,
Lançando redes de nylon, pescando sóis.
Gigantescos navios espaciais consumindo-se
Aprisionados no visco salino
Do enferrujado lastro dos anzóis.
Angela Gomes Brochier
A navegar escamas de Netuno.
Despejam o fluxo de outros mundos
Paridos em noite fria entre os lilases.
Atmosfera imersa em breu soturno,
Lançando redes de nylon, pescando sóis.
Gigantescos navios espaciais consumindo-se
Aprisionados no visco salino
Do enferrujado lastro dos anzóis.
Angela Gomes Brochier
Artemporal
Gravado na fronte
Da fronte do tempo,
Em segredo, sagrado de cores.
Perpetuando homens e animais...
Grafismos idiossincráticos, virtuais.
Observando olhares.
Subvertendo paisagens.
Transgredindo, movimentos e imagens.
Nas rochas, poesias atemporais.
Angela Gomes Brochier
Da fronte do tempo,
Em segredo, sagrado de cores.
Perpetuando homens e animais...
Grafismos idiossincráticos, virtuais.
Observando olhares.
Subvertendo paisagens.
Transgredindo, movimentos e imagens.
Nas rochas, poesias atemporais.
Angela Gomes Brochier
Cambraia
Vistosa em sua transparência
vestimenta de cambraia
é sensível às intempéries
do tempo
Perde o brilho natural.
Rota, amarela, por vezes,
assemelha-se ao homem.
Torna-se áspera.
por águas e lavagens,
perde do olhar a candura
Não há cerzimento
que devolva-lhe a maciez
perdida do uso ao descaso.
Andrea Motta
vestimenta de cambraia
é sensível às intempéries
do tempo
Perde o brilho natural.
Rota, amarela, por vezes,
assemelha-se ao homem.
Torna-se áspera.
por águas e lavagens,
perde do olhar a candura
Não há cerzimento
que devolva-lhe a maciez
perdida do uso ao descaso.
Andrea Motta
Quark
Noturno colar de estrelas
No corpo das cores.
Clara cantiga criança
No rastro das flores cadentes.
Poesia pulsando no éter,
No cinturão das galáxias,
A música das esferas.
Angustia da minha espera
Num gigante espaço
Curvando-me entre sóis
Em gota azul, fisgada em anzol
Na calmaria das ondas do oceano cósmico.
Perdido em seu átomo, um sonhador
Embevecido em chuvas quânticas
De partículas fractais,
Onde as águas naufragam em feixes de luz.
Angela Gomes Brochier
No corpo das cores.
Clara cantiga criança
No rastro das flores cadentes.
Poesia pulsando no éter,
No cinturão das galáxias,
A música das esferas.
Angustia da minha espera
Num gigante espaço
Curvando-me entre sóis
Em gota azul, fisgada em anzol
Na calmaria das ondas do oceano cósmico.
Perdido em seu átomo, um sonhador
Embevecido em chuvas quânticas
De partículas fractais,
Onde as águas naufragam em feixes de luz.
Angela Gomes Brochier
Íntima Fração
( Para Rubens da Cunha )
surdos meus pés
gritam a distância
disfarçada
curvos
adjetivados
pela hora tardia
das estranhas noites
contam espinhos
obscenos
turvos
semeiam
e colhem a palavra
Andrea Motta
surdos meus pés
gritam a distância
disfarçada
curvos
adjetivados
pela hora tardia
das estranhas noites
contam espinhos
obscenos
turvos
semeiam
e colhem a palavra
Andrea Motta
Ao Sabor do Pensamento
O olhar cego começa um poema
desenha a trama.
Com mãos impolutas
despeja desejos
cria amores
e abandonos
em estranhos jogos
de memória
cogita
sangra
sonha interminavelmente
derrama sobre o papel
armadilhas inequívocas
do pensamento
Sorri
vertiginosamente
sorri até a exaustão
um sorriso marginal.
Etéreo
tece ilusões
e finda o poema.
Andrea Motta
desenha a trama.
Com mãos impolutas
despeja desejos
cria amores
e abandonos
em estranhos jogos
de memória
cogita
sangra
sonha interminavelmente
derrama sobre o papel
armadilhas inequívocas
do pensamento
Sorri
vertiginosamente
sorri até a exaustão
um sorriso marginal.
Etéreo
tece ilusões
e finda o poema.
Andrea Motta
sábado, 25 de julho de 2009
et le poëte soûl engueulait l´univers.
Arthur Rimbaud
Meus cabelos desgrenhados estabelecem
Vínculos contrários á ousadia
Segredos empenhados em ti fenecem
Meus cabelos desgrenhados estabelecem
Imagem aérea do que não se conhece
Frascário ingênuo que se adia
Meus cabelos desgrenhados estabelecem
Vínculos contrários à ousadia
Ricardo Pozzo
Arthur Rimbaud
Meus cabelos desgrenhados estabelecem
Vínculos contrários á ousadia
Segredos empenhados em ti fenecem
Meus cabelos desgrenhados estabelecem
Imagem aérea do que não se conhece
Frascário ingênuo que se adia
Meus cabelos desgrenhados estabelecem
Vínculos contrários à ousadia
Ricardo Pozzo
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Roseana
só os animais são eternos.
jorge luis borges
refaço estória e ritual, com licença:
eu o sepulto também
aqui, no torrão raso
da página,
sob a palavra “asa”
em lugar de terra.
foi ana rosa que contou. história simples de passarinho. como os passarinhos.
desceu uma tarde em seu quintal um periquito. auriverde.
não!
cárdeo-cardíaco, sob o sol das quatro. na sombra,
musgo apodrecido.
inquieto, ágil, como de resto as aves
diminutas, por regra. um cavalo.
mas ficou logo escarrado: que era dócil, doméstico de ontem, solto, fugido.
não era espanto estar próximo, não se alarmava, não voou para longe,
para o: exato.
ficou ali, na imortalidade. relapso. fato estúpido.
livre, no instante, era um não ser
solitário.
como um cão.
notou (a rosa) que ele deslumbrava, transcendido de horizontes,
bem-assombrado. e ana também. deslumbrava.
mas
em contrário – mulher forte e firme, acostumada à voragem da vida –, o passarinho era um coração pequeno, nada mais. para aquela alegria, súbita e vertigem,
a musculatura frágil e
desusada.
peixe morto.
