...E o barulho, que se pensava ser de chuva caindo sobre o telhado
eram atletas cascudas saltitando felizes sob meu colchão.
Wilson Roberto Nogueira.
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Na madrugenta solitude inquietaram-se os silêncios .
Deitaram mão na face da modorra o risco de uma idéia de manhã,era só uma nuvem
perdida velando uma parida arrastando-se
na escora áspera dos muros das mansões carcomidas.
Devorando velhos fantasmas de sonhos de valsas sandias. Só o tempo sabe quando falecerá a
esperança que ora espeta o coração.
Rabugenta insensatez
A solidão inquieta deitou-se na madrugada margeando as navalhas das sombras , bordejando boates
até que as cicatrizes da manhã revelassem
rubras estórias.
Solidão é assassinada quando compartilharam na deteriorada prisão
de um quarto de motel.
Wilson Roberto Nogueira
Projeto de romance
Esmagadora sede, aguda urgência de luz por toda a semana.O tempo passou rápido e ríspido, arranhando os nervos esticados, com os estiletes do seu grito. Domingo espatifou em lágrimas. Com ais abissais, buquê obsceno de vísceras, ainda tentou macular a branca face impassível que se faz de insípida e inodora . Cuspir seu veneno sobre a platéia sem economizar uma só gota. Palavras ardentes na ponta dos anzóis. Pensou com lentes de cristal: tudo será mesmo seu contrário? Diabo de vida sufocada sob as sombras da mitologia cretina desses nossos dias.Nunca chamaria a esse lodo existência . a não ser com as narinas entupidas de algodão esperando a melodia das moscas .Térreo .Saiu do elevador em direção à praia. Perseverança com os fragmentos.Uma hora se juntam e nos dão sossego.
Ledusha Spinardi. Risco no Disco. FSP. 23/05/1999
domingo, 28 de agosto de 2016
Casa
"O importante não é a casa onde moramos.
Mas onde, em nós, a casa mora."
- Mia Couto
Às vezes constroem-se imponentes casas de madeira,
Às vezes impotentes castelos de areia.
Falando em outras épocas:
Não houve regras nem mesmices,
Nem de outros, quaisquer palpites,
Nunca deixei; (fui menino traquinas).
Até hoje em dia quando me apontam o dedo,
Aponto um lápis.
Na puerícia fui um príncipe - fui plebeu,
Fui o princípio das brincadeiras – fui o fim, pois também
fui o rei.
Por essa razão ou outra, talvez,
Não existe agora, nesse tempo,
De um insatisfeito, nem um ínfimo resquício.
Vivia o hospício bem-vindo de um artista,
Vivia o “agora” sem a vil bola fora,
Que condiz com qualquer aprendiz.
Na parede da minha casa,
Descascada, carcomida,
Em linhas frenéticas de giz,
Comecei os primários esboços:
Linhas traçadas nas paredes
Do sóbrio Pollock de um metro e trinta.
O piso era velho, de taco,
E no meu quarto o desenho de um tabuleiro de xadrez.
Em frente à casa uma mangueira,
E uma mangueira para regar e tomar meu banho.
Um balanço sobre a roseira e os belos girassóis de Van
Gogh...
Mas isso só em sonho.
Fui feliz naquela casa e nas outras que surgiram,
Pus meu toque ao adornar, pus a música e trouxe amigos.
Deixei o pássaro cantar, o verde crescer e o cachorro latir,
Deixei o chinelo sujo de barro na porta
E guardei a lembrança da minha mãe sorrindo.
André Anlub®
Anjos da Leitura
Os bondosos anjos da leitura
Tem asas suaves, leves e macias
Que viram cadernos cheios de ternura
Para que crianças repletas de alegrias
Escrevam histórias sem fim
Junto com rabiscos cintilantes
Tirando tudo o que é ruim
Pois elas são estrelas brilhantes
Que iluminam a torre de marfim
Os anjos da leitura trazem vários tipos de Arte
Dança, Artesanato, Teatro e Música
Pois eles sabem que a sensibilidade faz parte
De uma alma estudiosa, esforçada e lúcida!
Os anjos da leitura sabem que a Arte reduz a violência
Porque atividades lúdicas ocupam qualquer mente
Fazendo crescer no espírito a flor da paciência
Dando esperança e luz a um ser carente.
Luciana do Rocio Mallon
Poema aberto aos senadores do Brasil
... Eles sabem que vão cometer um crime institucional, de
lesa-pátria e lesa-povo. Por isso, serão relembrados, enquanto vivos e além da
sepultura, como a mais ignóbil lepra da humanidade...
Antes de ser uma lixeira política, ele/a é e será uma
nulidade humana, um/a pária social. Aquele/a que votou a condenação duma
inocente.
Ele/a será lembrado durante decênios e até séculos, como
um/a palhaço da república democrática, uma falha da raça humana do seu país.
Em cada dia da sua vida será acusado pela memória da justiça
do povo soberano. E os seus filhos, filhos de filhos, até que a memória se
rompa, terão o mesmo tratamento.
Os homens de bem e de justiça montarão um tribunal social
para efeitos desse castigo. Não só no seu país e na sua linguagem, mas no
universo total onde o homem de razão milite em prol do bem comum e da
construção de nações viáveis no que respeita os direitos da democracia.
Nunca recebereis amnistia da parte dos povos do mundo, nunca
tereis o beneficio da amnésia desses mesmos povos.
Eu me encarregarei de fazer a minha parte enquanto vivo e
com forças de luta, transmitirei aos meus herdeiros e herdeiros de herdeiros,
aos meus amigos, farei fóruns para explicitar a vossa vilania, traduzirei e farei
traduzir para que outros povos conheçam a vossa vã glória.
É o meu dever, na qualidade de cidadão do mundo
Fernando Oliveira, Paris
Russalki
Vento Oeste sequestrou as nuvens de pele negra
Que velavam o veloz rio rubro da manhã
Naquelas horas adormecidas .
A colheita continuava com o baile das foices
Transbordam muitas noites
nos olhos secos
Desertos de sonhos só sobrevive uma fresta de luz
Viver é preciso.
Wilson Roberto Nogueira
Vlademir Tremazul
"2160 horas...."
[...] 5:00. Acordei cedo, para ordenhar as vacas. Depois,
juntado todo o leite, pu-lo em garrafas e fui a Maceió, para vendê-lo perto da
Feira do Rato. No meu peito, a placa dizendo “Eu estou neste mercado, vendendo
leite, mas poderia estar no laboratório, fazendo o meu mestrado. Este é o leite
de alta qualidade, aprovado por cientistas de vários países. Leite da vaca da
ciência brasileira, que ninguém alimenta, nem cuida dela...Só ordenha”
Isso é a heroica ciência brasileira – vender leite para
sobreviver – violando o termo de compromisso do bolsista e o termo de adesão ao
Programa de Pós-Graduação – é com infração às regras, mas é o mal menor. [...]
Manter a ciência na “vaquinha” é o jeito... Mas não é assim que ela se
mantém...Não, senhor!
11:00. Dificilmente consegui vender umas garrafas, ganhando
uns quinze reais. Coisa alguma eu consigo vender por certo, porque vender é dom
natural, e eu não o tenho! Isso é resultado do comportamento do governo, que
transforma a vida do cientista no Brasil em jogo de azar (haja vista o
fascículo anterior).
Existe uma canção portorriquenha, chamada “Lamento
borincano”, cuja segunda segunda-parte é:
Pasa la mañana entera,
Sin que nadie quiera
Su carga comprar.
Ya todo está desierto,
El pueblo está muerto
De necesidad.
Se oye este lamento por doquier
De mi desdichada Borinquen.
Y triste
El “jibarito” va
Pensando así,
Diciendo así,
Llorando así por el camino –
“¿Qué será de Borinquen, mi Dios querido?
¿Qué será de mis hijos y de mi hogar?
Borinquen,
La tierra del Edén,
La que, al cantar,
El gran Gautier
Llamó la perla de los mares,
Ahora, que tú te mueres con tus pesares,
¡Déjame que te cante yo también!
É exatamente o estado, em que se encontra a ciência
brasileira, também muito elogiada por seus resultados, como o Porto Rico por
sua beleza, mas, mesmo assim, em xeque.
[...]
A CASA
A CASA
Ela nos expõe a si mesma
Nos esconde do mundo
Se vives numa casa, encolhido dentro dela
A casa são paredes, tijolos, cimento,
São ferros, vidros, fios elétricos
Sem cheiro de terra, sem as nuvens
Nela entra um pássaro e fere-se
Contra a vidraça. A grande gaiola que te protege
De ti mesmo.
Lá fora o mundo, feito de milhares de formas,
Incontáveis seres, mergulhado no voo da beleza
Cresce cada vez mais.
Paulo Bentancur.RS
Quando pulsa meu coração
Repulsa
A pulsação
Quem seria eu
Se dissesse estar de acordo
Com tudo que houvesse
Se espelhado ousasse
Ser o esperado
E opaco
Reluzisse
No fim da tarde
Entre os trastes das vitrines?
Seria a Séria e desenxabida
Forma avessa aos suicidas
Ainda que eu só me matasse
Quando a morte
Me pegasse desavisado
Julio Urrutiaga Almada
CONTRATEMPO
Jandira Zanchi
e continuando com Meio Dia/Sol Poente:
2. CONTRATEMPO
cenários a vácuo
enfileiram- se
maníacos manipulados
mediados
na vazão, quase sinistra,
do vão sustentáculo
- matéria/simbiose/quase osmose
(materialmente vago)
nobre conjunção aleatória
sem predicados e ou quem sabe
vague por esses tempos anulados
de certidões e certificados
circunstâncias fundidas no ferroso
cobre amianto.... da dúvida?
esperança tolerância abundância redundância
caímos por esse fio sem corte afiado
na masmorra virulenta do vernáculo
uma completa ciranda evidente
círculo concêntrico excêntrico
para destituídos de rendas e pompas
anunciarmos nossa nudez
frio fria flagrante
decência de códigos e fibras
espectadores ou atores
são externas as malhas
melífluas ou indiferentes
acidentalmente convenientes
gotas derramam-se no lago, pretensioso,
desse poente/nascente (conjugam-se valores
e validades esculpidas em ondas violáceas
invadindo e ligando os fios cosmonautas
do espaço- contratempo).
Quem viveu, ainda que num pedacinho da ditadura, não tem
dormido cedo. Em 1983, fui detido na Praça da Sé por vadiagem, estava com uma
mochila nas costas , lendo poesias. O livro não lembro, mas nunca esqueci o
carro Veraneio da Chevrolet, era desconfortável. Minto, o livro era de contos,
Fernando Sabino! JD
As Filhas de Manuela
Bom dia!
Fragmentos do meu romance "As Filhas de Manuela", que divido com vocês,
fragmentos deste livro que - espero - chegue até as mãos dos leitores .
Abraços
Bárbara Lia
depois da sinopse, link para o site mallarmargens...
Século XIX, a Revolução Farroupilha fervilha e obriga a
Coroa a enviar soldados para o sul. Um homem da Armada Nacional, em passagem
por Paranaguá, conhece uma garota e o amor dos dois vai desencadear eventos
dramáticos. Uma epopeia feminina que gira em torno de uma maldição que passará
de mãe para filha, em uma cadeia inusitada onde o laço de sangue não é o
essencial. Onde o essencial é a herança da alma. As descendentes de Manuela são
protagonistas desta saga e cada qual desvela sua personalidade, com leveza e
graça e o estranhamento de trazer uma sombra da cor do sangue. Ambientado de
1839 aos dias atuais, com cenários que vão de Paranaguá ao Rio de Janeiro,
passando por Paris e por Arraial D’Ajuda, um mosaico de vidas que insistiram
nesta tal felicidade, sem pieguice ou fantasias, e em amores distanciados dos
contos da carochinha. Um enredo quase surreal – Realismo Mágico - onde um homem
amaldiçoa uma mulher e toda a sua descendência, com ódio tão extremo e com o
desejo de que todas sofram tanto que até suas sombras sangrem. É a narrativa de
como elas lidaram com esta absurda herança.
A Importância do Domínio da Língua Portuguesa no Trabalho e no Amor
Apesar da grande evolução da Tecnologia, o domínio da Língua
Portuguesa continua importante no trabalho e no amor.
Muitas empresas além de analisarem os currículos dos
candidatos, também pedem para que eles elaborem uma Redação e passem por provas
de Gramática e Interpretação de Texto.
Trabalhei durante muito tempo no comércio e como eu era
formada em Letras, toda a vez que um candidato a emprego escrevia uma Redação,
a gerência pedia para que eu corrigisse este teste. Com certeza, pessoas com
erros berrantes de Português não ficavam com as vagas.
Além da vida profissional, saber dominar a língua materna
corretamente é muito importante na hora de conquistar alguém que tenha o mínimo
de escolaridade. Como sou solteira, costumo navegar em grupos e sites de
namoro. Um dia, um rapaz escreveu o seguinte:
“ – Quero mulher “CINSERA” .
Logo, eu respondi:
- Moço, a palavra “CINSERA” está com a grafia errada. Pois o
correto é “sincera” com a letra “s” no começo.
O problema é que o rapaz se ofendeu e me deu uma resposta
malcriada. Isto é sinal de que além de escrever errado, ele não aguenta quem
diz a verdade. Isto é sinal de que este homem, realmente, não quer uma mulher
sincera.
Atualmente, existem cursos gratuitos de Gramática, Redação e
Interpretação de Textos em instituições voluntárias e em sites da Internet.
Portanto, é um conhecimento que está acessível a todos.
Através deste artigo podemos concluir que dominar o mínimo
da Língua Portuguesa é importante tanto para o emprego quanto para o amor.
Luciana do Rocio Mallon
A Flor da Poesia
A flor da Poesia nasce no jardim
Do leve e suave espírito sem fim!
Seu adubo é o sentimento
Que é levado pelo vento!
A flor da Poesia vira um cravo
Para libertar o doce escravo!
Este cravo tem a chave que liberta as correntes
Da depressão que prende artistas inocentes!
A flor da Poesia vira uma linda rosa
Quando um cavalheiro deseja conquistar
Uma donzela misteriosa e formosa
Que se encanta com a luz do luar!
As pétalas da flor da Poesia
Transformam-se em papel
Com a caneta da harmonia
O poeta escreve linhas de mel
Que ficam no livro da eternidade
Com o aroma da mais pura verdade!
A flor da Poesia vira um copo-de-leite
Para alguém que tem sede de verso
Assim a pessoa conhece o deleite
Das canções mais puras do Universo
A flor da Poesia vira uma petúnia
Para quem sofre uma calúnia
Esta flor brota com suas lágrimas,
Lamentos, tristezas e lástimas!
A flor da Poesia nasce no jardim
Do leve e suave espírito sem fim!
Seu adubo é o sentimento
Que é levado pelo vento.
Luciana do Rocio Mallon
sábado, 27 de agosto de 2016
103. (Nova República Caquética)
São duas coisas complementares, não excludentes: havia algo
de podre no Reino da Dilmamarca, há sim algo de podre nesta Reação
Temerdoriana.
Rodrigo Madeira
POETADO ao Pudor
O falso moralismo e a cruel censura
Prenderam toda a minha criatividade
Causando, na minha alma, amargura
Sem um pingo da real sinceridade
Fui proibido de falar das peças pequenas
Que cobrem as partes sedentas por giros,
Gemidos, sussurros,
orgasmos e suspiros
Não posso falar das damas noturnas e serenas
Que encantam até os sanguinários vampiros
Agora, estou POETADO ao pudor
Colocaram uma venda em meus lábios
Mas ainda sou capaz de sentir amor
Atrás dos cometas com astrolábios!
Nas minhas mãos colocaram algemas
Mas mesmo assim escrevo em coxas macias
Os mais proibidos e instigantes poemas
Coberto com as colchas das secretas fantasias!
Agora, estou POETADO ao pudor
Colocaram uma venda em meus lábios
Mas ainda sou capaz de sentir amor
Atrás dos cometas com astrolábios.
Luciana do Rocio Mallon
jura secreta 4
a menina dos meus olhos
com os nervos à flor da pele
brinca de bem-me-quer
ela ainda pensa que é menina
mas já é quase uma mulher
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos Canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto que a argamassa do abstrato
por enquanto vou te amar assim
admirando teu retrato pensando a minha idade
e o que trago da cidade embaixo as solas dos sapatos
o que trago
embaixo as solas dos sapatos é fato
bagana acesa
sobra do do cigarro é sarro
dentro do carro ainda ouço Jimmi Hendrix
quando quero
dancei bolero sampleAndo rock and roll
prá colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto-síntese do papel
tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana
procuro um mix da guitarra de Santana
com os espinhos da Rosa de Noel
Artur Gomes
foto.poesia - FULINAÍMA MultiProjetos
portalfulinaima@gmail.com
Circo e ... pão!
Ligo a televisão e vejo a cena:
Discussão de senadores.... Que pena!
Exemplo que vem de cima.... Constrangedor.
Em seguida, desligo a televisão,
Mas, não fico na ilusão,
Tenho pena do trabalhador...
Em nome da democracia,
Fomentaram a burocracia,
Os gastos se multiplicaram,
Novas castas se formaram,
Os impostos aumentaram,
Os bens públicos? Saquearam...
O ensino, continua em greve,
E o ministro não se atreve
A resolver a questão.
O povo, pobre, iludido,
Continua convencido,
Que bom mesmo, é circo e pão!
Elzio Leal
Descobri Para Onde Vão as Palavras Não Ditas Num Momento de Ódio
Eu , realmente,
sempre desejei conhecer e saber
Para onde vão as palavras não ditas na hora da raiva
Elas atentam a pessoa, durante a noite, até o amanhecer
E depois se transformam numa violenta saraiva,
Numa forte chuva de granizo
Provocada pelo bravo juízo
Então as frias pedras de gelo
Geram, no ser, um pesadelo
Depois as pedras caem na fértil terra
Da alma da pessoa que guardou rancor
E com as lágrimas da primavera
Elas viram um anjo através da dor
Este anjo é amarrado com correntes
Suas asas foram destruídas e quebradas
Seus olhares são meigos e carentes
Ele é o fruto das palavras caladas
O anjo que arrasta a asa, deixa a pessoa muito doente
Ele só pode se libertar através de um papo inocente!
Uma enfermidade com origem emocional
Faz até mal para o mais distante astral
As palavras não ditas na hora do ódio
Formam anjos tristes e com ócio,
Que trazem doença e tristeza
Guardar letras não é da natureza
Um anjo calado traz úlcera, depressão e tumor
Só a palavra sincera liberta alguém desta dor!
Ele também pode trazer refluxo e alergias
Só a sinceridade pode trazer reais alegrias!
Descobri através de pesquisas sem medo
O mais misterioso e secreto segredo:
As palavras não ditas na hora da raiva
Formam uma violenta e triste saraiva
Só a sinceridade sem xingamentos incoerentes
Pode libertar os anjos calados das correntes.
Luciana do Rocio Mallon
Fascismo
Está crescendo assustadoramente
a onda fascista no Brasil, meu Deus!
Em nome de um nacionalismo hipócrita
túmulos Caiados, fariseus hipócritas
vão pelas ruas, praças e lugares diversos
agredindo, achincalhando pessoas.
De maneira perversa, arrogante, tão vil
hoje mesmo uma Senadora paranaense
foi atacada no aeroporto por monstros.
Por esses monstros fascistas repletos
de misoginia, preconceito e hipocrisia!
Foi triste assistir àquela cena tão cruel
cujos atores deixavam claro que eram
piores que animais deveras selvagens!
Em minha vida repleta mais de passado
que de futuro, inúmeras vezes já ouvi
dizerem que este nosso singelo Brasil
é um país hospitaleiro, fraterno e pacífico.
Mas se realmente essas qualidades ele tem
por que, por que meu Deus, está assim
cheio de preconceito, xenofobia, vilania,
arrogância, desprezo, ódio, falsidade, por quê?
Somente a exceção tem bondade e é justa!
Somente à esquerda se vê fraternidade!
À direita somente se vê injustiça, desamor,
discriminação e conservadorismo perverso!
As elites nefastas e oligarquias nefandas
por séculos e séculos e séculos e séculos
governaram o singelo Brasil bem alojadas.
Instaladas nas dependências da Casa Grande
jamais se preocuparam com o sofrimento
dos infelizes que habitavam a cruel Senzala.
Todavia um dia uma estrela brilhou e mostrou
o caminho para a inclusão de muitos, muitos
que do singelo Brasil estavam excluídos!
E os ex-excluídos ficaram felizes demais!
Mas as nefastas elites e nefandas oligarquias
não aceitam que os pobres sejam felizes.
Por isso querem destruir o governo que abriu
as portas do Brasil para os excluídos do Brasil.
Classe média, oligarquias, elites sendo vis
aceitam a convivência com pobres, com as minorias,
com negros, gente simples e trabalhadores em geral.
Desde que esses não saiam de seus lugares e fiquem
chafurdados lá no fundo da Senzala criada por elas!
É por isso que elas agora estão violentas, raivosas!
Seguem xingando bem enroladas na imensa bandeira
da hipocrisia dizendo que essa é a do singelo Brasil!
(Professor Candido)
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
O Livre-Arbítrio é um Pássaro na Gaiola
O livre-arbítrio é um pássaro sedutor
Com asas suaves, leves e macias
Dizem que ele fica do lado amor
Mas isto são boatos com fantasias!
Ele é uma ave numa gaiola transparente
Construída pelo esperto destino
Para fazer o homem se sentir inteligente
Em escolhas onde impera o desatino!
O livre-arbítrio é uma marionete com penas
Manipulada pelo universo e pela vida
Sobrevoando o céu em várias cenas
De uma forma garrida e, às vezes, sofrida!
O livre-arbítrio tem uma voz bonita
Mas seu bico é perigoso e cortante
Ele gera uma ferida cruel e infinita
Em alguém que sonha em ser brilhante!
O livre-arbítrio é um pássaro sedutor
Com asas suaves, leves e macias
Dizem que ele fica do lado amor
Mas isto são boatos com fantasias.
Luciana do Rocio Mallon
Ler e Escrever Debaixo de uma Árvore Frondosa
Ler debaixo de uma árvore frondosa
É quase um pecado, um real sacrilégio
Que é perdoado de forma maravilhosa
Que acaba transformando-se num privilégio!
Quando alguém lê debaixo de uma planta
Suas folhas verdes beijam as folhas do papel
Assim elas transformam-se em mantas
Beijando as páginas com gotas de mel!
A donzela escrevendo debaixo de uma árvore frondosa
Com o seu lápis rústico de uma forma faceira
Transforma-se em uma princesa pomposa
Enquanto o lápis apaixona-se pela madeira!
Quando alguém escreve debaixo da árvore com flores
As musas do Olimpo inspiram mais de mil amores
Estas flores transformam-se em rimas e versos
E os poemas viram estrelas em mil universos!
Quando o moço lê debaixo de uma árvore com frutas
Ele se inspira através de um nobre e bom tom
Enfrentando as mais difíceis labutas
Transformando-se num novo Newton
Quando alguém escreve debaixo de uma árvore frondosa
A sombra da planta vira uma luz refrescante
Protegendo o autor da seca venenosa
Que torna a sua pele deselegante
Ler debaixo de uma árvore frondosa
É quase um pecado, um real sacrilégio
Que é perdoado de forma maravilhosa
Que acaba transformando-se num privilégio.
Luciana do Rocio Mallon
Livramentos
O tempo do destino e do universo
É diferente do tempo do ser humano
Antes da estrofe sempre vem o verso
Sem adiantar qualquer tipo de plano!
Não fique triste se você foi despedido
Esta é uma oportunidade para encontrar o seu dom
Que está fechado, em seu peito, bem escondido
Mas que tem o brilho da Lua de neon
Portanto, agora exercite a sua criatividade
Procure, na sua alma, o que você gosta de fazer
Assim poderá ganhar dinheiro com esta atividade
Unindo o trabalho com a harmonia do prazer!
Se o seu amado lhe deu o fora
Acabando com o relacionamento
Por favor, pare de chorar agora
Para dar chance a um novo sentimento
Assim surgirá uma luz para encontrar seu amor de verdade
Pois uma paixão que custa a própria independência
Não é o caminho para a real felicidade
Porque quem ama sempre terá paciência
O tempo do destino e do universo
É diferente do tempo do ser humano
Antes da estrofe sempre vem o verso
Sem adiantar qualquer tipo de plano!
O universo não tira, ele livra
Pois a justiça é uma travessa diva
Ela dá lições parecendo que priva!
Para ter o que você merece, não basta esforço
Você tem que sofrer para conseguir maturidade
Tem que apertar a palma da mão e, também, o dorso
Para ser presenteado pelo destino de verdade.
Luciana do Rocio Mallon
Terremoto Na Itália
Dia vinte e quatro, bem nesta quarta-feira
A Itália, de um jeito assustador, tremeu
Chegou um terremoto de maneira traiçoeira
Deixando toda a população num triste breu
Este terremoto mandado por bruxas perigosas
Atingiu até as províncias humildes e montanhosas
O terremoto foi tão forte em sua magnitude
Que até a bota, do mapa, para cima deu um chute
Neste terremoto tudo se escureceu
Até o antigo Coliseu se abateu
Pois o barulho acordou até Orfeu!
Vamos transformar os prantos
Em rezas cobertas de mantos
Oremos pelos irmãos italianos
Para que eles realizem seus planos.
Luciana do Rocio Mallon
A Semente da Poesia
Somente a semente da Poesia
Tem o poder de nascer no deserto
Retirando toda a secura da agonia
Do poeta sem ninguém por perto!
Porém se a semente da Poesia
Cai no solo de uma alma vazia
Ela pode realizar um milagre sem fim
Germinando num lugar considerado ruim
Quando esta inocente semente
Cria uma forte e duradoura raiz
Uma árvore nasce em cada mente
Deixando um anjo alegre e feliz!
Quando esta semente cai num pomar
Transforma-se na árvore da sabedoria
Que cresce sob a luz mágica do luar
Deixando um clima de harmonia
A árvore da Poesia tem flores delicadas
Os seus frutos são poemas suculentos
Adubados por fadas suaves e encantadas
Que espalham mais de mil sentimentos!
Esta árvore tem as folhas da boa vontade
Que se espalham pelo mais leve ar
Levando doçura, ternura e amizade
Para um poeta que sonha em amar.
Luciana do Rocio Mallon
AlfaPOEMA
Reza a lenda que Maria Madalena
Apaixonou-se por uma estrela distante
Então a dama escreveu um poema
Para este amor brilhante e cintilante
Porém quando tudo escureceu
Maria Madalena ficou no breu
Deste jeito ela percebeu
Que a sua paixão era impossível
Mas como o amor já era irreversível
Ela deixou cair do seu rosto de menina
Uma lágrima sincera, pura e cristalina
Que se jogou na fértil terra
Naquela noite de primavera
Assim por causa deste problema
Nasceu a perfumada flor de alfazema
Mas esta flor se apaixonou de um jeito elegante
Também por outra estrela radiante e distante
Porém o inteligente, esperto e solidário vento
Ao perceber a verdade sobre este sentimento
Fez com que as pétalas desta flor
Se espalhassem com esplendor
Por todo o espaço sideral
Assim com a magia do astral
A estrela cintilante beijou as pétalas macias
Explodindo em sementes de mil fantasias
Estas sementes geraram a AlfaPOEMA
Uma flor parecida com planta de alfazema
A AlfaPOEMA vira flor no mais ensolarado dia
Mas à noite ela transforma-se numa estrela de luz
Nas tardes ela é flor na mais pura poesia
Porém à noite seu brilho de estrela seduz
Qualquer poeta, romântico ou trovador
Afinal a AlfaPOEMA é o mais puro amor
A estrela alfa vira uma flor alva
Para que a dama seja salva
Com a benção da estrela-d’alva.
Luciana do Rocio Mallon
Lorena
Foi numa festa de Carnaval
Na cidade de Contagem
Ocorreu algo de especial
Que fez um homem viajar na paisagem
Ele, na multidão, avistou uma bailarina
Que parecia uma transparente miragem
Ela era madura, mas tinha corpo de menina
Com uma dança que parecia de passagem
Ao aproximar-se, ele sentiu um cheiro alfazema
E perguntou qual seria o nome da misteriosa princesa
A dama, com saia de tule, disse que era Lorena
Com toda meiguice, suavidade e beleza
No mesmo dia, os dois realizaram fantasias
Como era forte a marca deste sentimento
Eles passaram a se ver todos os dias
A toda a hora, a todo o tempo
Mas, numa tarde cinzenta de abril
A doce Lorena partiu e sumiu
Ele acha que a dama veio para o Sul
Por isto seu céu deixou de ser azul
Depois numa velha estrada da vida
Ele me viu e se lembrou de Lorena
Mas sou apenas parecida na parte física
Ela é um conto e eu sou um poema!
Não posso fazer o que
ele fazia na intimidade
Com sua musa de Carnaval cheia de felicidade
Porque eu tenho outra personalidade
Hoje, ele grita alto o seu problema:
- Cadê você, Lorena ?
- Cadê você, Lorena?
Ela virou anjo e do céu derrubou uma pena
Para que eu escrevesse estes versos e saísse de cena.
Luciana do Rocio Mallon
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
O Pernilongo
Que inseto abobado não sabe quem é
de mochila nas costas vai embora a pé!
mosquito mondrongo,
infeliz pernilongo
só anda descalço e não tem mais chulé
Luciah Lopez
domingo, 21 de agosto de 2016
Culpa
Essa é a principal prisão
as correntes da consciência
rasgando as veias da alma
afundando em sangue os sonhos
dourados sonhos de outrora
cúmplice de crimes risonhos
um dia
um dia abrira baús de promessas
e só sorriram diamantes
nos dias amantes os cadáveres
nos espelhos da memória
reluzem azuis nos silêncios da cela
das grades nuas das cordas desejadas
Urra uma maldição
VIVA.
Wilson Roberto Nogueira
as correntes da consciência
rasgando as veias da alma
afundando em sangue os sonhos
dourados sonhos de outrora
cúmplice de crimes risonhos
um dia
um dia abrira baús de promessas
e só sorriram diamantes
nos dias amantes os cadáveres
nos espelhos da memória
reluzem azuis nos silêncios da cela
das grades nuas das cordas desejadas
Urra uma maldição
VIVA.
Wilson Roberto Nogueira
sábado, 20 de agosto de 2016
Na fila do mercado do sábado, a minha frente uma família,
casal de meia idade e um menino de uns dez anos. O pai com macacão de firma com
graxa nos bolsos, a mãe, apesar de levemente maquiada, percebia-se que vestia
roupa de casa, o garoto de bermuda, camisa de time desgastada. O carrinho de
compras abarrotado, tipo rancho do mês, mercadoria básica. Não pude deixar de
notar, afinal, sou observador, contei as poucas guloseimas; os pacotes de
bolachas recheadas, havia três, duas de bolacha Maria; duas latinhas de leite
condensado; uma de creme de leite, uma lata de pêssegos em calda; duas bandejas
de iogurte, o da promoção! Havia também um bom pedaço de carne,
peça inteira de posta vermelha. A mesma que havia comprado
para fazer na panela recheada com cenoura e bacon. Não sou bisbilhoteiro, mas o
tempo passa depressa e a fila anda mais rápida quando calculamos as compras dos
outros. Enfim, chegou à vez do casal, depois de passar todo pedido do carrinho
e o chocolate da mão do menino, tentaram passar o cartão, uma, duas, três
vezes... Trocaram de cartão, uma, duas... Foi mudada a máquina, não adiantou, o
problema não estava na senha e nem com o sistema de informática, mas com o
saldo bancário. Um depósito que não caiu, uma conta cobrada antes do prazo,
sabe lá. A situação era de fato constrangedora, percebi os olhos de reprovação
da caixa. Senti como se fossem voltados para mim, empatia com os personagens
fictícios ou reais, coisa de escritor. Realmente ao exercitarmos a empatia,
vivemos as dores e alegrias dos outros. Sofri com a situação, fiquei olhando o
casal saindo com andar sem jeito, a criança sem o chocolate na mão, o que
fazer? Pera aí Senhor! Deixe que eu pago as compras. Não tenho recursos,
poderia estourar meu cartão também, ou: “Menino deixa que eu pague seu
chocolate”, poderia aumentar ainda mais a humilhação para o casal, seja como
for, fiquei sem ação, minha vista seguiu aquela família até a porta do mercado,
para depois pensar qual seria o almoço de domingo daquela família. E a sobremesa?
Certamente, não teria pêssegos com creme de leite. O que sei é que meu almoço
de domingo não será mais saboroso. Lembro agora de Dostoiévski: “escrever é
sofrer”.
JDamasio
NOITE DE ORGIA
Estive em uma noite de orgia literária. Era sábado, até a
lua estava assanhada. Todos estavam despidos da timidez. Havia muitas trocas,
livros de poesias por livros de contos. Antologia aqui, antologia lá. O oral
excitava a sensibilidade, poetisas declamando, contistas narrando. Vinho
suavemente bebericado para estimular a performance. Todos embriagados pela
arte. Muitas fantasias! Posições, as mais variadas, sempre com muito respeito!
Palavras vulgares aceitas, desde que dentro do contexto. Não houve penetração
nos textos alheios, apenas toques sutis. Muitas caricias nas páginas folheadas,
dedos úmidos de saliva deliciavam-se em cada parágrafo, a cada estrofe.
Ao amanhecer, como desfecho, a luz do sol pelas frestas das
persianas riscava um lindo dia! Orgasmos múltiplos.
JDamasio
DESABROCHOU
Quando um botão se abre
revelam-se os segredos,
disse um passarinho
na ponta dos meus dedos.
Angel
Popovitz
BORBOLETA
Abriu a janela para ver seu último entardecer. Junto à
brisa, veio uma borboleta pousar em seu nariz. Morreu, estrábico,
vendo as cores da poesia.JDamasio
durante boa parte da minha vida, fui, inexplicavelmente, um
ímã pra gente maluca, tanto, que acabei por me acostumar com elas. no fundo
gosto de gente doida, gente doida tende a ser contundente, e a contundência me
agrada, sobretudo neste vale de lágrimas mornas que habitamos. água morna
porque virou moda você sempre dourar a pílula, colocar panos quentes, não
desagradar os partidários do que se costuma chamar de "politicamente
correto" - ou a patrulhinha ideológica te pega e aponta com o dedo.
outrora, creio eu, esse papo de "politicamente correto", essa
linguagem morna e essa patrulha toda sobre o que falar e como falar era uma
conversinha daqueles gatopardais que buscavam a manutenção do dito "status
quo", hoje, pasme, é a técnica narrativa por excelência de qualquer um que
queira ser bem quisto e combater o "status quo". por conta disso,
tenho considerado bem mais interessantes os textos de meus amigos da direita
(palavra cujo sentido é um abacaxi, porque se você critica ou questiona
qualquer, mas qualquer mesmo, coisa que contrarie a apostila do partido, você é
peremptoriamente taxado de coxinha, burro, temerista, racista, homofóbico e
mais um monte de tranqueira vocabular que desconheço) do que meus camaradas
partidopanfletários da - ó - ""esquerda"" (isso mesmo, com
duplas aspas). então, entre o senso comum da cerveja artesanal e do hambúrguer
vegano, fico com o rollmops e o traçado - melhor cozinhar o galo e sair com um
sincero bafo de cebola com sardinha, do que disfarcá-lo com um odorífico drops
de cereja.
William Teca
BOCA DA NOITE
Quando sua boca
Se me cola à boca
É qual flor da noite
Que em mim se colasse
E a língua é pistilo.
Então me transporto
Pra onde tudo aquilo
Que é sonho me desce.
A vontade lassa.
Que ela não se fosse!
Quando ela me laça
É qual se uma aranha
De amor me picasse
E eu me entorpecesse
De um veneno doce.
Germano Quaresma.
SOBRE GORILAS
Ontem durante a insônia das três da manhã peguei-me pensando
em gorilas. Acordei deprimido com a onda de estupidez, canalhice a violência
que assola a nação, uma estupidez bruta, militar, gorilesca. Sem conseguir
lembrar do sonho do qual despertava, da sensação de incômodo inicial o cérebro
dominou e desatei a pensar; quando dei conta estava revisitando o filme O
Planeta dos Macacos, de onde lembrei, num raciocínio embotado pelo sono, que
nele a sociedade dos primatas era dividida em castas, como uma Índia.
O infortunado astronauta que foi cair no planeta dos macacos
deparou-se com orangotangos, chimpanzés cientistas e gorilas militares. Tinha o
horroroso general Urco, um gorila truculento, o sábio Doutor Zaius, um
orangotango estudioso, e Cornelius e sua namorada Zira, dois chimpanzés
pesquisadores. Quando o filme passou no Brasil vivia-se a ditadura militar, e
Urco bem representava o poder instituído: estúpido, injusto, surrreal, quase
cômico, não fosse um fato ali, à vista.
Pensei noutro gorila do cinema, Kong, uma besta bruta mas
sensível, capaz de apaixonar-se pela mocinha. O amor dos gorilas nunca é
compreendido, essa história de que os brutos também amam parece aqueles
aforismos que têm de ser repetidos infinitamente porque nunca o imaginário
popular assimila. Kong acabou abatido a tiros do alto do Empire State ante a
iminência de causar mal à heroína. Quando o pensamento guiado pelo
subconsciente me trouxe a imagem de King Kong descobri a primeira de duas
razões da minha tristeza: o gorila de Cincinatti, EUA, morto a tiros em
situação idêntica porque uma criança havia caído em sua jaula e sofria iminente
risco, Na dúvida, optou-se por sacrificar a besta fera.
O fundamento central do Direito, esta ciência humana,
demasiadamente humana, é a primazia do Homem sobre tudo o mais do Universo.
Ante a possibilidade de dano a um humano mata-se o animal e isto é legal, é
legítimo, podem os ambientalistas gritar se quiserem. A leis de meio-ambiente
são feitas tendo por escopo o interesse do Homem em primeiro lugar. São
Francisco de Assis e Ghandi, que pregavam um Direito Universal, extensivo às
coisas, aos animais, plantas e ao planeta, não são estudados em nossas
faculdades.
Kong, esta alegoria de uma masculinidade estúpida, está em
confronto com outro ícone da telas, Superman. Se o super homem é a metáfora do
respeito da força pela beleza, se ele muda o curso da história por causa da
mulher e sagra-se herói, Kong é assassinado pra que se preserve a vida do
frágil.
Nestes tempos loucos de machismo exacerbado, de covardia, de
estupro referendado, de saque, de golpe, de chicana, de canalhice, de violência,
as imagens de tantos gorilas me confundem a cabeça. Eu vejo uma legião de
cretinos posando em foto ao lado de gorilas fortemente armados, animais
perigosos, detentores de uma força que teria de ser comandada no mínimo por um
orangotango amoroso, mas parece estar a soldo de chimpanzés mentais, maléficos,
que só visam lucro.
Eu vi Harambe, o gorila de Cincinatti, ser morto a tiros só
pelo risco de estar perto de uma criança. No entanto eu também vi um gorila
treinado, violento, perigoso, atacar uma jovem mulher indefesa com um golpe que
só se deveria aplicar em vilões com potencial ofensivo exorbitante. Uma mulher;
uma menina; desarmada. Não se venha falar em vitimismo, um gorila não tinha era
que atacar ninguém, apenas defender os pobres macacos-pregos do trópico
subequatorial, casta de macacos ignorada pelos chimpanzés do mundo civilizado.
Mas os gorilas estão soltos, e não são aqueles bonzinhos do zoológico,
expatriados de uma África onde viviam em paz. Falo de gorilas de outras
qualidade, perigosos, armados, treinados, a mando de chimpanzés perversos. Uma
hora alguém terá de aplicar o princípio da primazia humana e começar a abater
estas feras.
Germano Quaresma.Asteroides Anabolizantes
O Povo ao Poder
Castro Alves
Quando nas praças se eleva
Do Povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...
Que o gigante da calçada
De pé sobre a barrica
Desgrenhado, enorme, nu
Em Roma é catão ou Mário,
É Jesus sobre o Calvário,
É Garibaldi ou Kosshut.
A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor!
Senhor!... pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua seu...
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.
Na tortura, na fogueira...
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem ... nesta hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.
A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu’infâmia! Ai, velha Roma,
Ai cidade de Vendoma,
Ai mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.
Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhes os pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções...
Não deixais que o filho louco
Grite “oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações”.
Mas embalde... Que o direito
Não é pasto de punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal...
Ah! Não há muitos setembros,
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensanguentado
Diz: já não posso sofrer.
Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.
Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz...
Ai! Soberba populaça,
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Lenda do Canhoto
13 de agosto, foi Dia Mundial do Canhoto e por isto
muitas pessoas me pediram para que eu postasse lendas com este tema.
Como muita gente sabe canhoto é o nome dado para a pessoa
que escreve com a mão esquerda.
Reza lenda que, no princípio do mundo, a alma que seria de
um dos filhos de Adão e Eva foi até o céu e disse a Deus:
- Eu ouvi falar que os seres humanos têm duas mãos: a do
coração que é a esquerda e a da escrita que é a direita...
- Mas, Papai do Céu, eu gostaria de poder escrever com a mão
do coração. Pois um anjo me disse que a criatura que conseguir fazer isto terá
poderes mágicos.
Deus disse:
- Eu posso até conceder este desejo a você. Mas a sua pessoa
será perseguida por ser diferente e por ter forças espirituais, tanto que
criaturas assim serão chamadas, pejorativamente, no futuro de canhotas e
aguentarão duras perseguições.
O futuro filho de Adão e Eva exclamou:
- Eu aceito!
- Pois deve ser maravilhoso escrever com a mão do coração!
Assim Papai do Céu presenteou este humano com o seu pedido e
ele passou a desenhar com a mão esquerda. Porém, por isto, foi vítima de
preconceito da própria família. Pois nem seus pais achavam que ele era normal.
Na Idade Média, muitos canhotos foram queimados na fogueira
por causa de uma lenda que dizia que eles tinham poderes sobrenaturais e por
isto poderiam desafiar os ensinamentos da igreja.
No Reino Unido, em 13 de agosto de 1976, surgiu o Dia do
Canhoto. Por coincidência, o dia 13 de agosto é considerado místico por alguns
esotéricos.
Muitos famosos são canhotos como: Bill Gates, Einsten,
Ayrton Senna, Machado de Assis, Beethoven e Pelé.
Apesar de tantos mitos e lendas, os canhotos não merecem ser
discriminados.
Luciana do Rocio Mallon
Quando os Sonhos Se Transformam
Todo o sonho é um doce de confeitaria
Porque tem consistência e doçura
Na panificadora da nobre e leve fantasia
Onde se esconde a mais pura ternura!
Quando você coloca o rosto no sol
Lutando por um raro objetivo
No jardim canta um rouxinol
E seu espírito fica ativo e vivo
Assim o sonho vira um quindim
Da cor do Sol quente e amarelo
Derretendo as asas do querubim
Que não deixa de ser bom e belo!
Quando sonho vira uma fantasia
De um amor proibido e perigoso
Até uma frase mais simples vira Poesia
Quando o desejo é maravilhoso
Assim o sonho vira um suspiro
Um real gemido de verdade
O garoto tímido vira um vampiro
Num humilde e rápido giro
Ao encontro da tão esperada felicidade!
Quando você deixa o sonho para vencer
Ele vira um delicioso pé-de-moleque
Pois, a Cinderella coloca o sapato para valer
E com seu sorriso abre um vasto leque
Quando o seu sonho vira uma surpresa
Ele vira uma bomba de chocolate com frutas
Porque você vence com força e beleza
No troféu merecido das esforçadas lutas!
Todo o sonho é um doce de confeitaria
Porque tem consistência e doçura
Na panificadora da nobre e leve fantasia
Onde se esconde a mais pura ternura.
Luciana do Rocio Mallon
sábado, 13 de agosto de 2016
Consciência
Faço e desfaço
o largo laço
do sentimento.
Mordo ou remordo
o alimento
que a vida doa à toa,
Rosto e desRosto de mel e fel.
Rompo ou corrompo a simetria
do dia.
Consinto, sinto
a insuficiência
na só regência
do coração,
mordido cão.
Relevo. E levo
alta alquimia
sobre meus ombros: poesia
e escombros.
.
- Yeda Prates Bernis, no livro "Pêndula". 2ª ed.,
Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1986.
Lenda do Algodão-Doce
Reza a lenda que no século XV, na Europa, existia um padeiro
que tinha uma filha com necessidades especiais. Pois a garota não andava e
tinha um tipo de autismo leve. Seu nome era Candice, mas recebeu o apelido de
Candy pelas pessoas da aldeia onde que morava. Por causa de suas limitações,
seu pai construiu uma cadeira de rodas, de madeira, para a menina ficar
admirando o céu o dia inteiro. Esta criança gostava tanto de apreciar as nuvens
e observar os desenhos que elas montavam no firmamento, que seu sonho secreto
era comer uma destas nuvens. Um certo dia, seu pai perguntou:
- Candy, qual é o seu maior sonho?
A garota respondeu:
- Papai, minha fantasia é comer as nuvens do céu, pois elas
devem ter um sabor fantástico.
Assim, como o homem era padeiro, ele pensou em desenvolver
um jeito de fazer um doce que fosse parecido com uma nuvem.
Naquela noite, este rapaz teve um pesadelo com uma fada que
disse:
- Boa noite!
- Eu sou a fada dos desejos das crianças com necessidades
especiais.
- Por isto, ajudarei a você fazer o doce de nuvem que a sua
filha tanto deseja.
- Primeiro, monte uma máquina com as peças velhas de metal
que existem no seu galpão. Depois que isto estiver pronto, o anjo guardião das
nuvens soprará a receita no seu ouvido.
Naquele mesmo instante, o moço acordou e foi até o galpão.
Deste jeito construiu a máquina e seguiu as instruções do anjo. Assim surgiu o
algodão-doce que ele batizou de Nuvem de Algodão da Fada.
Quando Candice acordou, seu pai mostrou o novo confeito e
disse que era um doce feito de uma nuvem. Desta maneira, a garota experimentou
e deu o melhor sorriso de toda a sua vida. Mas, por Candy ser a primeira
criança a experimentar este alimento, ele ficou conhecido como Candy Floss, que
significa algodão-doce.
Porém, este doce não se popularizou naquela época, pois o
açúcar era muito caro.
Reza a lenda que se uma criança deseja que seu sonho seja
realizado, ela deve comer um pedaço de algodão- doce, pensar no desejo e falar:
- Candy Floss!
- Candy Floss, me ajude a realizar este sonho.
Em 1897, o dentista James Morrison que era fã desta nuvem
açucarada, resolveu montar um aparelho mais elaborado, que batizou de máquina
dos doces. Assim ele criou o algodão-doce do jeito que conhecemos hoje.
Luciana do Rocio Mallon
Resistência
(José Maria Alves Nunes)
Resistirei aos teus encantos
Como a pedra resiste as investidas do mar.
Construirei muralhas, levantarei trincheiras,
Lançarei mãos de todo artefato,
Quaisquer barreiras que te impeçam de chegar.
Não serei campo aberto, livre,
Porta sem taramelas
Casa de mil janelas
Ou como folha seca caída do galho
que se deixa levar ao sabor do vento.
Assim espero.
Todas as noites, depois das aulas, Lourdes percorria um
longo caminho até chegar em casa. Se ela atravessasse o cemitério chegaria mais
rápido. Mas a garota não ousava desobedecer à mãe, que a proibira de atravessar
o cemitério para cortar caminho.
Na noite de sexta-feira, a lua cheia brilhava no céu limpo,
e a luz do luar motivou Lourdes a cortar caminho por dentro do cemitério. Seria
só uma vez e sua mãe nunca ficaria sabendo.
A garota pulou a mureta do cemitério e seguiu andando
cuidadosamente por entre os jazigos.
Lourdes caminhava com os olhos fixados para frente, com os passos
apertados e o material escolar apertado contra o peito.
Na metade do caminho ela divisou a imagem de uma moça
sentada sobre o tumulo. Sua cabeça estava abaixada, parecia estar compenetrada,
pensando em alguma coisa. Lourdes diminuiu os passos, quase parou. Pensou em
correr, fugir, mas era só uma moça.
Quando Lourdes chegou mais perto, a moça desconhecida ergueu
sua cabeça. Revelou sua pele pálida e seus olhos esbranquiçados, neutros.
— O que faz aqui? – perguntou a desconhecida.
— Estou indo embora para a casa – se explicou Lourdes.
— Você não pode andar por aqui durante a noite, é falta de
respeito.
— Me desculpe, é só essa noite.
— Gostaria de ficar presa aqui para sempre?
A pergunta fez Lourdes estremecer. Ela deu dois passos para
trás.
— Eu só quero voltar para a casa. Prometo que não passo mais
por aqui.
— Não quero saber de suas promessas – irritou-se a
desconhecida, se levantando do tumulo – Você usou a morada dos mortos como um
atalho. Gostaria que gente estranha usasse sua casa para cortar o caminho?
Lourdes virou-se para fugir, mas a desconhecida subitamente
surgiu em sua frente. A garota caiu de costas no chão junto com seus materiais
escolares.
— Me perdoe, eu não sabia – disse Lourdes.
— Você irá ficar presa aqui para sempre, nunca mais voltará
para sua casa! – condenou a desconhecida.
— Não! Não faça isso! Por favor, me deixe ir embora! – pediu
Lourdes em desespero.
— Eu só posso deixá-la sair do cemitério com uma condição.
— Qual?
— Terás que me dar um presente.
— Presente? Mas que presente?
— Pode dar qualquer coisa que lhe pertença e eu a deixarei
ir embora.
Lourdes pensou por um minuto e lembrou-se de seus brincos.
— Eu lhe dou os meus brincos.
No momento em que pegou os brincos, a pele da desconhecida
ganhou vida e seus olhos, que eram opacos, tornaram-se vibrantes.
— Posso ir embora? – perguntou Lourdes, enquanto se abaixava
para recolher seus materiais. Porém, seus dedos atravessaram o livro como se
ele fosse um holograma.
— O que é isso? – se assustou Lourdes, olhando suas mãos
pálidas.
— Você está presa neste cemitério – disse a desconhecida.
— Mas achei que você iria me deixar ir embora se eu desse o
presente – protestou Lourdes.
— Quando você ver alguém atravessando o cemitério à noite,
faça com ela lhe dê um presente, só assim você conseguirá ir embora.
A desconhecida deu as costas e saiu caminhando. Irritada,
Lourdes avançou naquela moça, mas seus braços transpassaram o corpo dela. Não
havia jeito de agarrá-la. Tranquilamente, a desconhecida pulou a mureta do
cemitério e foi embora. Lourdes tentou fazer o mesmo, mas foi impedida por uma barreira
invisível. Estava presa.
Desconsolada, Lourdes sentou-se em um tumulo e chorou. De
seus olhos não desciam lágrimas, sua pele não tremia pelo frio da madrugada e
ela não sentia o farfalhar de seus cabelos em seu rosto. Era um fantasma.
Tudo o que lhe restava a fazer era esperar algum desavisado
passar pelo cemitério à noite.
Biruta Ribeiro
LXXXI
150 ml de silicone medicinal enfiado em várias espetadas de
agulhas grandes e grossas. Depois o dorso e o peitoral, de meu travesti,
amarrados com o que as bombadeiras chamam de bezerro. Uma espécie de cangalha
para sustentação e fixação do silicone.
Meu travesti passou uma semana usando o tal do bezerro. O
incomodo maior era na hora de dormir. Virava-se para todos os lados da cama até
achar a posição ideal para o sono. Fui testemunha ocular de seu suplício, mal
sabia eu que isso era só o começo.
CLÁUDIO PORTELLA (DO ROMANCE 'FRATURAS DE RELAÇÕES
AMOROSAS',
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
Miguel Torga, Câmara Ardente, 1962
Inscrevo estrelas
na córnea dos teus olhos
insones. Carruagens
de fogo nos desnudam.
A vida ora é azul
como brisa,
ora escura,
como blues.
Se corto meu pulso
o que escorre é a nostalgia
de uma era em que tudo era crível.
Todas as estradas do mundo
são insuficientes
para o anelo de meus pés descalços.
Sei que o quarto ficou prenhe
do cheiro de nosso amor
desatado. Acorda, olha lá fora:
é dia mas uma lua de sangue,
enorme,
derrama seu mênstruo
sobre a cidade.
Inscrevo cometas
na sola dos teus pés cansados.
Depois os apago
com o sal de minhas lágrimas.
A vida é qualquer coisa assim
entre um conto
e um assombro.
Otto Leopoldo Winck
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