sábado, 14 de maio de 2011

Portunhol

Quero dizer
do corpo de Vosso Espírito no jardim
uma luz sem crueza
Disse-o?
Só aparentemente
divergem rosa e alecrim.
Um espelho é o que sou,
nem sempre turvo,
vêem-se através de mim
os que me julgam clemente
Entendes
é quando o corpo da luz te escapa
 e resta na memória
uma claridade aquecida,
é quando dizes:
é inacreditável
tramas tão delicadas nos teares.
Os computadores sabem
que escrevi rosa com 'z',
corrigem-me como professores.
Bate um grande desejo
de torresmos
garrafa inteira de vinhos
freme num ponto a vida
-até hoje foi entre as pernas- ,
desejo de alabanza,
um desejo de dança e castañuelas,
de falar lindamente errado :
"estou sentindo-me isso.
Ninguém discordará que Deus é amor.

Adélia Prado.
in: Oráculos de maio. Rio de Janeiro: Record, 2007, p 29

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