domingo, 31 de julho de 2016
LAVRA-PALAVRA
... à minha eterna mestra Gloria Kirinus.
E quando eles escrevem tudo para
tudo flui
para que a Gloria tenha a gloria de sentir
em cada um de seus lavrapalavreiros
aquele exato instante
em que a palavra é capturada
e então o rosto deles se ilumina
pois que a partir dali
nenhum deles será mais o mesmo
já que a semente-palavra
encontrando fértil terreno no coração
germinará
e em mil outras se tornarão
e isso pra Gloria
é a suprema realização.
Renato Vieira Ostrowski
O MENINO E A PONTE
O sol ainda tímido envolve
A ponte metálica...
O menino observa o nascer do dia,
Enquanto busca respostas,
O mar, as ondas e os pássaros
Encantam seu olhar
Emociona-se,
Difícil conter as lágrimas...
Van Zimerman
Silêncio quebrado
(Microconto)
De manhãzinha... A rua, quase, deserta, um alarme de carro
dispara: assusta o silêncio...
Van Zimerman
Faleceu o Professor, Músico e Poeta Chico Valiente Farro
Chico Valiente Farro foi um poeta,
Um ótimo mestre e
professor
Ele tinha um olhar de profeta
Que emanava o mais puro amor
Quando Chico estava no litoral
Ele fazia um inesquecível luau
Com sereias e pescadores
Que espantavam as dores!
Chico era músico e jornalista
Compondo uma suave melodia
Ele foi um eterno artista
Em busca da real Poesia.
Luciana do Rocio Mallon
sábado, 30 de julho de 2016
Dança Manuscrita
Só se escreve poesia
Pondo as mãos para dançar
Com a caneta transpirante
Azul marinho como par
É quando nos vem aos olhos
Um brilho apaixonado
De quem sente o doce toque
Da amada ou do amado
Só se escreve poesia
E se escreve sabe quando
Enquanto estamos vivos
E gerando e esperando
Eu escrevo poesia manuscrita
A próprio punho
Quando a mão dança balé
E tudo mais vira rascunho
Mauricio Antunes Marinho para PORTAL DO POETA BRASILEIRO
sexta-feira, 29 de julho de 2016
Palavras mortas
Matem todas as palavras
uma a uma
com uma pistola ou carabina
com uma caneta de pua fina
com uma bala
burilada a cinzel e a pontão.
Façam guerra declarada
por cada letra sublimada
por cada gesto enjeitado
por cada verso degolado
por cada morte por negação.
ana paula lavado ©
cena verbal 48
para D.
Dormes com a quietude
das laranjas,
com teus reinos
de hormônios e sementes.
Dormes para adoçar
abril, para
chover sobre o outono.
A carne febril
que sonegas ao pássaro
ferido, é teu realejo
secreto – donde
o impossível se esfarinha.
Agora, vem, despe
esse fruto
que doma os insanos;
que viceja os cegos
nas igrejas.
O tempo ausente está morto. Só
nos resta o agora em fatias. E
essa cadela rosnando
atrás do dia
Salgado Maranhão
Até amanhã!
Madrugada sem aurora,
Tudo nublado lá fora,
Não se sabe se foi ontem,
Se é hoje, ou amanhã...
Não existe mais afeto,
Porque tudo é de concreto,
E concreto não existe,
Se não houver o abstrato...
Sinto muito sua falta,
Da forma que você era,
Ora meiga, ora fera,
Mas sempre boa de trato...
Sei que nada é para sempre,
O sempre nunca haverá,
Não existe o permanente,
Quando se fala de gente,
E gente sempre terá.
Não sou bom de despedida,
Não me ensinaram na vida,
A dizer, até amanhã!
Elzio Leal para Sociedade Mundial dos Poetas
quarta-feira, 27 de julho de 2016
O AROMA DO DEUS NO ESCURO DO SANTUÁRIO INTERNO
Num certo templo hindu de mármore branco, o santuário
interno está sempre imerso na mais densa treva..Ao entrarmos nele, com nossas
angústias e o peso de nossos ossos, chegamos ao íntimo de nosso próprio Eu
profundo e sentimos o aroma do Deus na escuridão.
E a voz do Deus sopra no escuro do santuário interno do
templo hindu algumas palavras estranhas. A voz do Deus sussurra: "Não
haver Deus também é um Deus, pois Deus existe mesmo quando não há".
Depois de escutar estas palavras, saio do templo hindu com
as angústias iluminadas e os ossos mais leves que a música.
Fernando José Karl
Desvelando o tempo
Ocultem os outros
a palavra tempo
em poemas curtos
com tal tema, centro.
A palavra tempo
deve ser usada
tantas vezes quanto
impuser nossa alma.
A palavra tempo
descerra suas portas
de argila e de vento,
suas linhas tortas.
Escrever o tempo
permite retornos:
ligeiros transtornos,
fugaz contratempo.
Porque tempo, tempo,
tempo passa, corre;
se você não dorme,
ele pára, lento.
Importa saber
com visão preclara
o que quer dizer
o tempo, que exala.
.
- Maria Da Conceição Paranhos, em "As esporas do
tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.
A uma carta pluma...
a uma carta pluma
só se responde
com alguma resposta nenhuma
algo assim como se a onda
não acabasse em espuma
assim algo como se amar
fosse mais do que bruma
uma coisa assim complexa
como se um dia de chuva
fosse uma sombrinha aberta
como se, ai, como se,
de quantos como se
se faz essa história
que se chama eu e você
.
- Paulo Leminski, do livro "O ex-estranho". São
Paulo: Iluminuras, 1996
Humanidades.
ESTEREO TIPOS
TOMOS LIBROS
TER DEMOLIDO
Passeando por essa estrada não encontrei canteiros,
seduzindo minha amada não paguei engenheiros.
Furtando a peça mortalis da indignação velada
não socorri as vítimas do holocausto
infausto no plastro.
Mastro da tua bandeira
levantada.
