sábado, 20 de outubro de 2012

A CABRA DE PAUL




Paul Smith Silva era um menino nem menos inteligente e nem mais arteiro que os meninos da sua idade. A única coisa que o diferenciava dos demais meninos de sua cidadezinha, interior do Parana, era que ele havia nascido com uma perninha mais curta que a outra.
Certo dia, no final da manhã, quando voltava manquitolando da escola, viu sua mãe saindo do curral. Seu suor não era apenas do calor que fazia. Ela, ao vê-lo, disse:
— Filhinho, vai pra cozinha que a ma­mãe já serve o armoço. A sua cabra pariu hoje.
— O que é, é hominho, mamãe?
— É sim, meu fio.
— Bonito ele?
— É de uma belezura que dá gosto de vê.
Ansioso, ele falou:
— Deixa eu dá uma oiada nele mãe, uma oiadinha só.
— Não, ainda tá tudo sujo de sangue, a mãe dele tá limpado ele agora.
— E a minha cabra, mamãe, vai ficá boa.
— Ela sofreu um bocadinho, mamãe teve que dá uma ajuda pra natureza, mais agora ela tá bem.
Poolzinho, como carinhosamente era chamado, entrou na casa. Começou a an­dar de um lado para o outro da sala, pisava firme pelo assoalho barulhento, passava a mão na cabeça como se estivesse muito nervoso. Lembrou que sua avó, quando ficava nervosa com as galinhas que não botavam, fumava cigarro de alecrim para tentar se acalmar. Enrolou um bem fininho, e em meio às baforadas, pensava: “Será que o cabritinho é parecido com eu, será que o bichinho vai andar cocho também?”.
JDamasio

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