– deve ter voado o dia todo, coitado. não aguentou – ela disse.
também me arrepio.
de já haver conhecido periquitos alucinados.
é verdade, morreu de exaustão. de inadvertido, inexperiente.
no entanto, que sou incorrigível
e desconcertado, por isso eu acho:
morreu de vida.
(cavalo, cão, peixe e
pássaro.)
morreu
de eternidade.
***
depois, e foi só, ana o enterrou (com umas mãos de terra
e folhas secas) no quintal da casa.
Rodrigo Madeira
jorge luis borges
refaço estória e ritual, com licença:
eu o sepulto também
aqui, no torrão raso
da página,
sob a palavra “asa”
em lugar de terra.
foi ana rosa que contou. história simples de passarinho. como os passarinhos.
desceu uma tarde em seu quintal um periquito. auriverde.
não!
cárdeo-cardíaco, sob o sol das quatro. na sombra,
musgo apodrecido.
inquieto, ágil, como de resto as aves
diminutas, por regra. um cavalo.
mas ficou logo escarrado: que era dócil, doméstico de ontem, solto, fugido.
não era espanto estar próximo, não se alarmava, não voou para longe,
para o: exato.
ficou ali, na imortalidade. relapso. fato estúpido.
livre, no instante, era um não ser
solitário.
como um cão.
notou (a rosa) que ele deslumbrava, transcendido de horizontes,
bem-assombrado. e ana também. deslumbrava.
mas
em contrário – mulher forte e firme, acostumada à voragem da vida –, o passarinho era um coração pequeno, nada mais. para aquela alegria, súbita e vertigem,
a musculatura frágil e
desusada.
peixe morto.
– deve ter voado o dia todo, coitado. não aguentou – ela disse.
também me arrepio.
de já haver conhecido periquitos alucinados.
é verdade, morreu de exaustão. de inadvertido, inexperiente.
no entanto, que sou incorrigível
e desconcertado, por isso eu acho:
morreu de vida.
(cavalo, cão, peixe e
pássaro.)
morreu
de eternidade.
***
depois, e foi só, ana o enterrou (com umas mãos de terra
e folhas secas) no quintal da casa.
Rodrigo Madeira
Ex Machina
e o meu anjo da guarda quedou-se de mãos postas
no desejo insatisfeito de Deus.
manuel bandeira
me desculpa, geraldo carneiro,
entrar assim (a pontapés)
em poema alheio,
mas se deus é crupiê
do acaso, como dizes, tem
seu tanto de escroque
bem mais pleno:
deus (esse deus que
me ensinaram, ao menos)
é também cafetão de almas,
é também traficante
de tempo.
2.
Deus só não é Deus.
Deus é uma prostituta na frente do espelho. É um cão vira-lata atravessando a rua
e um adolescente se masturbando no banheiro. É um peixe morto trazido pela maré
e uma cobra na árvore da sabedoria. É um porteiro falando sozinho às três da manhã
e um menino no terminal cheirando tiner. Deus é uma senhora gorda que acredita em Deus
e uma menina que perde a virgindade. É um homem engravatado e um caminhoneiro e um operário e um mendigo. É uma árvore e um tigre medindo sua jaula, e um tigre passeando nossa alma. É uma empregada encoxada no ônibus e um ladrão baleado na esquina. É um gafanhoto de joão batista. É uma freira menstruada. Deus é um incrédulo e um vendedor de carros. É um pássaro preso depois de solto e um pássaro solto depois de preso. É um médico legista e um psiquiatra. Deus é um suicida. Deus é uma criança com fogo-selvagem e uma banhista marcada nos mamilos. Deus
é um senhor desempregado descendo a rua e uma barata subindo o corpo. É uma mãe cheia de afazeres e varizes e uma aranha seduzindo (na seda) a mosca etc.
ou
acender o cigarro num relâmpago
e olhar mais uma vez:
Ninguém.
Deus é um silêncio indecente, tão-apenas,
maior que a morte, roupas (vazias)
espalhadas pela cama.
Deus somos dois. aquele silêncio
triste e satisfeito,
vago e exato
de depois do amor.
Rodrigo Madeira
no desejo insatisfeito de Deus.
manuel bandeira
me desculpa, geraldo carneiro,
entrar assim (a pontapés)
em poema alheio,
mas se deus é crupiê
do acaso, como dizes, tem
seu tanto de escroque
bem mais pleno:
deus (esse deus que
me ensinaram, ao menos)
é também cafetão de almas,
é também traficante
de tempo.
2.
Deus só não é Deus.