Arame farpado,
Cobra criada no degelo do polo norte tua sorte
é que eu tenho uma história tão inglória quanto a sua:
Vitimado pela lua, surrado pelo sol, enlanguecido
pela chuva [
Vitimizado pela teoria estética, cataléptica dos montes,
buscando as fontes do teu passado, amassado, na prisão
dos teus sentimentos]
Lá dentro eu sei que há uma sugestão:
TIS AGAPIS
TON MEGALON
CRONON
APOLON
HELAS EIMI HIPNWN
O preço da solidão de um dia é o “duplo sentido”,
sentido na partida para os dois mundos:
O do cais e o do porto?
O virtual e o simulacro:
Idiosincrasias das fantasias não vividas em acordo
às capacidades humanas donde emana toda LIRA:
_Do ponto da partida ao ponto da chegada
em direção ao nada! Diz a vâ filosofia.
As coisas ao contrário tem sabor de nihilismo angustiante,
pedante ao pé da letra como desfaçatez da psicologia
“orgia” de CADA UM.
LA VORRIAMO
TUTTA LA VITTA
IL PATER, LA MATER
Aqui dentro de nós criamos nada, elas sim é que criam.
Somamos as palavras para dizer que somos incapazes
de ajudar a humanidade às vezes.
Se ela não nos conta o que sente.
Assistimos a hecatombe inertes e sonhamos com a vingança
que não desejamos verdadeiramente como a criança no
[Rio de Janeiro] símile a nós {[...] = [?...]} um dia.
Que não é nada.
Nessa estrada vi de tudo, inclusive que sou único,
Tuas flores na minha cova seriam isso?
Ser chorado por quem não chora?
Festejado por quem não festeja ou dança a dança dos lobos,
bobos, fobos, logos lógico da condição humana trazida
dos outros que tiveram história, batalhas, fornalhas
abrazantes à própria alma forjando razão que chegou ao
espaço... [...]!
Ainda imagino você dormindo, humanidade, perene dos teus
valores
ascendentes, decadentes, ninada pela canção do tempo,
descobrindo no vento a tua identidade
com o ser do outro que “não te ama”,
e não chorará os teus restos
funéreos de batalhas etéreas, estratosféricas,
ideológicas ao teu corpo burro que perece
mercê da tua ignorância iletrada jactante pela estrada.
VORRIO LASCIARTE
NASCONDERME
E N LOS TUOS RAGGIONAMENTOS. [?=; Helan]
{E(porta)/ [TODA PTORTA] v [?; helan tomon]}
Anderson Caros Maciel
Dois gols
Fazia tempo que eu não jogava, achei que iria dar vexame,
furei logo na primeira bola. Nem me abalei, sempre fui ruim mesmo, posso fazer
meu máximo que nunca serei nem ao menos um jogador mediano, então relaxei e...
fiz dois gols.
O primeiro foi bem bonito, driblei dois zagueiros e o
goleiro antes de empurrar para a rede de canhota. Foi bonito pois não sei
driblar e sou destro, a jogada aconteceu meio que por mágica. O segundo gol foi
de oportunismo e também de perna esquerda. Entrei em êxtase. Por momentos
pensei em Ronaldo como um igual. O poder da adrenalina do futebol.
Em casa, falei pra patroa: - Fiz dois gols. “Parabéns”, ela
disse, e me beijou satisfeita. Dias antes ela viu a expressão de felicidade dum
reserva que fez o gol da vitória na Seleção. Percebeu que era um prazer próximo
ao orgasmo, só que muito mais difícil.
Fiquei pensando nos gols, relembrei cada milésimo de
segundo, todas as decisões que tomei quando a bola estava nos meus pés, os
problemas em superar os zagueiros, a necessidade de transpor a barreira do
goleiro. A mágica funcionou e cumpri meu objetivo de maneira sensacional (às
favas com a modéstia). Eu estava relaxado, acreditava em mim e o risco de errar
não me importava. Seria isso uma fórmula de sucesso?
***
Meus amigos me felicitaram pelos gols no boteco depois da
pelada (o verdadeiro motivo do futebol), fiquei bem agradecido e um tanto
inflado. Antes de pisar no campo mais uma vez, pensei na responsabilidade em
jogar bem novamente nesta volta aos gramados. Ponderei e percebi que minha
responsabilidade era nenhuma, tudo o que eu queria era relaxar e me divertir.
Então fiz dois gols outra vez.
O primeiro, bem bonito, parecido com o do jogo anterior.
Nosso time ganhou quatro partidas seguidas, um recorde. Fui direto para o
banheiro: chuveirada e bar. Queria beber mais felicidade.
Pequenas coisas representam tudo no final das contas. Por
que dois golzinhos me deixaram tão feliz? Acho que eles são pequenas vitórias
nesse deserto de derrotas que é a vida, por isso me agarro tanto nessas coisas
que agradam. É difícil alcançar a tal adrenalina de prazer que o gol injeta no
sangue. É uma explosão de triunfo por toda a batalha imponderável. É só você e
o infinito, mas você o dribla e vence. Fazer gol é tão bom que deveria ser
obrigatório no ensino médio.
***
Ontem só fiz um! Mas foi de virada, lá onde dorme a coruja.
Nem agüentei acabar toda a pelada para beber minha cerveja, tava cansado e
louco para emendar um prazer seguido no outro. No fim, só lembramos mesmo daquilo
que é marcante, pro bem ou pro mal.
– só fiz um. – Disse e a patroa ainda falou “parabéns” e me
beijou. Ela, esperta, sabe que um é melhor que nada. E um, nessa imensidão de
ausências que nos cerca, pode ser a diferença entre a satisfação e a miséria.
- é, tem razão, foi ótimo. – Falei, e guardei para mim o
pensamento “e nem contei que foi um golaço”.
Giovani Iemine
Ah, essa remodelada praça...
Costumava passear por aqui.
Quando minha vida não precisava ser perfeita. Nem
imperfeita.
Quando minha sensibilidade regia as regras e o prazer não
precisava ter utilidade.
Quando eu amava matéria e espírito; palavras e poesia.
Ah, essa praça...
Com seus transeuntes interagindo ou não continua a mesma,
e por não ter consciência de que ela precisa ter razão para
ser,
ela existiu, existe e existirá.
E eu, dissolvido
entre o passado e a mim mesmo,
passeio pela praça que eu costumava frequentar
quando eu costumava estar vivo.
texto e foto Deisi Perin
terça-feira, 26 de julho de 2016
THEOAGONIA
Agoniza no horizonte:
seus gritos não se ouvem,
só se sentem.
De todos os povos, tribos e raças
já chegam enormes coroas votivas.
Não se oficiará exéquia alguma
nem haverá orações em seu funeral:
a hora é de expectativa e receio.
Não haverá outro dia igual a este.
Aliás, não haverá mais dia algum.
Só a noite. E seu silêncio
quebrado por nossos esgares.
E a saudade do que nunca conhecemos.
Otto Leopoldo Winck
MEMORABILIA - I
Esta noite, se quiseres, podes recordar,
recuperar no rio do tempo uma parcela do que o tempo te
levou:
o sol poente, o banco, o parque, a última conversa,
a frase que, louca, te feriu a face
ou a palavra que, covarde, amargou calada na garganta
quando na verdade tu a deverias ter gritado aos sete cantos.
Podes apenas recordar. No máximo, concatenar os fatos
e tentar descobrir aonde erraste. E dizer-te: foi aí que me
danei, foi aí.
Mas de que adianta? Águas passadas não movem moinhos.
E, convenhamos, tu nunca foste um Quixote para enfrentá-los.
Resta-te somente
recordar, reviver – o que não tem necessariamente relação
com o que foi
ou deixou de ser vivido - abrir um uísque, ouvir um jazz,
encher a cara...
E mergulhar nas águas escuras do rio.
Não o rio do tempo, que, cristalino e impassível, se ri de
ti,
mas o rio de águas sujas que banha a cidade de teus tempos
idos,
esta cidade que, estrangeiro, revisitas agora...
Mas o mais provável é que apenas acordes de ressaca.
Otto Leopoldo Winck
O Candelabro e a Flor
Noite sem Lua,
O piano em silêncio...
No candelabro,
A ausência das velas.
Ah, bem-vindo perfume
Da flor deixada na janela.
Van Zimerman
TÁ FORA OU DENTRO DO SISTEMA?
Estruturas viciadas,
Da (des) ordem (neo) liberal,
Modernas espadas,
De domínio social...
Estruturas modernas,
Arcaicas espadas!
A cegueira do automatismo,
Da rotina costumeira,
Ao pragmatismo meritocrático...
“O progresso da Nação” é idolatrado,
“Os salvadores da pátria”, cultuados...
Mergulhados nos raios de (des) esperanças,
Não é à toa que sempre fomos, desde pequenos,
Acostumados a crer, não só nas religiões,
Mas em tudo aquilo que recebemos como herança cultural..
E, também, no Papai Noel,
No lobo mau e na inocente menina de tranças,
Numa eterna luta entre o Bem e o Mal,
Personificada em cada um de nós...
O sistema,
É sempre apoiado pela “boa vontade” divina e pelos homens do
poder,
Nunca é questionado em si mesmo,
Porque cabe ao indivíduo “sociável” adaptar-se às regras da
ordem estabelecida...
Assim, já que o sistema é intocável e inquestionável,
Tal qual a simbologia do “American Way of Life”,
O aprimoramento sem fim da "felicidade" de vida
aos americanos,
Cabendo, portanto, aos homens adaptarem-se ao sistema...
Então:
O que fazer com os assistemáticos?
FILOLETRIA –Carlos Gau – 25/07/16
Ricardo Pozzo
Importado das regiões austrais, considera-se ainda muito
criança porque vive empinando pipa quando não tem ninguém olhando. Abstêmio
convicto, se reverteu em um budista-umbandista-muçulmano e explica que todas
essas religiões e filosofias têm uma conexão entre si. Apesar do frio que passa
nas madrugadas curitibanas, publicou um livreto por conta própria, chamado
“Transmigrações” e um outro, do qual tem apenas um exemplar, com o título de
“Khidr” Participou da antologia do livro Pó&teias e participou dos cd´s
“Psiconáutica” e “Cádmio” – “Poesia de Transição”.De 2011 a 2016 curador do Projeto Literário do Wonka Bar "Vox Urbe ".Curador da webserie de Poesia Contemporânea " Pássaros Ruins". Curador do Panorama Paranistico do Litercultura 2016.de 2013 à 2016 editor assistente do jornal Relevo
escrever não é lá um bicho de sete cabeças, é necessário sim
alguma dose de técnica, alguma cultura, ler uma dúzia de autores que prestem e
voilá: o resto é perfumaria. escritores são uma raça insuportável, eu conheço
alguns, mas só me relaciono com eles porque são meus amigos e falam de tudo,
menos literatura. quando vejo gente tendo tremeliques de inspiração me dá nos
nervos, toda aquela coisa de crise existencial, "ver o mundo com um olhar
único" - a vá! fazer literatura (ó) se resume a sentar o rabo e escrever,
o trabalho é mais braçal do que intelectual; quando você pega a coisa editada,
bonitinha, cheirando a tinta, parece que é fruto de alguma dimensão divina,
pois não é, muitas vezes e só fruto da necessidade de pagar as contas,
frustração e ressacas (e de um bom editor, aliás, uma figura que trabalha
pacas). o problema é o cultismo desse clube - embora, haja muitas facas nas
costas, ficam todos como pombos com olhares espantados dando voltas ao redor
das pombinhas para comê-las. egoísmo, hedonismo e o desejo de virar tese de
alguma universitária gostosinha e ter um lançamento cheio de mortais puxa sacos
ao redor; só que isso não é lá muito de bom tom dizer, porque as pessoas se
ressentem, pois, o mais marginal dos escritores, ainda que fale o contrário,
guarda dentro de si uma moral cristã bem lavadinha e engomadinha - ecce homo.
William Teca
Angela Gomes
Nasceu em Curitiba. “Parte de mim é sonho/ Parte pesadelo/
Parte em mim arde/ Parte deixou de sê-lo/ Escombro que desabou/ Sobre as cores
fortes da tarde/ Sobra de luz, sombra/ Desconstruindo o que restou/ De um
inteiro pela metade”. Participou das antologias: Poetas de Curitiba (2003);
Pó&teias (2006); E-zine Bar do Escritor (2007); Bar do Escritor (lançamento
para 2009); Balela (no prelo). Menção Honrosa Concurso de Poesias Helena Kolody
(2004). Seus poemas a definem.
No que as Rosas viram prosa motivo de rima
percebo menina que até podia ser começo de poesia. Noire virando dia tuas
curvas tua geografia palavras frases letras contando minha alegria papel riso
caneta cantando oque via e tinta solta na mão Folha de boca aberta sem precisar
nem sim tão pouco não ou explicação.Escrever ópio do insano viciado em contar
oque ninguém viu mas está lá.
Paulo Teca
Andréa Motta
Nasceu na cidade de São Paulo, em 1957. Reside em Curitiba -
Paraná. É graduada e pós-graduada em Direito. Em 2003, decidiu dedicar-se
exclusivamente à poesia., a partir de quando estreou em livros com as
publicações digitais: Fonte de meus Silêncios mais Profundos, Natureza Íntima e
Águas do Inconsciente. Participa de diversas
antologias entre elas: Antologia Internacional Terra Latina (Projeto
Cultural Abrali, Ed.2005), uniVERSOS,
Antologia Poética (Escritores e Poetas – Ed.2005), Pó&Teias
(Antologia de Poemas, crônicas e Contos, Ed.2006), Poesia do Brasil, Vol.3
(Proyecto Cultural Sur/Brasil, 2006) e Poesia do Brasil, Vol.5 (Proyecto
Cultural Sur/Brasil, 2007) . Em sua trajetória literária, obteve várias
premiações. É associada á Academia Paranaense de Poesia, participa de diversos
grupos de escritores e poetas entre os quais o Grupo Pó&Teias, além de ser
membro efetivo do Centro de Letras do Paraná, do Portal CEN., do Projeto
Cultural Abrali e coordenadora do núcleo de Curitiba do Proyecto Cultural Sur/Brasil.
"2160 horas..."
[...] 17:00. Estando num bar, assisti a mais uma edição do
“Bahia Agora”.
Hoje aconteceu um assalto numa pousada no Largo de
Quitandinha do Capim, no bairro de Santo Antônio, no Centro Histórico de
Salvador. Os assaltantes foram dois jovens, um armado de faca, outro, de
pistola.
Conforme os testemunhas, os assaltantes teriam entrado na
pousada pelo sótão, aonde conseguiram chegar, andando pelo telhado. Eles teriam
subido por dentro de uma das casas vizinhas, que está abandonada.
- Não é a primeira vez que fomos assaltados, mas hoje, por
primeira vez, o assalto se deu em pleno dia – às três horas da tarde. Os dois
“pivetes” entraram pelo sótão, derrubaram a porta, renderam as duas meninas que
estavam no quarto coletivo de quatro camas....
...Ainda bem que não foi o meu!
As meninas foram uma portuguesa e uma norte-americana.
Ouviram-se os dois tiroteios, mas ninguém foi ferido. Foi assaltada a quantia
de R$200 da norte-americana e o “tablet” da portuguesa, depois devolvido. Foi
acionada a polícia militar, e, passados os quinze minutos, um dos assaltantes
foi preso. Apesar dos seus 18 anos, ele já tinha passagens pela polícia. Outro
assaltante, um homem moreno de 19 anos, continua foragido.
...Felizmente, tudo aconteceu no primeiro andar da pousada.
Ao rés do chão eles nem conseguiram chegar... Ou conseguiram – já neutralizados
pela polícia. Fiquei feliz que eles não roubaram nada meu...e que eu estava na
Ilha. Mas vou pensar seriamente em mudar de pousada. Salvador tem-nas à beça!
Ainda tenho duas noites para passar na capital baiana e
preciso passá-las em segurança.
"2160 horas...."
[...]
18:00. Haja vista o acontecido, voltei a Salvador e mudei-me
para outra pousada. Ela fica defronte a Faculdade de Medicina. As suas janelas
traseiras dão para o Largo Quincas Berro d´Água, e aqui também vai ter show do
forró. No entanto, vou-me apressar para voltar a Gameleira.
19:00. A festa começa com uma raridade de Luiz Bandeira:
Maria que vai à missa
Leva um terço na mão.
Sabe Deus – ela é tão pura
E tem um grande coração.
Espera, Maria, espera,
Não casa com outro, não!
Ai, ai, ai,
“Pra” se cantar chorão,
Canta melhor quem canta
Com amor no coração...
É só você para me alegrar, Luiz Bandeira! Ainda acompanhado
pelo Trio Madrigal. Este já foi um dos conjuntos femininos mais conhecidos do
Brasil. Agora, muito poucos ainda se lembram dele.
É por isso que eu voltei a Gameleira. Ficasse eu em
Salvador, a festa também poderia surpreender-me. Mas não assim!
Capitão, que moda é essa –
Deixa o trempe e a colher.
Homem não vai “na” cozinha,
Que é lugar só de mulher...
Não concordo, mas prossiga!
Vou juntar feijão de corda
Numa panela de arroz.
Capitão vai lá “pra” sala,
Que hoje tem baião de dois!
Agora, é o Luiz Gonzaga! Se a festa continuar assim, vou
ficar até de manhã!
20:00
Quando me lembro do meu Quixadá,
Nem é bom falar,
Nem é bom falar!
Quando me lembro do meu Quixadá,
Nem é bom falar,
Nem é bom falar!
Naquele tempo, que não volta mais,
Eu era tão criança (e hoje sou rapaz);
Levava a vida no meu Quixadá,
Comendo graviola e umbu-cajá
Mais um baião das antigas! Os jovens de agora nem conhecem.
Aposto que lá em Salvador agora tocam algo de “Falamansa”...um “Xote das
meninas”, ou uma “Confidência”.
... Não tem nada ver com o baião clássico!
... Mesmo apesar de ter bossa!
[...]
Alessandro Jucá
Nascido em Fortaleza-CE, Alessandro desde muito jovem
expressa sua emoções por meio da pintura e da criação de poemas. Em seus
trabalhos escritos retrata temas diversos como a beleza, a vida, o sofrimento e
o amor, em diversas formas e temas instigantes que se entrelaçam no
cotidiano. Sensível, tem na arte o
refúgio de suas emoções. Consegue captar a essência das coisas e pessoas ao seu
redor colocando-as em forma de poesias e imagens. A arte esteve e estará sempre
presente em sua vida.
segunda-feira, 25 de julho de 2016
POR QUE HOJE É O DIA DO ESCRITOR
Tenho os dedos e o teclado, tenho a senha da trilha, tenho a
tela, tenho a linha, tenho o cálice bento, tenho a terra para lavrar, tenho o
mar para navegar, tenho o vento, o barco e a vela.
Tenho a caravela.
Data vênia, tenho a palavra que se fez carne e habitou entre
nós.
Os amores?
Imprimo-os salvos, primitivos, no arquivo morto.
São por demais antigos, atualmente proibidos.
As paixões de agora não são mais gostosas como as de
outrora.
Mornas, murchas, secam logo, mórbidas, morrem.
Sem elo, um livro in pectore, no prelo, não publicado, nem
mesmo escrito.
Livro sem capa, sem miolo, sem prefácio, sem epílogo, sem
posfácio, só o epitáfio.
Aqui jazz um poeta renhido por amores reprimido.
Mas não quero um amor banal desses descartáveis no mercado a
granel, de casamento no papel.
Quero-o fanal menestrel.
Não corro mais atrás das paixões que por hímen imantaram
meus sentidos, como na vitória de Pirro, me deram por vencido.
Quero um amor evasivo exclusivo.
Vai, minha vela ao vento, não vivo sem ar.
Vai meu beijo on-line fluído por flecha cupido.
Vai, os lábios conectados por energia quântica monástica do
espírito.
O beijo lúbrico lírico mendigo.
Áspide em riste, o bote do beijo me dá um frio na barriga.
O beijo com vontade mangueio com lombriga.
O beijo de tirar o fôlego suplico.
O beijo de língua enosado no céu da boca.
O beijo com lábios aziagos.
O beijo pelos dentes mordido.
O beijo por super bonder conectado.
O beijo, mesmo de longe, ao longo da estrada dura e torta,
faz sentido.
Beijo, bacio, beso, baiser, kiss, kuss, kisu.
José Aparecido Fiori para Feira do Poeta Curitiba
"De qualquer pano de mato, de de-entre quase cada
encostar de duas folhas, saíam em giro as todas as cores de borboletas. Como
não se viu, aqui se vê. Porque, nos gerais, a mesma raça de borboletas, que em
outras partes é trivial regular – cá cresce, vira muito maior, e com mais
brilho, se sabe; acho que é do seco do ar, do limpo, desta luz enorme. Beiras
nascentes do Urucuia, ali o povi canta altinho."
.
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão:
Veredas". Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.
domingo, 24 de julho de 2016
A gente envelhece
dormindo às dez
acordando às seis
ameaçando pernilongos em voz alta
antes de errar o tapa
A gente envelhece
medindo a circunferência do braço
evitando usar regatas
se cadastrando em site de receitas
e consultando horóscopos
A gente envelhece
dormindo de meias
falando pra manicure
no pé um rosinha básico
A gente envelhece
cantarolando a música
de Ao mestre com carinho
descobrindo na wikipedia
que o sidney poitier
ainda tá vivo
A gente envelhece
recusando convites
lembrando que piqueniques
eram chamados de convescotes
nos clássicos que não lemos
A gente envelhece
gerundiando
esperando uma oferta incrível
da garota do telemarketing
ADRIANA BRUNSTEIN, poeta paulistana, é PhD em
física, escritora, dramaturga e roteirista, com trabalhos em várias vertentes e
meios da comunicação. Ganhou o prêmio de melhor roteirista nacional e foi
contemplada no 13º Cultura Inglesa Festival pelo roteiro do curta-metragem
Olhos de Fuligem. Publicou o romance Estado Fundamental.
ADRIANA BRUNSTEIN está
na 78ª postagem da série AS MULHERES POETAS...
Se quiser ler mais, clique no
link http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=47942
QUALQUER FANTASIA SERVE
o jovem mórmon
desce a rua de bicicleta
e vai de porta em porta
pregando seu paraíso
bestial ja que na contenda
entre o bem e o mal,
qualquer fantasia serve
para animar o carnaval.
a hera cresce no muro
e as horas escondem
o rosto incerto do futuro
enquanto este azul
ferinamente belo
fere minhas retinas,
dá vida a cada gesto
de meninos e meninas,
compõe a paisagem
de minha cidade sem esquinas.
e o futuro
talvez seja
um deus
há muito entediado
de tudo e de todos,
há muito desiludido
com o homem e seus engodos,
talvez seja um poema
que nao deu certo,
algo nem muito longe
nem muito perto,
a meio caminho entre
o oásis e o deserto
Fernando Freire
Goiânia, 24/07/2016
sábado, 23 de julho de 2016
Lenda da Cigana da Bata de Cola
Na idade Média, na Espanha, existia uma bruxa má chamada
Severa. Um certo dia, uma caravana de ciganos armou acampamento, na floresta,
perto da casa desta feiticeira. O problema é que a bruxa precisava de um bebê
para um ritual. Então, na calada da noite, Severa entrou no acampamento, roubou
uma menina, que foi ferida e jogada ao mar no meio da bruxaria.
Porém sereias viram o acontecimento, salvaram o neném e
fizeram uma espécie de transfusão de sangue na menina, que foi batizada de
Sirena.
Então a garota foi crescendo, mas por causa da mágica
transfusão de sangue, toda a vez que ela pisava em terra a cauda virava uma
saia justa com babados. Porém esta roupa deixava os pés aparecerem. Mesmo assim
as atividades que esta moça mais gostava de fazer eram cantar e dançar.
Uma vez, Sirena foi vender bijuterias feitas com conchas, na
aldeia, e uma princesa gostou da saia da jovem. Então a monarca copiou o
desenho desta roupa e mandou fazer um modelo igual para usar como anágua.
Alguns dias depois, Sirena voltou para a aldeia, começou a
dançar e cantar com sua saia natural. Deste jeito, a princesa que estava
observando tudo, ficou só com sua anágua e acompanhou a moça na dança. A partir
daquele dia, a monarca batizou a saia, de Sirena, com o nome de bata de cola e
todas as mulheres, daquele lugar, passaram a dançar usando este modelo de
roupa. Assim a bata de cola tornou-se uma roupa típica da região.
Reza a lenda que, em um determinado período, fez uma seca
muito grande naquela região da Espanha que até o mar desta aldeia estava
secando pouco a pouco. Por isto, tanto os humanos quanto as sereias ficaram
preocupados.
Assim, Sirena fez a seguinte oração:
- Santa Sara, por favor, me dê uma ideia para fazer o mar
parar de secar aqui.
Naquele mesmo instante, esta moça foi para a terra. Então
começou a dançar e a cantar. De repente, a bata de cola transformou-se numa
enorme onda do mar que foi para o oceano que, de uma forma mágica, ficou cheio
de água novamente. Após isto caiu uma deliciosa chuva que irrigou o solo que
estava seco.
Reza a lenda que o tempo passou e uma dançarina de Flamenco
chamada Rosário La Mejorana visitou aquela região. Porém ficou encantada com as
roupas e danças da aldeia. Por isto, ela resolveu bailar com bata de cola nos
palcos. Desta forma, a bata de cola passou a fazer parte do figurino das
“bailaoras” de Flamenco.
Luciana do Rocio Mallon
escravo do que escrevo
não vivo, vicejo,
e vejo, pasmo,
o que perco do que passa
escravo do que perco
não vivo, escrevo
e revejo, avaro,
o que passa do que perco
se não há jeito
tento ao menos reter
um pouco do que passa
do muito do que perco
escrever vai ver é isso:
mais que reviver o vivido
reinventar o perdido
Otto Leopoldo Winck
Poeta Castrado, Não!
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegada poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
De fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia !
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!
ARY DOS SANTOS
sexta-feira, 22 de julho de 2016
A POESIA
.A poesia me incomoda,
tarde da noite,
tarde do dia,
não interessa!
.É uma vontade de vomitar
um mundo novo,
uma coisa nova
que me azucrina,
.Me persegue na cama,
rasga o colchão,
me rouba as cobertas,
me sequestra o pijama.
.Todo dia me incomoda,
todo dia,
toda hora,
não interessa!
.A poesia me enche o saco
o tempo inteiro,
me rouba os segundos,
os minutos, o relógio inteiro.
.Acaba com minha calma,
desnuda minha alma,
acentua minha raiva
e me apedreja,
.Me vira do avesso,
me desrespeita,
me amedronta,
me sacaneia,
.Ela me adota
e me recebe como anedota,
Às vezes me ama
e às vezes me odeia.
A poesia me completa,
Mas, nunca me satisfaz.
Por isso me vicio
nessa droga que me anestesia,
.Que me trata como puta
E me fode sem dó,
cheira todo o meu pó
e me larga na cama, só.
.Me separa,
Me aliena,
Me escraviza,
Me enterra ainda em vida.
.Faz com que eu seja
Mais um brinquedo,
a poesia que completa,
Mas, nunca satisfaz.
PASSADO
(FADO)
Não me peças para ficar
Ao teu lado novamente,
Se não me quiseste amar
Por que havia de voltar,
Ao mesmo de antigamente!
Foi triste e foi dolorosa
Esta troca de caminhos
Para fugir da tua rosa,
Que apesar de formosa
Estava coberta de espinhos!
Julgo sentir no que dizes
Desejos a despertar,
Mas não cometo deslizes
Que reabram cicatrizes,
Que doeram ao fechar!
Qualquer flor muito bela,
Como também perfumada,
Quer pomposa quer singela
O vento ao passar por ela,
Deixa-lhe a haste e mais nada!
Sem mágoas e sem rancor
Deixo ficar-te um recado:
-Tu foste u meu grande amor,
Por ti quase morri de dor,
Mas hoje és caso encerrado!
A. Bastos (Júnior)
Acordes das canções vindouras
Canto a canção que tenho
e dela hei de fartar-me sempre
ou pelo menos, metade ou quase.
.
Enquanto a alma voa ressabiada
dispo-me das incertezas corriqueiras,
para vestir-me das canções vindouras.
.
Deixo o pessimismo na esquina da rua
isolo o paredão que me quer em redoma
e vou tomar café na mesa das indecisões.
.
Marçal Filho
Itabira das Gerais
Julho de 2016
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Rubens Jardim
A poesia é mesmo a mais terrível inocência e, quem sabe, a
mais temível curiosidade.
É fato, todo poeta tem alguma coisa de criança
--deslumbrada. Ou assustada. Talvez seja esse componente infantil que faça com
que ele perceba aquilo que passou despercebido. Talvez seja isso, também, que
faça com que ele resista ao entretenimento massificante e as mesmices
apaziguadoras. E porque a poesia é e sempre será uma esperança de resistência,
o poeta tenta desenterrar esses ossos do seu ofício.Tenta desentranhar a força
desestabilizadora da palavra. Sua luta é contra a crise da vida do espírito,
contra a fuga dos deuses, a destruição da terra, a massificação do homem e a
primazia da mediocridade. Sua luta é com a palavra, com o silêncio --e com a
busca do sentido real das coisas--se é que existe algum sentido real. De
qualquer jeito, o poeta acaba envolvido com a sua versão da esperança que é ter
um compromisso ético com a sociedade e com a vida em todas as suas
manifestações.(trecho de uma palestra feita em São Matheus, 2010)
Poetas:
Sérgio Villa Matta
Poetas são anjos caídos
Poetas são albatrozes disse Baudelaire
Poetas são gauche segundo Drummond
Poetas são malditos
Poetas são mulheres
Poetas se suicidam
Poetas fazem canções tal Caetano ou Chico
Poetas vendem poemas em bares
Poetas são bêbados
Poetas são sóbrios
Poetas são seres legais
Poetas são Leminski
Poetas não são santos
Poetas discutem poesia e trocam socos pelos jornais
Poetas não dão ibope
Poetas escrevem em pleno transe
Poetas calculam cerebralmente cada verso
Poetas são diversos
Poetas são divertidos
Poetas não são ets
Poetas digladiam-se com a folha em branco
Poetas são sentimentais
Poetas escrevem versos
Poetas escrevem sonetos
Poetas escrevem a Ilíada
Poetas conversam com o sol
Poetas inventam palavras novas ou novos sentidos para as
palavras da tribo
Poetas são poetas e isso não tem poema que explique
O demônio da teoria
Sérgio Villa Matta
o demônio da teoria me assopra ao ouvido que a teoria não
entende nada do que pode ser um poema a teoria pode apenas supor o que seja um
possível poema
ela quase consegue reconhecer um poema
quase consegue definir os possíveis e talvez os impossíveis
sentidos de um suposto poema
a teoria coopta o poema para sua teoria
a teoria na verdade não faz poemas
poemas não são teorias
um poema escapa da teoria
poemas são poemas e não teorias sobre poemas
" Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações
se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder
escutar-se. Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para
se escutar um ao outro através desta grande distância… O que sucede quando duas
pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por quê? Porque
seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena… Quase não
falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor… Portanto,
quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras
que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não
mais encontrarão o caminho de volta. "
Clarice Lispector
Para os românticos poesia era noite, lua, spleen, infância,
saudade. Os parnasianos introduziram aí uns vasos e uns mármores gregos. Os
simbolistas meteram mais névoa e mais dor ainda. Aí vieram os modernistas, como
uma golfada de sol, e com eles um espírito e alguns termos novos, não
necessariamente "poéticos": pneumotórax, automóvel, adiposidade...
Com a Geração de 45 voltam novamente as noites e as infantas. Todavia, nesta
mesma época, João Cabral, "contra a poesia dita profunda", dizia:
"Poesia, te escrevia:
flor! conhecendo
que és fezes."
Mas essas fezes ainda eram muito abstratas. Aí vem o Gullar
e liquefaz a merda:
"Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palavra fria
Mas pelo que ela semeia.
Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais."
Agora, quando olho pela janela e vejo as nuvens da
imbecilidade se avolumando sobre o país (vamos deixar claro: o fascismo
suscitado pela velha mídia), dá vontade de entrar na Torre de Marfim novamente
e só me envolver com noite, névoa e lua. Mas acontece que a maré de merda ameaça
derrubar os muros desta torre também (Flaubert). Moral da história: não dá pra
fugir da história, este pesadelo do qual estamos tentando inutilmente acordar
(Joyce). Toda poesia, ainda que intente o contrário, é feita com "palavras
reais" e os materiais de seu seu tempo:
"O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes,
a vida presente."
(Drummond)
Então, camarada poeta, não tem para onde fugir. O jeito é
entrar na luta, mas com as armas que sabemos usar:
"en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas"
(Leminski)
Otto Leopoldo Winck
[Texto de um ano atrás, que continua -- infelizmente --
atual.]
Otto Leopoldo Winck
Hoje são raros os poetas que fazem poemas longos. The Raven,
no século XIX era curto, hoje longuíssimo. Ainda que tenhamos tidos muitos
poetas cerebrais no século XX, além da poesia concreta, enxuta, precisa e
cerebral, a poesia virou mais uma questão de insight, saques, toques, sobretudo
por sua consisão -- e assim, se já estava sob o signo de Dionísio, o domínio
deste deus só aumentou nas plagas poéticas.
Por outro lado, ainda que tenhamos romancistas dionisíacos
-- e Clarice é um exemplo nítido --, ser romancista exige, antes de mais nada,
disciplina, persistência, "foco", para usar uma irritante palavra da
moda. E nada mais desfocado que Dionísio. Logo, é Apolo que preside a práxis
dos romancistas. Acordar todo dia e retomar o fio de uma narrativa que se
arrasta por dias e páginas é uma ascese solar. Ainda que suas raízes possam
mergulhar no subsolo do mundo lunar.
Otto Leopoldo Winck
EXEGESE
Botei minhas mãos no barro,
viraram raízes. Olhei o chifre da lua:
meus olhos luziram de pasmo.
Num átimo, consegui vislumbrar
o mecanismo secreto das coisas.
Agora eu sei que toda forma de amor é clandestina
e que, quando as mãos se tocam em dádiva,
algo se move no interior dos seres
-- e este algo é tão cálido, tão vasto,
e no entanto tão frágil,
que eu chego a me prostrar submisso.
Se eu vim até aqui é porque não volto mais.
Se minhas mãos são raízes
é porque agora eu conheço
a sustância obscura da terra.
Viver é precário: basta um susto, um sopro, um nada
e a paisagem toda se dissolve.
Mas prometo guardar, enquanto memória eu tiver,
a imagem do teu rosto
enquanto teu corpo,
aberto em êxtase,
se me oferecia
como um regalo:
um nadir, um graal,
uma escritura antiquíssima
que agora
eu decifrava.
Otto Leopoldo Winck
– Bom dia, professor, aqui é Luíza, do Departamento de
Desideologização de Material Didático da editora.
– Bom dia, Luíza. Em que posso ajudar?
– É sobre algumas modificações que precisamos que sejam
feitas no seu livro.
– Mas eu sou professor de matemática, filha…
– Sim, mas tem uns problemas.
– Meu livro é para o ensino fundamental…
– Então. O seu caso é simples, o senhor vai ver.
– Fale…
– Logo no início, nos exercícios de adição. Tem o exercício
6 na página 23, “João não conseguia dormir então começou a contar os
carneirinhos que, na sua imaginação, pulavam uma cerca”.
– E qual o problema?
– O problema é que os carneirinhos pulando a cerca são uma
crítica velada aos enclosements ingleses e uma referência à acumulação
primitiva do capital. Propomos mudar para “franguinhos entrando no navio, que o
pujante agronegócio brasileiro exporta para a Europa”.
– Ninguém conta frangos para dormir.
– Justo, por causa da ideologia que sataniza o produtores
rurais que põem comida na nossa mesa. Tem outro, mais para frente, na página
32, o exercício 7 diz que “Rita tinha 18 bananas e comeu 4”. Bananas é uma
referência ao Brasil como uma Banana Republic, não pode.
– Troca por laranjas.
– Aí seria uma crítica aos prestadores de serviço
financeiros que ajudam os empresários a impedir que o governo tome seu dinheiro
através dos impostos. Trocamos por abacaxis.
– Abacaxis? Ninguém come quatro abacaxis.
– Sim, também trocamos “comeu 4” por “vendeu 4 livremente
realizando um justo lucro por seu esforço”.
– As crianças de 8 anos vão entender isso?
– Vão entender se for explicado, se a ideologia deixar de
ocultar delas como as relações comerciais fazem justiça a quem produz.
– Ah, tá. Mais alguma coisa?
– Tem mais umas coisinhas, eu mando por e-mail. Mas o mais
grave é a parte final do livro. Precisamos marcar uma reunião para rever os
capítulos 7 e 8.
– Divisão?
– Isso. Divisão é um conceito marxista que não pode ser
usado para doutrinar as criancinhas.
– Mas como as crianças vão aprender aritmética sem divisão?
– Nossos especialistas estão finalizando uma proposta. A
ideia geral é mostrar que a divisão pode ser correta, desde que a operação
reflita que, por exemplo, 100 reais divididos por 100 pessoas resulte em 99
reais para uma e o real restante dividido entre as outras 99.
– Mas isso acaba com a Matemática!
– Acaba com a Matemática Igualitária e Comunista que imperou
até hoje, professor, e a substitui por uma matemática mais justa! Já temos até
um projeto de lei para ser apresentado ao Congresso tornando obrigatório o
ensino da Matemática Meritocrática!
Paulo Cândido
Sou homem, branco, hétero, de classe média e de formação
cristã. Portanto sou um privilegiado. Por ser homem, branco, hétero e de classe
média, ao andar à noite pelas ruas, meu maior medo é com assaltos. Se fosse
mulher, além de assaltos (e olha que as mulheres são mais vítimas de assaltos
que os homens), me preocuparia também com assédio e estupro. Se fosse gay, por
acaso, não teria a mesma liberdade para demostrar carinho para com meu
companheiro ou companheira. Algo tão simples para héteros, como andar de mãos
dadas ou trocar um selinho em público, não seria tão fácil para mim. Se eu
fosse negro, ah, você sabe "como é que pretos, pobres e mulatos, e quase brancos,
quase pretos de tão pobres são tratados", como disseram Gil e Caetano.
Esses dias estava saboreando um expresso num café de um shopping. Estava de
boa, lendo um livro, sem que ninguém me incomodasse. Aí de repente parei e
pensei que não estava sendo incomodado justamente porque tenho o biotipo típico
das classe dominantes do Ocidente. Se eu fosse negro, ou pobre (isto é, se eu
tivesse "cara" de pobre, o que implica também construções étnicas e
sociais), teria que me haver não raro com olhares hostis. Se fosse mulher,
poderia ser alvo de cantadas ou olhares indelicados. Se fosse gay, e estivesse
com meu namorado ou namorada, teria que reprimir minhas manifestações de afeto.
Se fosse, digamos, muçulmano ou adepto de alguma religião de matriz africana, e
algo em minha indumentária revelasse isso, poderia ser alvo também de olhares
tortuosos. Mas como eu era homem, branco, hétero, de classe média e de formação
cristã, estava ali, curtindo um instante de paz, pois afinal vivo numa
sociedade erigida em torno de privilégios construídos por e para pessoas como
eu. E uma sociedade que tende a naturalizar privilégios de um lado e injustiças
de outro. Parece-nos "natural" que o CEO da multinacional seja branco
e o porteiro do meu prédio mestiço. Isso é tanto verdade que recentemente um
morador de rua em Curitiba, loiro, chamou atenção justamente por ser loiro e
caucasiano, atraindo logo os cuidados que deveriam ser para todos. "E
aí?" -- você pode perguntar. "E o que você tem a ver com isso?"
E aí que, embora gozando de uma posição privilegiada, apenas por ser homem,
branco, hétero, de classe média e de formação cristã, eu quero para mim e para
todos uma sociedade justa, que não discrimine por cor, etnia, gênero,
orientação sexual ou outro motivo qualquer. Para não falar de classe -- pois
neste quesito o que eu quero é uma sociedade sem classes, ou ao menos sem os
abismos pornográficos que dividem as classes em nossa sociedade. E quero isso
simplesmente porque queria ser tratado exatamente da maneira como sou tratado,
sem discriminação, sem olhares hostis, sem medo de ser abordado pela polícia
por conta de minha aparência, ou bolinado, ou ridicularizado por minhas opções
erótico-afetivas.
[Parte de um texto postado ano passado.]
Otto Leopoldo Winck
terça-feira, 19 de julho de 2016
Barqueiro
Ilícito ás avessas
Juntando cacos
Arremessados
A qualquer direção
Aleatória
Sofrem menos os cansados
de sofrer?
Quem tem mais razões para
chorar?
Migram centenas de almas
Abandonadas ao espetáculo
Do desperdício.
Isolados pela falta de sentido
Cotidiano.
Paga-se sempre com míseras
três moedas.
É trajetória toda a diferença.
Ricardo Pozzo
O adormecido da esquina
Foi encontrado numa esquina
Em posição de ter sono agitado
Fome e frio não lhe despertam
Não tem em si mísera coberta
Foi encontrado numa esquina
Investimentos detrás os dentes
Fosse a sorte teria outra sina
Foi encontrado numa esquina
Com o peito inteiro crivado.
Ricardo Pozzo
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