domingo, 14 de julho de 2013

Acordei morna hoje, rendida pela vida; preparei até uma vitamina de mamão (isso não parece, mas é relevante para conduzir-te ao modo particular como penetro nas sensações, degustadas ou não, e conduzo-me - deixo-me conduzir por elas, a partir de um certo princípio de inspiração).
Acordei inspirada, a textura cremosa da fruta me deixou toda encantada.

Prossegui lendo Caio Fernando Abreu, embriagada pelo som das palavras dele na minha boca, até que vim me sentar a teu lado para uma conversa aconchegada. Daqui a pouco retorno para minha Iniciação. É o nome do conto do Caio.

Ando com vontade de não-sei. O que? Quero te conhecer melhor. Quero entender por que eu não fumo, e você não passa uma hora sem pôr esse teu cigarro na boca. Entender por que inventei essa mentira agora se nenhum de nós nunca fumamos, nem quando devíamos. Talvez isso seja só conversa da manhã que não passei ao teu lado, subterfúgio para continuar te escrevendo, procurando assunto nestes clichês: teus olhos que eu suponho castanhos, mas quem sabe sejam verdes?

Aquele dia na confeitaria fizeste-me ver o que eu jamais vi. Vai ver por isso eu não me lembre mais do que vi.

Dormi mal nessa última noite. Como sempre, já deverias saber. Mas acordei depois de um sonho bom, o que deve representar certo equilíbrio na balança final. Pode ser que eu durma antes de te encontrar de novo. Pode ser que eu morra. Tenho tantos pensamentos me enforcando na mente! Sinto o tédio dos dias ociosos, não o prazer bucólico dos campos. Sinto prazer corrompido por ócio, mesmo quando tenho obrigações a cumprir. Apego-me à esperança de ter esperança, e não tenho esperança (já não sei onde caberiam aspas).

Quem sabe em Maio? Em Maio te encontrarei num bistrô, que não é francês, é onírico. No fundo sei que isso tudo é apenas mais uma forma de existir.

Terei de aprender a existir? Terei de estimular meu tédio até o ponto correto que preceda à loucura. No limiar dela. Estou louca de vontade.

Persigo vontades alucinadas. Estou tão depressa! que hoje nem saberia escrever um conto. Tive sonhos eróticos essa noite, acordei rindo. Ainda sorrio pra imaginação. Só que não estou suficientemente consistente - confiável hoje. Posso colocar tudo a perder. A vida é um risco. Sua presença nos meus pensamentos me inspirou, e se eu não tiver coisa mais interessante a fazer, pode ser que eu te ofereça, hoje, a minha vida inteira.
Roberta Tostes Daniel

(dois mil e quatro)

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