Entrevista que Yasmin Taketani fez comigo a
respeito do meu livro novo Salvar os pássaros. o livro, publicado pelo selo
Encrenca - Literatura de Invenção, será lançado no próximo sábado, dia 26, na
Livraria Arte & Letra, 16h. segue a entrevista:
"Neste sábado (26), o selo Encrenca lança Salvar os
pássaros, sexto livro do escritor, poeta e dramaturgo curitibano Luiz Felipe
Leprevost. Nos contos e narrativas breves que compõem o volume, marcados por
uma voz narrativa pulsante e pelo hibridismo entre prosa e poesia, Leprevost
cria um narrador que luta para enunciar tudo — a angústia da existência, a
potência da arte, a ficção da realidade e o lirismo do mundo — em busca do
inexprimível. É sobre este novo trabalho, que tanto consolida características
em sua prosa quanto abre espaço para novas investigações do autor, que
Leprevost conversou com a equipe de Encrenca na breve entrevista a seguir.
— Nos contos e ficções breves de Salvar os pássaros, as
metáforas, o uso de palavras em seus sentidos menos usuais (ou mesmo inventando
novos sentidos) e a construção das frases, sempre subvertendo a ordem
ordinária, chamam atenção para um trabalho próximo à poesia. Como a prosa
poética surgiu na sua obra e se intrincou à sua escrita?
é muito difícil falar do próprio trabalho. vou tentar
responder suas perguntas, por mais irresponsável que me pareça a tentativa.
bom, realmente há a procura por uma voz muito minha e, por isso mesmo, muito
outra em mim. neste livro, nos textos de maior fôlego, em geral, optei por dar
mais atenção às músicas que os narrassem do que às tramas. os sentidos —
audição, tato, paladar, visão — vieram à flor da carne, daí aparecerem os
escritos de modo um tanto convulsivo. talvez o fato de eu ter sido primeiro
leitor de poesia que de prosa tenha gerado a amálgama, o hibridismo
prosa/poesia em minha literatura.
— Logo no início do livro é impactante a voz narradora que
denuncia seu “sem-nome”, sua existência precária, e é tomada pela urgência de
narrar. Como chegou até ela? O que ela deseja enunciar?
não tenho muito claro o que tal voz deseja enunciar… ela
manifestou o que estava desconhecido em mim. só agora vejo que há um pouco de
ensaístico, de desdramatizado, alguma afetividade derruída. tudo foi, num
primeiro momento, costurado sem planos. só depois que encontrei o pulso, vi que
era algo novo em minha escrita e me permiti corpo a corpo metódico no uso desta
voz. estou mais curioso em saber o que os leitores lerão no livro, depois disso
talvez eu possa dizer algo com mais precisão.
— Os textos evocam sensações que vão do lirismo à crueza, da
paz de espírito à loucura, como se buscando ir mais a fundo no inconsciente dos
personagens. Como se deu essa investigação da existência humana e o mergulho
nas vozes narrativas que compõem Salvar os pássaros?
ao longo do processo, novos procedimentos de construção
formal foram se abrindo, especialmente na relação com o tempo (em como se
constrói o tempo narrativo) e na problematização de efeitos de causalidade, no
esvaziamento da ação da dramática convencional, entendendo que a narrativa em
si, mais que o relato de acontecimentos, pode funcionar ela mesma como o
acontecimento. aceitei isso sem julgamentos que pudessem me embotar… olhando
agora, me parece ter havido, numa medida, um certo esforço racional para
encontrar meios que me pareciam potentes, misturado com conteúdos de ordem mais
libidinal, num jogo latente do planejado com o imponderável, do consciente com
o inconsciente. o resultado pode que seja um pouco o íntimo se apresentando como
defeito congênito.
— Quais foram os desafios da escrita deste seu sexto livro?
Onde o localiza em sua obra?
é uma escolha — nem sei se é uma escolha — por um tipo de
fato literário que não está amparado por convenções pré-estabelecidas. não
escrevi a partir do que conhecia, escrevi para conhecer. surge muito de um
inconformismo formal, sabe. na série de contos curtos e curtíssimos, por
exemplo, encontrei, creio, algo bastante colapsado… são narrativas fendidas,
falhadas. considero se tratar de algo inédito em minha obra.
— Quando decidiu que queria ser escritor? Os motivos que o
fizeram entrar na literatura são os mesmos que te impulsionam hoje?
nalgum momento notei que passava horas debruçado sobre o
caderno. a mão doía mas não largava a caneta. me via obsessivamente anotando,
inventando. me transformei neste esquisito fazedor de mundos que é o escritor,
confeccionando a partir do miolo, às vezes de dentro para fora, noutras de lá
para cá dentro, depois, neste Salvar os pássaros, encontrando zonas borradas
desta dicotomia. não sei dizer se os motivos ainda são os mesmos, porque não
tenho claro quais foram no passado. sei apenas que se trata de exercício
odisséico, quero crer, para vida toda."
SERVIÇO
Lançamento de Salvar os pássaros, de Luiz Felipe Leprevost
Dia 26 de outubro, sábado, às 16h
Local Livraria Arte & Letra (Al. Presidente Taunay, 40 —
Curitiba/PR)
Informações (41) 3039-6985
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