sábado, 14 de abril de 2012

Noticiário de sempre

I



Que corta e serra,

e jorra o sangue

que não se estanca

e espanta

No noticiário de logo cedo

três tiros de arremedo

perfuram as vísceras do sujeito

Imerso em meio

a linha de combate




II



a cidade se espreguiça, e boceja seu dia

a água ferve para mais um café

o que bonde trafega sem direção...

o jornal é arremessado aos quintais

frescas as notícias de ontem




III



e se dissesse que tudo já foi dito e o resto é infinito e caos

e o nada já é matéria, o momento, o instante fugaz, agora para trás

e o mito já não é mais a caverna, mas a rua, o sangue escorrido

a morte morrida e estampada na primeira página,

a escorrer as vísceras já dilaceradas

e a vida consumida por um disparo

na arquitetura de pólvora e bala

e não há distinção de nada todos são todos, e cada é um,

o que havia era silêncios multiplicados a abismos e retissências

isso que corrói a alma, e a deixa cercada de espinhos numa paisagem perdida

e penso ainda que há algo de belo no trágico




Rafael Walter

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