Deus é uma prostituta na frente do espelho. É um cão vira-lata atravessando a rua
e um adolescente se masturbando no banheiro. É um peixe morto trazido pela maré
e uma cobra na árvore da sabedoria. É um porteiro falando sozinho às três da manhã
e um menino no terminal cheirando tiner. Deus é uma senhora gorda que acredita em Deus
e uma menina que perde a virgindade. É um homem engravatado e um caminhoneiro e um operário e um mendigo. É uma árvore e um tigre medindo sua jaula, e um tigre passeando nossa alma. É uma empregada encoxada no ônibus e um ladrão baleado na esquina. É um gafanhoto de joão batista. É uma freira menstruada. Deus é um incrédulo e um vendedor de carros. É um pássaro preso depois de solto e um pássaro solto depois de preso. É um médico legista e um psiquiatra. Deus é um suicida. Deus é uma criança com fogo-selvagem e uma banhista marcada nos mamilos. Deus
é um senhor desempregado descendo a rua e uma barata subindo o corpo. É uma mãe cheia de afazeres e varizes e uma aranha seduzindo (na seda) a mosca etc.
ou
acender o cigarro num relâmpago
e olhar mais uma vez:
Ninguém.
Deus é um silêncio indecente, tão-apenas,
maior que a morte, roupas (vazias)
espalhadas pela cama.
Deus somos dois. aquele silêncio
triste e satisfeito,
vago e exato
de depois do amor.
Rodrigo Madeira
o Verão
O verão beija os namorados, entre a cidade, a floresta, o campo e o mar. O fantasma da gasolina envolve os pulmões, uma segunda pleura. Hoje cavo um bunker no domingo de tua virilha. Deixo minhas mãos pastarem como bois famintos. Temos a idade do pôr-do-sol. A quilha dos olhos já estalou. És a sereia, a única, as várias, rodeando meu naufrágio no abismo da seda.
Tu começas pelos lábios, carne sobre carne (junto à lânguida liquenografia da língua). Os motores lacônicos que elaboram pétalas e cãimbras, que pronunciam pássaros. Oficina de silêncios. Os lábios são o fruto que se colhe com os lábios, a carta (a carne) náutica para as arrebentações das pernas, as vazantes dos olhos, os cais dos seios.
A luz desta lua de cloro atravessa a escuridão de minhas mãos. Gaivotas da eletricidade grasnam, como guitarras distorcidas, sobre a mancha de porra. O corpo jazz na relva. Árvore de ossos, vento. Esta macieira é o único livro que li na vida. É impossível, eu sei, e é isso que me faz seguir adiante: escrevo teu nome com as quatro letras do amor.
Tuas coxas cheiram a terra molhada. No pescoço és uma égua, haste doente. São despenhadeiros teus mamilos. Folheio o alcorão de teus cabelos. E ao folhear-te, folheio-me. Existo também como quem autentica a própria morte no cartório das veias. A vida é enorme, minha amiga. A vida nos acontece à queima-roupa.
Subirei todas as escadas de tua nudez. Sonhar, floração de tesouras. Os óculos no chão. Meu coração é um cavalo escoiceando a caixa torácica. Uma ave que bate contra o vidro. Deus existe por alguns segundos: é a palavra de silêncio, o grafite de néctar no muro das costas. A cama é um bosque onde o perfume lança âncoras de hera. A usina do suor, a adega da saliva. Separar as pernas é como abrir a caixinha de música de tuas súplicas.
Boceta de pandora. Uma fogueira no centro do corpo, do quarto, da galáxia. Eu sei, sou um cego e um analfabeto. Meu esqueleto é um relâmpago. Tateio o braile do* desassombro.
Quase de manhã, o barco fundeia com as luzes apagadas. Nós morreremos, minha amiga, soterrados pelo cheiro feroz do jasmim.
Rodrigo Madeira
Tu começas pelos lábios, carne sobre carne (junto à lânguida liquenografia da língua). Os motores lacônicos que elaboram pétalas e cãimbras, que pronunciam pássaros. Oficina de silêncios. Os lábios são o fruto que se colhe com os lábios, a carta (a carne) náutica para as arrebentações das pernas, as vazantes dos olhos, os cais dos seios.
A luz desta lua de cloro atravessa a escuridão de minhas mãos. Gaivotas da eletricidade grasnam, como guitarras distorcidas, sobre a mancha de porra. O corpo jazz na relva. Árvore de ossos, vento. Esta macieira é o único livro que li na vida. É impossível, eu sei, e é isso que me faz seguir adiante: escrevo teu nome com as quatro letras do amor.
Tuas coxas cheiram a terra molhada. No pescoço és uma égua, haste doente. São despenhadeiros teus mamilos. Folheio o alcorão de teus cabelos. E ao folhear-te, folheio-me. Existo também como quem autentica a própria morte no cartório das veias. A vida é enorme, minha amiga. A vida nos acontece à queima-roupa.
Subirei todas as escadas de tua nudez. Sonhar, floração de tesouras. Os óculos no chão. Meu coração é um cavalo escoiceando a caixa torácica. Uma ave que bate contra o vidro. Deus existe por alguns segundos: é a palavra de silêncio, o grafite de néctar no muro das costas. A cama é um bosque onde o perfume lança âncoras de hera. A usina do suor, a adega da saliva. Separar as pernas é como abrir a caixinha de música de tuas súplicas.
Boceta de pandora. Uma fogueira no centro do corpo, do quarto, da galáxia. Eu sei, sou um cego e um analfabeto. Meu esqueleto é um relâmpago. Tateio o braile do* desassombro.
Quase de manhã, o barco fundeia com as luzes apagadas. Nós morreremos, minha amiga, soterrados pelo cheiro feroz do jasmim.
