sábado, 29 de novembro de 2014

Criptonita


Pura maldade, as ilusões do cinema
Eu tinha apenas oito anos
Entrei naquela matinée
Nem sabia que estava prestes
a conhecer meu primeiro amor
O passo um tanto bambo
pelo apertado do sapato
Meu pai não estava nem aí
Distraída, sentei-me estrelinha
Entre a via láctea de assentos
(Na cidade, só o cinema e o cemitério
eram maiores que a igreja)
Lábios sugando no canudinho
umas últimas gotas de refri
Meus olhos vesgos se ergueram
quando a música estourou
Lá pelas tantas, eu meio tonta
Dividida entre o herói e o manso,
Um pouso leve e o corpo duro
Braços cruzados frente a mim
E aquele "pega rapaz" que fazia bem assim...
O safado, imagine!, cravou-me os olhos
E fez aquele sorrisim
Ai, Super Homem, vem nin mim!
Mãos suadas, coração aos saltos
Dedos dos pé encurvados
Eu não era mais uma menina no cinema
Era só uma mulherzinha e seu amante


Assionara Souza.

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