I
Que corta e serra,
e jorra o sangue
que não se estanca
e espanta
No noticiário de logo cedo
três tiros de arremedo
perfuram as vísceras do sujeito
Imerso em meio
a linha de combate
II
a cidade se espreguiça, e boceja seu dia
a água ferve para mais um café
o que bonde trafega sem direção...
o jornal é arremessado aos quintais
frescas as notícias de ontem
III
e se dissesse que tudo já foi dito e o resto é infinito e caos
e o nada já é matéria, o momento, o instante fugaz, agora para trás
e o mito já não é mais a caverna, mas a rua, o sangue escorrido
a morte morrida e estampada na primeira página,
a escorrer as vísceras já dilaceradas
e a vida consumida por um disparo
na arquitetura de pólvora e bala
e não há distinção de nada todos são todos, e cada é um,
o que havia era silêncios multiplicados a abismos e retissências
isso que corrói a alma, e a deixa cercada de espinhos numa paisagem perdida
e penso ainda que há algo de belo no trágico
Rafael Walter
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