quinta-feira, 13 de novembro de 2014

As ciganas

 De Mara Paulina Arruda

O Professor já um tanto meio surdo estava deitado no sofá de frente para a janela. A metade da cortina puxada. Ele via o céu. Neste espaço entre o céu e o seu ver algumas aves passavam e interrompiam sua leitura fazendo um risco de sombra na luminosidade que ele recebia. Estava, sim, que bom, de férias! Deliciava-se com essa folga e lia sobre os ciganos. Imbuído dos mistérios deste povo refletia: como seria viver assim entre carroças e cidades novas a cada mês?
Voltava os olhos para tempos idos. Que ano?
Foi próximo de um assentamento. Ele viajava de Santa Catarina para o Rio Grande do Sul quando viu no meio da rodovia três ciganas sentadas em frente de uma barraca. Uma via o futuro da outra, a outra fazia trança nos cabelos de uma. Estavam vestidas a caráter, sobre a cabeça lenços com pingentes pregados nas bordas. Em iídiche as ciganas se comunicavam.
Na viagem um dos pneus do carro furou. Ele foi obrigado a parar ali. Buscou o estepe e quando começava a troca uma das ciganas apareceu se oferecendo para ler a sua sorte. O Professor agradeceu sem olhar para a cigana. Estava envolvido com o carro. Ela, insistiu e pediu que ele fosse até onde elas estavam, ouvisse uma delas que iria ler a palma de sua mão. Depois, talvez, um pouco das lendas ciganas elas contariam.
Ele parou. Viu os olhos amendoados, mãos e braços cheios de anéis e pulseiras... Foi.
Para ai!
O Professor se levantou do sofá.
Cheio de dúvidas não sabia mais se era o livro que lia ou se era a verdade vivida.

Alguém já tinha dito pela manhã: meu velho meu velho... Cuidado!

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