terça-feira, 31 de maio de 2011

Oferta do dia

Batatinhas.Baconzinhos.Ceboletes.O adolescente brasileiro se alimenta mal . O filho de Angélica se chamava Tiago. Doze anos . muitos quilos a mais .Angélica falou grosso."Está proibido de comer porcaria." No supermercado, o pequeno obeso fazia exigências "Torresmo, torresmo. "A mãe resistia. Não reparou na chegada de Noca e de seu bando .Menores armados . Queriam grana.Servidoram-se de batata frita importada .Tiago olhava-os com inveja.Pegou um tubo de catchup."Não querem?Fica bom ."No susto, Noca disparou o 38. a têmpora de Angélica foi atingida de raspão.Sangue jorrou sobre a gôndola de laticínios.Noca fugiu.Na ambulância, Tiago entope-se de batatinhas."De graça ainda fica melhor. "Quando o sangue jorra, não faz falta catchup.

Voltaire de Souza,in Vida Bandida

sábado, 28 de maio de 2011

quando ressurge a manhã
não se pode evitar
o aceno das cidades

(Augusto Meneghin)


http://augustomeneghin.blogspot.com/
interessante que, como na descida da existência, não sabemos a qual subterrâneo nos levará: garimpos de sonhos, prostíbulos, local aonde se empalham animais... talvez achemos a lua destruída, já quase encoberta pelo mato...

(Augusto Meneghin)


http://augustomeneghin.blogspot.com/

terça-feira, 24 de maio de 2011

Upsilon/ Delta

Se a pintura é tridimensional, minha arte tem quatro dimensões, pois a quarta é a projeção do meu eu.
(Oskar Kokoschka)

Descerro o meio
bifurcando um ponto,
do alto:
o delta,
traz de si no raio incógnito
infindo começo;
velocidade do fim recomeçado.
Crispa do limite
e a fantasia é a voz;
dispar o momento
naquela mesma
disparidade
entre o violino e a música,
entre o tempo e o calendário ,
o exprimível do inexprimível.

Da partida no sonho
signa o indivisível instante,
eclipse da hora e do espaço
fulminado o que estaria além
nem princípio e nem fim
apenas o tríplice descortínio
de Alfa à Omega
um ponto equilátero
escreve
triplamente descerra o meio,
explícito compasso
em forma virtual,
o compasso do sentir.

Tullio S.B. Sartini

segunda-feira, 23 de maio de 2011

UMA IMAGEM

Para meu amigo Castelo Hanssen



É só uma paisagem no meio,

Do fio d'água, sem luz,

Que ouso pensar que a creio,

E nada além a produz.



Eu a vejo esquivo e torto,

E numa tal similitude,

Que confundo o vivo e o morto,

Porque tudo a repercute.



Somente não sei precisar,

Se na imagem concebida,

Algo existe além de olhar,

Esse nada que é a vida.



O.T.Velho
ID


Eu sou a somatória apenas,

Duma conta arredondada,

Em resultantes tão pequenas,

Que sequer foi anotada.



A irretratável ambivalência

Cujos lados tão iguais,

Fez avanços que a ciencia,

Os consideraria banais.



E nesta súmula duvidosa

Cuja íntegra não lerei,

Quiçá reste a coisa honrosa

De saber que nada sei.



O.T.Velho

LIMÍTROFES

O espelho não reflete,

Aquilo que julgo ver,

Ele apenas se repete,

Noutro modo de me crer.



Em sua forma atenuada,

O que ele desconhece,

É que a imagem transformada,

Nunca é o que parece.



E o reflexo duplicado,

Mostra coisas que não sei,

Pois sou apenas projetado,

De uma idéia que criei.



O.T.Velho

BIOMBOS E MARIONETES

.

O tempo é o eterno paralelo

Na hora perdida que se trunca,

E é cada orifício deste elo

Que leva as horas para o nunca.

.

Jamais devolve, não há volta,

É como a chuva de granizo

Que fere as tardes, se revolta

Só pra dizer que foi preciso.

.

Então me ocorre o pensamento

Porque não para de chover?

Pois se o granizo fere o vento

O tempo agora é pra esquecer.

.

O.T.Velho

PARADISUM

I

Meu violão sangra um fá,

Inconsistente e banal,

Assim ele diz-me o que há,

E assim eu sofro igual.



Tange em compasso um ré,

Se perde nas dores do dó,

É como um beato sem fé,

Suas cordas fizeram um nó.



A custo um sol ele lança,

Na pretensa curva do mi,

E quando o lá o alcança,

Ele se esquece do si.



II

Ah violão por que choras

Que dor te faz magodo

Será acaso a das horas

De quando és dedilhado?



Ou só a mesma presença

Daquele que te dedilha

Compôs em ti a sentença

E dor igual compartilha



Ou será um acaso, amigo,

E teu destino é somente

Viver a dor sem castigo:

Tocar o que outro sente.



O.T.Velho

ART NOUVEAU

A vida é como uma tela

Pano branco, sem pintura,

Não se pode pintar nela,

Pois a tinta não segura.



Falta cor, falta pincel,

Falta mesmo é um pintor,

Que desenhe sem papel,

E seja ele mesmo a cor.



E que assim se muiltiplique,

Nas cores que ele sinta,

Pra que a tela branca fique,

Toda pintada sem tinta.



O.T.Velho

TRÔPEGO

Se o silêncio não é tudo,

Falta-me saber o quê

Me faz por dentro tão mudo,

Que de fora não se vê.



É como tinta que descora

Na lembrança que arrefece,

Da ausência lá de fora,

Que comigo se parece.



Isto posto de repente,

Sem que nada o provoque

Faz-me eu ser simplesmente

Como algo que se troque.



O.T.Velho

AMÁLGAMA

O meu corpo experimenta

Na discrepância nua

Que a idade fragmenta

A vida que pensa sua



Os anos levam a dor

E um peso sem medida

Ao fortuito portador

Da tese que chamam vida



Não fosse tola a crendice

De que a vida é sempre bela

Eu não seria velhice

Ou não estaria nela



O.T.Velho

ARQUÉTIPO

É tão simples e tão cara,

A singularidade do momento,

Que transforma em jóia rara,

O mais tépido ornamento.



É a magia orquestrada,

Ressaltando do pincel,

Que em cada pincelada,

Forja a vida no papel.



A criação é a árdua luta,

Da mão na massa argilosa,

Que torna mesmo ainda bruta,

A pedra rude em preciosa.



O.T.Velho

http://velhopoema.blogspot.com/
• Curitiba... cidade onde até o girassol tem torcicolo, as pedras das calçadas mais duras pedem colo e os roqueiros mais fofos tocam o pau.


• Luiz Felipe Leprevost

Habitas meu coração

Habitas meu coração: barbas de rei assírio

olhar de extensões alheias a tempo e medidas.

Tua voz tem asas de falcão e pousa

nas torres mais altas do meu ser onde jamais

me aventurei. É minha a tua solidão.

Sirvo-me em silêncio e às vezes como uma

criança me apertas em teu peito: acaricio

então tua face estranho rei.

Outras vezes ouço passos ecoando no

enlace das colunas em seteiras escadas. Se

grito teu nome – és mil ressonâncias e seu eco em mim.


Dora Ferreira da Silva

domingo, 22 de maio de 2011

A HISTÓRIA DA VERDADE

I



Um dia a Terra foi plana,

ao menos para uma maioria incauta e crente;

os seus limites confinavam com os grandes abissos,

os quais eram guardados por monstros marinhos.



Mais tarde se a viu do espaço, e a Terra tornou

a ser redonda, como o fora entre os gregos,

e inda ganhou uma coloração azul tingida

pelo olhar navegante que soube atingi-la.



Um pouco adiante, caiu o mito do tempo:

agora cada humano se parecia

com uma grande Serpente, toda enovelada

por sobre as cidades, por sobre os continentes

e a Terra ganhou uma forma anelar complexa:

eis a Era da Serpente que devora a própria cauda.

Logo depois, se confirmou que o espaço

comportava uma quarta dimensão,

e uma quinta, uma sexta, uma décima terceira:

a Terra, desde aí, perdeu a forma anelar

e se tornou incognoscível, a não ser através

de fórmulas e esquemas gráficos,

bem assim, o Homem, seu mais ilustre hospedeiro.

O corpo humano parecia estar em toda parte

do espaço como se o concebera, então;

os outros animais passaram a ser seus órgãos

em pleno desenvolvimento num presente

sempiterno e a Terra cabia o sonho, a fantasia,

a coisa e a não coisa, o possível e o impossível,

tudo posto num mesmo plano imponderável

pela mente nua de cada célula medíocre e cega

ali dissoluta e capaz de chamar a si mesma de

eu



Igor Buys


Texto completo aqui: http://poesias-igorbuys.blogspot.com/

nas entranhas do poder

nas entranhas do poder




desde ribeirão preto

a caixa preta me fala

tem água estranha na fonte

...há algo estranho na mala



os urubus são testemunhas:

