De Mara Paulina Arruda.
Manuel sentou-se ao lado de Neiva. Os dois esperavam o
ônibus, no fim da tarde. Pessoas apressadas...a noite vinham chegando, o jantar
por fazer, pardais voando em direção às suas árvores. Manuel puxou conversa com
Neiva por conhecê-la do mesmo bairro onde morava. Sua esposa e ele já tinham
almoçado juntos numa festa da comunidade. Manuel desandou a contar de uma
menina, vizinha deles, que tinha sido abandonada pelo pai. No meio da conversa
lembrou-se de sua primeira professora. Uma mulher gorda, ele disse, mais gorda
do que eu. Durante dias ela insistiu que eu aprendesse o a, o b e o c. Quando
chegou no c é que foi o complicado da coisa. Não conseguia entender que o c era
o desenho das ondas do mar. Mas que difícil isso! Eu, Manuel da Silva, até hoje
nem conheço o mar! E a professora insistia. Passou para o d. Essa letra foi
mais fácil por lembrar que uma pessoa sem crença é uma pessoa vazia e com isso,
essa união do meu pensamento com a letra fez com que eu entendesse e começasse
a junta-las para ler. Descobri o queria dizer as letras. Descobri o que elas
queriam dizer do mundo. Neiva, estupefata com o relato de Manuel não sabia o
que falar e perguntou da menina, aquela que ele tinha iniciado o causo. Manuel
levantou-se do banco e disse que ela estava bem, estava segura e que tinham
encontrado uma alma boa para cuidar dela e apontou para o ônibus que vinha
chegando. No trajeto nem uma palavra mais ele disse.
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