quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Quantas vezes você se arriscou
a traçar o seu destino ?
Quantas vezes você se deslumbrou
pelo caminho
mudou seu rumo
e viveu seu caminho absurdo?
Quantas vezes você se perdeu
neste raio deste caminho absurdo ?
...e quantas vezes você deu
de cara com você mesmo voltando ?
Quantas vezes você se permitiu
viver e deu um voo para a liberdade?
Cristina Siqueira
Cristal divinatório
Em meio a formas exatas e precisas, lá estava eu. Tão rodeada de mim mesma que não pude deixar de tocá-lo.Tão dura água onde os dedos deixam vestígios,marcas , provas.Ainda pensava em olhá-lo quando fui capturada.Atravessei sua falsa transparência.Procurei Alice. Ouvi segredos e compartilhei dores.Um cristal de adivinhações que conhece todos os meus truques.Sua transparência denuncia meus vícios.Atônita tento ficar sózinha ,mas qual,dentro de um espelho há milhões de nós mesmos .Depois que ultrpassei a barreira desta tão dura água sou o avesso de mim mesma .Abandonei meu reflexo na prata polida e alguns instantes em retratos maltirados .Agora registro lufadas , bafos de vida .Descubro como sou .O que sou .Vou ficando dentro dessa gruta silenciosa esperando por mim para ,apenas , me olhar .Lembrar como sou .Dentro dos espelhos moram nossas almas , do lado de fora somos apenas reflexos.
Iara Lessa
jornalista
fonte:O que narciso acha feio.Nicolau.ano VII.n52
A face da fonte
De início, nada;na clara superfície,a face refletida é a sua- perfeição, imagem -aequétipo do belo.Mas além dessa que vê, há outra , que a fonte não reflete ,nem muito menos pode ver em seu momento de verdade .Sobre ela, Narciso reflete agora: o belo em que sói gratificar-se é apenas o que vê na face da fonte, ou antes a imagem vista por ela , unidimensional, daguerreótipo das águas . Só ele tem acesso às múltiplas feições ,aos heterônimos íntimos,às cambiantes prismáticas, estroboscópicas, que estão além, por trás da própria face.Se pudesse , debruçado sobre a fonte , tocando a com a mão ,fender em mil estilhaços líquidos esse retrato estático, e dentro dele ver o que só vê a mente , o belo começaria a desfazer-se: o tempo , a solidão,o aquém do sonho, a pequenez de tudo, essa ânsia insopitada- o feio.
Ivo Barroso
tradutor
fonte:O que narciso acha feio.in Mosaico.Nicolau ano VII.n52
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
A flor dentro da árvore 5
“Sinal cifrado para enovelar o divino”
Bárbara Lia
Trinta e dois ventos
da rosa dos ventos
Vinte e um gramas
do peso da alma
Oito países
a comandar a Terra
UM Deus louco
pelas ruas bombardeadas
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
Bárbara Lia
Trinta e dois ventos
da rosa dos ventos
Vinte e um gramas
do peso da alma
Oito países
a comandar a Terra
UM Deus louco
pelas ruas bombardeadas
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
O Natal já passou ?
Muita gente acha, ou pensa que sim. Eu digo que "Não". O que passou foi uma festa cristã, que a maioria dos cristãos só se lembra de comemorar no dia 25 de dezembro.
O que comemoram é o aniversário de nascimento de Jesus, inegavelmente, um "Grande Homem".
No entanto, o aniversário é dele, mas, todos dizem uns aos outros, "Feliz Natal", que originalmente quer dizer, "Feliz Nascimento".
Essa já é a uma incoerência. Outra é que amanhã, segunda-feira, os chamados, "Sentimentos Natalinos", já terão desaparecido. As pessoas voltarão aos afazeres normais, sem lembrar o que faziam há apenas, três dias.
Na seqüência ilógica da vida, todos estarão se preocupando com o "Passar De Ano", com o que vestir, (se a coisa da cor tal, representa isso ou aquilo), o que comer, (se a carne tem que ser do bicho tal porque ele faz isso ou aquilo), onde passar, (porque depende de como agir para que o ano novo seja isso ou aquilo).
Enfim, as pessoas continuaram como eram, nada mudou.
A mediocridade espraiada, com ondas às vezes grandes outras, pequenas marolas, entretanto, na média da maré vivente, continuam medíocres.
Da minha parte, desejo do fundo de meu coração, que a cada dia, ao despertar, você perceba que nasceu novamente, (poderia ter morrido durante a noite), ou como dizem, os mais adiantados místicos ou filósofos, "O Sono É Uma Pequena Morte". Então receba de minha parte, reafirmo, o meu "Feliz Natal Pelo Seu Despertar".
