quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Canto XII




Quando João Alberto abriu a livraria quando sol começava a nascer. O inverno já tinha feito das suas e mostrado a violência em seus ventos, a dor expressa no gelo e na cor cinza dos dias. Agora o tempo preparava-se para os raios de uma primavera que ele torcia para ser promissora. As mulheres começavam a desenhar nos rostos e nos corpos uma alegria que há ele muito aprazia. As crianças na balburdia salutar de suas vidas corriam em frente da livraria indo para a escola. Alguns homens paravam próximo da porta para discutir sobre os negócios naquela estação. Carros, motocicletas e ônibus trafegavam na rua principal.

João Alberto depois de anotar esses pequenos detalhes da vida cotidiana de sua cidade voltava-se ao cuidado dos livros e da apresentação destes na vitrine. Uma caixa, no canto da livraria, tinha chegado ao fim da tarde de sexta-feira. Depois de verificar a nota com a remessa pôs-se a tirar os livros analisando a edição deste material. Uma boa edição! Disse entusiasmado e retirou-os da caixa espalhando sobre a mesa em frente da janela e também no centro da vitrine. Por um momento pensou, um pensamento tolo, que Thomas Mann iria gostar de ler a prosa deste novo escritor. Sorriu. E ao sorrir deu de cara com Mariana que fez uma expressão maliciosa.

João Alberto não tinha percebido sua chegada e enrubesceu. Mas em seguida perguntou a Mariana o que ela desejava. E Mariana solicitou um livro de Doris Lessing enquanto folheava um dicionário francês. João Alberto cogitou no abismo de si se poderia namorá-la inventando um pretexto para trazê-la junto aos livros, a sua livraria e ao seu olhar. Será que dava para resumir a ópera? Demorou-se nas elucubrações até que, trazendo o livro nas mãos, perguntou: como vão as coisas na escola?

De Mara Paulina Arruda.

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