terça-feira, 2 de outubro de 2012

Uma Tarde Qualquer



Era mais um dia ordinário da turma da CS90, logo após a aula decidimos almoçar no melhor restaurante da região: o Le RU - investindo R$ 1,00 em uma sinfonia exclusiva de sabores: Barreado que mais parecia um sopao knnor com fiapos de carne e farinha, banana passada, suco tang limão e de sobremesa, uma gelatina de uva no copinho (que o Rafael sempre pegava duas, ou roubava da Fatima). Formidável como nosso nível de exigência era praticamente nulo naquela época e adorávamos esse rango.

Barrigas saciadas, fomos largartear ao sol naqueles velhos e surrados bancos de madeira da quadra da reitoria... Como estávamos no verão, o calor era insuportável - algo próximo dos  20°C... lembrando que os curitibanos apresentam uma sensação térmica diferente do que a maioria dos demais terráqueos mamíferos, algo similar só ocorre com os as espécies desenvolvidas e bilingues de Osiris.

Enfim, recapitulando... Neste dia, a Fátima brigava com o Rafael por este ter novamente roubado sua gelatina, o Mike discutia comigo e com o Rodolfo o nome da próxima festa que iríamos promover pela Batmacumba (que acabou ficando SUICIDIO  e aqui temos outra ótima historia futura), a Romina fumava um cigarro com o olhar perdido no horizonte e o Rafael não prestava atenção alguma no que a Fátima estava falando pois, como sempre, estava dormindo.

Havia uma importante decisão pela frente: afinal, o que fazer no resto daquela tarde de quarta feira ?
A primeira opção veio da Gi "vamos estudar"... Logo foi descartada, pois não houve unanimidade, acho até que só teve um voto - o da própria Gi. A segunda opção seria aquela que normalmente era a mais votada - ir ao Roxinho, mas neste dia o Marcinho estava puto com a gente e ninguém conseguia lembrar bem o porquê (essas limitações de armazenamento neuro temporal sempre ocorriam quando o número cervejas da noite anterior eram acima da recomendada pelo ministério da saúde). Então, esta segunda opção também foi pelo ralo.

Eis que Rodolfo vem com uma sugestão inesperada "que tal passar a tarde nas cachoeiras da colônia Witmarsum ?" Aquela no município de Palmeira, um pouco depois de São Luiz do Puruna. Como a agenda pessoal era algo completamente diferente do que é a vida real hoje, topamos de cara... Afinal o que mais estudantes de CS iriam fazer em uma plena quarta feira de verão a tarde, não é ?

Normalmente, o principal meio de transporte para estes eventos distantes era o corsa preto do Rodolfo, aquele com o adesivo de caveira que causava pânico nos calouros que pretendiam cruzar sua frente, ainda que fosse na faixa de pedestre e com o sinal fechado.

Porém, não lembro o motivo (e aqui novamente a questão do armazenamento temporal), fomos desta vez com o carro do pai da Romina - um Uno bordo.

Alguns detalhes do que levar e quem iria e estávamos na estrada... Para quem não esta familiarizado com o local aqui vai a dica: para chegar nas melhores cachoeiras da região somente através de estradinhas escondidas dentro das plantações de fazendas locais.
O Rodolfo a todo tempo falava que conhecia o melhor ponto no local e era só entrar em uma estrada fácil fácil de achar - ela tinha uma arvore como referência na entrada. (creio que "uma arvore como referencia" não e de muita ajuda em uma região que tem uma arvore a cada 10mts, mas quem vai contestar quando se esta curtindo uma bela paisagem, ou dormindo, como era o caso do Rafael ou fumando um cigarro e contemplando o horizonte, como era o caso da Romina.

Incrivelmente, e contrariando todas as expectativas, achamos a tal estradinha... Era na verdade, uma trilha pela qual tratores entravam para a colheita e seguia em uma longa descida até o rio. Praticamente uma ladeira de barro e pedra escondida no meio do nada. Como guerreiro é guerreiro, colocamos o uninho da Romina naquela buraqueira e chegamos no local. Show... Sol de rachar, água gelada e cerveja trincando... A combinação perfeita para aquela tarde.

Cerveja vai cerveja vem, depois de muita risada e boas historias o dia estava chegando ao fim, então levantamos acampamento e nos preparamos para voltar.

Problema 1 - a capacidade física, psíquica e motora do pessoal não era a mesma da que quando chegamos;
Problema 2 - a tal estradinha era muito mais complicada para subir do que para descer, mas ninguém pensou nisso na chegada;
Problema 3 - o Sol estava sendo encoberto por nuvens carregadas e ao longe já avistávamos a chegada de uma tempestade de verão - daquelas que deram origem ao filme twister;

"Deixa comigo, estou sobrio" - falei. Assumi o volante e na primeira tentativa de sair daquele lugar, desviei de uma cratera imensa e logo em seguida prendi a proteção do cárter em um barranco - o carro atolou, não ia ou vinha... empurra daqui, empurra de lá, saiu de ré, mas deixou dois garfos da proteção do cárter no barranco. Para piorar, nessa ré, o carro foi parar naquela cratera da saída e ficou de lado, duas rodas no ar, quase tombando. Rafael e Rodolfo tentavam segurar o carro para não virar, e as meninas só davam risada. E a Romina fumava um cigarro e olhava para o horizonte, desta vez um pouco mais preocupada do que estivera pela manha.

Rodolfo assume a direção, e começa um incrível malabarismo para tirar o carro daquele atoleiro... O vem e vai incluía bater o carro varias vezes em uma cerca de arrame farpado logo ao lado da cratera, pois era a única maneira de colocar o carro novamente no chão. Após algumas manobras e uma lateral inteira riscada, ele encontra a solução definitiva para o problema: ao invés de seguir a estradinha, entrou com o carro no meio da plantação de milho e voltou por ela mesmo - tivemos sorte da chuva nunca ter chego, do pneu não ter furado e do dono da fazenda não ter visto o tamanho da cagada que foi feita na plantação dele.

Com um UNO bem diferente do que daquele que havíamos começado o dia, voltamos a jornada de retorno - sem antes parar em um costelao na beira da estrada, e tomar mais umas duas, pois afinal ninguém é de ferro.

No final das contas, a preocupação de todos estava com o estado em que ficara o carro do pai da Romina, sem proteção de cárter, lateral riscada e com folha, galho e milho em tudo que era canto... mas ela parecia ser a menos preocupada. Disse que colocaria na garagem e seu pai nem notaria... Acendeu um cigarro e contemplou o horizonte.

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Ramon C. Ortiz

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