sábado, 20 de outubro de 2012



o fogo não escolhe, come o máximo que consegue. o fogo não distingue o que vale ou não, nada pesa no estômago azul. a escuridão mastigada, sua melhor amiga. a escuridão a modelar o nervosismo das chamas. a uma película que escureceu, diz se tratar de um filme queimado. películas registram imagens na medida em que as vão devorando (eis o que está sendo produzido aqui). fica em silêncio, não precisa mandar que vão embora, ninguém aguenta permanecer perto mais do que minutos. sozinho, esta imagem nas retinas: sorvetes de carne jogados no antipó a se desmancharem sob o sol. às vezes ele faz a pergunta: você já foi ao circo? e lembra do horror da assistente do atirador de facas. o vento de estalactites que vem do sul, o seu atirador. os poros recebem golpes que penetram e correm no sangue. é sua última temporada de verão no inferno. Mendigo modelo do que do passado? agora o padrão da glória só faces contemporânea. dorme entre as pedras. nas temporadas anteriores talvez tenha sido o brutamontes faminto demais, todos os sentidos lama e suplício. o inchaço do fígado a desejar mais que rezas, a lua, equilibrado comprimido na língua. e se agora a piedade costurasse a tristeza como os médicos fazem às barrigas esfaqueadas nas emergências, vai que se encontrasse odor de flores no fóssil dos pulmões mais que o famoso é apenas mais um rostinho bonito.Ao vê-la ali na sala, deu-se conta que nunca fora um homem romântico nos gestos, menos ainda com as palavras”. Saiu discretamente, andou algumas quadras, encontrou uma floricultura. Comprou uma rosa vermelha. Entrou em casa timidamente. Chegou perto de sua esposa de longos anos, balbuciando sua confissão: “Eu te amo” colocou a flor entre as mãos a amada e chorou sobre o caixão.

 Luiz Felipe Leprevost

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