Ah.., e sobre "Jesus", viva como ele ensinou, mas, o que ele ensinou sobre a vida, não o que algumas religiões querem que você viva, se sacrificando por outrem, se flagelando, se martirizando. Ele deu demonstrações fantásticas de "Verdade, Integridade, Ética", e porque não dizer, até de "Santidade".
É aquela cara, foi, e continua sendo..., "GRANDE".
No "Ano Novo" escrevo mais sobre a minha maneira de ver como as pessoas se conduzem. Quem quiser que aguarde.
Olinto A Simões
O que comemoram é o aniversário de nascimento de Jesus, inegavelmente, um "Grande Homem".
No entanto, o aniversário é dele, mas, todos dizem uns aos outros, "Feliz Natal", que originalmente quer dizer, "Feliz Nascimento".
Essa já é a uma incoerência. Outra é que amanhã, segunda-feira, os chamados, "Sentimentos Natalinos", já terão desaparecido. As pessoas voltarão aos afazeres normais, sem lembrar o que faziam há apenas, três dias.
Na seqüência ilógica da vida, todos estarão se preocupando com o "Passar De Ano", com o que vestir, (se a coisa da cor tal, representa isso ou aquilo), o que comer, (se a carne tem que ser do bicho tal porque ele faz isso ou aquilo), onde passar, (porque depende de como agir para que o ano novo seja isso ou aquilo).
Enfim, as pessoas continuaram como eram, nada mudou.
A mediocridade espraiada, com ondas às vezes grandes outras, pequenas marolas, entretanto, na média da maré vivente, continuam medíocres.
Da minha parte, desejo do fundo de meu coração, que a cada dia, ao despertar, você perceba que nasceu novamente, (poderia ter morrido durante a noite), ou como dizem, os mais adiantados místicos ou filósofos, "O Sono É Uma Pequena Morte". Então receba de minha parte, reafirmo, o meu "Feliz Natal Pelo Seu Despertar".
Ah.., e sobre "Jesus", viva como ele ensinou, mas, o que ele ensinou sobre a vida, não o que algumas religiões querem que você viva, se sacrificando por outrem, se flagelando, se martirizando. Ele deu demonstrações fantásticas de "Verdade, Integridade, Ética", e porque não dizer, até de "Santidade".
É aquela cara, foi, e continua sendo..., "GRANDE".
No "Ano Novo" escrevo mais sobre a minha maneira de ver como as pessoas se conduzem. Quem quiser que aguarde.
Olinto A Simões
Natal
" e um menino pequeno os guiará"
( Isaías, 11:6 )
As crianças têm o próprio tempo.
O relógio, o calendário não fazem sentido. Se os usam, serão apenas brinquedos.
O olhar delas é puro encantamento.
Enquanto adultos veem obrigações e responsabilidades do tempo, as crianças veem todo o trajeto da vida.
O olhar infantil sobe e desce desvendando misteriosos voos, asas, ruídos, cores, formas e cheiros.
Todos sabemos que a infância é o período mais poético do ser humano, mas a vida adulta insiste em suprimi-la o mais rápido possível.
Apesar de sabermos que para entrar no paraíso deveremos ter um olhar de criança, tornamo-nos cegos.
E as enchemos de brinquedos, cada vez mais virtuais, para que parem de olhar por aí, bisbilhotando mundos inúteis.
Para quem, com olhos infantis, observa o mundo, não esqueça de deixar renascer a criança dentro de si. E, dê-lhe a mão e brinque o Natal.
Deisi Perin
( Isaías, 11:6 )
As crianças têm o próprio tempo.
O relógio, o calendário não fazem sentido. Se os usam, serão apenas brinquedos.
O olhar delas é puro encantamento.
Enquanto adultos veem obrigações e responsabilidades do tempo, as crianças veem todo o trajeto da vida.
O olhar infantil sobe e desce desvendando misteriosos voos, asas, ruídos, cores, formas e cheiros.
Todos sabemos que a infância é o período mais poético do ser humano, mas a vida adulta insiste em suprimi-la o mais rápido possível.
Apesar de sabermos que para entrar no paraíso deveremos ter um olhar de criança, tornamo-nos cegos.
E as enchemos de brinquedos, cada vez mais virtuais, para que parem de olhar por aí, bisbilhotando mundos inúteis.
Para quem, com olhos infantis, observa o mundo, não esqueça de deixar renascer a criança dentro de si. E, dê-lhe a mão e brinque o Natal.
Deisi Perin
domingo, 26 de dezembro de 2010
Velha da tribo
Para onde vai Dona Olinda ?
Levar a beca no pasto ?
Faz tempo que viajas
sem reclamar com os anos
ou com a partida dos filhos.