o cheiro agora resvala

“quem cala consente

quem sente fala” (eliakin rufino)



a Nação quer conhecer

o que o palocci

tem na mala



artur gomes

http://goytacity.blogspot.com/2011/05/nas-entranhas-do-poder.html

bussolaliteraria.blogspot.com

http://sentinelacultural.bligoo.com.br/

abençoada pelos deuses

do mar e da chuva

alice era mais que um sonho

que a gente acreditava

que um dia ia nascer


artur gomes



http://www.facebook.com/media/set/?set=a.1851985060313.108101.1261354236&l=62a09ba142

sábado, 21 de maio de 2011

http://www.erickellermanphotography.com/

AZUL, NEGRO, SILÊNCIO E GRIS.

“[...] un pueblo pálido y azul / de ti recién nacido se alimenta.”

Neruda





O azul dos teus olhos transfoge

e vem fazer parte da treva.

Pessoas e coisas azuis

movem-se a tua volta,

têm os ossos da sombra, a tez da luz.



Robe aberto, seio levemente fosforescente.

Fumaça que se enovela, espalha.

Tudo está dito, entendido. Sorrimos, então.



A rua distante arqueja.

O gato, eletrizado e negro, sólido e líquido

merece o teu afago.

Janela que filtra a noite, a chuva.

Gotas luminosas de blues.

Um beijo de licor, e recomeço.





Igor Buys
Eu vi uma nuvem mesmo.


Eu disse: vira tigre, nuvem!, ou então vira peixe, formiga, cavalo-marinho.

E a nuvem teimosa retrucou-me: sou nuvem, querido, nuvem! não me venha com animalidades terrenas. Sou alta e etérea, querido, alta e etérea! por que será que você tá aí embaixo, mínimo, com a cabeça levantada, tentando me animalizar? Olha pra você, seu animal incapaz de vôo!

E a nuvem virou-me as costas e seguiu, alta e etérea, como disse-me que era. Eu me curvei humilhado e mais humilhado fiquei quando percebi que um bando de borboletas rindo da minha cara

Objeto


Do meu mais desesperado desejo

Não seja mais aquilo

Por quem ardo e não vejo



Seja a estrela que me beija

Oriente que me reja

Azul amor beleza



Faça qualquer coisa

Mas pelo amor de Deus

ou de nós dois

seja.



Paulo Leminski

in : Caprixos e Relaxos

CHUVA DE VERÃO NUM MUNDO FRIO

Chuva xamânica que enche o ar

despert’um dragão! demônios...

Bate janela, quebra vidro.

E súbito: estia.



Identifico-me à tua ânsia e sina:

assim transbordo, transbueiro;

assim me calo, e ralo abaixo.



Chuva de verão em pleno maio frio.

Em pleno meio fio, minh’alma empoça.

Estanho líquido.



Sem saber porque vim,

sem saber pronde fui,

fumando ao longe,

me avisto a mim.

Mãonobolseio.

E sumo.





Igor Buys

domingo, 15 de maio de 2011

Wonkademia



Wonkademia evento do projeto - Vox Urbe - Acontece nas Terças no Wonka Bar, o poeta Ivan Justen Santana media um debate sobre a cultura paranaense, especialmente música, dança e poesia. Na próxima terça - Poesia - Bárbara Lia/Marilda Confortin.

Separei poesias inéditas para a noite.


WONKADEMIA: Debate Público Aberto
Mediador: Ivan Justen Santana
Convidadas; Bárbara Lia e Marilda Confortin
Data: 17/05 - Terça-Feira
Horário: 21h30
Ingresso: R$-3,00
Wonka Bar
Rua Trajano Reis, 326
Curitiba-PR

sábado, 14 de maio de 2011

Dizem os antigos

manuais que, quando a Mandrágora era colhida, ela emtia um grito ensurdecedor, que obrigava as pessoas a tamparem os ouvidos para que não enlouquecessem.

Assim como a imagem de Ulisses atado ao mastro a ouvir sereias, o único que não tampou os ouvidos, na travessia.

Lembro então de um jogo de palavras, com olvido, entre o português e o castelhano, tampar o olvido, seria lembrar? Ou esquecer?

Se Ulisses não tampou os ouvidos para que as sereias o recordassem de seus mundos submersos e aos mortos se tamponam os ouvidos, igual à tripulação de Ulisses, porque estão totalmente esquecidos da sede da vida...já teríamos uma resposta.

Ricardo Pozzo
branca, parecia um coelhinho. Olhei de novo e depois olhei para o rosto das minhas amigas. Achei melhor dizer que não encontrei nada.

Concluí que às vezes é melhor caminhar só do que bem acompanhado.


Roberto Klotz

Sonhar? Não sonho...

Sonhar? Não sonho...

pelo menos não sonhos belos

de verão e primavera

com príncipes e cavalos

flores e poemas.

São sonhos estranhos

cheios de realidades absurdas

em indiferentes cenas justapostas.

Sonhar? Não sonho...

Arrumo as gavetas da mente...


Deisi Perin

Semeadura

Na véspera da minha morte,

bebi a vida .

Sedento.

Em cada gota flamejante

da tua palavra uma semente,

de Mandrágora.

Uilson Hreckiarech,

Água

Não posso me perder

Da poesia

Do meu eu

mais guardado.

Não posso me esconder

Nos cantos sombrios da vida.



Cavar a obscuridade posso!

Poço?


Rita Nasser
No teclado da tequila


ouço quadros de Frida Kahlo

nos gafanhotos de prata da Revolução

a rubra benção da utopia petrifica

em cada detalhe do mural

a alma imortal do

México!

Uilson Hreckiarech

Andando com Nietzsche e Schubert

Caminhar é bom. Caminhar acompanhado é melhor. Caminhar acompanhado de companhia inteligente é ótimo. Eu me lembro de tudo como se tivesse acontecido agora. Dois minutinhos atrás, ou três.

Foi num quente final de tarde de março. Estávamos na trilha do Parque de Olhos D’Água, aqui em Brasília, pertinho de casa. A conversa das duas ia animada. Ana Beatriz e Rafaela comentavam a influência da obra de Shakespeare na escrita de Machado da Assis. Apesar de o assunto ser inesgotável, falaram em Nietzsche antes de descobrirem afinidades com Schubert. Perguntaram minha opinião sobre o niilismo e eu disse que tinha acabado de lanchar. O riso maroto das duas sugeriu que era melhor continuar calado.

O diálogo entre as minhas companheiras versou sobre o existencialismo, passou por discussão sobre a exploração alternativa de fontes energéticas e, quando estávamos sobre a ponte, Ana Beatriz encostou-se na amurada, ergueu o indicador para o céu e afirmou que aquela nuvem parecia o mapa do mar Adriático. Rafaela concordou com ressalvas dizendo que o Golfo de Veneza era um pouco mais fechado e em seguida apontou para outra nuvem, mais à direita.

– Veja. Lá está a Pietá de Michelangelo.

Ana Beatriz assentiu e perguntou-me o que eu via.

Olhei para o céu. Examinei as nuvens detidamente e encontrei uma nuvem linda, muito
 
Roberto Klotz

Lavra Piada

Tremenda indigestão em barro


poeta sedenta

em solução molhada

trepada na flor

a flor esmagada

Deisi Perin

Evocação feminina

(Dedico este poema às poetas Bárbara Heliodora, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa (in memoria) e especialmente à poeta e amiga Stella Leonardos, através das quais evoco todas as mulheres poetas de todos os tempos, cujas vozes estiveram caladas por tantos séculos.)



Minha voz

rasga véus

cortinas

de dentro

de sempre

desfaz penumbras

e acorda

Bárbaras, Cecílias, Stellas

Henriquetas, Heliodoras



E suas vozes

em minhas palavras

alteiam

celebram encontros

de amores tantos

salpicam sândalos

no ar.



Sagas passadas

chagas em sangue

vertem

e vibram

amantes perenes

somos todas

onipresentes



Minhas mãos

tão femininas

mãos de mulher

madura, menina

sonham

acariciam ternas

lúcidas lembranças

pedaços de dias

franjas de ausências

melancolias



Em suas palmas

conchas

de lágrimas oceânicas

verdejam prantos

horas molhadas

de sofrimento,

surdas, caladas.



O silêncio da solidão

é memória

reverbera

fantasias, ilusões,

onde desaguar

como abraçar

tamanha paixão?



Mãos entrelaçadas

tecem séculos

em teia

de fios farpados

prisão de anjos

eternizados

Somos etéreas

flores fugazes

pirilampos da vida

pela vida

alinhavadas



Assim evoco

Bárbara, Cecília, Stella

Henriqueta, Heliodora

cantemos juntas

à nossa felicidade

brindemos uníssonas

à nossa liberdade!


Virgínia Schall

Portunhol

Quero dizer
do corpo de Vosso Espírito no jardim
uma luz sem crueza
Disse-o?
Só aparentemente
divergem rosa e alecrim.
Um espelho é o que sou,
nem sempre turvo,
vêem-se através de mim
os que me julgam clemente
Entendes
é quando o corpo da luz te escapa
 e resta na memória
uma claridade aquecida,
é quando dizes:
é inacreditável
tramas tão delicadas nos teares.
Os computadores sabem
que escrevi rosa com 'z',
corrigem-me como professores.
Bate um grande desejo
de torresmos
garrafa inteira de vinhos
freme num ponto a vida
-até hoje foi entre as pernas- ,
desejo de alabanza,
um desejo de dança e castañuelas,
de falar lindamente errado :
"estou sentindo-me isso.
Ninguém discordará que Deus é amor.

Adélia Prado.
in: Oráculos de maio. Rio de Janeiro: Record, 2007, p 29

terça-feira, 10 de maio de 2011

Desejo

essa brasa

essa chama

esse lume



esse fogo

esse forno

essa caldeira



ah, esse amor

que arde

incendeia



esse corpo

essa fornalha

essa fogueira



essa alma

essa queimada

que se alastra



em labareda

me envolvo

a noite inteira



ah, essa paixão

me acende

me inflama



me consome e me transforma

em tocha huma.


Vera Maya


Sociedade dos poetas vivos
 Volme X, Editora Blocos – Rio de Janeiro, Brasil


fonte:Blog Leituras Favre

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
Meu tempo é quando.

Vinícius de Moraes
in: Nova Antologia Poética.Companhia das Letras.São Paulo.2005,p141

O aluno

são meus todos os versos já cantados :
A flor, a rua , as músicas da infância,
O líquido momento e os azulados
Horizontes perdidos na distância.

Intacto me revejo nos mil lados
De um só poema. Nas lâminas da estância,
Circulam as memórias e a substância
De palavras, de gestos isolados.

São meus também os líricos sapatos
de Rimbaud, e no fundo dos meus atos
Canta a doçura triste de Bandeira.

Drummond me empresta sempre o seu bigode.
Com Neruda, meu pobre verso explode
E as borboletas dançam na algibeira.

José Paulo Paes
in: Os melhores poemas de José Paulo Paes / seleção Davi Arrigucci Jr. Global. São Paulo: 1998

domingo, 1 de maio de 2011

TRABALHADOR BRASILEIRO

Trabalhador

Tu que trabalhas o dia inteiro

Um grande Brasileiro

Trabalhando de janeiro a janeiro

Este é o seu destino

Um lutador te atino

Trabalhando desde menino

Para vida melhorar

E falar com voz forte

Enfrentar até a morte

Enfrentando o ônibus lotado

Elevador quebrado

Este senhor esforçado

Quando ao sol fica exposto

Tem a alegria no rosto

Com o celular a tocar

Contas sempre a chegar

Alguém diz que o trabalho dignifica

Ele nem sabe o que significa

Não entende a lógica da questão

Sequer conhece o patrão

Condenado a passar fome

Neste mundo, quem não tem, não come

Pensa um momento

Será que termina este tormento

Este senhor ordeiro

É o trabalhador Brasileiro

Orides Siqueira

SOU A FAVOR

Sou contra ao contra

Não sigo dilema

Sem emblemas

Não me coloco algemas



Sou livre sem persuasão

Quero sempre ser cidadão

Não sou contra pelo contra

Sou sempre situação



Não sou sistemático

Torço para dar certo

O bom para o bem

Sou prático



Quero tudo em ação

Sem alimentação de graça

Mas quero saúde

Lazer, arvore na praça



Gado é que é marcado

Estou do teu lado

Quero viver sem horror

Se houver governo sou a favor



Orides Siqueira

TREMA: NÃO TREMA

I



Trema: vencessem os alemães, não estaria vedado.

O nazismo era nefasto mas não o: trema.





II



A língua inglesa não comporta: trema.

Os teclados ianques não sabem: trema.

Trema: vencessem os alemães, não estaria vedado.



Os anglófonos não sabem: trema.

A bomba venceu o: trema.

Trema: Hiroshima e Nagasaki!



Tanta força bruta por trás do: trema.

Tanta imposição: trema.

Trema: a batalha no cerne da língua!



A gramática do domínio: trema.

A linguagem da unidade: trema.

Trema: a política que globaliza!



De joelhos, de língua no chão: trema.

Os teclados da CIA não sabem: o t(r)ema.

Trema: o fim das diferenças: trema!



Língua

Mater: trema

ou trame: a volta do: trema!



Trema: uma só língua do Camboja a Marte.

Trame a volta do trema: Mater.

Amar-te: trema!





III



TRAME,

(M)ATER: TREMA



((A)M)AR-TE.



Igor Buys