Este tempo sepultou os romances epistolares. Há alguns anos,
na casa de um amigo, um jovem poeta por quem fui apaixonada, depois de algumas
taças de absinto disse para mim: Vou publicar teus e-mails em Portugal, lá você
não pode me processar. Teus e-mails é a melhor parte de sua escrita.
Recentemente, depois de sofrer impasses e dores astronômicas, quando meu poema
abalou alguém que amo, quando percebo que alguns não suportam o peso da minha
Poesia, escrevi ao menino a quem escrevi anos a fio e pedi que ele nunca
divulgasse as cartas virtuais. Ele concordou. Viva! Podemos passar incólumes,
ninguém lerá o estrondar dos corações quando já não cabe mais tanto amor...
Então, abri uma pasta que não é = poesia = eu a chamei de
diário poético, mas, sei que vou sacar poemas de lá, acho que já comecei a
pincelar...
Mas, ainda sinto uma dor ao saber que as cartas não cruzam
mais o ar em materialidade e palpitações, deixando que os fantasmas roubem os
beijos no caminho, como escreveu Kafka... e que o romance epistolar está
encerrado... e deletamos o amor, solenemente... Ninguém mais reunirá as cartas
com um laço rosa de cetim e escreverá, como Chopin escreveu no maço de cartas
do seu primeiro amor - moja bieda (minha desgraça)... Acho que sou romântica.
Bárbara Lia
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