Por aqueles que foram
teu coração calado guarda
a emoção sólida sobrevivente
da raíz familiar contente.
De onde viestes ?
a festa aconteceu
e não participaste.
Para onde vai Dona Olinda ?
Chegou a hora de entoar
o canto a todos os pássaros.
A tarde bate em nossa porta.
Batista de Pilar
Levar a beca no pasto ?
Faz tempo que viajas
sem reclamar com os anos
ou com a partida dos filhos.
Por aqueles que foram
teu coração calado guarda
a emoção sólida sobrevivente
da raíz familiar contente.
De onde viestes ?
a festa aconteceu
e não participaste.
Para onde vai Dona Olinda ?
Chegou a hora de entoar
o canto a todos os pássaros.
A tarde bate em nossa porta.
Batista de Pilar
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei à patria
que o pariu
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que o rei ainda não sabe
se vai, se fica
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao rei
que o povo fica.
Nicolas Behr
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei à patria
que o pariu
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que o rei ainda não sabe
se vai, se fica
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao rei
que o povo fica.
Nicolas Behr
O encontro
A beleza de um poema
não está na escrita
na métrica ou na rima.
A beleza da poesia
está dentro de quem a lê.
Descobre e a recria
Revelando o encanto
De saber-se poeta
Na luta do dia-a-dia.
Como a abelha
que beija a flor,
transformando beleza
em doce sabor.
João Bello
não está na escrita
na métrica ou na rima.
A beleza da poesia
está dentro de quem a lê.
Descobre e a recria
Revelando o encanto
De saber-se poeta
Na luta do dia-a-dia.
Como a abelha
que beija a flor,
transformando beleza
em doce sabor.
João Bello
natalino sentimento
Natalino sentimento
O nascimento de atividades
Em constante movimento
Beto Xavier
O nascimento de atividades
Em constante movimento
Beto Xavier
A flor dentro da árvore 4
“A lentidão das palavras do arcanjo ao acordá-la”
O sagrado despe as ilusões
e abraça as árvores mortas
Suas folhas azul esmaecido
qual manto da Virgem de Cambrai
Os ossos das árvores adoeceram
e elas morreram – azuis -
Antes que tornassem brancos
os seus cabelos.
Bárbara Lia
O sagrado despe as ilusões
e abraça as árvores mortas
Suas folhas azul esmaecido
qual manto da Virgem de Cambrai
Os ossos das árvores adoeceram
e elas morreram – azuis -
Antes que tornassem brancos
os seus cabelos.
Bárbara Lia
sábado, 25 de dezembro de 2010
O que fez para merecer
a graça de um dia com sol , poucas dores,
e uma caneca de café preto?
Talvez tenha sido
por um jeito de olhar para os outros
e saber que é assim que eles são,
e pronto,
sem exigir
que se abandonem ao que não lhes cabe.
Neuzi Barbarini
Autora de Poesia de uma mulher Comum(Editora Scortecci ).
a graça de um dia com sol , poucas dores,
e uma caneca de café preto?
Talvez tenha sido
por um jeito de olhar para os outros
e saber que é assim que eles são,
e pronto,
sem exigir
que se abandonem ao que não lhes cabe.
Neuzi Barbarini
Autora de Poesia de uma mulher Comum(Editora Scortecci ).
Quaderna
Quatro pontos cardeais
Quatro estações do ano
Quatro cantos num cubo
Quatro linhas de um campo
Quatro trevos que descubro
Quatro lados da moldura
Quatro elementos na natura
Quatro pontas de uma estrela
Quatro balas de alcaçus
Quatro tempos num compasso
Quatro horas da manhã
Quatro rodas num carro
Quatro sementes de romã
Quatro sinais da cruz
Quatro mundos por segundo
Quatro quartos numa casa
Quatro pernas de uma mesa
Quatro pessoas numa mesma
Quatro pássaros sem asas
Quatro brilhos nasta espuma
Mas só uma vida, só uma.
Rodrigo Garcia Lopes.
Autor de Nômada(Lamparina,2004)
Quatro estações do ano
Quatro cantos num cubo
Quatro linhas de um campo
Quatro trevos que descubro
Quatro lados da moldura
Quatro elementos na natura
Quatro pontas de uma estrela
Quatro balas de alcaçus
Quatro tempos num compasso
Quatro horas da manhã
Quatro rodas num carro
Quatro sementes de romã
Quatro sinais da cruz
Quatro mundos por segundo
Quatro quartos numa casa
Quatro pernas de uma mesa
Quatro pessoas numa mesma
Quatro pássaros sem asas
Quatro brilhos nasta espuma
Mas só uma vida, só uma.
Rodrigo Garcia Lopes.