Rodrigo Madeira
Há um nódulo na quinta-feira. Dizer adeus faz caírem meus cabelos. A verdade é uma lâmpada falha num quarto cheio de moscas, mas a esperança, sobre as águas da febre, tem a pertinácia da cortiça. O tédio é a pior forma de tristeza.
Eis que algo no sol fratura o que somos sob o sol. O dia mija luz nas coisas e fere e fede e ilumina um jardim de absurdos: borboletas com caules, gerânios asmáticos, orquídeas menstruadas, margaridas que suam, lírios que sangram, girassóis cujas corolas são ânus. O sol brilha também sob minha pele.
O ronco dos carros é quase uma fuga de bach. Beatífico, anuncia a metástase de um silêncio. Quando o pôr-do-sol vazar feito um vagaroso sangramento de nariz, haverá um segundo para nos olharmos, e no aço dos ossos florescerão pátinas e tétano, e na medula correrá a seiva elétrica das plantas que não existem. Com um estetoscópio de marfim, ausculto a parada cardíaca das pedras. Meço a pressão arterial e a solidão da chuva.
Entardeceu. Deito-me sobre as pastagens tauríferas, verde como o escolar de van gogh. E deixo o vento definir meu nome. Quando levanto, é meio-dia: há uma praia caminhada de ninfas que tatuam o sol sobre a pele, e elas sorriem como o mar, puxando, puxando...
À noite, quando se morre mais de uma vez, a alma (esta ficção) faz guarida como um abajur no escuro. Todas as chaves perderam seus dentes, e não importa. Significar algo é brutal como empalhar uma criança. Estou alegre como quem anda descalço. Estou alegre como quem sobe o telhado. Ouço o sermão das nuvens. Ou me sento à mesa, corto um pedaço do peixe e já não digo nada (a boca cheia de silêncios): quais frutos velhos, as palavras estão abertas sobre a terra. Jogo longe minha flauta. Maré, por exemplo, cognoscível apenas pelo cheiro. As árvores, através dos vôos das aves, conversam entre si na distância imensa. Respirar é minha única religião.
Rodrigo Madeira
Eis que algo no sol fratura o que somos sob o sol. O dia mija luz nas coisas e fere e fede e ilumina um jardim de absurdos: borboletas com caules, gerânios asmáticos, orquídeas menstruadas, margaridas que suam, lírios que sangram, girassóis cujas corolas são ânus. O sol brilha também sob minha pele.
O ronco dos carros é quase uma fuga de bach. Beatífico, anuncia a metástase de um silêncio. Quando o pôr-do-sol vazar feito um vagaroso sangramento de nariz, haverá um segundo para nos olharmos, e no aço dos ossos florescerão pátinas e tétano, e na medula correrá a seiva elétrica das plantas que não existem. Com um estetoscópio de marfim, ausculto a parada cardíaca das pedras. Meço a pressão arterial e a solidão da chuva.
Entardeceu. Deito-me sobre as pastagens tauríferas, verde como o escolar de van gogh. E deixo o vento definir meu nome. Quando levanto, é meio-dia: há uma praia caminhada de ninfas que tatuam o sol sobre a pele, e elas sorriem como o mar, puxando, puxando...
À noite, quando se morre mais de uma vez, a alma (esta ficção) faz guarida como um abajur no escuro. Todas as chaves perderam seus dentes, e não importa. Significar algo é brutal como empalhar uma criança. Estou alegre como quem anda descalço. Estou alegre como quem sobe o telhado. Ouço o sermão das nuvens. Ou me sento à mesa, corto um pedaço do peixe e já não digo nada (a boca cheia de silêncios): quais frutos velhos, as palavras estão abertas sobre a terra. Jogo longe minha flauta. Maré, por exemplo, cognoscível apenas pelo cheiro. As árvores, através dos vôos das aves, conversam entre si na distância imensa. Respirar é minha única religião.
Rodrigo Madeira
Ábaco
Jardins metálicos polinizados
A pólvora por abelhas
Mecânicas e borboletas
Metafóricas
Exalam a fúria
Dos dias em flor.
A cidade pela cinza
e o carbono
se sabe sodoma
somos a soma
séculos inscrustrados
no marco zero
das metrópolis
pólis sem teto
abrigados nas praças
indiferentes à óleo e raças
consomem-se fontes
fontes consomomem
caridades
a cinza e o carbono
o sal da sopa
caixas de leite
sopa e fé
catedrais chamam fiéis
humanos contam nos dedos
orgasmos lucros saldos
extratos benesses divinas
imbecis pacifistas
imbecis bélicos
pela cinza e carbono
nos pulmões e nos ares
contas do ábaco espaço
a trajetória da imbecilidade
digo, civilização.
Carlos Souza
A pólvora por abelhas
Mecânicas e borboletas
Metafóricas
Exalam a fúria
Dos dias em flor.
A cidade pela cinza
e o carbono
se sabe sodoma
somos a soma
séculos inscrustrados
no marco zero
das metrópolis
pólis sem teto
abrigados nas praças
indiferentes à óleo e raças
consomem-se fontes
fontes consomomem
caridades
a cinza e o carbono
o sal da sopa
caixas de leite
sopa e fé
catedrais chamam fiéis
humanos contam nos dedos
orgasmos lucros saldos
extratos benesses divinas
imbecis pacifistas
imbecis bélicos
pela cinza e carbono
nos pulmões e nos ares
contas do ábaco espaço
a trajetória da imbecilidade
digo, civilização.
Carlos Souza
Urbe
Jardins metálicos polinizados
A pólvora por abelhas
Mecânicas e borboletas
Metafóricas
Exalam a fúria
Dos dias em flor.
Carlos Souza
A pólvora por abelhas
Mecânicas e borboletas
Metafóricas
Exalam a fúria
Dos dias em flor.
Carlos Souza
Uma Criança
Ele dorme o sono dos ladrilhos, cimentos, petis paves;
recosta a cabeça no tredo chão
respira ratos de shoppings centers
cagadas de lan-houses, lojas,games,grifes
e etecetras modernosas;
tem o carinho das lesmas e dos cuspes
recosta sua cabeça nas pegadas do fórceps cidadão
e aspira a apnéia do abandono.
Ele tem o sono do chão e dorme
sonha as vitrines da pústula bancária
e seu acordar é um banquete sem pesos nem medidas
rarefeito no self-service dos mensurados
lacaios de deus, jesus, maomé, lula, bill gates etc etc.
Contudo,
ele sonha !
com a moeda, com o tênis, o cobertor, o crack, a cola e
com o pai e a puta que lhe pariu!
Ele como eu tem a pele do concreto
e contraiu a lepra da boa vontadade;
toda escrotice desfila,
ululante poça vomitada do novo mundo.
Ele dorme e minha mão não o afaga...
(talvez é digno)
o lúcifer da esperança o consola
por entre as pocilgas estouvadas
seu acordar é fenda lôbrega dos high-tecs.
Sim,
ele dorme
na masmorra do futuro
reboco da própria espécie!
- Bom sono amiguinho,
Pequeno Príncipe da sordícia
Tullio Stefano
recosta a cabeça no tredo chão
respira ratos de shoppings centers
cagadas de lan-houses, lojas,games,grifes
e etecetras modernosas;
tem o carinho das lesmas e dos cuspes
recosta sua cabeça nas pegadas do fórceps cidadão
e aspira a apnéia do abandono.
Ele tem o sono do chão e dorme
sonha as vitrines da pústula bancária
e seu acordar é um banquete sem pesos nem medidas
rarefeito no self-service dos mensurados
lacaios de deus, jesus, maomé, lula, bill gates etc etc.
Contudo,
ele sonha !
com a moeda, com o tênis, o cobertor, o crack, a cola e
com o pai e a puta que lhe pariu!
Ele como eu tem a pele do concreto
e contraiu a lepra da boa vontadade;
toda escrotice desfila,
ululante poça vomitada do novo mundo.
Ele dorme e minha mão não o afaga...
(talvez é digno)
o lúcifer da esperança o consola
por entre as pocilgas estouvadas
seu acordar é fenda lôbrega dos high-tecs.
Sim,
ele dorme
na masmorra do futuro
reboco da própria espécie!
- Bom sono amiguinho,
Pequeno Príncipe da sordícia
Tullio Stefano
Diálogo em Solilóquio
Ó Ego:
- Por que tu me Falas,
Quando meus Ouvidos não te Ouvem?
Falo, porque tu pensas não ouvir,
Mas..., a informação te chega.
Ó Consciência:
- Por que te manténs Amorfa,
Quando a Inconsciência te Informa?
Não, eu não me mantenho disforme,
Apenas aberta em constante mutação.
Ó par de Olhos:
- Por que não Enxergas,
O que a Mente te Mostra?
Enxergo o que à minha frente se coloca,
Mas, de outra visão..., também desfrutas.
Ó Emoção:
- Por que teimas em ser Vencedora,
Quando a Razão não pode ser Derrotada?
Porque sou instinto, e instinto não morre,
A razão pode ser perdida, não a emoção.
Se tu ego, me falas,
E por ti me informo,
Se tu consciência, te manténs aberta,
E por tua causa, mutante sou,
Se tu olhos, enxergas,
E doutra visão adquiro conhecimento,
Se tu emoção, és comigo congênita,
E tu razão, és comigo vivente,
Sou um Ser em perfeição,
Um humano em evolução.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
Creio então, continuar esta vida,
Da maneira que vivo até agora,
Consciente, interajo com meu ego,
Faço dele meu parceiro fiel.
Se, inconsciente separo-me do eu,
Com inteligência formada,
Deixo-me levar sem esforço,
Sentindo a verdade buscada.
Faço-me, pois, de forma presente,
Dualizo e dialogo com o ego,
Permitindo-me ouvi-lo,
Para poder ouvido ser.
Tirando de meus olhos,
A venda não existente,
Enxergo à clareza de sonho,
O que a mente já conhece.
E se consigo tais intentos,
Liberta à emoção,
E livre..., a razão,
Vivo com integralidade.
Mostro ao que vim,
Faço o que me propus,
Atinjo meus objetivos,
Item-a-item, como expus.
Vivo com amor e em Paz,
Sem guerras e sem rivais.
E incentivo com o exemplo,
Que o mesmo, façam os iguais.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
Ao pensar em meus iguais,
Sei, não estou sozinho,
E o diálogo monológico,
Não mais mono e menos lógico,
Antes, de singular solilóquio,
Se estabelece em plural..., partícipes.
E assim, percebo que a evolução,
Faz parte de todo o Ser,
De Darwiniana nada tem,
Ela sim é impar, em fato e ação,
Cresce sempre a cada novo viver,
E o Humano das espécies, é o bem.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
É..., acho que estou desperto,
Minha emoção está viva,
A razão..., sendo moldada,
Capto imagens atemporais,
Que olhos comuns não vêem,
Vivo de uma maneira informal,
Transmito em poesia,
A informação que me chega.
Dela..., o verso, faço em fruto,
Não me preocupo em ser ouvido,
Se, de boas palavras desfruto,
Delas não me sou comedido.
