sábado, 10 de outubro de 2015

E Deus disse que falava.


E os homens, presos aos signos do céu, afogados em ondas sonoras, construíam para si uma lápide horizontal de areia. Porque havia em sua descrença uma espécie de culpa ante o pecado; como ser ateu temente à fome por uma prato de comida em desperdício, ou doar àquele que dói a pena pela autopiedade. Uma inscrição da linguagem humana, limitadamente terráquea, é encontrada no ritual dos coletores de lixo, que gritam e correm, felizes, fazendo alusão à fantasmagórica Ventura.
E tudo aqui neste quarto é tão presentemente verdadeiro e belo, e me enoja. Alcanço os carros que zumbem lá fora com os olhos, e minha surdez reverbera ecos, pois escrevo em minha máxima sensibilidade algo tão fotográfico: - e deus disse que falava.
E todas essas coisas em desequilíbrio sobre a balança de minhas clavículas. Eu, um quase vertebrado bagre-crucifixo.

Alexandre Pedro

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