Autor de Nômada(Lamparina,2004)
"o peso da mágoa"
para começar um blues no violão
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição
para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão
a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito
para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito
um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração
Fernando Koproski
Autor de Nunca Seremos Tão Felizes como Agora (7Letras,2009)
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição
para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão
a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito
para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito
um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração
Fernando Koproski
Autor de Nunca Seremos Tão Felizes como Agora (7Letras,2009)
Atirou na mesa a vida(um
saco de feijão) espalhando as
mãos em palmas de um
público particular.Não
pensou em temperos antes da
escolha dos grãos.Excluiu
simplesmente os carunchos
porque não servem à fome.
Transbordou junto à água os
aplausos.Escorreu, junto ao
pó,bastidores.Não tombou
no azulejo em deslize porque
raízes nos pés sempre em
broto...Regulou da panela a
pressão (o tempo que se
demora em fervura, trajetos
lentamente macios).
Lindsey Rocha
Autora do livro Nervuras do Silêncio (7Letras).
saco de feijão) espalhando as
mãos em palmas de um
público particular.Não
pensou em temperos antes da
escolha dos grãos.Excluiu
simplesmente os carunchos
porque não servem à fome.
Transbordou junto à água os
aplausos.Escorreu, junto ao
pó,bastidores.Não tombou
no azulejo em deslize porque
raízes nos pés sempre em
broto...Regulou da panela a
pressão (o tempo que se
demora em fervura, trajetos
lentamente macios).
Lindsey Rocha
Autora do livro Nervuras do Silêncio (7Letras).
Àquela a Quem Eu Nunca Tinha Escrito
Àquela que rolou sobre meu parco limite de poeta,
e nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
de ser musa daquele que mal sobrou por aqui:
a quem meus pedaços são obras completas,
a ela , a que ainda vê gume nessas cegas setas,
vai o lapso do melhor verso que eu jamais escrevi.
Ivan Justen Santana
http://www.ossurtado.blogspot.com/
e nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
de ser musa daquele que mal sobrou por aqui:
a quem meus pedaços são obras completas,
a ela , a que ainda vê gume nessas cegas setas,
vai o lapso do melhor verso que eu jamais escrevi.
Ivan Justen Santana
http://www.ossurtado.blogspot.com/
A flor dentro da árvore 2
“Até que os serafins acenem com seus chapéus brancos”
Bárbara Lia
Não nasci para resfriar o mundo
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas
Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway
Sou mar e trovão no coração
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
Bárbara Lia
Não nasci para resfriar o mundo
Neste lerdo cortejo de omissões
Estas palavras interditas
Suspensas
Não vim quebrar as pernas do sol
Silenciar cada bemol
Não vim para arrebentar o anzol
Do velho de Hemingway
Sou mar e trovão no coração
Nasci para amar sem lastro
Para dançar no pátio
It is my way
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
A flor dentro da árvore 3
“Doce como o massacre de sóis”
Bárbara Lia
Oito canhões na praça de guerra
Apontam para o peixe
Que traz a paz nas guelras
Quatro gaivotas suicidas
Lambem o babado azulado
Do triste mar-flamenco
Lembro um filme de Babenco:
Ana e o vôo
Mariposas no quarto lúgubre
Suas mãos em concha
A esmagar a eternidade insalubre
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
Bárbara Lia
Oito canhões na praça de guerra
Apontam para o peixe
Que traz a paz nas guelras
Quatro gaivotas suicidas
Lambem o babado azulado
Do triste mar-flamenco
Lembro um filme de Babenco:
Ana e o vôo
Mariposas no quarto lúgubre
Suas mãos em concha
A esmagar a eternidade insalubre
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Nesse mundo absurdo e escuro
quanta dor ainda pode ser ouvida
quando almas entre morte e vida
claman entre oprimidos por trás de muros.
Vejo nascer desses olhos desatentos
a dor. lúgubres e sem esperança ,
daquele que se desespera e não alcança
e que já dorme sem alento
Deixando-se afligir-se a cada intento
de legar ao homem em sua história
o sangue derramado de cada vitória
quase obscurecido pelo tempo não lento
Que leva de nós esta mórbida lembrança
que de exemplo ao infortúnio desta lida
nos encurrá-la como em beco sem saída
e do futuro entecipa o furto da nossa esperança.
Luciane Girardi
quanta dor ainda pode ser ouvida
quando almas entre morte e vida
claman entre oprimidos por trás de muros.
Vejo nascer desses olhos desatentos
a dor. lúgubres e sem esperança ,
daquele que se desespera e não alcança
e que já dorme sem alento
Deixando-se afligir-se a cada intento
de legar ao homem em sua história
o sangue derramado de cada vitória
quase obscurecido pelo tempo não lento
Que leva de nós esta mórbida lembrança
que de exemplo ao infortúnio desta lida
nos encurrá-la como em beco sem saída
e do futuro entecipa o furto da nossa esperança.
