sábado, 14 de maio de 2011

Evocação feminina

(Dedico este poema às poetas Bárbara Heliodora, Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa (in memoria) e especialmente à poeta e amiga Stella Leonardos, através das quais evoco todas as mulheres poetas de todos os tempos, cujas vozes estiveram caladas por tantos séculos.)



Minha voz

rasga véus

cortinas

de dentro

de sempre

desfaz penumbras

e acorda

Bárbaras, Cecílias, Stellas

Henriquetas, Heliodoras



E suas vozes

em minhas palavras

alteiam

celebram encontros

de amores tantos

salpicam sândalos

no ar.



Sagas passadas

chagas em sangue

vertem

e vibram

amantes perenes

somos todas

onipresentes



Minhas mãos

tão femininas

mãos de mulher

madura, menina

sonham

acariciam ternas

lúcidas lembranças

pedaços de dias

franjas de ausências

melancolias



Em suas palmas

conchas

de lágrimas oceânicas

verdejam prantos

horas molhadas

de sofrimento,

surdas, caladas.



O silêncio da solidão

é memória

reverbera

fantasias, ilusões,

onde desaguar

como abraçar

tamanha paixão?



Mãos entrelaçadas

tecem séculos

em teia

de fios farpados

prisão de anjos

eternizados

Somos etéreas

flores fugazes

pirilampos da vida

pela vida

alinhavadas



Assim evoco

Bárbara, Cecília, Stella

Henriqueta, Heliodora

cantemos juntas

à nossa felicidade

brindemos uníssonas

à nossa liberdade!


Virgínia Schall

Um comentário:

João A. Quadrado disse...

[grande, imensa a evocação do universo, os únicos versos onde o signo feminino repousa e revolve, a imensidão feita palavra]

um imenso abraço,

LB