Eu perdi um livro e o lugar aonde devo ter perdido. Dentro
de mim? Não sei. O livro perdido estava grifado com uma cor verde-limão de um
marca-texto nas páginas que falavam do mundo contemporâneo. Intolerâncias e
absurdos. Palavras as quais o sinônimo distanciava-se ao longe; quisera compor
uma música, fazer versos. Ou tocar a música da pauta aberta sobre a mesa. O
violão esquecido no canto, dentro de uma capa a cobrir-se de pó.
O livro tinha uma dedicatória especial de alguém que foi
importante em meu universo, uma relíquia escrita em espanhol “dibujar lembranza
e saudades” de alguém que desejava que aprendesse essa língua e era em
retribuição à cartas esparsas.
Hilda tinha perdido o sono, perdido um amor e um filho lá no
início de sua mocidade. Tinha também perdido os fios que bordava uma toalha
para servir o jantar para o amor perdido. Em cima da mesa, no seco da madeira
os talheres, os copos e as travessas; uma garrafa de vinho, um brinde que não
aconteceu.
Era nessa mesa que colocaria o livro deles.
Tudo perdido. A mesa vazia, ela olhando no vácuo a procura
de um sinal inexistente.
Que inutilidade essa procura de si-dele que por ventura
estavam no livro. Fazia planos de juntar esse livro aos demais que de numa
caixa no canto do quarto viriam para a estante, nas férias ou em algum feriado.
Sentei-me num degrau da escada de alumínio cansada de cavar
sentimentos escritos.
No pulso as horas.
Já passava da hora de ir.
De Mara Paulina Arruda
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