Luciane Girardi
NO JARDIM DE VÊNUS
SÉPIA
Bárbara Lia
Minha luxúria é sépia
Habita estúdios de 1930
Estouro de purpurina
A cada flash do tesão
Minha luxúria – Polaróide antiga
Imprime postais esmaecidos
Sorrisos de conta-gotas
Minha luxúria lacrou
O livro do amor
- utopia dos desgarrados –
(Adeus suspiros de Monalisa
Carícias de carpideira
Despedidas na soleira)
Minha luxúria é parto à revelia
Quando chegas com fórceps
Quando chegas com toques
Quando tocas meu clitóris
Quando roças meus mamilos
Quando afogas o amor
No mar dos improváveis
E ressuscitas O DESEJO
Retirando-me das entranhas de Eros
Pra me batizar com teu sêmen
Abençoado sêmen
Amém
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010
Bárbara Lia
Minha luxúria é sépia
Habita estúdios de 1930
Estouro de purpurina
A cada flash do tesão
Minha luxúria – Polaróide antiga
Imprime postais esmaecidos
Sorrisos de conta-gotas
Minha luxúria lacrou
O livro do amor
- utopia dos desgarrados –
(Adeus suspiros de Monalisa
Carícias de carpideira
Despedidas na soleira)
Minha luxúria é parto à revelia
Quando chegas com fórceps
Quando chegas com toques
Quando tocas meu clitóris
Quando roças meus mamilos
Quando afogas o amor
No mar dos improváveis
E ressuscitas O DESEJO
Retirando-me das entranhas de Eros
Pra me batizar com teu sêmen
Abençoado sêmen
Amém
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010
A flor dentro da árvore
DO LIVRO INÉDITO
‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’
BÁRBARA LIA
“Dentro da minha flor me escondo…”
Baile das harpias
Em árvores carbonizadas
Rindo do fim
Fumaça sangra
Nosso jardim
A alma do éden
Adoentada.
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
fonte:blog leituras favre
‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’
BÁRBARA LIA
“Dentro da minha flor me escondo…”
Baile das harpias
Em árvores carbonizadas
Rindo do fim
Fumaça sangra
Nosso jardim
A alma do éden
Adoentada.
Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor
fonte:blog leituras favre
NO JARDIM DE VÊNUS II
Nunca direi – Te amo!
Bárbara Lia
Nunca direi – Te amo! Posto que é desejo santo
E traz teu rosto – Miragem que pousa na retina
Basta! A primavera garante que elas acabaram
: É o fim das lágrimas. Líquidos apenas outros -
Nosso Gozo. Ainda que embaçado pelas folhas
Do outono que vivemos – É vermelha flor que
Rola na alameda e é vermelho o telefone que
Traz este mar sonoro – Alma ancorada em voz
E quando suplicas que eu te consagre em rito
Eu me banho incensada em orquídeas, jasmins
E quando amanhece e meu ser desperta – Eis:
A primeira miragem – teu rosto dentro de mim
Tu que estás dentro de mim, tu que estás aqui
Dentro de mim. Teu sopro corpo palavra e pau
Dentro de mim. Teu olhar – vidro que parte as
Paredes e me invade. Logo ali a garota sonha -
Tolices ancestrais: Amor eterno casar ser feliz
A pássara que rega com sua aura o raio da lua
Morre de pena da garota que crê – Amor esta
Utopia Mor. O teu grito é o eco do meu – Nós
Cremos sim é no desejo insano inaugurando o
Sol ardente de Eros e a Lua escandalosa dela –
Poderosa Afrodite – Neste intercâmbio voraz:
Tua sutileza que abre minha vulva sem tocar;
Minha loucura: A endurecer teu pau e eriçar
Pelos – Nós nos buscamos na manhã – Neste
Tudo de amar. E quando despes meu vestido
Nada acima da pele. Nada no ar. A não ser a
Canção. Nada a passear no chão – E o mundo
Não sabe que ali – naquela janela – É o Éden
A coberta da cama agora é nuvem. Soro vivo
– teu sêmen que me lava poro a poro. Sim!