Mas..., por estar desperto,
Olho à volta, no dia-a-dia,
Noto a platéia vazia,
O "Diálogo" acaba,
O "dia" "logo" acaba,
Sinto que estou só,
A poesia..., solo de um louco,
A poesia..., diálogo em solilóquio.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
Olinto Simões
- Por que tu me Falas,
Quando meus Ouvidos não te Ouvem?
Falo, porque tu pensas não ouvir,
Mas..., a informação te chega.
Ó Consciência:
- Por que te manténs Amorfa,
Quando a Inconsciência te Informa?
Não, eu não me mantenho disforme,
Apenas aberta em constante mutação.
Ó par de Olhos:
- Por que não Enxergas,
O que a Mente te Mostra?
Enxergo o que à minha frente se coloca,
Mas, de outra visão..., também desfrutas.
Ó Emoção:
- Por que teimas em ser Vencedora,
Quando a Razão não pode ser Derrotada?
Porque sou instinto, e instinto não morre,
A razão pode ser perdida, não a emoção.
Se tu ego, me falas,
E por ti me informo,
Se tu consciência, te manténs aberta,
E por tua causa, mutante sou,
Se tu olhos, enxergas,
E doutra visão adquiro conhecimento,
Se tu emoção, és comigo congênita,
E tu razão, és comigo vivente,
Sou um Ser em perfeição,
Um humano em evolução.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
Creio então, continuar esta vida,
Da maneira que vivo até agora,
Consciente, interajo com meu ego,
Faço dele meu parceiro fiel.
Se, inconsciente separo-me do eu,
Com inteligência formada,
Deixo-me levar sem esforço,
Sentindo a verdade buscada.
Faço-me, pois, de forma presente,
Dualizo e dialogo com o ego,
Permitindo-me ouvi-lo,
Para poder ouvido ser.
Tirando de meus olhos,
A venda não existente,
Enxergo à clareza de sonho,
O que a mente já conhece.
E se consigo tais intentos,
Liberta à emoção,
E livre..., a razão,
Vivo com integralidade.
Mostro ao que vim,
Faço o que me propus,
Atinjo meus objetivos,
Item-a-item, como expus.
Vivo com amor e em Paz,
Sem guerras e sem rivais.
E incentivo com o exemplo,
Que o mesmo, façam os iguais.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
Ao pensar em meus iguais,
Sei, não estou sozinho,
E o diálogo monológico,
Não mais mono e menos lógico,
Antes, de singular solilóquio,
Se estabelece em plural..., partícipes.
E assim, percebo que a evolução,
Faz parte de todo o Ser,
De Darwiniana nada tem,
Ela sim é impar, em fato e ação,
Cresce sempre a cada novo viver,
E o Humano das espécies, é o bem.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
É..., acho que estou desperto,
Minha emoção está viva,
A razão..., sendo moldada,
Capto imagens atemporais,
Que olhos comuns não vêem,
Vivo de uma maneira informal,
Transmito em poesia,
A informação que me chega.
Dela..., o verso, faço em fruto,
Não me preocupo em ser ouvido,
Se, de boas palavras desfruto,
Delas não me sou comedido.
Mas..., por estar desperto,
Olho à volta, no dia-a-dia,
Noto a platéia vazia,
O "Diálogo" acaba,
O "dia" "logo" acaba,
Sinto que estou só,
A poesia..., solo de um louco,
A poesia..., diálogo em solilóquio.
Mas nada disso me afeta,
Sou feliz..., por ser Poeta.
Olinto Simões
Estrada
(a um amigo)
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Ficando aqui dentro de nós
Todas as marcas de seu trabalho
E a dor é apenas uma etapa
Do grande aprendizado
O sofrimento
É o que nos dá polidez
E a alma dos que ficam continua
Porque essa era a sua luta
Manter-se aqui
Para quando estivesse lá
Permanecesse aceso
Em todas as mentes que buscam
O fim da estrada
E o começo da glória
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Alessandro Jucá
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Ficando aqui dentro de nós
Todas as marcas de seu trabalho
E a dor é apenas uma etapa
Do grande aprendizado
O sofrimento
É o que nos dá polidez
E a alma dos que ficam continua
Porque essa era a sua luta
Manter-se aqui
Para quando estivesse lá
Permanecesse aceso
Em todas as mentes que buscam
O fim da estrada
E o começo da glória
Foi quando então
Ele desapareceu entre as estrelas
Alessandro Jucá
Inferno Astral
Ah, esse mundo distante!
Onde a arte é semente de tudo
Onde a flor reascende a poesia
E a vida é movida de amor
Sim, esse mundo esquecido
Que ascende o sonho da alma
E a dor revivida no tempo
Confundiu-se com o próprio temor
Mas se agora no inferno dos astros
Eu pressinto os dias de outrora
Com a luz que guiava meus passos
Vou embora!
Sim, eu volto...
Em um belo dia de agora
Alessandro Jucá
Onde a arte é semente de tudo
Onde a flor reascende a poesia
E a vida é movida de amor
Sim, esse mundo esquecido
Que ascende o sonho da alma
E a dor revivida no tempo
Confundiu-se com o próprio temor
Mas se agora no inferno dos astros
Eu pressinto os dias de outrora
Com a luz que guiava meus passos
Vou embora!
Sim, eu volto...
