O meu vício é antigo.
Vem de longe: dos incas, dos egípcios, do paleolítico...
Vem de olhar a lua,
não na lousa límpida ou baça do céu,
onde Deus não escreve mais,
mas na rua, nas poças (limpas ou sujas) da sarjeta
que é onde ela se deixa revelar
– nua, ainda que envolta em véus,
louca, ainda que helênica...
Vem de olhar para dentro do oco que há em nós
em busca quem sabe de uma voz
que cole os cacos deste mundo.
O meu vício, suspeito, é mais antigo ainda.
Vem da infância, não a minha,
sem importância, nem mesmo para mim,
mas a do mundo,
quando Jesus era piá e fazia pombas de bonecos de barro,
ou, mais ainda, quando o Espírito de Deus pairava sobre as
águas
e não havia hora pra acordar, mãos a cumprimentar,
regimentos a cumprir...
O meu vício, sinto, vem de longe,
de andar a esmo, bater perna, bar em bar,
com a esperança, ainda que vaga, ainda que besta,
de encontrar você – mesmo que acompanhada de seu novo amor.
(Oi, você por aqui? Sim, dando um rolê em busca de
inspiração. Continua poeta? Claro, eu perco você mas não perco a poesia...)
O meu vício, amigo,
vem portanto de longe, muito longe.
E, desconfio,
não tem cura.
Otto Leopoldo Winck
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