Cansa-me um pouco essa expectativa de ter algo a dizer, dentro de um compromisso torturado de palavras.Cansa-me seus olhos de espirais, de espera, a exigir sempre mais como num desgaste. Esse sorriso amarelo de canto de boca, que trama o tempo todo ordinário e voraz. Sua dialética canibal a mastigar toda a minha imperfeição, a matar os sonhos, a cuspir pagão como quem não rezou, como quem não jantou. Coabito entre pele, ossos e artérias, entre dramas e gestos mal versados, mas sou pequena demais, afoita demais, com um imaginário abrasador e sinto medo. Fico assustada andando nas ruas enquanto pessoas delirantes passam pra lá e pra cá, tramando com espíritos, assassinatos, suicídios, profanações, cicatrizes e uma fúria de posse. Somos falíveis, morremos no próximo instante num jogo de dados, numa roleta russa ou num abismo qualquer. Cansa-me um pouco essa expectativa...
Mara Araujo
http://www.mara-araujo.blogspot.com/
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