sábado, 12 de junho de 2010

Morre o “Samurai da sombra” da literatura brasileira

Por Ricardo Peruchi



Faleceu nesta madrugada o editor de livros Massao Ohno aos 74 anos. Responsável pelo lançamento de várias gerações de autores, principalmente poetas, Ohno atuou quase sempre como uma pequena editora independente, muito mais como um artista do livro do que como empresário. Foi considerado por especialistas, como o bibliófilo José Mindlin, como um dos principais designers de livro do Brasil, tendo inovado em formatos, uso de papéis e cortes especiais e introduzido no país elementos gráficos das escolas polonesa e oriental, algumas de suas influências, em trabalho meticuloso e artesanal.



Começou a Editora Massao Ohno em meados da década de 50, dando forma inicialmente a apostilas e títulos didáticos destinados a estudantes de cursinhos pré-vestibulares, especialmente o Anglo. Trabalhava para quem podia pagar e financiava os jovens talentos do próprio bolso a fundo perdido. Lançou em 1960 a “Antologia dos novíssimos”, uma das mais importantes coletâneas de novos poetas da História da Literatura Brasileira.



Revelou nomes como Roberto Piva, Cláudio Willer, Jorge Mautner, Renata Pallottini, Carlos Vogt, Cunha Lima, Celso Luís Paulini, Paulo del Greco, Carlos Felipe Moisés, Eduardo Alves da Costa, dentre muitos outros. Foi também o principal editor da carreira de Hilda Hilst. Quando todos os grandes editores se recusaram a publicá-la em sua dita “fase erótica” – ou “pornográfica”, para alguns – temerosos da polêmica, novamente foi Massao quem mandou imprimir sob seu selo “O Caderno Rosa de Lory Lambi”, que deu novo fôlego à trajetória da autora. Calcula-se que Massao tenha editado mais de mil livros ao todo, a maioria esgotados e hoje itens de colecionador.



Filho de japoneses, formado em odontologia, profissão que nunca chegou a exercer, dedicou toda sua carreira às letras, mas militou também no cinema, tendo co-produzido filmes como “Viagem ao fim do mundo” (1967), de Fernando Coni Campos, e “O bandido da luz vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla.



O que disseram sobre Massao Ohno



“É um samurai da sombra.”



Antonio Fernando De Franceschi, poeta.



“Trabalhador do invisível, luminoso nissei, esbelto que, nas horas vagas, seduzia as poetas da nossa juventude, bebedor de uísque e filósofo oriental.”



Renata Pallottini, poeta e dramaturga.



“É talvez o maior editor desorganizado que melhor contribuiu para organizar a poesia brasileira jovem durante pelo menos três décadas.”



Carlos Vogt, poeta e acadêmico.



“Falar de Massao só será possível na linguagem da poesia. É um poeta dos livros, um monge que dedicou sua vida a isto. Publicou a Antologia dos novíssimos, em 1960, na velha prensa da rua Vergueiro. Ele está aí nesse meio como um Dom Quixote a combater a miséria de um tempo feito quase só de angústias.”



Álvaro Alves de Faria, poeta e romancista.



“Ele terá sido um dos poucos que, ao decidir uma edição, não levava em conta se ela seria vendável ou não. (…) Sua obra editorial, no entanto, permanecerá.”



José Mindlin



Fonte: Instituto Moreira Salles

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