sexta-feira, 31 de julho de 2015

"Diante da janela, o roseiral"


Testamento enterrado
à sombra do roseiral:
Deixo meu violão
para a balconista da padaria
A erva benta
para a velha do sobrado
A chaleira
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta
O livro de poesia
de Augusto dos Anjos
para o cobrador do expresso 022
Assinado:
A menina dos olhos tristes.
Chico me chamava de Carolina,
mas era só um disfarce...
Sou eu a menina
que viu o tempo passar na janela,
sem ver

Bárbara Lia


O sal das rosas (Lumme/2007)

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