quarta-feira, 4 de junho de 2014

Este tempo sepultou os romances epistolares. Há alguns anos, na casa de um amigo, um jovem poeta por quem fui apaixonada, depois de algumas taças de absinto disse para mim: Vou publicar teus e-mails em Portugal, lá você não pode me processar. Teus e-mails é a melhor parte de sua escrita. Recentemente, depois de sofrer impasses e dores astronômicas, quando meu poema abalou alguém que amo, quando percebo que alguns não suportam o peso da minha Poesia, escrevi ao menino a quem escrevi anos a fio e pedi que ele nunca divulgasse as cartas virtuais. Ele concordou. Viva! Podemos passar incólumes, ninguém lerá o estrondar dos corações quando já não cabe mais tanto amor...
Então, abri uma pasta que não é = poesia = eu a chamei de diário poético, mas, sei que vou sacar poemas de lá, acho que já comecei a pincelar...

Mas, ainda sinto uma dor ao saber que as cartas não cruzam mais o ar em materialidade e palpitações, deixando que os fantasmas roubem os beijos no caminho, como escreveu Kafka... e que o romance epistolar está encerrado... e deletamos o amor, solenemente... Ninguém mais reunirá as cartas com um laço rosa de cetim e escreverá, como Chopin escreveu no maço de cartas do seu primeiro amor - moja bieda (minha desgraça)... Acho que sou romântica.

Bárbara Lia

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