A consagração da vida em coito puro a curar
Todo o cansaço, agonia, dores, temores gris
:: O desejo saciado é o céu que nos visita ::
:: O desejo saciado é o amor envelhecido ::
O desejo é um velho sábio, que sacode o ar
E segue sua trilha morto de pena do amor -
Este impostor – Que há séculos e séculos e
Séculos amém nubla esconde a dádiva mor
– Eu te desejo – Tu me desejas
Utopia não nos sacia. Só o desejo -
Só o desejo que chegou sem aviso
Registro, AR – telegrama onírico à
Nossa frente – A nos gritar para não adiar
Teu desejo – Meu desejo – Murmuramos:
Que Eros nos Proteja! Nos Proteja! AMÉM
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010)
Fonte:blog leituras favre
Bárbara Lia
Nunca direi – Te amo! Posto que é desejo santo
E traz teu rosto – Miragem que pousa na retina
Basta! A primavera garante que elas acabaram
: É o fim das lágrimas. Líquidos apenas outros -
Nosso Gozo. Ainda que embaçado pelas folhas
Do outono que vivemos – É vermelha flor que
Rola na alameda e é vermelho o telefone que
Traz este mar sonoro – Alma ancorada em voz
E quando suplicas que eu te consagre em rito
Eu me banho incensada em orquídeas, jasmins
E quando amanhece e meu ser desperta – Eis:
A primeira miragem – teu rosto dentro de mim
Tu que estás dentro de mim, tu que estás aqui
Dentro de mim. Teu sopro corpo palavra e pau
Dentro de mim. Teu olhar – vidro que parte as
Paredes e me invade. Logo ali a garota sonha -
Tolices ancestrais: Amor eterno casar ser feliz
A pássara que rega com sua aura o raio da lua
Morre de pena da garota que crê – Amor esta
Utopia Mor. O teu grito é o eco do meu – Nós
Cremos sim é no desejo insano inaugurando o
Sol ardente de Eros e a Lua escandalosa dela –
Poderosa Afrodite – Neste intercâmbio voraz:
Tua sutileza que abre minha vulva sem tocar;
Minha loucura: A endurecer teu pau e eriçar
Pelos – Nós nos buscamos na manhã – Neste
Tudo de amar. E quando despes meu vestido
Nada acima da pele. Nada no ar. A não ser a
Canção. Nada a passear no chão – E o mundo
Não sabe que ali – naquela janela – É o Éden
A coberta da cama agora é nuvem. Soro vivo
– teu sêmen que me lava poro a poro. Sim!
A consagração da vida em coito puro a curar
Todo o cansaço, agonia, dores, temores gris
:: O desejo saciado é o céu que nos visita ::
:: O desejo saciado é o amor envelhecido ::
O desejo é um velho sábio, que sacode o ar
E segue sua trilha morto de pena do amor -
Este impostor – Que há séculos e séculos e
Séculos amém nubla esconde a dádiva mor
– Eu te desejo – Tu me desejas
Utopia não nos sacia. Só o desejo -
Só o desejo que chegou sem aviso
Registro, AR – telegrama onírico à
Nossa frente – A nos gritar para não adiar
Teu desejo – Meu desejo – Murmuramos:
Que Eros nos Proteja! Nos Proteja! AMÉM
Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.
Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.
Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.
Obra
O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010)
Fonte:blog leituras favre
A torneira e a água
Uma das imagens mais antigas da minha vida foi uma torneira velha, rosqueada num pedaço de cano enferrujado, que encontrei em alguma rua da minha infância. Estava com um vizinho da mesma idade que, afinal, foi testemunha do meu projeto de engenharia. “Se a gente espetar esse cano na terra e esperar um pouco, é só abrir a torneira e vai jorrar água”. As palavras, reinvento-as agora, mas a ideia era essa. Uma lógica afinal irretocável, fruto da atenta observação de muitas torneiras em muitos quintais, brotando da terra como apoio de um cano – todas funcionando. Por que a minha não funcionaria?
Era preciso escolher bem o lugar, de terra mais fofa, para facilitar a implantação daquele breve aparelho, e de tanto procurar acabei voltando para casa, com a assessoria do vizinho, tão ansioso quanto eu para comprovar a tese. Era mesmo uma euforia – uma torneira pessoal, com água à vontade, para criar uma usina particular, encher baldes de plástico, fazer lama, barro e – diriam as mães – emporcalhar o mundo.
Nos fundos de casa, o melhor ponto, decidi, seria próximo da parede para que ninguém tropeçasse na torneira. A terra seca ali – inútil tentar abrir um buraco com as unhas, mas tentamos.
– Tem de enterrar muito fundo? – o vizinho perguntou, olhando as unhas sujas.
– Assim assim – expliquei com um gesto vago das mãos para manter o comando técnico da operação. Mas também percebi que, com os dedos, o trabalho seria difícil. Em dois minutos encontrei uma faca velha e me pus a cavoucar o buraco, sob o olhar atento do vizinho aprendiz. Hoje divago se a atenção se devia à dúvida de que a torneira funcionasse ou se pela ansiedade de um milagre próximo, simples, funcional e lógico.
