Quando João Alberto abriu a livraria quando sol começava a
nascer. O inverno já tinha feito das suas e mostrado a violência em seus
ventos, a dor expressa no gelo e na cor cinza dos dias. Agora o tempo
preparava-se para os raios de uma primavera que ele torcia para ser promissora.
As mulheres começavam a desenhar nos rostos e nos corpos uma alegria que há ele
muito aprazia. As crianças na balburdia salutar de suas vidas corriam em frente
da livraria indo para a escola. Alguns homens paravam próximo da porta para
discutir sobre os negócios naquela estação. Carros, motocicletas e ônibus
trafegavam na rua principal.
João Alberto depois de anotar esses pequenos detalhes da vida
cotidiana de sua cidade voltava-se ao cuidado dos livros e da apresentação
destes na vitrine. Uma caixa, no canto da livraria, tinha chegado ao fim da
tarde de sexta-feira. Depois de verificar a nota com a remessa pôs-se a tirar
os livros analisando a edição deste material. Uma boa edição! Disse
entusiasmado e retirou-os da caixa espalhando sobre a mesa em frente da janela
e também no centro da vitrine. Por um momento pensou, um pensamento tolo, que
Thomas Mann iria gostar de ler a prosa deste novo escritor. Sorriu. E ao sorrir
deu de cara com Mariana que fez uma expressão maliciosa.
João Alberto não tinha percebido sua chegada e enrubesceu.
Mas em seguida perguntou a Mariana o que ela desejava. E Mariana solicitou um
livro de Doris Lessing enquanto folheava um dicionário francês. João Alberto
cogitou no abismo de si se poderia namorá-la inventando um pretexto para
trazê-la junto aos livros, a sua livraria e ao seu olhar. Será que dava para
resumir a ópera? Demorou-se nas elucubrações até que, trazendo o livro nas
mãos, perguntou: como vão as coisas na escola?
De Mara Paulina Arruda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário