sábado, 20 de agosto de 2016

Na fila do mercado do sábado, a minha frente uma família, casal de meia idade e um menino de uns dez anos. O pai com macacão de firma com graxa nos bolsos, a mãe, apesar de levemente maquiada, percebia-se que vestia roupa de casa, o garoto de bermuda, camisa de time desgastada. O carrinho de compras abarrotado, tipo rancho do mês, mercadoria básica. Não pude deixar de notar, afinal, sou observador, contei as poucas guloseimas; os pacotes de bolachas recheadas, havia três, duas de bolacha Maria; duas latinhas de leite condensado; uma de creme de leite, uma lata de pêssegos em calda; duas bandejas de iogurte, o da promoção! Havia também um bom pedaço de carne,
peça inteira de posta vermelha. A mesma que havia comprado para fazer na panela recheada com cenoura e bacon. Não sou bisbilhoteiro, mas o tempo passa depressa e a fila anda mais rápida quando calculamos as compras dos outros. Enfim, chegou à vez do casal, depois de passar todo pedido do carrinho e o chocolate da mão do menino, tentaram passar o cartão, uma, duas, três vezes... Trocaram de cartão, uma, duas... Foi mudada a máquina, não adiantou, o problema não estava na senha e nem com o sistema de informática, mas com o saldo bancário. Um depósito que não caiu, uma conta cobrada antes do prazo, sabe lá. A situação era de fato constrangedora, percebi os olhos de reprovação da caixa. Senti como se fossem voltados para mim, empatia com os personagens fictícios ou reais, coisa de escritor. Realmente ao exercitarmos a empatia, vivemos as dores e alegrias dos outros. Sofri com a situação, fiquei olhando o casal saindo com andar sem jeito, a criança sem o chocolate na mão, o que fazer? Pera aí Senhor! Deixe que eu pago as compras. Não tenho recursos, poderia estourar meu cartão também, ou: “Menino deixa que eu pague seu chocolate”, poderia aumentar ainda mais a humilhação para o casal, seja como for, fiquei sem ação, minha vista seguiu aquela família até a porta do mercado, para depois pensar qual seria o almoço de domingo daquela família. E a sobremesa? Certamente, não teria pêssegos com creme de leite. O que sei é que meu almoço de domingo não será mais saboroso. Lembro agora de Dostoiévski: “escrever é sofrer”.

JDamasio

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