Buraco pronto e razoavelmente profundo, espetei o cano com capricho. O vizinho encheu a folga com terra e pressionou-a bem em torno do cano para deixar a obra firme e segura. Era hora de abrir a torneira, o que fiz com parcimônia e certa solenidade, talvez preocupado com os respingos do jorro d’água.
Nada. Ficamos contemplando a torneira aberta e cheia de vento durante alguns segundos, cabecinhas fervendo atrás de uma boa explicação. Senti a condescendência generosa do vizinho diante do fracasso que, agora, era inteiramente meu: “Talvez precise esperar um pouco para a água subir”. Desconfiei de que ele sorria. Fechei e abri de novo a torneira, mas não pensava mais na água – apenas na profunda injustiça de que eu estava sendo vítima.
Mais de meio século depois, relembro o episódio para me assegurar de que, de fato, nunca fui precoce. Tento lembrar em que momento da infância Jean Piaget localiza o estalo abstrato capaz de entender a relação entre a água e a torneira, só para saber se meu atraso era grande. Não importa – passei o resto da vida espetando canos na terra para ver se jorrava água. Dizem que às vezes dá certo.
Cristovão Tezza.
Gazeta do Povo21/12/2010 |
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
RÉQUIEM
E meu poema tornou-se sangue
Tornou-se vinho, fel, paixão...
Foi água presa, aurora e mangue,
Mas não nasceu da inspiração.
.
E o meu poema teve as dores
De um texto pobre declamado,
Teve desilusões e teve amores,
Porém não fora inspirado.
.
E o meu poema teve alegrias,
Foi tão pequeno e infinito
Com pretensões tolas, tardias,
E só morreu por ser escrito.
.
O.T.Velho
Tornou-se vinho, fel, paixão...
Foi água presa, aurora e mangue,
Mas não nasceu da inspiração.
.
E o meu poema teve as dores
De um texto pobre declamado,
Teve desilusões e teve amores,
Porém não fora inspirado.
.
E o meu poema teve alegrias,
Foi tão pequeno e infinito
Com pretensões tolas, tardias,
E só morreu por ser escrito.
.
O.T.Velho
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
TREJEITOS E GESTOS
E o meu poema fez-se velho
Surgiu, um dia, amarrotado
Me fez lembrar um evangelho
Que tinha algo anotado.
.
E o meu poema fez-se carne
De condição inconsistente
Já não podia mais deixar-me
Era meu corpo ali presente.
.
E o meu poema fez-se tudo
Numa sequencia interminável
Parou um dia, fez-se mudo
E assim tornou-se inacabável.
.
O.T.Velho
Surgiu, um dia, amarrotado
Me fez lembrar um evangelho
Que tinha algo anotado.
.
E o meu poema fez-se carne
De condição inconsistente
Já não podia mais deixar-me
Era meu corpo ali presente.
.
E o meu poema fez-se tudo
Numa sequencia interminável
Parou um dia, fez-se mudo
E assim tornou-se inacabável.
.
O.T.Velho
MINHAS PRECATÓRIAS
Eu não sou o que pareço,
Sou o lugar onde me ponho
Mas eu dele só conheço
Que faz parte de um sonho.
A outra parte em mim é algo
Que suporta minha crença
Tem trejeitos de um fidalgo
Nada diz, não dorme ou pensa.
.
Uma tem em seus enganos
Os que a outra cometeu
Pois fizeram os mesmos planos
Pra não serem como eu.
.
O.T.Velho
Sou o lugar onde me ponho
Mas eu dele só conheço
Que faz parte de um sonho.
A outra parte em mim é algo
Que suporta minha crença
Tem trejeitos de um fidalgo
Nada diz, não dorme ou pensa.
.
Uma tem em seus enganos
Os que a outra cometeu
Pois fizeram os mesmos planos
Pra não serem como eu.
.
O.T.Velho
OLHOS DA COR DO MAR
Não tira teus olhos dos meus
Pois desta mescla esparsa
Resulta em ver-me nos teus
O que nos meus se disfarça.
.
Pois um olhar tanto exclama
E quando fala de si
É como o brilho ou a chama
Do meu olhar visto em ti.
.
É assim que os olhos se vêem
Numa intenção de dizer
Que toda a visão que contém
Vem de um outro os ver.
.
O.T.Velho
Pois desta mescla esparsa
Resulta em ver-me nos teus
O que nos meus se disfarça.
.
Pois um olhar tanto exclama
E quando fala de si
É como o brilho ou a chama
Do meu olhar visto em ti.
.
É assim que os olhos se vêem
Numa intenção de dizer
Que toda a visão que contém
Vem de um outro os ver.
.
