terça-feira, 22 de outubro de 2013

Para Rimbaud a poesia era uma alquimia _ verbo e sentidos. Descobriu bem cedo o segredo corpo/alma do poema. Que vale para a arte e para as relações _ o infinito pode definir esta imagem.
– A Lemniscata de Bernoulli –
Pode ser absolutamente matemático incluir este signo em um pensamento metafísico ou poético, mas, é a junção perfeita. Onde não há fissura – corpo/alma – verbo/sentidos. Na poesia o verbo é a materialidade daquilo que se avoluma como avalanche, ou big bang ou terremoto pensamento-relâmpago dentro da alma do poeta. E ele verte para a matéria, acionando o verbo, materializando o poema. Estive pensando nestas pequeninas faíscas que escapam da obra de Rimbaud e que ficam iluminando os poetas pelo mundo inteiro. Tudo isto flui após ter visto – finalmente – o filme Eclipse de uma paixão, que conta a tumultuada história de amor de Rimbaud e Verlaine. Sou muito arisca aos filmes, eles conseguem demolir as obras de arte, caricaturar belos livros. Mas, alguma coisa deste filme dirigido por Agnieszka Holland suscitou em mim a grande chama, compus alguns poemas, escrevi ao embalo da aura de fogo de Rimbaud, e fiquei tocada com suas frases ásperas ao amante. O amor precisa ser reinventado!! Isto é genial. Nem sei mesmo se o menino Rimbaud pronunciou estas palavras, mas, certamente as teria dito. E a insistência em querer saber de Verlaine se ele amava a alma de sua esposa, ou apenas o corpo. Verlaine insistia em dizer que era só o corpo, talvez por isto o menino não sente culpa por roubá-lo da mulher. Só na alma pode residir o amor, só na alma. Os corpos suscitam paixões. O amor é esta união indivisível da lemniscata – um é continuação do outro e um retorna ao outro sem saber onde termina um e começa o outro. Foi bom ter visto o filme. Muito embora o esforço de Leonardo de Caprio tenha dado vida a um Rimbaud quase verdadeiro, o verdadeiro Rimbaud eu o imagino menos criança que no filme, eu o vejo sério, muito sério, de uma genialidade que assombra. Eu o vejo inquieto, mas, de uma inquietude que quer descascar as membranas da vida para acolher os pobres, as crianças, os abandonados. Eu o vejo místico, acreditando que os animais rezam e que o amor deve mesmo ser reinventado. Eu o vejo segurando com as mãos a rosa de fogo do amor, que se materializa em ferida no tiro do amante.

**texto publicado em maio de 2008 no Chapar as Borboletas**

Abaixo uma poesia do livro **O rasurado azul de Paris** que está na Antologia _ O melhor da Festa 3 (Festipoa Literária/Casa Verde Ed.)

Dans l’air

Tínhamos a mesma idade
Quando vimos o mar
Este mistério de impaciência
Tínhamos a mesma impaciência
– Rimbaud e eu –

Por isto
Pisamos telhados
Ao invés do chão

Por isto
Machucamos nossos amores
Com nossas próprias mãos

Por isto
As velas acabam na madrugada
Antes que o poema acabe

- Por isto, tão pouca a vida para tanta voracidade

Bárbara Lia

Nenhum comentário: