sexta-feira, 30 de abril de 2010

Palais des Champs-Elysées. Salon 1876, vista d0 jardin e das esculturas

As femmes peintres  na  segunda metade  do século XIX
http://pagesperso-orange.fr/travail-de-memoire/Prix-de-Rome.htm
o que diz a primavera,


inverno e chuva de ontem

ao desespero dos olhos salgados?

o que me diz lágrima que lambe a epiderme?

no ácido oco do peito

toda verdade ri?


Maria Tereza Prado
http://www.mariaterezaprado.blogspot.com/
mastigando solidões


caminhamos por todas as ruas

entre ilhas e pontes

atravessamos maresias podres

algas secas peixes imoveis

fomes e desesperos

refletidos nos rios de lama

e bem junto

nossos vastos

e inuteis

desertos

remoiam

o de sempre

q se repete

Alberto Lins Caldas

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Coliseu, a raiz do espetáculo

O novo ex superastro

da mídia

não sabe quanto

sua alma

vale

para o

famigerado público,

sedento de

desvelamento

sádico,



á espera

do inevitável!



Dilacerado em pixels,

o ex superastro não

pode mais

ser

reconhecido;



perdeu o

magnífico

poder

de expressar o

inexprimível.

Ricardo Pozzo
Pó&Teias

Tímida Babilônia

Onde Curitiba esconde

o marfim de seus elefantes

mortos?



Nas intransigentes ruas

sem saída?

No copos sem alma

de sua nobre boemia?



Na maquiagem que quer livrar

sua cara

desumanizada?

Ou no sorriso banguela

da sua

Boca inchada?



Pervertida e dissimulada

a polaquinha rebola na XV,

uma piscadela para o estrangeiro

capital



a viatura policial indica o lugar

do POVO



Piás vestidos de papel e alumínio

sem esmola e sem futuro

cruzam com madames poodle que

cintilam no escuro.



Na Paula Gomes ou na Trajano Reis,

na Conselheiro Laurindo ou na André de Barros,

na Cruz Machado ou no Batel, Curitiba tenta

se livrar do tédio!



Plano piloto por sobre um cemitério

indígena



É no km 65 da Serra do Mar

que ainda sangra

a autonomia da Curitibranda,

nossa inexpressividade

nacional



O banzo da província

cedeu ao underground

xintoísta? Ou está

injetado nas estações

tubo?



Curitiba digere

àquele que nela se perde



O elefante de pelúcia,

moribundo

caminha vinte e quatro quadros

por segundo!


Ricardo Pozzo
Pó&Teias

Urbi et Orbi

Entrevisões, sem verde, a minha couraça.


A rua veraz de cintura vergastada

Das síncopes, carros assassinos em zoada

Cintila tão negro o asfalto, sem jaça



Rossio pétreo; alguém a olhar...

Irrompe-te a medula, aos restos duros

Exultando faíscas dos monturos

E nuvens sobre nuvens, um respirar...



Não há moitas, sim, hidras e andrômetro.

Linfas de gêlo-gás, pisoteio-as,via por via

Entre muros, que só viadutos podem olhar



Conheces tua penitência, ó parâmetro!

Enforca-te cidade, o secular sudário

Quintessência da ilusão: visco refratário.

Tullio Stefano
Pó&Teias

Cidadão do Milênio

Teu rosto é esconso pela avenida




feroz o cinza nos dentes da rua



atroz o jazigo de encoberta vereda,



sombrio o raio, sombrio o transparente.



Um triunfo cruel dos pés



no leito raso, catres de asfalto



sob um grande fosso de cérebros;



algoz a vereda, raio mudo;



dedos confrangem a lepra cidadã



envilece num cofre assasssino



empedernido sangue do século;



pare nas ventas dos monitores,



o bastardo filho do século.



O rosto é a pele do concreto



resvalado no cais de cada esquina



nesta pele que se esconde



o libélo do entardecer



epiderme esquiva, apátrida,



as veias de quiméra



escondem a avenida



irrompem beco e estrada



caminho esconso

desse rosto



que tremeluz o atalho

no semblante;



o sobrevir das vastidões



malha desmedida no apontamento



de palavras e letras que me fazem



para um viés de futuro



carpido nos monturos,



rosto recôndito da rua,



escrito e esconso pelas avenidas.


Tullio Stefano
Pó&Teias
livros são hilemórficos como nós; tem carne, osso, alma; precisam como nós, de serem lidos e como todo ser animado: tem uma individualidade tão própria, que vivem e morrem.


Tullio Stefano
Pó&Teias
MISTÉRIOS




Ninguém é o que parece

ou o que aparece.

O essencial não há quem enxergue.

Todo mundo é só a ponta

do seu iceberg.



Luis Fernando Verissimo (Poesia numa hora dessas?!)
não ha desejo não ha travessia


nesse atrio escuro determino

quanto deixarei de ser

liberto do nome e da agonia



não ha passado não ha presente

somente a fome desse viver

insaciado sangue q abomino

desperto coração velho e ausente



não ha esperança não ha morte

mesmo sendo eterna a direção

o corpo antigo ja não existe



não ha desesperança não ha sorte

ha somente signos em profusão

o tempo desse nada q resiste

Alberto lins Caldas

Oedipus

o tempo caminha em meu corpo


seu ritmo é apressado

então escrevo

não com a intenção de amarrá-lo

pois o quero solto

escrevo

pois quando por mim ele tiver passado

por inteiro

não virarei pó

e sim po(ema).

Geraldo de Barros


http://semcatraca.blogspot.com/

segunda-feira, 26 de abril de 2010

esse deserto inquieta


ha dias em q esse deserto

é pura nudez escondida

é um barco entre os olhos

esse deserto é tempestade

coisa inventada delirio

entre pedras e ruinas



esse deserto inquieta

abro o corpo e nada é fragil

distendo o corpo

e só o deserto se abre

o corpo não tem tempo

so o deserto tem corpo

tem olhos tem linguas



esse deserto inquieta

so ele tem labirintos

tem coração tem pernas

so o deserto respira

so o deserto adormece

o deserto sonha

enquanto tou acordado



esse deserto inquieta

so ele sente pressente

so ele se afasta e se fecha

enquanto minhas pernas

minhas mãos se atrofiam

esse deserto sabe tudo

e de tudo vou esquecendo

*

Alberto Lins Caldas
tem meus olhos minha boca


mesmos ossos mesma lingua

a pele os cabelos as roupas

unhas dedos mãos e pes

mas não sou eu não esse morto

mesmo nome e escuridão

mas não sou eu não esse morto

talvez tenha morrido assim

por não saber mais sorrir

*
Alberto Lins Caldas
amor


daçado aos pedaços

esse porco precisa

ser calado

indiciado por todos

q ninguem escute

dele nem um gemido

isso pode acon

tecer durante o dia

mas normal

mente durante a noite

é q os melhores venenos

fazem efeito

banho de vinho acido

e vinagre picante

antes do gume afiado

entre vertebras corretas

e o necessario silencio

*
Alberto Lins Caldas
 chuva pós-calor
 a lasca da antártida
 nuvens a todo vapor...

.....Thadeu Wojciechowski
nada esqueci


esses mortos

espalhados

sementes infecundas

no devastado da terra nua



nada esqueci

essa treva na boca

coração jogado aos cães

toda noite ao tempo esgotado

nem o desejo nem o sono partilhado



nada esqueci

colheita de esquecimentos

palavras todos os fins

quase nada jogado ao vento

Alberto Lins Caldas

La Chureca

Máscaras II

En círculos concéntricos

como en un exorcismo

máscara armadura

brebajes amargos

se diluyen

y el aire

flamea vientos

entrepliegues

piel caricia

mano que se tiende

siembraespiga

tierra

lluvia dibujando surcos

senderos de agua

y es tu amor arrancamáscara

rostro desnudo espejo

piedra tirada al río.


Adriana Agrelo
http://www.ciudadseva.com/
se...


se teu coração desenhasse

sonhos

madrugadas proibidas

fossem memórias

quentes

invólucros naturais

de sensações palpáveis

notas que por si só

vibrassem

loucas línguas

salivassem

partículas heterogêneas

desprendessem

transmutassem

e entre si

amalgamassem...

...seria a química perfeita

meu amor!

Lúcia Gönczy

http://luciagonczy.blogspot.com/

sábado, 24 de abril de 2010

Janis Joplin

  San Francisco. EUA, 1968.

NATUREZA

 que a vida é o mais cínico e deslavado milagre 
eu já nasci sabendo
e que a palavra alegria
está dentro da palavra milagre
quem é que não sabe?//
mas você me pergunta:
“meu amor não basta
para te fazer feliz?” 
e eu fico mudo
como um pateta
meu amor, você é tudo
 mas a tristeza me completa......

thadeu wojciechowski
!sim aos pedaços


?por q não aos pedaços

primeiro as pedras

depois as facas

por fim a carne

?quem não arrancou

seu pedaço

nem mesmo os q guardavam

o labirinto o poço a noite



!sim aos pedaços

se reunem os mortos

dentro de mim

Alberto Lins Caldas
Usuário de crack consome a droga na Rua dos Gusmões, na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo, 2009.
esses são meus mortos


eu morto com eles

?quem desperta a escuridão

abro os olhos

vejo a treva

passar

rente

quase dentro

e desperta

quase me levar

de sombra em sombra

do nada ao nada

Alberto Lins Caldas
 Modelo nua posando para um grupo de alunos de arte da Farnsworth Art School. USA, 1946.
?como deixar


de acordar

os mortos

e recompor

a tempestade

q vem

das ruinas

entre desertos



como é

estreito

o espaço

q resta



como é facil

e terrivel

não dizer nada

Alberto Lins Caldas

sexta-feira, 23 de abril de 2010

não como argila


tenho somente a fome

me comendo por dentro



tua carne não alimenta

o frio dessa noite

ta alem do desejo



essa fome de tantos

não é de ninguem

de fora pra dentro

da cabeça aos pes



com certeza virão

no melhor do sono

tocar fogo nos corpos

iluminando a solidão

Alberto Lins Caldas
a lavra da palavra quero


quando for pluma mesmo sendo espora

felicidade uma palavra

onde a lavra explora

se é saudade dói mas não demora

e sendo fauna linda como a flora

lua Luanda vem não vá embora

se for poema fogo do desejo

quando for beijo

que seja como agora



arturgomes

http://pelegrafia.blogspot.com/

Babenco e o Carandiru

Escritura

no dorso pedregoso da

tarde entre as escarpas

frias nas águas

sinuosas pelas

varandas escorregadias

entre as frestas

agrestes das manhãs nas

sombras indecisas pelos

atalhos tortos nos

silêncios esquivos

meu corpo exala teus

sinais

Adair Carvalhais Júnior

quarta-feira, 21 de abril de 2010

não sei q


de incertos pressagios



não havia luz

não havia medo

não havia passado

somente eterno presente

razão tecendo morte



ouvimos os cães inquietos

por momentos

tavamos dentro

da velha sinfonia



por sobre as coisas

deixamos de ver

a face perversa

da claridade

Alberto Lins Caldas
na maison vert


presunto e cerveja

dois sonetos

e beijos azuis

impostos na boca

se derramam logo

pelo corpo salgado

queimado de sois

folhas secas dormem

no cachimbo de argila

hiatos na guerra

entre dias e noites

q agora vibram de dor

esse relato sutil

é tudo q resta

dos breves dias

do escorpião



Alberto Lins Caldas
eu disse


“teus olhos são negros

e tua lingua

devora palavras

como gafanhotos

devoram verdes

entre barras nuas

de horizontes”



voce disse sorrindo

“a dor é facil

choro sempre

pra q o mundo não seja

assim tão pesado”



eu ri

tambem

mas com o passar

dos anos

esquecidas todas as

sombras

as oferendas ao tempo

foram bem maiores q a vida


Alberto Lins Caldas

domingo, 18 de abril de 2010

na clausura dos corpos


a conspiração das formas



a palavra apenas balbucia

amadurecida pelas laminas



depois dias interminaveis

quando nada é indecifravel



elos que não se ligam mais

o tempo a loucura tudo no ar



nada retem nada aprisiona

os vidros dessa sombra insana



o incerto caminhar despojado

sem muito pra celebrar nos passos



desertos sem segredos e ruinas

enquanto a noite se desfaz em po

Alberto Lins Caldas
nessa jaula de palavras não

cabe esse furacão de sonhos

essa vingança louca de leo

pardos punição e afronta

devassa marca do fogo

tempo sem fim na porta

da espera onde se recebe

esses beijos estilhaçados

e se engole essa outra

voz essa outra carne esse

agora desgraçado grito

q não se sabe pleno

fragmento de visceras

fome q não se sacia

Alberto Lins Caldas

Macanudo

Jogo de dados

Cansa-me um pouco essa expectativa de ter algo a dizer, dentro de um compromisso torturado de palavras.Cansa-me seus olhos de espirais, de espera, a exigir sempre mais como num desgaste. Esse sorriso amarelo de canto de boca, que trama o tempo todo ordinário e voraz. Sua dialética canibal a mastigar toda a minha imperfeição, a matar os sonhos, a cuspir pagão como quem não rezou, como quem não jantou. Coabito entre pele, ossos e artérias, entre dramas e gestos mal versados, mas sou pequena demais, afoita demais, com um imaginário abrasador e sinto medo. Fico assustada andando nas ruas enquanto pessoas delirantes passam pra lá e pra cá, tramando com espíritos, assassinatos, suicídios, profanações, cicatrizes e uma fúria de posse. Somos falíveis, morremos no próximo instante num jogo de dados, numa roleta russa ou num abismo qualquer. Cansa-me um pouco essa expectativa...


Mara Araujo
http://www.mara-araujo.blogspot.com/

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Se um ideal, seja ele político ou religioso, se torna absoluto, ele torna-se inumano. Todos nós temos um ideal, mas não o seguimos sempre. Quando uma pessoa age 100% pelo seu ideal, está a um passo do terrorismo. E isso não vale só para a Alemanha nazista, mas para todas as sociedades", Michael Haneke

A Fita Branca


Filme de Michael Haneke
engastados na escuridão nos devoramos


não posso mais segredei pra tua sombra

?por q não dilaceras teus proprios olhos

os meus tão na tua vida desde sempre

por isso gargalhamos por tanto tempo

quero fugir e queres tambem fugir

evitar esses grãos esses ossos enfim

toma alem disso essa areia essa cinza

calca teus pes no meu peito assim

havera sempre essas ruinas entre nos

Alberto Lins Caldas

A Fita Branca


Filme de Michael Haneke
o deserto


não o de sempre

esse aqui

visgo envenenado

grudado na pele

apodrecendo

carne e ossos



o deserto

esse q é teia

armadilha

coisa viva

q se arma

se prepara

e devora

Alberto Lins Caldas

A Fita Branca

filme de Michael Haneke

Ancalda

“Es un coloso de pies inocentes,

de paso imposible y goteras en el techo”





Me siento golpeada de caricias

de soles que penetran en mi carne

de corrientes que me ahogan

de besos que restringen pasos

o auroras regalando flores.

Y huérfana soy de tu imágen

de voces y lamentos de la noche

cuando me atraviesan -lunas muertas-

anclada a tu destierro.



Me cubro en el blindaje, y atisbo

el centro inalterable donde aguarda

solitario

un suspiro blanco.



Thelma Sandler

quinta-feira, 15 de abril de 2010

o mundo que venci deu-me um amor
um troféu perigoso esse cavalo
carregado de infantes couraçados.
o mundo que venci deu-me um amor
alado, galopando em céus irados
por cima de qualquer muro de credo
por cima de qualquer fosso de sexo.
o mundo que venci deu-me um amor
feito de insulto pranto e riso
amor que força as portas dos infernos
amoré que galga o cume ao paraíso.
amor que dorme e treme, e que desperta
e torna contra mim e me devora
e me rumina em cantos de vitória.
Mário Faustino
http://juras-secretas.blogspot./

segunda-feira, 12 de abril de 2010

“Nas velhas gerações românticas, a notícia gemia com a tragédia, soluçava com a catástrofe e nunca se sabia qual era mais triste, se o fato ou a notícia. Por sua vez, a adesão do repórter era muito mais completa e vital. O profissional que cobria uma enchente tinha que se afogar ou, na melhor das hipóteses, apanhar uma pneumonia; se era um naufrágio, nadava de galochas e guarda-chuva. E a informação tinha, emocionalmente, um impacto muito mais firme e muito mais puro. O sujeito redigia como um canastrão do velho teatro, rugindo as frases e pingando os pontos de exclamação.” Nelson Rodrigues (Flor de Obsessão, 1997)
enrodilhado / dorme


esse dragão / no jardim

dormita / no sangue

morde / na carne no osso

rasga / reverberra / ruge

resplandece / amortecido

cheio de sonho e remorso

Alberto lins Caldas
volto amanhã

atento aos sinais

do deserto



outro angulo

pura miragem

essa vertigem



so mirando

esse vazio

a clara ilusão



perversa

cruel viciada

e silenciadora



outra corrente

elo diverso

areia e sombra



cem olhos

devorando

o fio desfiado



carne e osso

so labirinto

esse esforço

Alberto Lins Caldas
josephine me falou sobre o ceu da africa

quis saber mais sobre sobre isso

fiquei tentado a acreditar nela

relutando como todo tolo

so depois compreendi o ela contou



ate hoje desvendo minha loucura

e o horror doente dos desertos do mundo

recordando o q ela construiu pra mim

sobre o ceu da africa antes de morrer

coberta de lama...



é bem verdade q ela não disse tudo

sei q algo foi escondido de propósito

com certeza pra não destruir minha vida

porq não há muita diferença quase nada

entre o sol da africa e Josephine.

Alberto Lins Caldas
Uma, duas, três.

São quantas contou um de vocês.

para sempre estarei entre eles

que não sobraram papéis de feira.

Na terça sorver o gosto do amargo

pigarro de viver.

Entender que poder passar a fase

seria o amanhecer e o acaso

do que nada aconteceria de novo.

Apenas o amor irremediável por algo de novo.

Sim era amor e eu escondi.

Agora sei que continuo amando.

Nas noites frias o cinema para instruir e adocicar

os pensamentos, "refinando" o valor algorítmo.

Tudo aqui é pensamento de fazer valer o martírio.

Onde não aquece a vida se colocam frases de incentivo,

a tentar a voltar a caminhar.

Cada frase cortada é uma gozada de paz interior,

pela centésima vez repetido o lugar-comum da auto-ajuda.

Ainda referência se faz ao sentido da paisagem como

se algo de interior se fizesse presente nos momentos de

desabafo e desgasto pelo tempo.

Quando nada nos admira nem sorve do espírito o seu néctar de sangue

coagulado, temos em nós miras de serventes histórias de passar o tempo.

Em cima do telhado, gatos na madrugada, fadados ao desencontro do próprio

espaço.

De aço a centelha de entendimento para sempre estar vivendo algo de momento.

Poderiam ao menos apagar a história e colocar no lugar um cata-vento proposital.

Sonhar em cansar os ventos é mister refratário da alma em significar o futuro.

Não saberemos quem cessa de viver até que alguém diga basta pela primeira vez,

que terá de ser repetida. E sofremos mais ainda pelo tédio absoluto.

Fornecemos coordenadas culturais para os manjares da solidão para

que não caia no esquecimento as feiras e os bares de tentar.

Essa saga por momentos de solenidade e prazer estético.

Velejar homens em busca de satisfação do entendimento,

do que é ser deus em busca de poder e contentamento.

Ainda há de ser significada a pairagem do ser em somas

e arroubos de máscaras retiradas em busca de ser o sedimento

da alma para fundar uma casa de si mesmo em busca

de morar no mundo do sentimento.
 
Anderson Carlos Maciel
ruido de dor


ao redor da morte

branca e nua



ouvimos tiros

luzes na treva

e trememos



mortos

todos mortos

estarrecidos de tempo



vimos a carne

cheiramos o sangue

tocamos os ossos



estila essa dor

contudo a vida

Alberto Lins Caldas

domingo, 11 de abril de 2010

esse esquecimento


verde escuro

entretecido

entre distancias

é a cicatriz o choque

entre desertos

preciso espaço

em labirintos

onde o riso

o farto gozo

a loucura

se dissolvem

em fluxos breves

sem vestigio

Alberto Lins Caldas

Instabilidade

Eu fui dizer ao vento o que eu te disse

e o vento repetiu-o em toda parte,

tantas vezes que a idéia de abraçar-te

virou obsessão, ficou difícil



mudar de idéia. Eu dei-me conta disso

o dia em que me achei a procurar-te

no desvão entre a vida e o precipício

exatamente onde tua andas… A arte



delicada de amar somada ao vento

torna-se exercício irresponsável,

mas não foi culpa minha: do momento



em que eu fui misturar-te ao inflexível

perdi-te, ou me perdi, não sei… Lamento

ver-nos no vento, ó meu amor instável!



(A balada do cárcere – Bruno Tolentino)
não recordo


essa vida nunca foi festa

vinho ou corações perdidos

nem a pele uma so

nem pernas nem olhos nem lingua ou mãos

a miseria o odio

animal violento

cego estrangulando

idiota afogado no sangue

sorvendo lama bem antes da loucura

mundo sem chave mundo sem mundo

o corpo o sofrimento o tormento o corpo

esse demonio nem sonha

nem dorme mais.

Alberto Lins Caldas

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"Entretanto não vacilou. Resgatou na zona abissal do seu íntimo os últimos resquícios de dignidade,

jogou "agua na cara" e foi dar sua veia a uma estranha..."

http://luciagonczy.blogspot.com//

Lúcia Gonczy

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pés

 
Por muito tempo, meus pés serviram para caminhar. Levar-me pra lá e pra cá, pisar na lama, torrar nas pedras quentes do meio-dia. Sempre tive muitas cócegas nos pés. Você descobriu por acaso e passou a me torturar com os dedos leves. Depois vieram os beijos e depois a língua. Aos poucos, meus pés não queriam mais caminhar. Desejavam a boca que os tinham desviado dos antigos caminhos. Hoje, meu corpo começa pelos pés.
              Lia Beltrão

Elementos

Ânima lume

acende corpos

e devasta matas



Ânima hálito

queima e aquece

segundo o desejo



Ânima sólida

brota safras

de lírios e urtigas



Ânima líquida

jorra em fontes

e goteja visgos.

Lia Beltrão

domingo, 4 de abril de 2010

a face na contraface do tempo:


o riso se houve não pode haver:

havendo o olhar o olhar se perde:

havia carne e desejo ?porq não:

?sem a palavra como saber enfim:

depois a loucura os sentidos o no:

mas em tudo o alem o depois assim:

cada forma cada hiato plenamente:

os livros as horas o sonho inteiro:

cada movimento assiste o ...instante:

nascer viver morrer nos labirintos:

a mascara tantos papeis a tormenta:

o silencio traça essa linha o silencio:

na origem as fronteiras submergem:

Alberto Lins Caldas

sábado, 3 de abril de 2010

Nova Delhi-India

cessar esse rio


de fogo e horror

esse ritmo frio



messe em palavras

o riso o prazer

tudo se dissolve



arterias do mundo

praq a beleza

goze no limite



e a esfera nua

imovel e breve

bruscamente vibre



q a lingua comece

onde termino

Alberto Lins Caldas

Agra-India

todo olho todo osso


recomeço sem memoria



esse parto eu escolho

desde antes ao subsolo



meço esse espelho nu

ato curvo das palavras



nodulo disperso do dizer

nada suave o viver.

Alberto Lins Caldas

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Assim vivia
de um galho
até o outro
com tantoos frutos
quanto sonhar podia.

Antonio Thadeu Wojcichowski.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

se eu não beber teus olhos


não serei eu nem mais ninguém

quando tocar teus dentes

desço garganta mais além

quando roçar teu íntimo

onde o ser é mais intenso

jura secreta não penso

bebo em teus cios também



Artur Gomes

http://goytacity.blogspot.com/