o fogo não escolhe, come o máximo que consegue. o fogo não
distingue o que vale ou não, nada pesa no estômago azul. a escuridão mastigada,
sua melhor amiga. a escuridão a modelar o nervosismo das chamas. a uma película
que escureceu, diz se tratar de um filme queimado. películas registram imagens
na medida em que as vão devorando (eis o que está sendo produzido aqui). fica
em silêncio, não precisa mandar que vão embora, ninguém aguenta permanecer
perto mais do que minutos. sozinho, esta imagem nas retinas: sorvetes de carne
jogados no antipó a se desmancharem sob o sol. às vezes ele faz a pergunta:
você já foi ao circo? e lembra do horror da assistente do atirador de facas. o
vento de estalactites que vem do sul, o seu atirador. os poros recebem golpes
que penetram e correm no sangue. é sua última temporada de verão no inferno.
Mendigo modelo do que do passado? agora o padrão da glória só faces
contemporânea. dorme entre as pedras. nas temporadas anteriores talvez tenha
sido o brutamontes faminto demais, todos os sentidos lama e suplício. o inchaço
do fígado a desejar mais que rezas, a lua, equilibrado comprimido na língua. e
se agora a piedade costurasse a tristeza como os médicos fazem às barrigas
esfaqueadas nas emergências, vai que se encontrasse odor de flores no fóssil
dos pulmões mais que o famoso é apenas mais um rostinho bonito.Ao vê-la ali na
sala, deu-se conta que nunca fora um homem romântico nos gestos, menos ainda
com as palavras”. Saiu discretamente, andou algumas quadras, encontrou uma
floricultura. Comprou uma rosa vermelha. Entrou em casa timidamente. Chegou
perto de sua esposa de longos anos, balbuciando sua confissão: “Eu te amo”
colocou a flor entre as mãos a amada e chorou sobre o caixão.
Luiz Felipe Leprevost
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