O.T.Velho
REENTRÂNCIAS
A vida por meus olhos passa
Sem que eu perceba exatamente;
Sou a vidraça que se embaça
E a nada vê tão claramente.
.
E ainda assim não sei notá-la
Ou distinguir a intenção
Da mesma imagem que se cala
Quando me escapa da visão.
.
Somente sei reconhecê-la
Até onde posso arguir;
Se o céu existe numa estrela
Eu fiz-me dela ao existir.
.
O.T.Velho
Sem que eu perceba exatamente;
Sou a vidraça que se embaça
E a nada vê tão claramente.
.
E ainda assim não sei notá-la
Ou distinguir a intenção
Da mesma imagem que se cala
Quando me escapa da visão.
.
Somente sei reconhecê-la
Até onde posso arguir;
Se o céu existe numa estrela
Eu fiz-me dela ao existir.
.
O.T.Velho
NA ESTRADA PRA CURIAPEBA
O pneu velho na estrada
que sabe ele de ser?
Não teve a vida começada,
E bem pouco a pode ter.
.
Nada foi do que não acha,
Se perdeu no segmento,
Com seu corpo de borracha
Na estrada em movimento.
.
Se mais nada lhe ocorreu,
Não importa ter morrido,
Foi somente um pneu,
No bem pouco a ser sabido.
.
O.T.Velho
que sabe ele de ser?
Não teve a vida começada,
E bem pouco a pode ter.
.
Nada foi do que não acha,
Se perdeu no segmento,
Com seu corpo de borracha
Na estrada em movimento.
.
Se mais nada lhe ocorreu,
Não importa ter morrido,
Foi somente um pneu,
No bem pouco a ser sabido.
.
O.T.Velho
AS TARDES DA RUA XV
Eu não conheço um dia calmo,
Tudo que sei ou que conheço,
Fica à distância de um palmo
Da simetria que obedeço.
.
Também não tenho a inspiração
Que justifique o mero ato
De me enredar na produção
Deste rabisco ou relato.
.
Pois nada penso que entabule,
Na idéia tola e associada,
Algum escrito que se anule
Na dissertação mal começada.
.
O.T.Velho
http://velhopoema.blogspot.com/
fonte :Conservatório Íntimo
Tudo que sei ou que conheço,
Fica à distância de um palmo
Da simetria que obedeço.
.
Também não tenho a inspiração
Que justifique o mero ato
De me enredar na produção
Deste rabisco ou relato.
.
Pois nada penso que entabule,
Na idéia tola e associada,
Algum escrito que se anule
Na dissertação mal começada.
.
O.T.Velho
http://velhopoema.blogspot.com/
fonte :Conservatório Íntimo
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
PLETORA PLANETÁRIO
Na terra, a vida errante
Em marte, a arte
A arte da guerra
rima na terra
Os marcianos
sem oceano, rio
sem mar, sem mãe
Na terra, Netuno
Os terráqueos
vêem Vênus
multiplicada
vespertina e no
crepúsculo da tarde
Vênus que arde, que brilha
Estrela do amor
Na terra, planta planeta
que nasce ao Sol
Tempo soturno
devora os frutos da terra
à base de urânio
e,suporte,
lá se vão os anéis
ficando dedos
mais úteis e necessários
que luas exageradamente dispostas
ao redor de alguma redondeza sem vida
Há muito a descrever
e por descobrir,
desdobrar,
transcender,
inventar,
escavar,
exprimir,
prosa!
Maria José de Menezes
Em marte, a arte
A arte da guerra
rima na terra
Os marcianos
sem oceano, rio
sem mar, sem mãe
Na terra, Netuno
Os terráqueos
vêem Vênus
multiplicada
vespertina e no
crepúsculo da tarde
Vênus que arde, que brilha
Estrela do amor
Na terra, planta planeta
que nasce ao Sol
Tempo soturno
devora os frutos da terra
à base de urânio
e,suporte,
lá se vão os anéis
ficando dedos
mais úteis e necessários
que luas exageradamente dispostas
ao redor de alguma redondeza sem vida
Há muito a descrever
e por descobrir,
desdobrar,
transcender,
inventar,
escavar,
exprimir,
prosa!
Maria José de Menezes
In Questão
7 setembro latino
desfile de brigadas
povo assiste a isso
sob forte pressão solar
independência ou morte
o tanque avança
o toque de recolher
as bandeirinhas se agitam
venceu o campeonato
o adversário sucumbe
na praça da paz celestial .
Maria José de Menezes
desfile de brigadas
povo assiste a isso
sob forte pressão solar
independência ou morte
o tanque avança
o toque de recolher
as bandeirinhas se agitam
venceu o campeonato
o adversário sucumbe
na praça da paz celestial .
Maria José de Menezes
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
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