Em um belo dia de agora
Alessandro Jucá
O Céu Olha pro Chão
O céu olha pro chão
É como se a estrela mais antiga
me olhasse intensa lá do alto
e nesse mesmo espaço, a vida
fitasse seus olhares no asfalto
o que pro céu talvez seja guarida
para mim talvez um cadafalso
e as coisas que eu via no cinema
me acenam suas cores da montanha
enquanto rezas recitadas em novenas
me envolvem em suas teias de aranha
o que pro céu resolve um teorema
para mim as chaves são estranhas
A origem do universo me fascina
E arte, criação que me alimenta
A beleza que atrai minha retina
Não se explica, se entende nem comenta
o que pro céu talvez seja uma sina
Para mim talvez o que se inventa
E assim eu sou feito de metade
Parte céu que me olha do infinito
Parte “chão” que sou eu, humanidade
Coração entre o mal e o bendito
O que pro céu talvez seja vaidade
Para mim talvez o mais bonito
Alessandro Jucá
É como se a estrela mais antiga
me olhasse intensa lá do alto
e nesse mesmo espaço, a vida
fitasse seus olhares no asfalto
o que pro céu talvez seja guarida
para mim talvez um cadafalso
e as coisas que eu via no cinema
me acenam suas cores da montanha
enquanto rezas recitadas em novenas
me envolvem em suas teias de aranha
o que pro céu resolve um teorema
para mim as chaves são estranhas
A origem do universo me fascina
E arte, criação que me alimenta
A beleza que atrai minha retina
Não se explica, se entende nem comenta
o que pro céu talvez seja uma sina
Para mim talvez o que se inventa
E assim eu sou feito de metade
Parte céu que me olha do infinito
Parte “chão” que sou eu, humanidade
Coração entre o mal e o bendito
O que pro céu talvez seja vaidade
Para mim talvez o mais bonito
Alessandro Jucá
Luto
Não se pode rir
enquanto bocas banguelas
mastigam os próprios dentes,
dentes cariados de século XXI
e cariados de deus.
Não podemos rir
enquanto o arroto
é a fartura da carne tecnofágica.
Não se pode dançar
enquanto párias rodopiam o desabrigo
e a pança dos caçadores
está farta com suas presas
os fetos sem orvalho.
Não se pode cantar o som da plenitude
enquanto o oxigênio
é um metro cúbico de cofres.
Não se pode dormir
enquanto o raio do sol
é o especto da morte.
Não se pode andar
enquanto o extrato rude
da história fere tuas mãos
e as veias cozem o cadáver.
Mas,
quem sabe nem tudo está perdido...
Vamos riam!
eufóricos vassalos
Sim!!! Podem rir
enquanto os dentes atrofiam teus intestinos
no pasto do apátrida.
Sorria! Até quando tua fome
for teu intestino e tua moléstia
mais um cofre da tortura.
Dance! Dance!
enquanto a forca do futuro
não te enforca no cadafalso do presente.
Vamos! Exulte eufórico tua grife,
tua droga, teu PC e as sondas falantes
presas na tua cintura;
até saberes que és um mendigo
da tua vida, um álibe para o abate
no fantástico matadouro Homo Sapiens.
Vamos!
nosso pasto
é a nossa raça
espécie de verme vermicida
destroço das matemáticas
um cálculo
do aquém
Tullio Stefano
enquanto bocas banguelas
mastigam os próprios dentes,
dentes cariados de século XXI
e cariados de deus.
Não podemos rir
enquanto o arroto
é a fartura da carne tecnofágica.
Não se pode dançar
enquanto párias rodopiam o desabrigo
e a pança dos caçadores
está farta com suas presas
os fetos sem orvalho.
Não se pode cantar o som da plenitude
enquanto o oxigênio
é um metro cúbico de cofres.
Não se pode dormir
enquanto o raio do sol
é o especto da morte.
Não se pode andar
enquanto o extrato rude
da história fere tuas mãos
e as veias cozem o cadáver.
Mas,
quem sabe nem tudo está perdido...
Vamos riam!
eufóricos vassalos
Sim!!! Podem rir
enquanto os dentes atrofiam teus intestinos
no pasto do apátrida.
Sorria! Até quando tua fome
for teu intestino e tua moléstia
mais um cofre da tortura.
Dance! Dance!
enquanto a forca do futuro
não te enforca no cadafalso do presente.
Vamos! Exulte eufórico tua grife,
tua droga, teu PC e as sondas falantes
presas na tua cintura;
até saberes que és um mendigo
da tua vida, um álibe para o abate
no fantástico matadouro Homo Sapiens.
Vamos!
nosso pasto
é a nossa raça
espécie de verme vermicida
destroço das matemáticas
um cálculo
do aquém
Tullio Stefano
terça-feira, 21 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Dois Poemas do Poeta Czeslaw Milosz
DESCRIÇÃO HONESTA DE SI MESMO JUNTO A UM COPO DE WHISKY NO AEROPORTO, DIGAMOS EM MINNEAPOLIS
Meus ouvidos ouvem cada vez menos das con-versas, meus olhos vão ficando mais fracos, mas não se fartaram.
Vejo suas pernas em minissaias, em calças com-pridas ou tecidos voláteis,
Observo uma a uma, suas bundas e coxas, pen-sativo, acalentado por sonhos pornô.
Velho depravado, é a cova que te espera, não os jogos e folguedos da juventude
------------------------ ------------------------------
Não é verdade, faço apenas o que sempre fiz, compondo cenas dessa terra sob as ordens de uma imaginação erótica.
Não desejo a estas criaturas, desejo tudo, e elas são como o signo de uma convivência extática.
Não é minha culpa se somos feitos assim, metade contemplação desinteressada, e metade apetite.
Se após a morte eu chegar ao Céu, lá deve ser como aqui, só que me terei desfeito da obtu-sidade dos sentidos e do peso dos ossos.
