sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Seres inanimados





Há dias quando chego do trabalho que ao abrir a porta de minha casa me parece que os livros da estante estavam confabulando. Eles, ao ouvirem o meu caminhar e o rodar da chave na porta, imediatamente, se aquietam.
Na sala quando começo a tirar os sapatos percebo que um dos exemplares de Dom Quixote está próximo da janela. E Ficções de Borges no sofá. Cortazar na mesa próximo do tabuleiro de xadrez.

Cortazar, Cervantes e Borges passaram a tarde jogando baralho?

E Cecília, Virginia e Clarice trataram de assuntos relacionados ao mundo feminino?

É estranho, mas esses meus livros tem vida própria. E quando estão sozinhos, longe do meu olhar, conversam entre eles e fofocam da minha demora para ler. Intui que um destes personagens disse que estou adquirindo livros que, possivelmente, só a minha neta Valentina venha ler. Já fui chamada à atenção. Não recordo neste momento se foi Cecília ou outra escritora que me repreendeu, numa advertência poética, com as obras e personalidades que estou trazendo para dentro de mim.

 De Mara Paulina Arruda

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