I
Um dia a Terra foi plana,
ao menos para uma maioria incauta e crente;
os seus limites confinavam com os grandes abissos,
os quais eram guardados por monstros marinhos.
Mais tarde se a viu do espaço, e a Terra tornou
a ser redonda, como o fora entre os gregos,
e inda ganhou uma coloração azul tingida
pelo olhar navegante que soube atingi-la.
Um pouco adiante, caiu o mito do tempo:
agora cada humano se parecia
com uma grande Serpente, toda enovelada
por sobre as cidades, por sobre os continentes
e a Terra ganhou uma forma anelar complexa:
eis a Era da Serpente que devora a própria cauda.
Logo depois, se confirmou que o espaço
comportava uma quarta dimensão,
e uma quinta, uma sexta, uma décima terceira:
a Terra, desde aí, perdeu a forma anelar
e se tornou incognoscível, a não ser através
de fórmulas e esquemas gráficos,
bem assim, o Homem, seu mais ilustre hospedeiro.
O corpo humano parecia estar em toda parte
do espaço como se o concebera, então;
os outros animais passaram a ser seus órgãos
em pleno desenvolvimento num presente
sempiterno e a Terra cabia o sonho, a fantasia,
a coisa e a não coisa, o possível e o impossível,
tudo posto num mesmo plano imponderável
pela mente nua de cada célula medíocre e cega
ali dissoluta e capaz de chamar a si mesma de
eu
Igor Buys
Texto completo aqui: http://poesias-igorbuys.blogspot.com/
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