sábado, 28 de fevereiro de 2015

SONETO DO INÚTIL LUAR


A tarde entoa o seu último canto
à espera do dobre do último sino.
Sino? Não os ouço desde menino.
E quanto tempo faz que não me espanto!
A cidade em brasa dá adeus ao sol.
Sirene, apito, zumbido, buzina...
Os arcanjos conspiram em surdina
enquanto estendem sombrio lençol.
A noite, porém, chegou de repente
sobre a criança que ainda nem almoçou
e o mendigo estatelado na rua.
Da fome do outro ninguém se ressente.
Do porre alheio culpado não sou.
Como é inútil o clarão da lua!


Otto Leopoldo Winck

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