Há dias quando chego do trabalho que ao abrir a porta de
minha casa me parece que os livros da estante estavam confabulando. Eles, ao
ouvirem o meu caminhar e o rodar da chave na porta, imediatamente, se aquietam.
Na sala quando começo a tirar os sapatos percebo que um dos
exemplares de Dom Quixote está próximo da janela. E Ficções de Borges no sofá.
Cortazar na mesa próximo do tabuleiro de xadrez.
Cortazar, Cervantes e Borges passaram a tarde jogando
baralho?
E Cecília, Virginia e Clarice trataram de assuntos
relacionados ao mundo feminino?
É estranho, mas esses meus livros tem vida própria. E quando
estão sozinhos, longe do meu olhar, conversam entre eles e fofocam da minha
demora para ler. Intui que um destes personagens disse que estou adquirindo
livros que, possivelmente, só a minha neta Valentina venha ler. Já fui chamada
à atenção. Não recordo neste momento se foi Cecília ou outra escritora que me
repreendeu, numa advertência poética, com as obras e personalidades que estou
trazendo para dentro de mim.
De Mara Paulina Arruda
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