Tornado puro olhar, sorverei ainda as propor-ções do corpo humano, a cor da íris, uma rua de Paris em junho de manhãzinha, toda a in-compreensível, a incompreensível multidão das coisas visíveis
--
T.S.
Meus ouvidos ouvem cada vez menos das con-versas, meus olhos vão ficando mais fracos, mas não se fartaram.
Vejo suas pernas em minissaias, em calças com-pridas ou tecidos voláteis,
Observo uma a uma, suas bundas e coxas, pen-sativo, acalentado por sonhos pornô.
Velho depravado, é a cova que te espera, não os jogos e folguedos da juventude
------------------------ ------------------------------
Não é verdade, faço apenas o que sempre fiz, compondo cenas dessa terra sob as ordens de uma imaginação erótica.
Não desejo a estas criaturas, desejo tudo, e elas são como o signo de uma convivência extática.
Não é minha culpa se somos feitos assim, metade contemplação desinteressada, e metade apetite.
Se após a morte eu chegar ao Céu, lá deve ser como aqui, só que me terei desfeito da obtu-sidade dos sentidos e do peso dos ossos.
Tornado puro olhar, sorverei ainda as propor-ções do corpo humano, a cor da íris, uma rua de Paris em junho de manhãzinha, toda a in-compreensível, a incompreensível multidão das coisas visíveis
--
T.S.
domingo, 19 de julho de 2009
Desinfância
Aqui a infância faleceu
enterrara o primeiro brinquedo
junto da foto de mamãe.
que jamais conheceu
cresceu
tornou-se um brinquedo
nas mãos de Deus
A vida seu padrasto
e sua mãe
em cada mulher que amou.
Wilson Roberto Nogueira
enterrara o primeiro brinquedo
junto da foto de mamãe.
que jamais conheceu
cresceu
tornou-se um brinquedo
nas mãos de Deus
A vida seu padrasto
e sua mãe
em cada mulher que amou.
Wilson Roberto Nogueira
sábado, 18 de julho de 2009
A Morte da Poesia
“A poesia está morta
Mas juro que não fui eu...”
Zeca Baleiro jura que não foi ele.
Mas quem matou a poesia?
Será que foi o lirismo desvairado
dos poetas de plantão?
Ou a mente fria dos lunáticos
da televisão?
Que poesia? Que morte?
Por favor diz-me a verdade...
Que a realidade atrás da porta
É uma poesia morta...
Que a virgem do pedestal quase morta
lava o sexo com água mineral
E que o bobo da corte
Cobriu com um jornal do mês passado
O sexo exposto
Do rei posto...
Mas quem matou a poesia?
Nonato Nogueira
18 de julho de 2009
Jornal do Leitor- O Povo
CONHEÇA O GRUPO EDUCAÇÃO PARA O PENSAR
Para fazer parte da lista de discussão, envie um e-mail para:
educacaoparaopensar -subscribe@ yahoogrupos. com.br
Acesse:
http://nonatonoguei ra.blogspot. com/
http://filosofiapar acriancas. blig.ig.com. br
http://historia- ceara.vilabol. uol.com.br/ GovernadoresdoCe ara.html
Mas juro que não fui eu...”
Zeca Baleiro jura que não foi ele.
Mas quem matou a poesia?
Será que foi o lirismo desvairado
dos poetas de plantão?
Ou a mente fria dos lunáticos
da televisão?
Que poesia? Que morte?
Por favor diz-me a verdade...
Que a realidade atrás da porta
É uma poesia morta...
Que a virgem do pedestal quase morta
lava o sexo com água mineral
E que o bobo da corte
Cobriu com um jornal do mês passado
O sexo exposto
Do rei posto...
Mas quem matou a poesia?
Nonato Nogueira
18 de julho de 2009
Jornal do Leitor- O Povo
CONHEÇA O GRUPO EDUCAÇÃO PARA O PENSAR
Para fazer parte da lista de discussão, envie um e-mail para:
educacaoparaopensar -subscribe@ yahoogrupos. com.br
Acesse:
http://nonatonoguei ra.blogspot. com/
http://filosofiapar acriancas. blig.ig.com. br
http://historia- ceara.vilabol. uol.com.br/ GovernadoresdoCe ara.html
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Arte
Quantas vezes partir
para ser inteiro?
Quantas vezes
ser inteiro
para partir?
Um homem parte
é partido
parte-se
Para encontrar sua outra parte?
Parti tantas vezes
outras me parti nalguma parte
Nesta parte que busca a parte
da parte da outra parte da parte
que parte
se parte
reparte
Asas nascem inteiras
Arte
Hamilton Faria
em Encântaros
para ser inteiro?
Quantas vezes
ser inteiro
para partir?
Um homem parte
é partido
parte-se
Para encontrar sua outra parte?
Parti tantas vezes
outras me parti nalguma parte
Nesta parte que busca a parte
da parte da outra parte da parte
que parte
se parte
reparte
Asas nascem inteiras
Arte
Hamilton Faria
em Encântaros
Véu
A Helena Kolody
persigo a utopia desejável mundo transparente
mas se pego as asas do dia e vôo sou real
mais real que o véu que me separa do fogo e da lágrima
Céus de todas as Eras o limite é o sonho
Hamilton Faria
persigo a utopia desejável mundo transparente
mas se pego as asas do dia e vôo sou real
mais real que o véu que me separa do fogo e da lágrima
Céus de todas as Eras o limite é o sonho
Hamilton Faria
Assinar:
Postagens (Atom)