perambulei
até
encontrar
um
lugar
onde
eu
pudesse
vomitar
minha
poesia
pagã
coragem, ana!,
que o sal que pinga nas lágrimas de quem tem fome
é mais salgado que os mares do mundo
nada melhor que a sujeira de muitos dias
as folhas e a terra confundindo os cabelos
as pernas cansadas e cada vez mais rígidas
o topo do mundo é debaixo dos galhos
suor escorre
pra unir as pregas do corpo
qualquer que seja o dia da semana
o sol não cede
esse é o preço de viver na brasa
cuidado com os pés, rapaz!
não faz muito tempo que o fogo apagou
não tem muito jeito de viver aqui
de noite tem sempre um barulho no meio do nada
um grito de ódio
um latido de cachorro
um estouro de cano de fusca
há sempre uma palavra rara que nos salta a boca como refluxo
há sempre uma tristeza rala que nos corta as tripas, que nos corta os pulsos
com o tempo, parei de zombar desgraças
evaporou-me o interesse
lá vai a bola
que cai na caixa
que tomba n’água
que cresce em onda
que leva o polvo
que aporta em terra
que cobre a vala
que guarda o morto
que não faz nada
faltam 10 anos para a minha morte súbita
faltam 10 vozes, 10 graves diferentes
sempre me faltarão cartas
sempre me faltarão filhos
e daqui a 10 anos
não me faltará mais nada
morrerei sem saber o que me acontece
do lado, uma cartela colorida
na mente, nada mais que desconexões
faltam 10 anos, meu bem
que eles sejam bem vividos
que eu encarne muitas janis
muitas, muitas, muitas vezes
faltam 10 anos
e eu prometo que não vou chorar
eu fui uma criança que sempre quis muito pular
mas eu não pulava alto nem bonito
só muito
só
muito
é que me atormenta o fim das coisas
* * *
Ana F. tem 19 anos,é libriana e escreve desde criança.Morou em Mateus Leme até recentemente, quando se mudou para Belo Horizonte para cursar biologia na UFMG. Publica exercícios de poesia no Blog: http://www.ornitorrincodefenestrado.blogspot.com/
E-mail: ornitorrincomendes@gmail.com
Fonte:Cronópios
Um comentário:
que alegria ver meus textos aqui!
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